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sexta-feira, 28 de julho de 2017

As Três Perguntas

Os melhores escritos, neste espaço, nasceram de uma experiência profunda de dor, amargura, paixão e explosão interior. Sempre assim. Jamais de outra forma. Parece que o combustível espiritual são os choques materiais, do mundo, em todas suas formas, desde o nível físico até ao psíquico. Apenas sob inspiração é possível despejar alguma nova visão, que seja minimamente útil para os séculos vindouros. Para o novo ser humano, regido interiormente por um novo paradigma.

Nós não compreendemos o que lemos. Nem o que estudamos. Mas o que sentimos fica marcado na alma. Imprime-se uma marca abstrata. Uma ferida profunda. Uma experiência que abala nossa vida, de tal forma a fazer-nos mudar radicalmente de comportamento, adotando uma nova postura, com orientação diversa, mais eficiente por dentro - e ineficiente por fora, do ponto de vista do mundo.

O ser humano é um mosaico de traumas, com uma miríade de obrigações, sem a menor noção de quem ele é de fato. Como um iceberg, atuamos e sentimos apenas o que está acima do nível do mar - mas não vamos além dele, mergulhando em profundidades do subconsciente que nos dita as atitudes e gestos automáticos, que consideramos herdados do meio (jamais de nós mesmos); nem alçando altitudes mais ousadas, onde a atmosfera é mais rarefeita e a existência mais sutil..Operamos no nível do consciente. Cada qual no seu nível, com sua largura de faixa. Mas todos - a imensa maioria, operando dentro de uma faixa mais ou menos igual, fazendo com que o coletivo da humanidade forme uma média férrea, que impõe leis férreas a si mesma, e penas severas para quem se encontre fora de suas unidades de medida. 

Aqueles que se encontram no sub-normal são compreendidos e enquadrados pela mentalidade hodierna (95 a 99% dos seres). Esta não enxerga o caráter evolutivo de todos biótipos. Tudo é fixo e imutável. Todas transformações já ocorreram em nosso planeta, em nossas espécies vegetais, animais, em nossa espécie,...E a natureza é imutável! É isso o que afirma a mentalidade hodierna, racional-analítica, com suas matizes e métodos. No entanto, admitir tal coisa seria um atentado ao nosso senso de bondade, de possibilidades, de transformação, de evolução.

Concebemos ideias, gestamos teorias, criamos artefatos em função de nossa escala de tempo, de nossas possibilidades presentes, e de nossos instintos (não superados ainda). Nosso subconsciente, que ainda é forte e domina o nosso consciente, que somente se desenvolveu, em larga medida, para satisfazê-lo. O instinto animal ainda domina. Vemos isso na ganância política, na arrogância da ciência, na obsessão tecnológica, na exclusão econômica, no desprezo cultural, na agressão às artes, no abuso da religião, na insensibilidade social. Quem percebe tudo isso? Poucos. Quem sente isso e vê o caminho para superar essa realidade? Pouquíssimos. Mas o conceito se espalha, porque o universo é dotado de um dinamismo, desde o átomo até o arcanjo, tudo está em evolução. Toda entidade, toda individualidade, está saturada de uma inteligência compatível à sua natureza. Cada átomo, molécula, célula, tecido, ser vivo, conceito,...tudo está impregnado de um vir-a-ser. Evolução.

O super-normal vê e sente. Logo, ele vive em outro plano. A forma de perceber as relações é diversa. A forma de atuar é estranha ao mundo. O desejo de escavar esse inconsciente, é imenso. O ímpeto dirigido à destruição de sua natureza inferior é uma explosão de paixão pelos conceitos do Alto, que tudo enquadram e consequentemente dominam, com maestria ímpar e sutileza cativante! Mas a classificação - do mundo - é semelhante àquela dada ao infra-normal: problemático a ser corrigido. Forçá-lo a um modo de vida, ao menos em algumas esferas de convivência, para não expor o mundo a sua verdadeira realidade. 

Alguém já deve ter se perguntado porque no filme Ben-Hur o diretor optou por não mostrar a face de Cristo. Essa curiosidade (vã) de ver a face de um Ser evoluído - o mais alto que passou por essa orbe - em nada nos ajuda a sermos melhores. Nos prende às aparências. De fato, Cristo terá a face que mais nos convier, de forma a estabelecer uma identificação entre aquele que adora e o objeto adorado. Aí já temos dois erros crassos: "adorar" está para culto. Culto está para forma. Forma está para aparência. Aparência oculta e engessa o ser, em seu ímpeto de auto-melhora, transformação...E "objeto" está para uso. E aquilo que se usa não é dotado de livre-arbítrio, e sim se prende às leis determinista - justamente o avesso de Cristo, Ser mais consciente entre todos que passaram pela superfície, logo, com máxima liberdade - de até mover montanhas, pelo pensamento...

Muitos se isolam pelo motivos errados. Muitos falam pouco, interagem pouco, correm atrás pouco. Pelos motivos errados, e com isso acabam alimentando medos, ódios e senso de arrogância em relação às outras formas de vida, seja conceitos, sociedade ou natureza. 

Já faz muitos meses que escrevi um ensaio que diferenciava sociabilidade da sensibilidade social. Pois está na hora de diferenciar amigabilidade a integração universal. Trata-se apenas de estender os mesmos conceitos para a natureza infra-humana e supra-humana. Ser integrado ao Todo - ou estar caminhando para isso - não implica em fazer barulho no mundo. Em participar em momentos em que se espera, da forma que muitos esperam. Em se mostrar preocupado em algo mas sem saber exatamente, à fundo, o porquê disso. Trata-se um uma ideia que exige uma leitura espiritual - jamais analítica. 

"A letra mata, o espírito vivifica." (2ª, Co 3.6 )

Todos aqueles que atingiram o vértice do pensamento, derramando em formas diversas - de melodias sublimes, quadros impressionantes ou suavizantes, equações matemáticas, conceitos filosóficos, inventos formidáveis - algo que o mundo julgava inconcebível, irrealizável, buscaram um contato mais íntimo com o silêncio trovejante. Queriam ver a luz invisível. Luz que ofusca os olhos da alma. Eleva o ser até um estado de êxtase sem par no mundo terreno. 

Conhecer a si mesmo é conhecer a lei do universo. Conhecê-la é dominá-la conceptualmente, percorrendo a trilha que não te trará as reações da Lei (de Deus). Essa é, de fato, a única lei a ser respeitada. Lei que se manifesta numa multiplicidade de outras leis, em todos níveis (espiritual, social, psíquico, biológico, físico), em todos aspectos (jurídico, científico, religioso, ético, filosófico, artístico, político, econômico) em todos tempos e em todo lugar. Até que tudo se funda num organismo uno, harmônico e orientado. Até que cheguemos ao fim dos tempos. Nesse ponto a Lei continuará a se manifestar. De forma mais elevada, em universos conceptuais, em que a vida não tem necessidade de sustentação física para existir.

Mas o que está em questão aqui é o grau de sociabilidade de um ser. Em que aspecto podemos julgar que a não-sociabilidade é patológica? Com que argumentos podemos justificar nossas ações de enquadrar um filho, um aluno, um amigo ou colega, uma personalidade famosa, numa dada categoria, e impor uma diversa para "melhoria"? Isso é uma questão difícil se não houver as perguntas certas a serem feitas. E portanto o autor teve uma visão, que partiu de vivência intensa, de altíssima voltagem, com choques e desdobramentos que por vezes levaram à exaustão. Essa visão deu as três perguntas fundamentais que qualquer um pode fazer a si mesmo antes de se classificar (reconhecer) sua anti-sociabilidade e iniciar uma aproximação (integração) com o mundo circunjacente. 

1. Eu não interajo porque tenho medo?
2. Eu não interajo porque tenho ódio?
3. Eu não interajo porque me considero superior (arrogante)?

Medo de passar por alguma situação, de ter de expor algo, de algum indivíduo, de alguma corrente de pensamento. Ódio de alguma corrente de pensamento, de algum indivíduo, de um grupo. Arrogância em relação a alguém, a tudo, a todos. Pode ser uma combinação de dois - ou os três... uma repulsa completa! A questão é fazer as perguntas a si mesmo e respondê-las honestamente, com sinceridade, pensando em sua cura, com a eliminação gradativa de traumas e superação de obstáculos. Aí inciar-se-á uma psicodiagnose. 

Quem atingiu um grau de consciência tal que pode olhar a si mesmo e ter consciência de seus defeitos, procurando enquadrá-los numa ordem maior e absorvê-los, pode fazer seu próprio tratamento, sem uso dos recursos terrenos - que muitas vezes indicam caminhos ineficazes ou equivocados, tentando por vezes enquadrar o ser numa ordem que não lhe cabe, implicando em animalização de sua natureza florescente. A psicanálise atual se preocupa em dar ao indivíduo uma "solução" aos seus problemas: aliviar-lhe a dor. Eis que voltamos aos conceitos já aqui desenvolvidos através de analogia físico-psíquica [1], e sistematizados de forma gráfica e analítica em diversos ensaios [2]. Mas se é necessário transcender uma barreira, isso significa que deve-se passar por ela. Atravessá-la. Superá-la. Não voltar atrás, deixando-a diante de você, novamente, mas mais distante - e portanto menos ameaçadora e dolorosa. 

Um dia todos teremos de passar por essa barreira, sem a qual estaremos condenados a uma dor cada vez mais intensa, até chegar ao grau de insuportabilidade humana, que é uma experiência fantástica de dor multi-cromática - que não é agradável.

As perguntas devem ser respondidas. É provável que a resposta (honesta) seja afirmativa em pelo menos um dos casos. Caso não seja, nada há a temer. Nenhuma mudança é necessária, por mais que o mundo por vezes o convide (imponha, force, exija,...) a isso. Pois tudo já está resolvido internamente. Se houver uma necessidade ou vontade de interação com o outro, a interação se dará - e assim tudo se encaixa perfeitamente.


Observações
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/10/rompendo-barreira-do-som-espiritual.html
[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo.html
      https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_27.html
      https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_81.html
      https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_28.html
      https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_9.html
      https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_81.html
      http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_86.html
      https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_40.html

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