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domingo, 25 de março de 2018

Do Humano ao Super-Humano

A vida só não entra em débito com a Lei se ela é preenchida de sentido. As forças da vida não estão interessadas na reprodução indefinida de valores caducos que se recusam a ceder espaço para valores mais elevados, que não negam mas antes assimilam e englobam sistemas de crenças e valores em estágio de estagnação. Esse princípio vale para a natureza infra-humana, a natureza humana e a ultra-humana. 

Mais de dez anos de estudos, constatação contínua e sofrimento me levaram a perceber o determinismo dos pensamentos, sentimentos e atos humanos, dando-me uma percepção substancial dos fenômenos. Grupos e seres passam a ser desnudados por uma olhar em profundidade, que capta o porquê e o como dos comportamentos. Vejo os mesmos automatismos em mim. E por esse motivo comecei a (naturalmente) reduzi-los, percebendo que eles nada mais são do que um comportamento manifestado na vida exterior vindo das profundezas do subconsciente. 

Figura 1. Ver o mundo com nova perspectiva,
mais potente. Seres com maior sensibilidade
e que saibam trabalhar com ela. Despertar dos
sentidos do espírito....
Quando se percebe o íntimo do comportamento humano a pessoa se dá conta de que toda sua vida pretérita foi conduzida de modo não-orientado. Atitudes e ações tomadas sem reflexão. Emoções que explodem por necessidade de alívio de tensão, através de vias exteriores, convencionais, aumentando a desordem exterior. O consumo conspícuo e o trabalho alienado acabam servindo para um suposto alívio, de modo que a lógica hodierna, com seu sistema, se alimente por duas vias, igualmente desintegradoras e desgastantes, pendendo para ineficiências cada vez maiores. Assim a espécie humana (não) resolve seus problemas mais substanciais. 

Os diálogos, os debates, os mergulhos nos porquês das coisas, as exposições íntimas e sinceras de visões de mundo cessam logo que o coletivo sente-se que o caminho enveredado pode ameaçar algum interesse do grupo, mesmo que se saiba que a evolução através da renovação é movimento inexorável, que se dará por bem (conscientização) ou por mal (atuação da Lei). Recua-se ante o desconhecido, o mistério, para se prender na convencionalidade dos costumes, território seguro na qual tudo está garantido - exceto a evolução substancial, a visão de mundo diversa, a conquista de um paradigma mais vasto. Ignorar é uma ferramenta usada pelo inconsciente humano, que se deixa em larga medida levar pelos instintos atávicos, presos na lei da fome (conservação individual) e do amor (conservação da espécie). E assim a terceira lei (da evolução) é deixada de lado, por ser considerado caminho árduo, impossível de se seguir. Vista como uma vivência de exceção, aplicável somente a santos e gênios, tendemos a esquecê-lá e para consolo admiramos aquelas raras exceções que tenham superado a natureza baixa. Quanto a nós, optamos por nos prendermos à convenções, vícios e perspectivas limitadas - nos mais variados graus. Mas cedo ou tarde todos deveremos enfrentar face a face as leis da vida, que clamam pela evolução. 

Figura 2. A conquista da consciência é a chave para o uso do
verdadeiro livre-arbítrio. Ela torna o ser obediente à Lei
de Deus, que irá ampará-lo independentemente do que as
(ainda) medíocres leis humanas possam fazer a ele. Eis o
fenômeno do milagre.
Quem percebe começa a seguir novo rumo. E logo se dá conta de que não se deve falar nada a respeito dessa nova realidade, e sim deixar que as pessoas percebam por conta própria - nem que para isso sejam necessárias dores homéricas e tempos incomensuráveis. Paciência é a última virtude a ser conquistada por quem vê o caminho. E que tarefa titânica! Ser capaz de compreender, de forma intuitiva, numa visão simultânea, as forças que agem inconscientemente, as relações entre as diversos grupos, instituições, pessoas, espécies, campos do saber, sentimentos, e permanecer calado em meio público, controlando os esboços faciais, a vontade de adentrar em assuntos e destrinchá-los, aprofundando e relacionando, em direção a uma unificação. Segurar uma represa de conceitos e sentimentos, prestes a explodir a qualquer momento, orientados para a finalidade de criações conceptuais, ideias práticas, atitudes inovadoras e energia vital. Aceitar as ineficiências humanas, que se perpetuam graças ao espírito letárgico de evitar quebrar a sociabilidade a qualquer custo, nem que isso signifique reduzir a sensibilidade social perante o semelhante distante (espacialmente) e a eficiência técnica que permitiria às instituições humanas funcionar de modo mais eficiente, gerando menos atrito e mais felicidade. Eis a lógica que impera no mundo.

Robert Happé aponta: vivemos num mundo dominado pelo medo. Vladimir Safatle reforça com outras palavras: o medo é o principal afeto que circula na sociedade e no corpo político. Este lança-o através da (grande) mídia na psique coletiva e gerencia-o em prol da manutenção do estado das coisas. No fundo não se deseja mudar nada a título de manter a controlabilidade do sistema-mundo - nem que isso signifique levar a espécie e todas formas de vida e sistema planetário a um estado de desgaste máximo, que por fim levará a um colapso da forma de vida atual tal qual a conhecemos. Assim, a civilização, apesar do despertar de grupos e seres mais conscientes, continua sendo ditada por interesses cegos. Estamos no Terranic (o Titanic-Terra), que inconscientes, poderosos ou não, afirmam ser inafundável, e portanto podemos deixar os motores acionados a todo valor, com as hélices girando com intensidade insana, rumo a um destino supostamente conhecido (felicidade), sem ver o iceberg imenso que pode estar a poucas milhas. Mas sobre essas questões poucas pessoas se interessam...

Figura 3. A entropia pode decrescer localmente, mas apenas
às custas de um aumento local em outra região do universo.
Um aumento que supera a sua redução, aumentando assim a
entropia universal. 
O problema-mor consiste no seguinte: nossa percepção de vida e de mundo, calcada no paradigma racional-analítico, se concentra nos elementos, elaborando-os muito bem, mas dando pouca, muito pouca, atenção às interconexões entre estes e grupos de elementos, em todos os níveis, do mineral ao vegetal ao animal ao humano e além. O paradigma sistêmico, que elabora sínteses e requer uma certa dose de intuição, vêm enquadrar a visão de mundo de Descartes-Bacon-Newton dentro da realidade atual, usando-a até certo ponto. Usando-a com orientação. E dando novas aplicações às teorias e ferramentas consolidadas. 

A Teoria da Relatividade significou uma revolução na Física. Mas acredito que seus efeitos mais impactantes somente agora começam a ser percebidos pelas pessoas comuns como eu ou você. Ela trouxe uma nova percepção de mundo, que influenciará profundamente as filosofias, as religiões e outras ciências, até ao ponto de sabermos sentir os acontecimentos de forma diversa. Relacionar dimensões tidas como absolutas revela que não é possível alterar algo isoladamente sem influenciar (de alguma forma) a outra. Sendo relacionadas elas se tornam relativas. Adicionando os conceitos esboçados em A Grande Síntese vê-se que essas dimensões não são apenas relativas entre si mas progressivas no tempo:

"Vosso conceito de um espaço e de um tempo absolutos, universais, sempre iguais a si mesmos, corresponde a uma orientação puramente metafísica, que, inconscientemente, matemáticos e físicos introduziram em suas equações. Esse ponto de partida, totalmente arbitrário, vos levou a conclusões erradas, colocando-vos diante de fenômenos que se transformam em enigmas, impondo-vos contradições sem saída; lançando-vos em conflitos insanáveis; cercando-vos de todos os lados com o mistério. Na realidade, somente encontrais, como vos disse, um tempo e um espaço relativos, cujo valor não ultrapassa o sistema a que dizem respeito. Porém há mais. Eles são apenas medidas de transição, em contínua transformação evolutiva.

Esforçai-vos em me acompanhar. Se vosso universo é finito como vórtice sideral, o sistema de universos e o sistema de sistemas de universos é infinito. Se o espaço é um infinito, então não pode ter limites em sua qualidade de espaço; portanto, se ele tem limites, não podeis encontrá-los na direção espacial, mas apenas na direção evolutiva. Deste conceito, ao qual já acenamos, chegamos agora à novíssima concepção: os únicos limites do espaço são hiperespaciais, estabelecidos no sentido do desenvolvimento da progressão evolutiva e exatamente pela dimensão contígua. Assim, se quiserdes um limite para o espaço, só o encontrareis nas dimensões que o sucedem e o precedem. Pormenorizemos ainda mais."
[A Grande Sìntese, Cap. XXXVI] 
(grifos meus)

A Lei da Entropia demonstra que o processo substancial de conversão de energia de alta utilidade para energia de baixa utilidade, em termos globais, é unidirecional, o que permite que relacionemos a grandeza entropia com a dimensão tempo. Independentemente da 1ª Lei (conservação de matéria-energia), ela nos diz que haverá uma degradação na forma como ela está, até chegar-se ao modo mais degradado (calor), que não poderá ser convertida mais, ou seja, sem aplicação para o desenvolvimento da vida tal qual a conhecemos. 

Outra consideração: se os cientistas consideram o espaço infinito, ele o é apenas em sua dimensão característica. O tempo é uma "evolução" do espaço. Da mesma forma que a linha é a 1ª dimensão na tríade espacial, o tempo é a 1ª dimensão na tríade conceptual. A consciência ou razão é análoga à superfície (2ª dimensão) no sistema espacial; e a super-consciência ou intuição tem seu análogo no volume (3ª dimensão), em que a matéria se manifesta. Dessa forma podemos esboçar a evolução das dimensões e concatená-las com a especificidade da 2ª Lei da Termodinâmica.

Tríade espacial:       Linha   ->   Superfície    ->  Volume
Tríade conceptual:  Tempo  ->  Consciência  ->  Superconsciência

A humanidade caminha para a conquista da 3ª dimensão conceptual, na qual a intuição (Logos) irá dominar por completo a natureza humana (mente e sentidos), tornando-a serva de um objetivo maior, que trará harmonia interior. O processo é lento mas inexorável. Tão certo quanto o nosso desespero inconsciente de superar a triste realidade do presente, em que muitos patinam na 1ª (fome) e 2ª (sexo) lei, ignorando a 3ª (evolução). Patinamos por não sabermos o caminho. Por estarmos presos ao medo, permitindo que a opinião da média nos contamine e que a grande mídia nos confunda incessantemente. Mas isso não deve se dar por muito mais tempo caso queiramos evitar um desmoronamento doloroso cuja dor resultante será inimaginável.

Complexidade se relaciona com entropia do seguinte modo: esta cresce continuamente, dando-nos um sentido para a dimensão tempo. Aquela aumenta até certo ponto, proporcionalmente à "geração" de energia degradada (menos utilizável), mas a partir de um patamar, com a continuidade do aumento de entropia, há diminuição na complexidade dos sistemas. Entropia é a quantidade de combinações de partículas menores para formar mesmas configurações macroscópicas - complexidade é o grau de dificuldade que temos para descrever / representar algo (modelar). Prossigamos partindo dessas definições a partir de uma escala cronológica macroscópica.

A ciência nos diz que o universo "nasce" num estado de baixa entropia e complexidade. À medida que entropia cresce ele se torna mais complexo (estágio atual). A tendência, com o resfriamento e afastamento das galáxias, é um retorno a um estado de simplicidade (baixa complexidade). Temos então duas curvas (Figura 4)

Figura 4. A entropia é um caminho unidirecional de expansão.
É inconsciente, mas viabiliza o caminho espiralóide da
complexidade, que cresce a cada ciclo de inspirar-expirar.
Devemos acompanhar a evolução de nossos sistemas
criando modelos mentais, simbólicos e físicos mais adequados
ao ritmo evolutivo aos quais estamos sujeitos.
A história humana (civilização) segue um curso semelhante à natureza (universo) infra-humano, em escala diversa, uma vez que o intelecto é uma tentativa de elaboração mais sofisticada dos fenômenos físicos do universo numa escala fisicamente minúscula, adequados ao misto de aspirações e interesses humanos. 

A complexidade da vida em sociedade só se tornou não gerenciável devido ao passo lento de evolução de nossa percepção sistêmica de tudo que está relacionado a nós (Sistema-Terra, Sistema-Vida, Sistemas da Humanidade). Minha ânsia, junto com a de outros, é a de mostrar a quem está com sede de conceitos mais potentes, mas ainda se refestelando num cotidiano de distrações e superfluidades "necessárias", uma visão mais abrangente do mundo, sem invocar um comboio de conceitos teóricos ou sistematizações que só levam ao aumento de vaidade cultural / intelectual. Como Russel Brand, grito da forma mais adaptada à minha natureza, ora aqui neste espaço virtual, ora criando cursos, ora tendo diálogos profundos com amigos, ora me deixando absorver pela música elevada de Ludovico Einaudi e Wim Mertens, ora trabalhando com meus instintos baixos, ora caminhando na natureza, ora lidando com uma turma desordeira. 

Observando as curvas entropia e complexidade (Figura 4) podemos sentir que os sistemas humanos (políticos, econômicos, cultura e todas relações com a ecologia) se encontram provavelmente numa época de pico, que para ser superada em direção a uma simplicidade mais elaborada do que aquela dos tempos passados, exigirá de nós um esforço super-humano, que demanda a gênese de um novo ser. Assim, e somente assim, uma Nova Humanidade irá ser concebida.

Esse é o grande parto que as leis da vida pedem a nós humanos. 

Links:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=yKbJ9leUNDE  -  Entropia e fluxo do tempo
[2] https://www.youtube.com/watch?v=3AMCcYnAsdQ  - Entropia e complexidade
[3] https://www.youtube.com/watch?v=MTFY0H4EZx4 - Origens da complecidade
[4] https://www.youtube.com/watch?v=sAMlGyaUz4M - Como a entropia alimenta a Terra
[5] https://www.youtube.com/watch?v=HxTnqKuNygE - Qual é o propósito da vida?

[6] https://www.youtube.com/watch?v=KIprTEhr9lE - Divenire (vir-a-ser)Ludovico Einaudi
[7] https://www.youtube.com/watch?v=Vod_abG2ZbQ - Birds for the Mind, Wim Mertens

[8] https://www.youtube.com/watch?v=8NaJdHZSPqM - Russel Brand esboçando verdades no mundo popular
[9] https://hypescience.com/consciencia-pode-ser-um-efeito-colateral-da-entropia-dizem-pesquisadores/

Filmes recomendados:
[1] Enigma - O Jogo da Imitação (2015)
[2] Irmão Sol, Irmã Lua (1972)
[3] V de Vingança (2005)
[4] A Vida dos Outros (2007)
[5] Mindwalk (1990)
[6] A Mulher faz o Homem (1939)

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