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quarta-feira, 27 de maio de 2015

A POTÊNCIA DO SENTIMENTO SINCERO

Muitas confusões se tem feito a respeito da palavra "sentimento". Associamos ela indistintamente a dois tipos de atitudes e ações que podem se assemelhar em seus efeitos mas com essência profundamente diversa.

Para a grande maioria de nós, o ser humano possui duas zonas distintas no campo da consciência: o consciente e o inconsciente. Enquanto a primeira (para o biótipo padrão atual) é intelectiva-analítica, capaz de entender o mundo físico e até alguns fenômenos humanos, a segunda não é sistematizável à mente, e portanto reside num terreno reservado aos automatismos ou mistérios. O que quero dizer com isso? Quero dizer o seguinte: existem dois tipos de inconsciente - daí as duas classificações: os instintos e a intuição.

Pietro Ubaldi. Revelação através de uma
vida. O acontecimento mais fascinante.
Toda experiência e explicações.
Deixo claro desde já que o super-consciente, o consciente e o sub-consciente são relativos ao grau evolutivo de cada ser. Por exemplo, o que para São Francisco de Assis é natural, e portanto instintivo, como tratar bem todas criaturas e não ambicionar nenhum bem terreno além do mínimo necessário para manter o corpo e a atuação neste mundo, para a imensa maioria de nós é extremamente doloroso de ser feito. O poverello de Assis era (é) bom, e com isso seu fazer bem é consequência natural (instintivo). Algumas pessoas se esforçam arduamente para fazerem o bem, porque sabem que é o certo. Mas como se esbaldar na comida ou bebida ou sexo ou ruídos; ou cuidar excessivamente do corpo; ou buscar bens além da medida; ou ganhar erudição e títulos egoisticamente é tão mais agradável e natural para a imensa maioria de nós, nossas tentativas ascensionais logo são frustradas e voltamos às atividades que nos parecem mais naturais.

O místico, o gênio, o santo e o profeta são naturalmente trabalhadores e compreensivos.

O ser semi-consciente em busca do mais se esforça continuamente para ser melhor.

O ser inconsciente goza dos prazeres profanos e foge da profundidade oceânica da Realidade.

Sofrer por seguir o imperativo categórico de uma voz interior é o primeiro passo para atingirmos a felicidade consciente.

O gênio está dentro de cada ser humano. Resta apenas entrarmos em contato com a potência que jaz subjacente.

Em suma, o que é instintivo, automático, rápido, perfeitamente executado, sublimemente desejado e gloriosamente construtivo para o ser de ordem superior, para o grosso da humanidade presente é pesaroso, difícil, sofrível, lento, intermitente, forçado. Eis o porquê do desejo de recompensa ao fazermos uma ação boa. Mesmo que esse desejo seja discreto e pouco manifestado - ou melhor, manifestado elegantemente, de forma a conseguirmos uma recompensa sem aparentarmos essa ânsia ardente - ele existe e persiste.

Estamos diante do drama milenar: Atingimos o máximo ou haverá muito mais?
Percebam: a depender de qual concepção da Vida for adotada (visão estática / visão dinâmica), suas atitudes e posturas desembocarão em desejos e planos e métodos e objetivos condizentes com ela. Enquanto a primeira (estática) nos leva à acomodação vertical e manifestação horizontal intensa, a segunda (dinâmica) se preocupa menos com a fluidez agradável da pista do plano horizontal particular e lança grandes energias, idéias e emoções para quebrar o teto rígido delimitador da realidade ensinada e imposta. Duas concepções...Uma é cômoda, outra é dolorosa. A escolha parece óbvia - mas não é.

Sofrer externamente hoje para triunfar internamente amanhã, ou 
Gozar intensamente hoje para amargar internamente amanhã?

Amigo e amiga, vou-lhes contar um segredo que vocês no íntimo já sabem: tudo que sou hoje de bom e construtivo, devo às dores e silêncios profundos da minha vida. Minha escrita (creio); minha vontade de estudar e ler sobre diversos assuntos; meu gosto pela música e cinema; minha energia e criatividade em questionar, contornar, ver, rever, parar, sentir, refletir; meus parcos conhecimentos extracurriculares e etc. Tudo isso devo a muitas aparentes perdições e infelicidades, que formaram uma voltagem interna intensa, que optei por armazenar, para tentar compreendê-la. Anos de incubação silenciosa para gerar eclosões espontâneas. Uma enxurrada de pensamentos, idéias, vontade e energia ordenados. Ações que eu via como irrealizáveis, difíceis - e às vezes impossíveis - eram executadas pelo meu ser rapidamente, sem pensar ou planejar. Aprendizagem por maturação longa. Eis o milagre que cada ser humano pode operar.

O núcleo de mudança: sentimento sincero. Ele não é instinto. Sua lógica é supra-lógica, e portanto sem sentido para a grande maioria. Indefinível para a mente puramente analítica, científica, culta. Um mistério para o estudo. Uma realidade maravilhosa para o vivenciador.

"O Amor é o zênite da Razão." segundo Albert Schweitzer.

Quem sente a dor da rejeição através do outro; quem sente a necessidade de superar sua natureza; quem sente que o frio, a fome, a dor momentânea e o fracasso relativo são breves e insignificantes perante a dor do afastamento metafísico que permeia as nossas (pseudo)relações; este ser inicia a grande escalada pessoal que culminará na superação do plano atual e conquista de um novo plano. Ascensões humanas.

Na ardente busca pela Verdade nos dispomos a ler, estudar, fazer, ouvir, chorar, amar e sofrer. Sofrer conscientemente para depuração espiritual, e assim sofrer cada vez menos, nos transformando em criaturas cada vez mais invulneráveis às circunstâncias do mundo.

Isso é o Poder da Grande Verdade vencendo a verdade do pequeno poder.

Englobando a dor inevitável num oceano de consciência cósmica.

Transformando a dor horrenda em atitudes sábias. Atingir sua Essência.

O verdadeiro Amor é suprema sapiência.
Ele alimenta o Estudo, o Trabalho e a Pesquisa.

Ou seja, ele é Fonte Universal Inesgotável da compreensão do mundo (estudo), da transformação do mesmo (trabalho), e do ato de vislumbrar e desbravar novos mundos (pesquisa).

O verdadeiro Trabalhador é estudante e pesquisador.
Porque para transformar deve compreender e vislumbrar a fim de orientar sua ação.

O verdadeiro Estudante é trabalhador e pesquisador.
Porque para compreender deve aplicar a teoria e sentir o além a fim de estimular sua assimilação.

O verdadeiro Pesquisador é estudante e trabalhador.
Porque para captar do além deve considerar as conquistas e traduzi-las para superações coletivas.

Estudo, Trabalho e Pesquisa cooperando organicamente no Ser Integral, cujo Amor místico realiza a união metafísica que transborda em ações construtivas permeadas de ética.

Um mundo sem sentimentos é um mundo robótico e "perfeito".
Um mundo estático com muita produtividade sem criação.
Com muitas "soluções" e poucas introspecções.

Não...prefiro os defeitos humanos que se chocam e transformam.
Prefiro a desordem humana de hoje para alcançar a ordem cósmica de amanhã.
Quero sentir para sofrer.
Quero sofrer para refletir.
Quero refletir para me incomodar.
Quero me incomodar para apreender.
Quero apreender para aumentar minha voltagem.
Quero sofrer e chorar e (quem sabe um dia) sangrar.
Para me realizar ao máximo.
E com isso mostrar caminhos verticais neste mundo que só vê soluções horizontais. Pseudo-soluções...

Da síntese chega-se à análise elegantemente, solidamente e triunfalmente. 
Mas antes deve-se sofrer conscientemente...

Da análise chega-se à síntese dolorosamente, frouxamente e desastrosamente.
Mas antes deve-se sofrer inconscientemente...

As duas são importantes, e ambos caminhos levam ao mesmo fim: síntese E análise.
Mas um parece ser mais eficaz...

No entanto, num mundo que prima pela produção de zeros que levam a crises, a maior insensatez e irresponsabilidade e loucura é: largar o consumismo, parar para refletir e parar de desejar.

E com isso perde-se o medo louco que impera na alma da imensa maioria.

Quem nada teme e nada deseja é imune às circunstâncias externas.

Os prazeres do mundo não desviarão o Ser Iluminado do seu caminho.
As ameaças do mundo não frearão o Ser Iluminado em sua jornada.

É a potência do sentimento sincero.

Nada mais, nada menos...

Compreenda-o quem o puder !



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