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quarta-feira, 25 de março de 2015

ENTRE DUAS HIERARQUIAS, UM ÚNICO CAMINHO: DEMOCRACIA

Existe um (aparentemente) eterno embate entre aqueles que creem num sistema de hierarquias e aqueles que defendem um sistema democrático. Digo creem para um grupo e defendem para o outro porque usualmente os primeiros se apoiam em ensinamentos religiosos enquanto os últimos fazem uso de argumentos e se apoiam nos progressos humanos em todos os campos. Duas formas diferentes de lutar por uma concepção de mundo. Parto desse ponto.

Onde quero chegar? Onde queremos chegar? Onde devemos chegar?

Se cada um há de querer uma finalidade última diferente das demais, o alinhamento entre os diferentes não será realizável, e o embate será eterno...

Se cada um se sacrificar inconscientemente por uma pseudo-finalidade última, igualando forçosamente seus objetivos com uma (imposta) meta comum, chegar-se-á a um alinhamento frouxo que logo se desmaterializa...

No primeiro caso temos democracia pura que ignora o porquê de sua finalidade; enquanto no segundo caso temos hierarquização pura que ignora a imperfeição humana presente e portanto o transformismo que rege o mundo humano.

Existem duas hierarquias: a Divina e a humana. Imaginamos e sonhamos pela primeira, mas somos incapazes de elaborá-la aqui na Terra em seus menores detalhes. Esforços titânicos de mentes iluminadas foram feitas para nos aproximarmos um pouco (só um pouco) de um sistema de ordem ideal, justo, pacífico, harmônico. Portanto, não podemos afirmar que as hierarquias que organizamos aqui chegam ao nível de excelsitude da ordem celestial. No entanto, a hierarquia última (a justa, a divina) serve como referência.

Uma pessoa sapiente vê e sente a Ordem do Universo infra-humano, mas percebe desordem no universo humano. O físico opera com perfeição, o metafísico com problemas.

Mas ocasionalmente chegamos num ponto da história em que aparentemente chegamos ao sistema perfeito - relação perfeita, profissão perfeita, sucesso material definitivo, conhecimento máximo, etc. Mas o correr do tempo revela a insustentabilidade de nossa "perfeição" e o que era "absoluto" se desagrega. Ilusão por falta de visão...

Ora, se devemos alcançar hierarquias cada vez melhores, mais justas, menos passíveis de criarem dissensões e ignorância, deve-se ter a sensatez de admitir que os sistemas e instituições mudam com o passar do tempo. Se metamorfoseiam de acordo com as necessidades humanas e sua capacidade intrínseca em elevar a realidade a um nível mais próximo do ideal. É aí que entra a democracia.

O advento da democracia é uma das maiores conquistas humanas. Ela serve de plataforma para alcançarmos regimes colaborativos cada vez mais perfeitos.

Vale aqui uma observação:

A democracia não é um sistema político-econômico em si. Ela pode estar inserida no mesmo e ser usada para transformar esse mesmo sistema, abrindo portas para outras possibilidades. No entanto as forças sociais sempre estão presentes (e cada vez mais) no processo democrático. Isso significa que numa democracia, teoricamente, as forças sociais são o carro-chefe da transformação social e consequentemente dos sistemas político e econômicos.

FORÇAS SOCIAIS --> SISTEMA (POLÍTICO-ECONÔMICO)

Alguns podem estar se perguntando: "mas a democracia não envolve política?"
Claro. Mas a política deve ser ferramenta para a manifestação e organização social, servindo aos interesses coletivos. Da mesma forma, o poder econômico (capital) tem sua função revista de acordo com as necessidades dos seres, que compões a sociedade.

Vale ressaltar que a transformação efetiva se dá no próprio ser. Um trabalho interior psíquico-nervoso-consciencial intenso é o primeiro passo antes que sejam dados passos no mundo externo, da atuação inter-seres (social). Isto é, o social deve ser trabalhado à medida que desenvolvemos o nosso indivíduo.

A Islândia dá os primeiros passos rumo a um modelo
verdadeiramente democrático: poder do povo para servir o povo.
Povo composto por seres. O Ser é a finalidade. O
mercado é o escravo do Ser. 
Dito isso percebe-se que uma sociedade sem democracia tende a se sentir insatisfeita. Mas ao mesmo tempo uma falta de hierarquia total tende a desorientar a evolução. Mas ambos são importantes. O que fazer então?

A questão é simples quando nos tornamos conscientes da realidade profunda e a telefinalidade da vida.

Montamos hierarquias (sistemas e instituições) para consolidarmos o que períodos de dinamicidade* nos trouxeram. A questão é: enquanto essas hierarquias se mantém estáticas - e portanto são porto-seguros para os biótipos médios, a imensa maioria - o indivíduo evolui. Seu intelecto se dilata lentamente. Sua consciência igualmente, a uma taxa muito mais lenta. E com isso o que era ideal e bonito e adequado às suas necessidades se torna uma ameaça à evolução. Logo, novas revoluções, novos embates, novas empreitadas...

Mas certos seres chegam a um estado elevado rápido, transcendendo a si mesmos, sendo antecipações biológicas em plena realidade concreta (o poeta místico de Assis, o místico da Umbria, o Nazareno, o filósofo da metrópole, o cientista da província...). E eis que lançam-se as bases para ulteriores ascensões humanas.

Vivem na Terra com o Céu dentro deles.

Outros seres, muito iluminados, mas não ao nível místico-profético, realizam ensaios arriscados, mesmo sem saber o porquê de o fazerem às vezes. Eles concebem mais, mas no entanto são incapazes de transmitir bem a sua visão e sentimento em palavras ou teorias ou tratados. Eles sentem o outro mundo e encontram soluções gerais para este. Ás vezes até conseguiriam operar para a transformação, mas faltam as adequadas instituições para lhes garantir a sua atuação.

Vivem entre o Céu e a Terra dolorosamente.

A democracia é concebida por nós para servir de meio para chegarmos a um estado orgânico ideal (fim). Mas esse fim está longe, muito longe. E portanto o exercício da democracia deve ser cada vez mais intenso, abrangente, sincero e pautado numa visão telefinalística da vida e suas relações.

Entre o infinito da hierarquia humana, cheia de defeitos, e a hierarquia divina, justa, está a democracia.

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Hierarquia humana (-) --> Democracia --> Hierarquia humana (+)

Ser (-) --> Ser (+)

Hierarquia humana (+) --> Democracia --> Hierarquia humana (++)
...
Hierarquia humana quase-perfeita --> (nenhuma organização externa) --> Hierarquia Divina
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Que grande abismo separa as duas hierarquias!

Que homérico trabalho para a Democracia...

No entanto ela é O caminho laborioso que nos levará a organizações cada vez melhores. Para tudo e todos.

Revolução Francesa: dor necessária para ascender.

A democracia, para funcionar bem, deve cada vez mais, deve se aproximar daquele conceito teorizado pelos gregos. Ela deve ser expandida e consciente. Deve ter orientação teológica sem se prender a religião. Deve aceitar e conversar sobre insurreições. Deve levar o poder social (o povo) ao controle pleno dos aparatos políticos (estados) e econômicos (capital).

Porque tudo nasce do Ser e volta ao Ser...
Sendo o progresso e felicidade deste o fim que nos levará ao Grande fim - que quando estivermos lá revelará mais finalidades...

Eis a grande síntese a ser apreendida pelas antíteses.

Em milênios e milênios chegar-se-á num ponto em que nem sequer teremos as formas de organização presentes.

As Leis não serão necessárias para que cumpramos a Grande Lei.
Lei  que estará visível a todos e sentida por todos.
Lei inscrita no Ser desde o princípio, revelada à medida que as dores martelam a alma, impiedosamente mas justamente.

Hierarquia Cósmica: a nossa será bela como dos astros, mas
melhor porque atingida via livre-arbítrio.

* essa dinamicidade muda sua forma de atuação com o tempo: no passado fazíamos guerras para evoluir; depois passamos para a era das revoluções físicas; agora estamos na era do debate plural e expandido (democrático), que tenta assumir formas cada vez próximas ao ideal republicano concebido por Platão; e por aí iremos...

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