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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Necessitamos de um Choque de Realidade

"Necessitamos de um Choque de Realidade" diz, Ladislau Dowbor [1], no último parágrafo de seu mais recente artigo em Outraspalavras [2]. Toda pessoa que adquire bom senso começa a perceber claramente isso. Começa a se dar conta de que, se não mudarmos radicalmente nosso modo de conceber a vida, não teremos uma (vida) para levar - muito menos nossos filhos e netos. Essa concepção se traduz na finalidade que vemos nas relações afetivas, no "trabalho"*, no consumo, na Arte, na Ciência. Conceber a vida como um mero acúmulo de bens e/ou sensações, de títulos, de 'papers' publicados e coisas do tipo empobrece o campo das possibilidades. 

Negar o Além, A Utopia, baseado em experiências passadas, nos imobiliza a tal grau que nos assumimos como impotentes diante de uma Era que exige tudo menos impotência. Uma Era que demanda criatividade no campo das Humanidades; uma Era que aponta para uma necessidade de reconhecimento à Terra; uma Era que exige integração entre saberes, pessoas e instituições; uma Era que demanda o desmoronamento do que não serve mais, a começar pela dissolução da forma mental que sustenta um sistema fechado em si mesmo. Um sistema que exclui o planeta, a vida vegetal e animal - e mesmo humana! - e reduz ao monetarismo tudo que pode, mercantilizando terrenos aceitos no íntimo humano como os Direitos Universais. Me refiro à Saúde, Educação, Moradia, Previdência, Cultura, Segurança, Saneamento, Transporte, Água, Alimento e Informação (de verdade!). Já falei sobre isso anteriormente [3], e sempre o repito, de outra forma, pois trata-se de tema não-abandonável.

Para aqueles que ainda vêem os ideais de Justiça Social como algo a ser combatido por terem "matado milhões de pessoas" (de onde vieram esses dados?), mostro-lhes uma realidade que é evidente, está diagnosticada, e causa sérios impactos na vida das pessoas e do planeta: a máfia imobiliária. Aponto para o caso de São Paulo [4], capital próxima da minha cidade que vêm se tornando referência em exclusão.

É bom lembrar que a História da Humanidade sempre teve assassinatos em massa. Sob várias formas. O problema é vermos apenas os mortos por fuzil de um regime ou outro, enquanto esquecemos de buscar as causas que levaram a consolidação desses regimes - sejam elas internas ou externas. E também por não vermos como brutalidade os milhões mortos por fome (num planeta que ainda produz abundância), doenças (que poderiam ser facilmente erradicadas), depressão, conflitos étnicos (advindos por pressões econômicas), entre outros. São 500 milhões de pessoas sofrendo tortura diária por falta do necessário, segundo Jean Ziegler:

"A maioria dos seres humanos que não têm o suficiente para comer,segundo o autor, localiza-se nas comunidades rurais pobres dos países do hemisfério sul. É histórica a condição de miséria e fome dos camponeses e, atualmente, eles correspondem a aproximadamente 500 milhões vivendo em condição de extrema pobreza." [5]

O capitalismo, em seu desenvolvimento, apresentou possibilidades de elevar a humanidade a novos patamares. Me refiro à Era de Ouro (1945-1973), do Estado de Bem-Estar Social. Após a Crise do Petróleo poderíamos ter iniciado uma translação para um Modelo de Desenvolvimento que, além de garantir as estruturas de Assistência Social, de Proteção ao trabalhador e de Serviços Públicos, ampliasse-as para os países de capitalismo periférico (América Latina, África e Ásia), além de reformulá-las, de modo a preparar a humanidade para novos tempos. Isso implicaria em integrar o modelo político-social com a questão Ambiental-energética. E igualmente em iniciar a criar uma cultura que aponte para a elaboração de novos planos de vida, pautados por horizontes mais vastos que demandam menos recursos - porque capazes de ativar riquezas interiores, não-tangíveis no espectro presente. Isso não ocorreu. Na contramão do desenvolvimento humano, iniciou-se um movimento conhecido como Neoliberalismo, cujos resultados estão se tornando mais claros a cada ano - em todas esferas da vida.

Outra questão crucial é "trabalho", "lazer" e "estudo".

O desacoplamento entre "trabalho" e "emprego" é essencial para iniciarmos um debate sério e honesto a respeito de legislação trabalhista, redução de jornada, saúde, informação e cultura. Apesar de estarem relacionados, eles não são a mesma coisa.

"A maioria das pessoas associa as palavras trabalho e emprego como se fossem a mesma coisa, não são. Apesar de estarem ligadas, essas palavras possuem significados diferentes. O trabalho é mais antigo que o emprego, o trabalho existe desde o momento que o homem começou a transformar a natureza e o ambiente ao seu redor, desde o momento que o homem começou a fazer utensílios e ferramentas. Por outro lado, o emprego é algo recente na história da humanidade. O emprego é um conceito que surgiu por volta da Revolução Industrial, é uma relação entre homens que vendem sua força de trabalho por algum valor, alguma remuneração, e homens que compram essa força de trabalho pagando algo em troca, algo como um salário." [6] 

De fato, estudando História (alguém ainda faz isso?) pode-se perceber a inexistência do conceito "emprego" antes do século XVIII. A partir da Revolução Industrial passou-se a acoplar-se Trabalho e Emprego, de tal forma que, se a atividade que você exercesse não estivesse inserida no circuito econômico (que cada vez menos se identifica com o circuito humano), ela não seria remunerada, e portanto nada restaria a não ser morrer de fome, virando um farrapo humano. Não quero por isso dizer que não tenha havido grandes progressos científicos, tecnológicos e mesmo sociais. Mas estes últimos tiveram de vir por pressão dos trabalhadores, que culminou no Estado de Bem-Estar (para pequena parcela da população do globo!) durante as 3 décadas que se seguiram à 2a Guerra. Quanto à ciência e tecnologia, acredito que sua importância é enorme, mas deveria ser mais corretamente orientada.

Trabalho é qualquer atividade que engrandeça o espírito, despertando a consciência e exercitando habilidades. E que - de preferência - sirva a interesses sociais. Uma vez que à medida que a humanidade progride em sua jornada, mais se reconhece a necessidade de colaboração. A grande questão é: essa "colaboração" vem sendo fartamente abusada por determinados grupos (em especial), que fazem uso de conceitos belos para colocar seus subordinados à serviço de seus interesses. A lógica ocorre em todas grandes esferas: religiosa, estatal e corporativa.


Mas o que eu realmente gostaria apontar é para o último Café Filosófico apresentado pelo professor Vladimir Safatle, da USP.



Para aqueles que tem tempo e cuja consciência já começa a aflorar, recomendo fortemente assistir ao vídeo. Nele o professor revela características que apontam para o monismo**. A metade inicial da palestra pouco revela, com esboços teóricos difíceis de serem captados pelo grande público. No entanto, a partir de um ponto, começa-se a descer às consequências práticas daquilo exposto. A filosofia e a natureza humana atual se tornam molas propulsoras (ou congeladoras) dos movimentos e organizações (ou não) políticos e sociais.

Uma ideia precisa fracassar várias vezes para que ela possa produzir o que ela realmente é capaz de oferecer ao mundo. 


Ubaldi descreve em A Descida dos Ideais o que Safatle já sente intensamente. Este começa a compreender tudo. Aquele já vislumbrou o Infinito - e viveu-o no mundo.


O Ideal vem e volta ao mundo, sob a forma de ideias adaptadas ao atual estágio evolutivo deste. Essas ideias geram em correntes de pensamento, que culminam em movimentos concretos - inicialmente tímidos, futuramente vigorosos. A partir daí abre-se uma série de possibilidades antes inexistentes que apontam para alternativas à lógica atual. A questão é: a forma mental dominante, que sustenta, conscientemente ou não (geralmente não) o sistema dominante, com suas instituições controladas e limitadas, se incomoda com distúrbios profundos. Trata-se do egoísmo. Este, presente em todos nós, faz de tudo para satisfazer sua vontade, que é extrair o máximo - em todos termos - para satisfazer-se em projetos sem utilidades benéficas a longo prazo - inclusive para o próprio.

O Ideal é o Real Absoluto. O real relativo é o mundo como o grosso da humanidade o concebe. Dessa forma, aqueles reconhecidos como realistas podem ser os maiores utópicos, enquanto os utópicos sinceros podem ser os maiores realistas [7]. Isso é lógico e se explica por vivermos num universo emborcado.

Acreditar que seguir as normas estabelecidas indefinidamente, num sistema incompleto e contraditório em seu desenvolvimento final, possa levar ao bem-estar geral, é perigoso justamente por ser puramente racional. 

O afeto também é um tipo de razão. Só que uma razão mais elaborada, de difícil parametrização, de difícil descrição, de difícil compreensão. É uma razão superior à própria razão. Porque ela parte do interior do ser. Ela é, por excelência, o que se conhece por intuição. Você SENTE a Verdade. A partir daí começa o Verdadeiro Trabalho: traduzir esse sentimento para algo que o mundo possa assimilar. Degradar a visão para que a humanidade comece a caminhar em direção à mesma. Degradar da forma mais potente possível, minimizando a possibilidade de distorções por agentes mal-intencionados.

"Não existe verdade só pra você". É exatamente o universalismo que preenche as obras dos grandes iluminados de todos os tempos: Rohden, Ubaldi, Pascal, Spinoza, Hermes Trimegisto,Sócrates, Buda, Cristo,...todos apontavam...apontam, para a mesma REALIDADE.

A Verdade é uma só. Caso contrário ela seria fragmentada e inútil para a Vida. A questão é: temos de absorver os contrapontos - jamais eliminá-los. Caso haja um embate entre A e B, ambos devem ter seus egos luciféricos destruídos para que seus Eus Crísticos sejam realizados e integrados.

Se às vezes eu "ataco" algum pensamento, ou alguma pessoa (que o incorpora) no campo das ideias (jamais no plano físico, econômico, financeiro ou afetivo), não estou atacando sua substância , e sim a incapacidade de sua forma em descrever a realidade e viver em harmonia com ela. E ao mesmo tempo me abro, convidando-a a apontar, sinceramente e logicamente, as possíveis contradições de minha concepção da vida.

Existe uma diferença muito sutil, que devemos reconhecer urgentemente. Assim seremos capazes de nos observar melhor, e atuar de modo muito mais eficaz na vida. É a sensibilidade predominando sobre a atuação. É a sensibilidade profunda orientando a ação, potenciando-a, tornando-a mais completa e portanto harmônica. Assim passamos de seres sociáveis para seres com sensibilidade social [8].

A Antiguidade teve seus Profetas. O mundo contemporâneo também tem os seus. Esses profetas dos dias atuais - como os antigos - apontam para uma necessidade urgente que temos mas não sabemos: a necessidade de um choque de Realidade. Podemos chegar a esse choque por conta própria, iniciando projetos que jamais sonharíamos em implementar. Projetos visando arriscar nosso eu humano para propagar nosso Eu Divino, e assim plasmar uma base de unificação sob a qual todos os seres humanos bem-intencionados, sinceros, lógicos e coerentes até o último grau em sua busca, possam se apoiar e fazer a mesma coisa.

Iremos todos convergir para o mesmo ponto, mantendo nossas individualidades, mas desenvolvendo-as ao máximo, tornando-as tudo que ela podem ser. E assim operaremos em prol da Unidade.

Do Politeísmo ao Monoteísmo.

E deste ao Monismo**.


Referências
[1] DOWBOR, Ladislau. http://dowbor.org/
[2] http://outraspalavras.net/destaques/cronica-em-meio-a-grande-crise-global/
[3] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2016/04/declaracao-universal-dos-direitos.html
[4] http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/sao-paulo-nas-maos-de-uma-oligarquia-imobiliaria/
[5] http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n122/0101-6628-sssoc-122-0381.pdf
[6] https://www.ime.usp.br/~is/ddt/mac333/projetos/fim-dos-empregos/empregoEtrabalho.htm
[7] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/08/dois-tipos-de-utopia.html
[8] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/02/sensibilidade-social-versus.html

Notas
* explicarei logo em seguida o porquê das aspas
** http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/06/monismo.html

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Mergulhando na Substância. Tocando o Infinito. Amando o Fenômeno.

Analogia é uma identificação que podemos fazer entre fenômenos. Identificação substancial. Coisas podem ser incrivelmente diferentes em sua forma, mas revelam uma identidade perfeita se abstrairmos um tipo de lógica que leva a um comportamento.

Na aerodinâmica existe um tópico em que estudam-se os regimes de vôo - velocidades - relativas ao som. Basicamente temos três zonas: sub-sônica, trans-sônica, e super-sônica. A primeira expressa o comportamento para velocidades baixas, inferiores à do som numa dada condição, onde existe estabilidade. A segunda, ainda inferior ao som, expressa um comportamento muito diferente: vibrações começam a surgir, de modo crescente, evidenciando perturbações crescentes.

"O escoamento transônico não pode ser modelado por equações diferenciais parciais lineares, devido à presença de ondas de choque relativamente fortes sobre a superfície do corpo, constituindo-se em não-linearidades importantes." [1]

Não-linearidade indica um comportamento no qual é muito difícil estabelecer uma relação analítica entre entrada e saída (causa-efeito) de um corpo ou sistema. Isso significa que não é possível sistematizar - diagramas, leis, equações, lógicas - universais, de confiança, a ponto de prever o comportamento do mesmo dada uma condição inicial.

"Não linear refere-se a todas as estruturas que não apresentam um único sentido. Estrutura que apresenta múltiplos caminhos e destinos, desencadeando em múltiplos finais. Em Teoria Geral dos Sistemas diz-se que a não-linearidade é pressuposto de Sistemas Complexos e sua intricada rede leva a caminhos distintos e inimagináveis até mesmo para os criadores do sistema. " [2]

Multiplicidade indica imprevisibilidade. Para a razão humana ao menos. Esta se torna incapaz diante de um mundo sem linearidade. O máximo que nossa mente analítica consegue gerar é uma lógica que gerencie as incertezas em certas faixas. Modelos que pouco modelam. Análises pobres, com acertos limitados no tempo, no espaço e nas condições.

"Um sistema dinâmico não-linear é um sistema não pré-determinista, em que as implicações dos seus integrantes individualmente são aleatórias e não previsíveis. Estes sistemas evoluem no domínio do tempo com um comportamento desequilibrado e aperiódico, onde o seu estado futuro é extremamente dependente de seu estado atual, e pode ser mudado radicalmente a partir de pequenas mudanças no presente." [3]

"Pequenas mudanças no presente" são atos que aparentemente tem pouco impacto por serem de pequena magnitude. Uma certa informação, vazada num dado momento histórico, contida num certo contexto, de certa forma, pode alterar significativamente o curso dos acontecimentos, gerando uma onda global dificilmente prevista (pelos especialistas) ou mesmo vislumbrada (pelos intuitivos), cujas repercussões podem sair do controle das instituições mais poderosas. Isso já ocorreu antes. Provavelmente continuará a ocorrer. De outras formas. Mas parece que continuará, pois trata-se de fenômeno universal.

O único meio de atingir-se o Infinito é o Amor.
Amor humano. Amor místico.  Mas sempre o Amor.
Ao atingir Mach 1 [4], o corpo / sistema sofre um choque. Mas essa mudança não é sentida por aquele que transcende, apesar de tudo à sua volta ser inundado por um som altíssimo.

"Quando finalmente o avião alcança a velocidade sônica, segue-se um forte estrondo sonoro quando o avião excede Mach 1; a maior diferença de pressão passa para a frente da aeronave. Esta abrupta diferença de pressão é a chamada onda de choque, que estende-se da traseira à dianteira com uma forma de cone (chamado cone de Mach). Esta onda de choque causa o “boom sônico” que se ouve logo após a passagem do avião. O piloto da aeronave não consegue ouvir esse ruído. " [5]

A partir de então volta-se a um regime suave - porém diferente do anterior. Uma suavidade diferente, na qual o seu novo patamar (velocidade) é superior ao anterior. Mesma tranquilidade, diferente atuação. Já esmiucei esse tema em outro momento [6], com outro tipo de linguagem, mais poética. Agora abordo sob outro ponto de vista, mais formal, mais técnico.

Observando a mesma coisa sob vários ângulos, nos tornamos mais íntimos dos fenômenos, sentindo-nos tocados por eles no íntimo - e não apenas tocando-os intelectualmente. Isso é algo muito importante, que poderia ampliar nosso conhecimento (e aplicações), revelando uma realidade ainda desconhecida, que influencia a presente. Esse enfoque ainda não foi assimilado pela Ciência hodierna - porque não o reconhece. Nem sequer admite qualquer pesquisa que comece a apontar nesse campo. No entanto, o desenvolvimento do racionalismo culmina na extrapolação do materialismo, beirando fenômenos energéticos. Isso levou à descoberta da energia atômica no século XX. Estes, esmiuçados, levam-nos à fronteira do saber. Percebe-se que a energia é manifestação de um pensamento - poderíamos dizer, uma informação...algo imaterial. Nos aprofundando no estudo do mundo microscópico chegamos à fronteira material.imaterial:o átomo não é algo sólido, imutável. Sua "solidez" é construída pelo movimento dos elétrons a altíssimas velocidades, fornecendo a impenetrabilidade. A partir da energia cria-se uma realidade material. Indo mais à fundo vêem-se mundos ainda mais sutis. E com isso chega-se à Mecânica Quântica.

Em A Grande Síntese sentimos essa relação:

"Esses três modos de ser estão coligados por relações de derivação recíproca. Para tornar mais simples a exposição, reduziremos esses conceitos a símbolos. A idéia pura, o primeiro modo de ser do universo, a que chamaremos espírito, pensamento, Lei, que representaremos com a letra a (alfa); condensa-se e se materializa, revestindo-se com a forma de vontade, concentrando-se em energia, exteriorizando-se no movimento, segundo modo de ser que representaremos com a letra b (beta); num terceiro tempo, passamos (em virtude de mais profunda materialização ou condensação, ou exteriorização), ao modo de ser que denominamos matéria, ação, forma, isto é, o mundo de vossa realidade exterior, representaremos com a letra g (gama)." [7]

Pensamento -> Vontade -> Exteriorização

Princípio -> Movimento -> Estrutura

Espírito -> Energia -> Matéria

No momento atual ainda planejamos nossas vidas baseados na exteriorização ou forma. A vontade é uma força presente, mas que ainda não encontrou seu meio de potencialização. Temos-a em pouca quantidade, de tal forma que qualquer empecilho do mundo é capaz de barra-lá facilmente. E encontrar seres guiados pelo princípio (portanto conscientes disso) é raro, pois sua manifestação é de longo prazo. Isso implica em paciência, sem a qual é possível manter-se orientado.

É na catarse mística que se dá a sublimação do conhecimento. O verdadeiro místico unifica-se com a Realidade a tal grau que atinge um êxtase, glorificando tudo que existe no mundo em seu aspecto Real. Isto é, vibra-se de acordo com a unificação das múltiplas dualidades, sejam elas nas questões afetivas, sociais, políticas, científicas, orgânicas, artísticas, de comunicação, etc. Anula-se a si mesmo, integrando-se à Ordem do Universo. Huberto Rohden sintetiza:

"A erótica, que é a mística da carne, perpetua a imortalidade racial da humanidade - A mística, que é a erótica do espírito, realiza a imortalidade individual do homem." [8] 

Ubaldi revela tratar-se de uma nova forma de investigação, que excede os limites do intelecto, fundindo sujeito com objeto:

"É a evolução do espírito que traça e supera os limites do conhecimento, que diversamente o situa no seu progredir, até o ponto em que a unificação com a fonte de emanação, que encontramos no vértice do fenômeno místico, se torna também unificação dos divergentes aspectos, sob que se contempla o relativo, numa única verdade humanamente absoluta." [9]

"Evolução do espírito" é conscientização. É engrandecer sua individualidade com as dores da vida, do mundo, das ilusões que desvanecem e não deixam nada mais que o terreno árido e infértil das decepções, das dívidas, das mortes, das demissões, das explorações, das mutilações. Essa evolução se dá por meios de aproximações fantásticas, sem necessariamente basear-se nos estudos, nas análises. No entanto, ela pode fornecer combustível (vontade anormal) e preparo (afloramento da sensibilidade) para realização das mesmas. Da síntese (boas intenções) desce-se ao mundo da análise (explicações convincentes e práticas).

Ubaldi desenvolve a trajetória do ser humano em seus diversos graus. Inicia-se com o selvagem, que baseia suas ações naquilo que agrada seus sentidos - e que os mesmos captam. E à medida que caminha nas vastidões do tempo, desenvolve a racionalidade:

"Em mais avançado momento, a consciência, mais amadurecida, qual tem acontecido até hoje, no seio da civilização, quer dar-se conta do valor das próprias reações, procura e exige uma verdade menos aparente e mais substancial e vai ao encontro dos fenômenos, não mais exclusivamente com a fantasia do primitivo, mas com o olhar objetivo do observador. Tem, assim, aprendido a catalogar fatos, coordena-los segundo planos hipotéticos, e tenta compenetrar-se da lógica e fixar a lei de progressão dos fenômenos, para chegar a estabelecer gradualmente os princípios, cada vez mais abstratos e gerais, que regem o funcionamento orgânico do universo." [9]

Estamos na fase sequencial de raciocínio. Mas essa não mais é capaz de lidar com as angústias do homem. Angústias geradas por seus próprios inventos, frutos de seu desenvolvimento mental para satisfações materiais-psicológicas.

"Acontece agora, neste momento da evolução humana, uma renovação tal da consciência que
seus efeitos são incalculáveis no campo psicológico e merecem, pois, particular exame. Trata-se
de nova e autêntica técnica de pensamento, de completa reconstrução dos métodos de pesquisa e
de orientação científicas." [9]

À princípio pode-se argumentar sobre a índole subjetivista do autor, anulando todo o desenvolvimento de sua obra. No entanto, percebe-se que o instintivo e o intuitivo são idênticos na forma mas díspares em suas finalidades. Enquanto o primeiro se fixa nas qualidades já adquiridas, o segundo alça vôos para regiões desconhecidas. O primeiro e o segundo são instantâneos, não-pensados, mas pensantes. Mas as ideias advindas via intuição não são do SER, e sim de outras regiões. Trata-se de uma sensibilização nervosa que leva a uma capacidade de recepção de fenômenos sutis.

Detalhação do fenômeno místico vivenciado
pelo autor quando transcreveu A Grande
Síntese.
"Como pode a ciência racional opor-me, como defeito, a arbitrariedade do subjetivismo e suas bases intuitivas, quando ela mesma se funda sobre bases axiomáticas, igualmente intuitivas e arbitrárias, porque ainda passíveis de demonstração?" [9]

Ele transmite em palavras o que já senti intensamente e no entanto não fui capaz de exprimir condignamente:

"Deixada à parte a ciência utilitária, a verdadeira ciência, abstrata, filosófica, matemática, de conteúdo conceptual, volve e revolve, reincide e apoia-se toda sobre rudimentos de intuição. Intuições mínimas, mas seguras, somente porque garantidas pelo estender-se a grande número de pessoas. Ou intuições maiores, de gênios, videntes insulados, posteriormente desenvolvidas, analítica e racionalmente, pela cadeia do raciocínio." [9] 

Para atingir-se o verdadeiro conhecimento é preciso antes de tudo amar o fenômeno. Despreocupando-se com o tempo. Fundindo-se no presente momento com tal intensidade a ponto de anular-se a sequência temporal a qual estamos presos. Tudo se torna simultâneo. Aí reside a explicação lógica pela qual o tempo passa rápido quando fazemos algo que nos agrade, e que se arrasta caso estejamos fazendo algo por obrigação / imposição. Nessa última condição, nos vemos horrorizados com o momento presente, relembrando o passado e ansiando pelo futuro desesperadamente, de tal modo que o presente se torne inferno. E todo inferno é longo, doloroso e improdutivo.

Ubaldi reforça que o Objetivismo não é o ápice - e portanto - nem solução para os problemas do Ser (e da civilização), mas apenas um estágio a ser superado por algo mais potente: o Subjetivismo. Um Subjetivismo orientado, desenvolvido a partir das fronteiras do saber atual. Um Subjetivismo que vá muito além das reticências.

"Enquanto no método intuitivo, a consciência, fazendo-se humilde, mas sensível, logra transportar-se, por vias interiores, do seu íntimo à íntima essência dos fenômenos, com o método objetivo, a consciência, permanecendo autônoma e volitiva, suprime sua sensibilidade e sufoca a voz dos fenômenos, choca-se contra eles, sem neles penetrar, detendo-se à sua superfície, por forma que não toca senão aparências e ilusões." [9]

Em sua fase atual, nada resta à humanidade a não ser iniciar-se nesses caminhos. Já tentou-se isso antes, em pequena escala, por raríssimos indivíduos. Agora devemos absorver essas experiências, sentir a finitude de nossos métodos, e transformar-nos.


Referências
[1] http://breno.freeshell.org/Aer_ts.pdf
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%A3o_linearidade
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_din%C3%A2mico_n%C3%A3o_linear
[4] Velocidade do som.
[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%BAmero_de_Mach
[6] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/10/rompendo-barreira-do-som-espiritual.html
[7] UBALDI, P. Cap. 8, A Grande Sìntese, 1935
[8] ROHDEN, H. O Misticismo e o Erotismo.
[9] UBALDI, P. Cap. IV - A Catarse Mística e o Problema do Conhecimento. Ascese Mística


Artigo recomendado:
http://www.collective-evolution.com/2016/08/23/we-are-living-in-the-most-important-time-in-the-history-of-our-universe-delores-cannon-discusses-our-current-paradigm/


Vídeos recomendados: 

EDUARDO MARINHO aponta para o Infinito




MUDANÇA (para refletir...)



DISCURSO MONISTA (Chaplin)



UM VÍDEO QUE REVELA
Muito além das religiões e do ateísmo. 



UNIDADE na DIVERSIDADE.



terça-feira, 16 de agosto de 2016

A Fascinação pela Ilusão

" “Pensamento fácil”, que ameaça dominar as redes sociais, é o modo difuso como raciocina o indivíduo deste começo de século. É a renúncia antecipada — e rancorosa — a qualquer complexidade. É, por isso mesmo, muito mais conformista que revolucionário "*


"Pensamento fácil"... sempre me fascinei com o tema. Desde a adolescência, à medida que o tempo passava, eu jamais deixei de me incomodar com a "praticidade" de grande parte da humanidade. Os jovens prontamente aprendem a adquirir a esperteza que leva a ganhos. Os adultos também - só que considerando problemas um pouco mais complexos. No entanto, as diferenciações só estão na superfície: cada fase da vida tem suas preocupações, seus problemas, seu modo de agir, suas convenções. E para a grande maioria (para os normais), à medida que o tempo avança e as tendências surgem e se consolidam, tudo o que as pessoas fazem é adequar-se a elas, sem muito questionamento, conformando a sua existência a uma realidade que se impõe. Uma realidade que se impõe porque parece temer a manifestação de outra Realidade - mais potente, mais vasta, que projeta no longo prazo, que oferece perspectivas completamente novas, e não vê na dor do momento motivo para desvios de conduta.

Cresci e me tonei adulto. Por um tempo, na faculdade, me silenciei por fora. No entanto, por dentro, apesar de todo silêncio, percebia uma atividade constante operando em meu Ser. Longas horas de reflexão. De busca por coisas que pouco interessavam a muitos. E se interessassem, interessavam por pouco tempo - pouquíssimo. E nesses momentos de intenso interesse - por parte de poucos - pouca coisa era percebida. Muito menos realizada. E a partir daí me dei conta de nossa miséria humana. Miséria em entrar em contato com uma realidade capaz de solucionar os Últimos Problemas. E cuja solução era se trabalhar internamente, com cada instante da vida, relacionando tudo e todos, e sofrer, e ser sincero consigo mesmo - mesmo que isso significasse demissão, exclusão, dor física, afetiva ou perseguição. SER acima do TER. A partir daí faltava a experiência.

As constatações levaram a consequências práticas. Estas levaram a novas constatações. A paciência ajudou a resistir aos momentos de alta tensão. E com isso pude comprovar a validade de uma Lei, mãe de todas as outras, que tudo rege e coordena harmoniosamente. Mas sinto que isso tudo é apenas o começo. Porque há muito a fazer - mas poucos meios para fazê-lo. É um mundo involuído, com uma forma mental em franca decadência, que sustenta uma lógica cada vez mais pequena. O Ser pede por mais e faz ensaios ousados. Mas as regras atuais pouca liberdade permitem. Trata-se da luta entre o Anti-Sistema e o Sistema que Ubaldi descreveu. Luta de conceitos e de orientação. Luta constante, que assume várias formas em vários tempos e vários lugares. Luta presente em cada fase da vida.

Luta presente no corpo, na mente e no espírito.
Nos instintos, no raciocínio e na intuição.
No sub-consciente, no consciente, e no super-consciente.

Entre uns e outros, dentro e fora. 
Fora por haver dentro. Dentro por haver fora.

Dor -> Constatação -> Experimentação -> Maturação -> Despertamento -> Evolução

Uma lógica suprema a ser adotada. Cada etapa demora e não traz resultados na forma. Tudo se constrói com o tempo, no sofrimento, na experimentação, na simplicidade, no silêncio...

Nada se pode esperar, tudo se deve buscar...

"Nada pode o mundo pode esperar daquele que algo espera do mundo.
Tudo o mundo pode esperar daquele que nada espera do mundo."
Huberto Rohden 

Nessa cadeia suprema, nessa supra-lógica (que a mente hodierna vê como vã loucura) reside a Solução. Infelizmente muitos, ao se depararem com a dor, - por menor que seja - muitos recorrem às soluções oferecidas (estabelecidas por consenso) pelo mundo: consumo, barulho, criação de ideias e teorias para culpabilizar minorias, maiorias, ideologias, nações, povos, áreas do saber, etc. Rarissimamente absorvemos o golpe e entramos em contato com a essência dos fenômenos - através dessa dor. Pietro Ubaldi fez isso. Blaise Pascal também. Sócrates igualmente. Jesus, o CristoBuda. Francisco de Assis. Assim como outros iluminados e sábios.

A espiral ascendente da evolução. Há ciclos
involutivos-evolutivos a cada período. Quedas e
ascensões, se intercalando. Mas a queda seguinte
sempre está um pouco acima da precedente. O mesmo
 se dá com a ascensão. O que importa é o que se adquiriu
com as experiências - a dilatação da consciência.
Os resultados mundanos pouco importam.
Existe uma forma mental em curso. Essa forma mental - já em exaustão - recorre a um artifício extremamente sedutor, que - como vejo- seduz até aqueles mais informados, educados e (ditos) conscientes: trata-se de um entusiasmo que não faz acepção de posição política. De uma ideologia que não se diz ideológica. De uma corrente de pensamento persistente e serpentina que se diz transparente e honesta. Não é de direita nem de esquerda. Pode ser encontrada em qualquer pessoa, de tal forma que sua difusão não pode ainda ser compreendida - tampouco sistematizada e prevista.

"É este entusiasmo febril que impede o começo da crítica, de modo que qualquer um que a inicie é rapidamente taxado de atrasado, retrógado e reacionário."**

Senti isso em diversos momentos da vida. Imagino que muitos também. No entanto, passei anos e anos persistindo na dor. E criando ideias e conceitos sobre o porquê disso. Vi que todos somos suscetíveis a entrar nessa corrente coletiva de pensamento, que eriça as sobrancelhas a qualquer sinal de contestação. Não se quer retomar conceitos apresentados por ideologias passadas. Como se estas tivessem dito tudo. Como se a humanidade tivesse experienciado a forma final dessas. Como se não houvesse um transformismo que nos possibilite dar novas interpretações. Um transformismo que reconfigura por completo o mundo, fazendo brotar novas possibilidades.

"Este entusiasmo é a expressão mais acabada de uma época que, acossada pelo consumismo astuto tem uma sede insaciável por tudo que se apresente como novo. "**

No entanto o autor afirma que não advoga que devemos abandonar a internet como local de realização de debate político.

"A essência de nossa crítica não estava em apontar o desuso, o abandono dos meios virtuais, mas pensarmos os usos para não cairmos em uma prática mecânica e ingênua. "**

Ser original por simplesmente ser, a qualquer custo, é deixar-se conduzir a uma lógica dominante. Uma lógica que cada vez mais tende para o irracional, nos tornando autômatos e controláveis. Controláveis pelo que temos de mais infantil e baixo e restrito.

"Em suma, propomos uma prática que seja seguida do pensamento crítico, que não seja cega, que não caia nas armadilhas do espontaneísmo e do voluntarismo." **

Indo além, o autor destaca que a lógica de nossa vida "real" (física) é replicada no mundo virtual (internet, na rede, nas mídias sociais):

" Se segundo o discurso da liberdade e da criatividade do indivíduo empreendedor “você pode ser seu próprio patrão”, no virtual tem prevalecido uma lógica semelhante, de você estar livre para ver e ouvir o que quiser, e gerar você mesmo a própria informação, de acordo, claro, com sua criatividade. Desse modo, é forçoso admitir que a internet repõe no campo virtual, aos seus usuários, aquilo que a lógica do livre mercado impõe cotidianamente ao mundo."**

Desconecta-se o indivíduo da coletividade - e esta daquele. Percebam: isso vai na contramão do que a Teoria de Sistemas Complexos Adaptativos vem estudando e revelando ao longo dos últimos anos. Ou seja, o Neoliberalismo usa a Ciência e a Razão apenas nos aspectos que lhe interessa, de modo a difundir certas descobertas e ignorar outras. Cria-se uma explicação do porquê disso caso haja algum teimoso que questione e demonstre alguns detalhes (importantes).

Percebam: existe tanta informação disponível que a "única alternativa" (aspas!) é fazer tudo segundo o critério da facilidade.

"Sem Dor não há Salvação..."

Não devemos sofrer por sofrer, por vaidade. Devemos nos conduzir pela nossa consciência, que nos leva, forçosamente, por muitos caminhos de sofrimento. Porque o mundo, em seu sono de ignorância (a ser despertado!), fará de tudo para se manter na situação de conforto, se armando contra agentes de transformação.

"A time line da rede social será melhor vista, isto quer dizer, mais rapidamente vista, quanto mais fáceis forem as coisas que se apresentem. Nesta faceta, a internet mostra-se muito mais conformista que revolucionária."**

Raríssimos são os indivíduos que "perdem seu tempo" num texto longo. Não é por erudição que deve-se lê-los. Nem para melhorar sua instrução. E sim porque eles podem ser um meio eficaz que desperte algo dentro dos outros. O objetivo final é viver o fenômeno, se integrar ao Universo, à Vida. Nesse aspecto a humanidade, refém de algo que desconhece, desperdiça o que se lhe apresenta na rede.

"E todos aqueles que objetivam ganhar e aumentar visibilidade devem assim proceder, não importa a direção política que sigam."**

Faz-se por aparecer, por ter, por se distrair.

Não somos capazes de, no silêncio, criar valores intrínsecos que nos possibilitem compreender e dominar as forças que nos arrastam, tornando-nos mestres do nosso destino - e emitindo um sinal para outros na mesma busca.

Estamos nos tornando preguiçosos para a evolução - apesar de nos ocuparmos completamente com empregos que são, em sua grande maioria, destituídos de significado real. Queremos o emprego, o trabalho pouco importa. Porque este geralmente nada remunera ou pouco remunera. E aquele remunera adequadamente. E com isso passamos a viver em função do que o mundo nos impõe.

Questionar é muito doloroso. Exige renúncias, criatividade, paciência, persistência, se reinventar. Então seguimos o script e criamos teorias para justificar nossa conformação e desistências.

Continuemos com as ideias do autor:
"Acostumando-nos, por meio do hábito excessivo, com o critério da facilidade como algo natural, tendemos a expandir este critério para tudo. Qualquer ato que possa demandar um maior tempo e esforço é, de imediato, rechaçado, posto que se identifica com a encarnação da chatice."**

E chega-se aos afetos:
"Assim, são os nossos desejos, afetos e pensamentos que também devem se acomodar ao critério da rapidez e da facilidade."**

Complexidade não significa complicação. Ela baila com a simplicidade, se originando dela, e voltando a ela. Como ciclos de expansão e contração.

A complicação surge por desorientação.
A complexidade surge por evolução.

O que REALMENTE significa essa cena?
Eu descobri...
A (des)informação mescla conceitos. Difundem-se filmes vazios; propagandeia-se ideias desconexas, que se fecham em si mesmas; noticia-se fatos repetidamente enquanto alguns ganham em cima dos mesmos - uns com distração mórbida, outros com dinheiro, outros com satisfação dos instintos. Vende-se risos ou tragédia. Risos vazios e tragédia vazia. Nada se propõe. Nada se investiga. Tudo é absorvido pelo lucro. Lucro que demanda da sociedade, das culturas, das espécies, do planeta. Lucro que suga nosso tempo e energia, direta ou indiretamente. Lucro que direciona nossa vida. E aceitamos...para não corrermos o risco de sermos taxados de revolucionários... O que ocorre é produto na nossa incapacidade em lidar com os novos fenômenos emergentes. Estes se apresentam, dando sinais. Mas nós os reduzimos antecipadamente

Isso é só um texto. De nada adianta lê-lo, compreendê-lo, questioná-lo, se não estamos prontos ainda para senti-lo. E de nada adianta sentir se não formos viver sua realidade. No dia-a-dia.

Em cada instante a Lei de Deus se faz presente.
Em cada momento da vida podemos ordenar ao coisas conforme quer e Lei.
Trata-se de um trabalho de 24 horas por dia.

"Conformando-se aos tempos informacionais, o pensamento fácil abole a barreira entre o simples e o simplório. Trabalha com definições curtas, como na lógica do estabelecimento do número máximo de caracteres."**

Simples não é (necessariamente) simplório, assim como complexo não é (necessariamente) complicado.

"Aquilo que demora por se fazer entender é identificado como que possuindo uma falha congênita, por isso mesmo deve ser excluído, marginalizado. "**

Idéias captadas pela intuição dificilmente são transmissíveis. Como nosso mundo não gosta de enrolação, descarta-se o indivíduo que tenta captar e transmitir algo que tente ir além. Marginaliza-se sob várias formas.

Mesmo passando para o papel, o Ideal já se corrompeu.

Do Infinito para a mente há uma degradação.

Da mente para a palavra escrita (ou falada) há uma segunda degradação.

Por mais intenso que seja o contato entre Receptor e Emissor. Por melhor que seja a sintonia, haverá sempre uma impossibilidade em transmitir um conceito além do que se conhece - no presente. Ubaldi exercitou isso ao longo de sua Obra de 24 volumes.

A Grande Sìntese foi a captação de noúres***. Não provêm de um ser humano. Isso conclui quando li esse tratado cósmico da Vida. "Um ser humano não consegue escrever assim". Jamais conclui isso lendo nada. Nem poemas, nem obras famosas, nem tratados científicos ou artigos ou etc. Nunca vi igual...

Já disseram sobre essa Síntese: Igualá-la é difícil. Superá-la, impossível...

Escarafunchemos mais a fundo o momento atual:
" Ao se conformar ao informacional, o pensamento fácil demanda um tipo de transparência absoluta dos enunciados, que não devem possuir qualquer opacidade, devem ser privados de qualquer sentido que não seja o aparente. Desse modo, também a linguagem, as capacidades expressivas são alteradas pelo critério da brevidade, que é a regra linguística do pensamento fácil."**

E há consequências dessa pensamento simplista:
"Ora, o pensamento fácil enseja algo ainda mais negativo. Por acomodar as coisas à superficialidade simplista, ele contribui para uma visão naturalizada dos problemas histórico-sociais" **

Naturalizar problemas histórico-sociais significa abdicar da tarefa de lidar com a questão humana. É deixar de construir com orientação, para reproduzir por ostentação e satisfação.

O pensamento fácil não consegue penetrar nas contradições. É incapaz de desvendá-las. Prefere ignorá-las.

"pensamento fácil trabalha com generalizações, e por isso é propício à criação dos bodes expiatórios."**


E confirmando o que eu sempre sentia e disse há pouco aqui:
"Se também nós nos acomodarmos ao pensamento fácil, cada vez mais perderemos a capacidade de realizar a crítica do presente, pois enquanto nos dão a facilidade como regra, o mundo se complexifica, nos pedindo cada vez mais o forjar de alternativas novas. Estas demandam sempre esforço, pertinácia e tempo. "**

Um indivíduo que já nasceu com alto grau de consciência, aqui no Brasil, e pode nos apontar algumas setas para o Infinito, é EDUARDO MARINHO.

Ele VIVE o Transformismo.




Referências
* de Fran Alavina [Outraspalavras]
** http://outraspalavras.net/uncategorized/a-internet-e-as-artimanhas-do-pensamento-facil/
** correntes de pensamento elevadas

domingo, 14 de agosto de 2016

Superação Individual-Coletiva

Boaventura de Souza Santos é sociólogo português. Leciona nas Universidades de Coimbra (Portugal) e Wisconsin-Madison (EUA). Participa ativamente do Fórum Social Mundial há anos, e agora nos fornece quinze pontos cruciais para construirmos alternativas à dominação neoliberal - ou, melhor dizendo, do egoísmo.

http://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/boaventura-quinze-teses-por-uma-nova-esquerda/

O avançar do tempo leva formas mentais ao seu desenvolvimento e posterior exaustão. A exaustão delas em si não constitui problema grave. O que ameaça seriamente - especialmente agora, tempos de alta tecnologia, muita (des) informação e distração - a democracia e o consequente desenvolvimento humano é justamente a incapacidade de criarmos novas formas mentais para ajudar o sistema atual desmoronar, prejudicando a menor quantidade de vidas, e paralelamente criar um novo sistema coletivo, pautado por outras prioridades supremas que não o lucro e a competição.

Não há mais uma separação clara entre quem é quem. Devemos perceber isso antes de tudo. Isso não significa que seja feio (como dizem) denunciar atos ilícitos, mas sim que isso tenha que ser feito após o indivíduo adquirir uma visão holística da sociedade, além de perceber o seu transformismo - isto é, compreender que os ideais sempre retornam ao mundo, encarnado em grupos, correntes de pensamento e indivíduos (geralmente perseguidos, ignorados, marginalizados ou tudo isso junto), com força renovada e criatividade inexplorada.

Democracia representativa sozinha é impotente para criar uma Democracia. Deve-se criar mecanismos para o surgimento de uma democracia participativa, que vá se articulando com a representativa, de modo a dar força ao que se teoriza como (verdadeira) Democracia.

Democracia de verdade envolve o desmantelamento da estrutura autoritárias das empresas - que nada mais são do que ditaduras psico-financeiras camufladas sob vestes nobres. Envolve a participação democrática dos trabalhadores em todas decisões corporativas. Afinal de contas, quem produz deve decidir.

Grande parte das cúpulas corporativas espalham aos quatro ventos que o setor público é corrupto e o Estado deve ser diminuído ao máximo - exceto quando este deve dar isenções fiscais, suporte financeiro em tempos de crise, e outras benesses para manter os bônus dos VPs altos e suas especulações financeiras em dia. De fato, isso é uma verdade. Mas eles se esquecem de falar que muitos desastres públicos são gerados por haver uma forte influência de interesses privados nos governos (em todas esferas: federal, estadual, municipal). Se esquecem também de que o setor privado é infinitamente mais corrupto do que o público, além de ser o carro-chefe da sonegação - que é um tipo elegante de corrupção.

Para quem deseja compreender esse último argumento recomendo a leitura e reflexão do seguinte ensaio:

http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/01/corrupcao-e-sonegacao-problemas.html

Nossa mídia não difunde, mas se qualquer um tiver tempo (algo raro nos dias atuais) e digitar "suiçalão", "Panama papers" ou "embraer e república dominicana", "Monsanto e transgênicos" no Google, e começar a investigar à fundo, começará a perceber

Isso não é novo. Apenas a vazão dessas notícias tornou-se um pouco (mas só um pouco!) maior. Pois os desvios são muito gritantes e a sociedade, por mais adormecida que ainda esteja coletivamente, já é muito mais inteligente do que a sociedade de 20 ou 30 anos atrás. Em suma: é cada vez mais difícil enganar as massas.

Mas a mídia tem seus próprios interesses - como todo mundo. No entanto, sua influência é enorme e com isso deveria (deveria...) surgir um senso de responsabilidade perante o que se apresenta, como se apresenta, quando se apresenta, e quem é convidado a falar nas TVs e escrever nas revistas e jornais. Mas infelizmente, quando se cresce demais, os interesses monetários sobrepujam o dever pela difusão da verdade integral.

Até agora falei apenas em sociedade, mídia e política. Translademos para a questão econômico-ambiental.

Vivemos num planeta com recursos finitos. Somos mais de 7 bilhões. Economias crescem para dar a seus habitantes padrões de vida melhor - seja para evitar revoltas ou fazer frente a outros países ou propagandear o sucesso de seu sistema. No entanto, esquecem-se de que a divisão nacional sem o desenvolvimento de uma diplomacia que dê uma visão internacional, de humanidade unificada consigo mesma e com as outras espécies e o planeta, tende a desmoronar em guerras, insegurança, ineficiência, baixo desenvolvimento, pobreza (cultural, intelectiva, afetiva), além de escapar ao mais importante: a aquisição do senso unitário.

Não podemos superar os novos desafios que surgem sem mudar a mentalidade que os gerou. Isso já foi dito (e é dito) há muito tempo (por muita gente).

A expansão da consciência leva a uma nova forma mental. Esta, internalizada, transformada em voltagem (inconformidade, dor, questionamentos, constatação) por um bom tempo, se transforma em amperagem (ideias, teorias, escritos, força no falar e no agir)*. Com isso pode-se iniciar a agir de dentro para fora, atuando no mundo de forma a repudiar o que não mais serve, e exaltar as fendas que nos levarão para uma possível salvação - melhor dizendo, a continuação de nossa jornada evolutiva coletiva.

Individualmente evoluímos independentemente das circunstâncias externas. Mas a tarefa vai se tornando mais árdua à medida que as circunstâncias permaneçam contrastantes e refratárias ao nosso modo de ser. Apenas evoluindo coletivamente, nem que um pouco (o que já é muito!) podemos tornar o trabalho de nossa espécie eficiente. Não se trata de impor uma visão e sim de chegar conduzir as diversidades à unidade - sem coerção.  

Para chegarmos a uma visão unitária devemos abdicar do egoísmo de nossa formação. Senão ficaremos presos a uma forma mental que prioriza um determinado ponto de vista sobre o mundo. Criaremos sistemas de crenças ou filosóficos que se fecham em si mesmos. Uma pessoa com formação em engenharia, comumente, verá o mundo das Ciências Humanas e/ou Ecológicas como empecilhos, e a Arte como uma mera distração (no máximo!), mas jamais um meio para levar a ativar sentimentos que despertem sua busca por ascensão. O misticismo está longe, muito longe...

Depois devemos abandonar o egoísmo de classe social, sem no entanto deixar de perceber que existe uma luta de classes. O que quero dizer com isso? Primeiro, que não podemos criticar/combater o(s) outro(s) simplesmente porque ele possui x ou y a mais. Devemos sim combater o fato (muito comum) dessa pessoa ser dependente (possuído) de suas posses, levando ao mal dela mesma e das pessoas no entorno, degradando relações afetivas, familiares, sociais, no trabalho, apenas para manter sua imagem, status, nome e posses. Esse egoísmo derivado da aquisição de coisas do mundo (títulos, posses, imagem, corpo, dinheiro, etc) parece não encontrar uma assíntota no ser humano atual. É preciso desenvolvê-lo interiormente - e denunciá-lo sim, em si mesmo e nos outros, doa a quem doer.

Devemos igualmente abandonar nosso egoísmo do corpo. Isso significa não viver em função dele, mas mantê-lo saudável para que possamos desempenhar nossas funções no mundo. A moda dos jovens (e adultos e idosos) irem às academias incessantemente, buscando uma perfeição inexistente e insustentável, - que muito custa diariamente - é algo que leva todos a perderem oportunidades para coisas mais importantes. Por que isso corre? A preocupação com a imagem física. As pessoas querem ser desejadas. São dependentes do desejo alheio para se avaliarem como pessoas de sucesso/felizes ou não. Isso é um exemplo de dependência de correntes coletivas do mundo. Eu sei que é muito difícil se livrar dessa dependência, mas é algo a ser feito se o ser humano deseja se tornar verdadeiramente livre, em paz com si e com o universo, e consequentemente realizado.

A imagem social é outra chaga. Ela destrói amizades simplesmente porque alguém decide seguir sua consciência e questionar ou iniciar um contato com um excluído (por exemplo). Ela é um traço de vaidade que nos irrita constantemente, porque sempre o mundo lança tentações - um é mais falado que o outro, outro é melhor, outro ainda é mais requisitado, reconhecido, etc. Não que estas sejam ruins. Elas são naturais. O problema é que agimos como autômatos, instintivamente, usando a racionalidade apenas para sustentar instintos (por vezes baixos), e não percebemos que poderíamos resolver esses problemas se nos dedicássemos a "perder tempo" com nossas dores, escavando, constatando e descobrindo - por conta própria.

"O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido." 
Bertrand Russel (1872-1970)

Agora nos vemos diante da questão econômica e ambiental.

Não podemos crescer economicamente indefinidamente. Individual ou coletivamente. Porque isso não é compatível com a realidade física do planeta e suas espécies.

O problema é que aqueles que desejam atingir um equilíbrio podem até chegar a um modo de vida muito mias racional e harmonioso do que a média (os "normais"), mas ficam muito aquém de suas metas. Por que? Serão incompetentes? Não...Porque simplesmente para se atingir aqui, neste mundo físico atual, uma eficiência máxima, dependemos de um sistema capaz de nos propiciar os meios para viabilizarmos nossas ideias. É claro que individualmente podemos muito, mas existe essa necessidade, a meu ver, de possuirmos os meios externos para irmos além de um ponto - pelo menos se quisermos realizar isso neste mundo, encarnados.

Exemplo:
O que é fundamental para um ser humano ter um a vida digna? Alimentação, moradia num local decente (com parques, creches, médicos, escolas, trabalho próximos), segurança física e financeira (estabilidade no emprego...que geralmente não deve ser de uma entidade privada...), saúde, educaçãocultura, vestimenta, energia e liberdade. Em termos gerais. Agora, para que alguém tenha acesso a esses direitos fundamentais (que nossa civilização tem todas condições de propiciar, segundo um dos mais renomados estudiosos contemporâneos***), já é preciso (obrigatório) possuir um bom salário. Faça as contas e constate: com menos de 4 ou 5 mil reais mensais, dificilmente uma família com dois filhos conseguirá manter um convênio médico para todos, educação da creche à pós-graduação, internet, roupas limpas, higiene, automóvel, uma casa/apartamento decente e idas ao cinema (cinema bom, com programação decente), compra de livros, cursos de música ou línguas ou balé ou tudo isso junto. No entanto, pesquisem à fundo: poucos são as pessoas que conseguem encontrar empregos bem remunerados. Muito menos estáveis. Muito menos (razoavelmente) bem remunerados, estáveis e com algum sentido. Quem possui isso, está em dívida consigo mesmo e com o semelhante, e deve dedicar o máximo de suas energias e tempo em atividades sérias, para melhorar a si mesmo e o mundo em que vive.

Como se vê, viver com o necessário já exige muito dinheiro - que é cada vez mais concentrado.

De nada adianta criar riqueza se ela se concentra na mão de pouquíssimos - que nada produzem.
É inviável manter uma civilização na qual existam banqueiros que recebam milhões de dólares (ou bilhões) em bônus e rendimentos de especulações financeiras, enquanto bilhões sequer sabem o que é comer 3 vezes ao dia e não passar frio. Não se trata de nada mais do que limitar as diferenças a um patamar sustentável. 1:10 é uma diferenciação saudável. 1:40 é de suspeitar. 1:200 é estranho. 1:500 é bisonho. 1:1000 é destrutivo.

No entanto não nos damos conta de que o equilíbrio não é nem a igualização absoluta nem a liberdade absoluta (dos instintos), e sim um equilíbrio com diferenciações atingido pela libertação do egoísmo.

Devemos buscar eficiência igualmente. E mudar de paradigma. Não podemos ser obrigados a crescer para manter nosso padrão de vida. Ou melhor, não devemos ser obrigados a contribuir com o crescimento da economia para mantermos uma vida decente. 

Há algo de estranho nisso...

Por que precisamos gerar mais matéria (que acaba por se concentrar nas mãos de irresponsáveis, em sua grande maioria) para termos uma chance de mantermos um patamar de vida digno?

Nos amarramos numa lógica de crescimento que sustenta um sistema (da "roda girando sempre", a qualquer custo****). E se rompêssemos essa lógica em nossa mente, servindo de exemplo a outros? Será que isso não poderia iniciar uma frente de resistência? Será que isso não nos impediria de cairmos num abismo do qual levaríamos séculos (ou milênios) para nos recuperar?

Deve-se buscar crescimento sim. Mas em outros planos. O plano material-mental está saturado. Eles devem deixar de ser o carro-chefe para dar lugar a outro: a consciência. 

Enquanto não percebermos isso nada adiantará. Nenhum sistema nos salvará, nenhum plano de austeridade solucionará.

Só a consciência salvará.

Consciência.


Referências
*http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/05/voltagem-para-amperagem.html
**https://blogdaboitempo.com.br/2011/03/01/1003/
*** http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n122/0101-6628-sssoc-122-0381.pdf
**** http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/outras-rodas-devem-girar.html




quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ben-Hur e a Natureza Crística Subjacente

Pouco se conhece sobre o muito. Muito se conhece sobre o pouco. Esse é o estado atual da humanidade desde o advento da Civilização. Houveram clarões e algumas comunidades ou ordens edificadas como consequência - muito restritas. Mas não conseguiram causar o impacto necessário para nos transformar. Essas foram tentativas de finitos humanos trazerem o caminho para a integração com o Infinito Divino. No entanto, existe uma Lei que age incessantemente, indicando através de nós (nossas ações, nossas "criações") que há um telefinalismo.

Já discorri sobre isso. Não falo nada de novo. Os Últimos Problemas sempre fascinaram porque tudo objetivam explicar, e nada intencionam ignorar. E pessoas em contato sincero com suas dores e angústias conseguiram concentrar essa alta voltagem por tempo suficiente em seus espíritos, ordenando-a, compreendendo-a, assimilando-a, integrando-a em seu ser. Enfim, amando-a por ser a fenda para a Evolução.

Reduzido à escravidão por não trair o que sua consciência
dizia, Ben-Hur se mantém firme, sem arrependimentos,
apesar das muitas dores da injustiça humana.
A Vida fala todo dia. Em certos momentos históricos, ela difunde uma sinfonia que nos convida a participar do momento atual de forma consciente e vigorosa. Os mais sapientes sentem-na a todo momento, se integrando ao presente para atingir a eternidade; e qualificando suas poucas (ou muitas) quantidades, integrando-se ao Infinito. Os iniciados precisam de mais estímulos: Cinema, música, belos ensaios, ideais e ideias; outros ainda buscam pela afetividade; e há aqueles que buscam nas ocupações mundanas. Mas todos caminham para a mesma meta: Deus. Ou melhor, a integração completa com sua Lei.

Ben-Hur é um filme que capaz mostrar o que é: mais do que um excelente filme. Mais do que uma excelente obra de arte. Ele apenas possui essas qualidades - reconhecidas - porque traz subjacente um portal para um outro mundo: o da retidão e sinceridade. Um mundo dentro de nós e de todo esse mundo ilusório.

Desde a trilha sonora, ora dramática, ora suave, ora mística, ora reflexiva; passando pelo roteiro (a alma de um filme) que respeita o tempo, desenvolvendo o personagem principal; até a atuação de seus personagens e todas cenas, Ben-Hur é uma experiência a ser vivenciada na tela grande, com imersão total do Ser em sua história, sua música, seus personagens...e seu significado profundo.

A cena abaixo dispensa comentários. Ela demonstra a natureza de Cristo.

Nela todos elementos estão em harmonia. A música transmite a tensão explosiva e intermitente de Judah Ben-Hur. Não há perspectivas. A vida escorre por um fio. Não há justiça nem amor à vista. Nada se fez para merecer aquele destino, exceto seguir sua consciência e abraçá-la, trabalhando em conjunto com seu Logos crístico. É o mundo esmagando aqueles que ousam ir além das reticências - muito além.

O golpe doloroso e pouco suportado revela que até então
a simplicidade das pombas estava sozinha. Faltava a
experiência do mundo par a ganhar a sagacidade - sem no
entanto perder a bondade...
No entanto o desespero é sincero. Tão forte quanto a vontade em buscar uma realidade mais englobante. Dilatação e consciência. Redução das necessidades. Maturação mística gerando explosão ética. 

Com certos pré-requisitos cumpridos à rigor, uma Lei começa a atuar de forma a enquadrar todas as outras leis (conhecidas, relativas) numa Ordem Superior, auxiliando alguns seres a realizarem suas vidas, sofram o que sofrerem pelos poderes do mundo - poderes ignorantes, mas também construtores diante de algo maior, nunca antes visto ou sentido. Poderes que se curvam perante outra natureza.

Ubaldi discorreu com rigor e paixão sobre essas condições em seu livro Queda e Salvação. É um relato ardentemente lógico e sincero - um casamento de outro mundo - que convence nos dois campos: o místico e o racional. Porque é integral.

Todas palavras deixadas aqui são intensas, derivam de uma ardente vontade de ascensão, e devem cumprir uma função muito além do que se é usual. Caso contrário estarão mortas ao amanhecer.

Sem sinceridade não há intensidade no falar.
Sem intensidade no falar não se diz nada.
Sem dizer nada, tudo se desperdiça.
Todo desperdiço atrasa a evolução.

A sinceridade intensifica a fala que transmite os dizeres sagrados de forma simples, sem desperdiçar tempo, energia e conhecimento com coisas mundanas. Isso leva ao equilíbrio, que ecoa os dizeres: nem abuso, nem recusa: apenas uso. O equilíbrio nos mantêm na reta vertical ascensional, qualquer que seja o nível evolutivo em que nos encontremos, induzindo nosso Ser a evoluir, evoluir, evoluir...

Todos evoluem a seu tempo, a seu modo. Ninguém escapa à Lei, que funciona a longo prazo e dá ao ser liberdade de escolha nas causas, mas atrela-o às consequências da colheita logo após terem sido lançadas as sementes - sejam elas do amor ou do medo.

Transformou minha concepção de mundo.
Um dos grandes místicos do século XX.
Intuição que superou a razão...
Imortalizar-se é ir além das aparências. É atingir em vida um grau de percepção fora do comum, para libertar-se das amarras das misérias do mundo das aparências - que de tanto levarmos a sério acabamos nos tornando seus servos. Imortalizar-se é fundir-se ao momento, fazendo sua atividade com vontade, intensidade e finalidade. Vontade de ser mais amanhã do que ontem; intensidade para persistir e suportar as monumentais barreiras que se impõem; e finalidade para nos orientarmos em todas circunstâncias, sejam críticas ou suaves.

Já vi diante de meus olhos a atuação de uma Lei que ainda sou incapaz de explicar. Recusei o que o mundo aceita sem muito questionamento. E quanto mais me entrosava numa realidade pobre e autoritária, mais difícil era a recusa. Mas eu recusava. Recusava sinceramente. Nessa época comecei a imaginar como seria um outro mundo, com outra organização. Com outras finalidades. Com outra lógica. Uma lógica que plasmase um novo sistema, capaz de dar mais liberdade ao Ser - em seu mais amplo aspecto. Liberdade que nos desobrigasse a ser falsos para sobreviver, para garantir algo necessário. Liberdade para usarmos nosso tempo para desenvolver nossas potencialidades latentes. Liberdade para descobrir o que realmente é a Vida. Eis que começaram a surgir as ideias e todas teorias.

As ideias eram geradas porque eu arranhava os limites do mundo - seu teto - até as unhas sangrarem e os dedos gritarem de dor. E começava a brotar ideias e mais ideias, que se desdobravam em vários assuntos. Elas acabavam por tangenciar diversos aspectos da vida. Com elas apareceu, inexplicavelmente, uma vontade ímpar em transmiti-las. Não estudei nem planejei. Apenas comecei a descarregar as palavras num jato. Eis a gênese desse blog. Desde então eu me dedico a transmitir - mesmo que de forma pobre, com palavras - a Unidade atuando nas diversidades, e estas interagindo para chegar à aquela.

Vida é ilusão, é dor, é sofrimento, é transformação, é superação. Para se chegar a uma ilusão mais próxima da Realidade. E assim sucessivamente.

Nada quero. Tudo posso. 

A face do Cristo em Jesus é indescritível. Ela se revela
através de nossas reações a ela. Cada um de acordo com sua
natureza...
As palavras surgem à medida que estou pronto - assim como as portas da vida se abrem seguindo a mesma lógica. É de uma beleza indescritível. Ascensões humanas...

Assistir Ben-Hur após uma dilatação de consciência me encanta. E isso indica que estou no caminho certo..

Espero Ser melhor a cada dia.
Assim farei sempre mais e melhor.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Sinceridade Consciente

Todos desenvolvimentos previstos tomam seu curso. Parece ser irrefreável a engrenagem materializada pela forma mental humana hodierna. Me refiro ao Neoliberalismo em todas suas vertentes: a vida afetiva (com a mercantilização dos nosso corpo, nossa aparência, nossa posição social, nossos títulos e publicações e etnia e crenças); a vida laboral (com pressões cada vez mais injustificadas e resultados cada vez mais sem sentido. sem sentido para um mundo que clama por novos paradigmas, com novos parâmetros e novas prioridades); a forma como lidamos com temas coletivos e ecológicos. Nesse último quesito vejo o quão impressionante é a (in)capacidade humana em compreender a necessidade do choque entre os opostos, lidando com o outro, absorvendo o bom dele, e eliminando o ruim dele. E vice-versa: nós, adquirindo habilidades e vontade e tempo e energia para conduzirmos nosso ser a um ponto em que ele abandone o seu menos e abrace o seu mais.

Já desenvolvi o tema do Absoluto e relativo*, revelando que ambos devem ser compreendidos à fundo, e trabalhados ininterruptamente. O sistema imperante usa do relativismo para impedir a unificação dos conscientes - ou daqueles prestes a atingir um grau de consciência crítico. Ele impede que os explorados cheguem a um consenso e comecem a implementar medidas de ajuda mútua, que levaria a uma resistência consciente e influente à lógica atual. Os explorados, quem são? Minorias e maiorias. Mulheres, negros, pardos, índios, crianças, pobres, ricos conscientes, instruídos sapientes,...Qualquer pessoa que mergulhe a fundo em sua dor e não caia num pessimismo mórbido, mas que gere uma realismo potente e orientado - por vezes vulcânico - com o intuito de se impulsionar sempre para o alto.

O texto do Negro Belchior expõe qual é o mal do século:

http://negrobelchior.cartacapital.com.br/abaixo-ditadura-neoliberal/

Todos regimes autoritários anteriores são leves perto do que toma corpo. Não apenas aqui no Brasil, mas no mundo.

Não me refiro necessariamente a uma gangue de corruptos (apesar desses serem parte dessa grande corrente mental egoísta), capatazes de senhores muito mais poderosos, nem a uma determinada instituição. Nada disso...Trata-se de um mal que permeia a espécie humana: o ego luciférico. Este é melhor encarnado pela lógica financeira-corporativa atual, cuja única finalidade é o lucro. Para isso valem todos os mecanismos: propaganda, violência "justificada", manipulação midiática nos jornais, nas propagandas, nos programas. E a própria Arte se torna serva desse Leviatã, que dita o que ela deve dizer, como deve dizer, se deve dizer...

Estamos presos numa casa prestes a desabar.
Fora há chuva. Chuva torrencial...
Dentro há o que vêm crescendo: calor...
O fogo se alastra e achamos normal.
Não queremos sair.
Nos prendemos a uma forma mental.
Que está prestes a nos trair de vez...
Há uma degradação do Cinema nos últimos 10 ou 15 anos. O que antes já era raro em Hollywood, hoje é praticamente inexistente. Julia Roberts, por exemplo, afirma que se ela quisesse filmar "Uma Linda Mulher" hoje em dia, nenhum produtor apoiaria: o público simplesmente não gostaria. E todos mecanismos alimentam esse afastamento Ser-Arte.

Tudo é movido pela lógica de comercialização, que nada mais serve a não ser interesses egoístas de uma minoria. E muitos, explorados em seu tempo, em suas oportunidades, em suas mentes, ainda optam por apoiar uma lógica que lhes causa mal. Porque não compreendem o grande quadro, que grita a cada dia o grito do desespero. Um grito constante e intenso. Um grito do planeta Terra. Um planeta que vive e quer auxiliar todas espécies - especialmente a nossa. Um planeta que nos provê tudo na medida, cabendo a nós apenas adquirimos um mínimo de consciência. 

No neoliberalismo impera a seguinte lógica: deve-se manter todos distraídos e "felizes", num estado que impossibilite questionamentos. Reflexão apenas na superfície. Nas palavras. Na forma. Jamais em seu aspecto prático, de aprofundamento, de introspecção, de descoberta interior...

Da consciência vem a sinceridade. Devemos despertar a sinceridade consciente. Somente assim conduziremos nossos finitos de modo ordenado. Nossos estudos científicos, nossos trabalhos diários, nossa conduta com os familiares, nossa postura política, nossa visão de economia, nossa capacidade de dialogar não apenas com o semelhante, mas com todos os seres desse planeta, a fauna e a flora.

"As árvores são nossa amigas", disse eu um dia para minha querida esposa. Elas merecem nosso abraço não apenas por equilibrar nossa atmosfera**, e sim por suportarem amorosamente tamanho desrespeito à sua função. Não valorizamos porque elas não falam, não produzem. Só as vemos como algo mercantilizável, extraindo significado financeiro pelas raízes. Assim iniciamos nossa extinção.

Muitos engessaram no tempo. Estão com a mentalidade na (e da) década de 80. Não percebem o transformismo que aponta para onde devemos seguir***. Deixaram de perceber que o ideal vai e volta sob várias vestes, como ideias. Ideias cada vez mais refinadas, resistentes, flexíveis e racionais. Ideias capazes de unir mais ideal com real. Ideias cada vez mais fortes quanto mais sinceras forem com o Ideal que representam.

Crescimento e Desenvolvimento não são sinônimos.
Trabalho e Emprego não são idênticos.

Ou comecemos a diferenciá-los, ou seremos vítimas de nossas ilusões.

Trabalho alienante e consumo conspícuo é o que alimenta o sistema capitalista-neoliberal.

Trabalho consciente e consumo essencial é o que o ameaça...

Não é à toa: todos grande iluminados e iluminadas foram perseguidos ou ignorados ou tiveram sua missão dificultada do início ao fim de sua existência terrestre.

Podemos mais...muito mais...


Referências, Comentários e Recomendações
* http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/08/desmistificando-ideias-quase-arraigadas.html

** em termos respiratórios, as árvores constituem um sistema coletivo que é o inverso-complementar dos seres humanos: elas absorvem CO2 e liberam O2 através da fotossíntese - nós inalamos O2 e liberamos CO2. Um necessita do outro.

***http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/nocao-de-transformismo.html