O cineasta italiano Emanuele Crialese já dá sinais de
genialidade em seu campo de trabalho, apesar de possuir apenas dois
filmes em seu currículo, incluindo o poético e memorável
“Respiro”. Seu terceiro longa só reforça essa tese, e, a meu
ver, coloca o novo diretor na categoria de verdadeiros cineastas do
século XXI.
“Novo
Mundo” é um filme original e envolvente. Salvatore Mancuso
(Vincenzo Amato) é um camponês que deseja partir para o continente
americano em busca de uma vida melhor e menos sofrida. Na primeira
cena nos deparamos com uma vasta paisagem. Silêncio. Apenas o vento
e dois homens andando pelas colinas com pedras na boca. São eles
Salvatore e seu filho mais velho em busca de um conselho divino, a
confirmação do que já era desejado pelo pai da família.
O filme pode ser dividido em três atos: os preparativos
para a viagem e o abandono do antigo lar; o percurso de navio junto
às inúmeras famílias; e a chegada ao porto de Nova York, onde se
dá o longo e burocrático processo de inspeção – o primeiro
contato com o Novo Mundo.
Uma das cenas mais marcantes se dá com a partida do
imenso transatlântico. De repente o filme fica mudo, sem qualquer
som ou música. Vemos apenas uma grande massa de seres humanos se
encarando, metade para um lado, metade para outro. À medida que o
tempo passa esse enorme contingente começa a se dividir,
vagarosamente. É a partida. Todos se encaram, mudos, perplexos. Não
há alegria ou tristeza, apenas incertezas e expectativas quanto ao
futuro.
A bordo da embarcação há uma inglesa, Lucy – ou
“Luce”, segundo os italianos – cuja personalidade desperta uma
curiosidade em Salvatore. Para entrar nos EUA moça precisa encontrar
um marido, enquanto Salvatore é viúvo e sente a necessidade de uma
mulher. O encontro entre os dois vem bem a calhar nesse ponto.
Apesar de ser um retrato fiel baseado nas cartas dos
imigrantes da época, Crialese fez uso de passagens cômicas, muito
engraçadas, como os sonhos de Salvatore, permeados de rios de leite
e vegetais gigantescos – sua visão da América. A cena de sedução
entre Lucy e o Sr. Mancuso no convés do navio talvez seja uma das
mais memoráveis dos últimos tempos. Um balé visual de gestos e
olhares ímpar.
A última parte pode ser considerada a mais crítica.
São revelados os diversos procedimentos médicos e psicológicos
pelos quais os viajantes devem passar. Num certo ponto, a avó da
família Mancuso, indignada e cansada de tantos procedimentos,
dispara uma crítica feroz contra o sistema de filtragem adotado
pelos norte-americanos, colocando-os em seu devido lugar. Só esse
confronto entre os dois mundos já vale o ingresso.
Cada passagem entre cenas é suave. O figurino é
impecável e os atores estão pra lá de convincentes em seus papéis,
com destaque para Charlotte Grainsbourg e Amato nos papéis
principais. No filme, tudo parece ter sido escolhido à dedo pelo
diretor, um verdadeiro trabalho artesanal. As duas horas de projeção
passam num piscar de olhos, prova suficiente de que Crialese sem
dúvida merece estar no rol dos grandes diretores dessa nova geração
de cineastas.
Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=FiVUpK3SdHk
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