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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Indivíduo - Coletivo

Sob tormentos intensos a vida consciente caminha neste globo. Sob inúmeros ataques na forma de afazeres inúteis, rituais e obrigações materiais dos mais diversos. Sob opiniões que expressam o dualismo e se negam às possibilidades da unidade do monismo. Exposto ao escárnio daqueles que não percebem quais são os caminhos para construir uma vida melhor (para todos), aquele que vê sente o drama da incompreensão. Sentindo se desola profundamente. 

É muito difícil imprimir ideias quando estas visam superar as perspectivas presentes, consolidadas através de séculos de experiências. Quando se tem a oportunidade de passar um conceito, se é incompreendido - em larga medida. Essa realidade é melhor sentida em sala de aula, quando se vê que o corpo coletivo dos alunos se atentam muito mais à forma do que à substância do discurso. As exceções existem, mas são raríssimas, e só a são devido a momentos temporários pelos quais passam. Parece que apenas a miséria e o desespero fazem o ser acordar para as reais necessidades da vida. Quase sempre as interpretações de desviam do real significado do conceito. Melhora-se o discurso, com palavras mais adaptadas. Mas por maior que seja o esforço (titânico!), a difusão ocorre às custas da saúde mental, física e emocional. O esgotamento leva à exaustão da paciência. E aí percebe-se que ascender é um crime gravíssimo neste mundo, punido com o escárnio, a indiferença e (mais desesperador) o esmagamento de possibilidades. 

A Queda da Bastilha (1789). Início da construção de um
Estado mais progressista. Devemos retomar os valores
e fazer uma transformação que envolva o corpo coletivo
e o indivíduo. 
Quando se tenta inserir um novo método de avaliação, há resistências. Estas chegam ao extremo quando se vincula o desempenho individual (alto, médio ou baixo) ao desempenho coletivo (geralmente baixo). Em larga medida há revolta. Atribui-se ao método a caraterística de injusto, pois aquele prejudicado não vê o porquê de ser punido por uma situação da qual ele não contribui para construir. Mas será essa a verdade? (Hannah Arendt explica).

A neutralidade inidividual de cada um, seja ele mais ou menos comportando, permite a qualquer impulso negativo, por menor que seja, conduzir o processo que leva ao caos coletivo, gerando ineficiência e subsequentes dores. É nas massas inertes, onde cada ser que a compõe não é conduzido pela própria consciência, mas pelo comportamento médio da maioria, que o mal encontra terreno fértil para se impor e manifestar. Consolida-se com base na preguiça da maioria em operar engrenagens interiores que poderiam levar a uma libertação de muitas das mazelas que estes mesmos creem vir deles próprios. Mas não. O que mina as possibilidades do sujeito bom são as condições sistêmicas às quais ele está ferreamente amarrado. Percebe-se isso no mundo, percebe-se isso na sala - microcosmo do mundo em termos sociais, apesar de menos complexidades. 

Enquanto a pessoa não sentir os efeitos da ineficiência coletiva - causada pela inércia dos bons - as ações serão frouxas e localizadas, fugindo das reais causas da desarmonia. Dizem que uma sala bagunçada é normal. Quem vê de longe tende a se sensibilizar nada ou pouquíssimo. Quem vê de perto mas tem pouca consciência da fenomenologia humana, aceita a situação e cria métodos coercitivos pouco eficientes, incapazes de atingir a substância dos seres que vagam incertamente pelo mar da vida. Apenas quem está perto e possui uma sensibilização nervosa aguda, percebendo a essência das coisas, pode dar um belo grito de desespero transbordante de significado. Sem essa percepção não se vislumbra novos caminhos. As possibilidades são inúmeras para quem ousa sair da normalidade. Ao mesmo tempo os ataques são ferozes, criando uma barreira homérica que deixa o progredir do ser mais sofrido, com suor e sangue depositados pelo longo caminho da transformação. 

A manhã é o melhor momento do dia para fazer
as atividades que exigem mais concentração. Leitura,
exercícios, pesquisa, estudos, escrita, música, diálogo.
Atribuir a cada indivíduo uma parte do baixo comportamento coletivo pode (ou não) fazê-lo despertar e começar a agir coletivamente, se expondo. Isso pode levar o corpo coletivo a se re-organizar, com elementos que estejam alinhados com a atuação do mestre, que conduz o rebanho, tornando a força daquele eficaz e o rendimento deste maior. Essa é a expectativa. Os resultados só virão à médio e longo prazo. Caso o corpo coletivo não desperte para isso, buscando culpabilizar aquele que aplica o método (um "ladrão de nota"), o desempenho continuará baixo e o todo permanecerá desorientado, causando mais choques àquele que busca obter o melhor dele. 

O objetivo da escola é preparar as almas para o mundo real. Isso significa construir modelos em pequena escala que reproduzam, com alguma fidelidade, como a vida é em grande escala, com todas suas complexidades. Se o mundo é "injusto", que assim seja reproduzido em sala. Pois há um motivo para essa "injustiça", e reproduzi-la em ambiente de classe não significa pura e simplesmente castigar, mas inserir um elemento desagradável que dê as condições para vibração de cordas interiores daqueles que mais estejam insatisfeitos com a situação. "Mas isso não vai ocorrer! Ninguém vai mudar!". Se tal for o caso de muitos, perde-se sempre uma parte da nota em detrimento desse comportamento totalmente pautado na descrença de transformação. O desgaste do mestre é repassado para cada elemento da classe. Dessa forma a dor do outro passa a ser sentida. Não se tem mais algo em sentido unidirecional (professor se atordoa com a bagunça coletiva), mas bidirecional (professor se atordoa e classe é atordoada pela sua própria atitude). Trata-se no fundo de adquirir a característica de um espelho que reflete tudo que lhe é enviado. Uma parcela (digamos 15% da média individual de cada um) da nota final é reflexo da percepção do professor e de seu bem-estar durante as aulas. Insere-se um elemento que pode ser eficaz - se os melhores, que percebem o fenômeno do comportamento, tomarem uma atitude firme e ajam em prol de si, não apenas individualmente, mas como agentes públicos, dialogando com os colegas, mudando sua atitude, pedindo mais respeito.

O que torna a humanidade miserável é sua natureza pouco desperta. O coletivo involuído influencia muito mais o indivíduo do que este imprime características positivas no coletivo. Não basta ser bom. Deve-se ser bom e atuar publicamente. Reforma íntima é o primeiro passo. Mas ela sem atuação social se torna um cadáver incapaz de alterar o entorno. O fluxo deve ganhar força na direção indivíduo consciente -> massa inconsciente. Alguém deve começar este trabalho, caso contrário ele nunca será feito. Quanto maior a consciência, maior a responsabilidade. Ingrata tarefa daqueles que muito enxergam! É o preço a se pagar pela consciência. Triste mas glorioso preço, cujas recompensas estão no próprio ganho interior, intangível mas eterno. Fé é indispensável nesse momentos de solidão terrena, em que nenhuma ajuda humana será consoladora ou suficiente, uma vez que dificilmente uma alma compreenda do que se trata. O drama de quem vê é cruz que se sofre cotidianamente. 

Contemplar a natureza é o que nos permitirá potenciar nosso
trabalho oficial, formal, necessário. Será que damos valor
àqueles que contemplam? Como julgamos um ser que se
maravilha perante a diversidade da natureza e a elegância
dos fenômenos?
No íntimo, a grande maioria deseja mudar os sistemas aos quais está submetida. Mas isso não é revelado porque nos tornamos descrentes da mudança. Buscam-se alternativas que não abalam as estruturas lógicas interiores. Que não causam mudanças efetivas. O caminho é muito laborioso e no meio de tantos afazeres (a maioria desnecessários numa civilização pautada pela eficiência) é natural se optar pelo lugar comum. Vive-se a vida seguindo os roteiros pré-estabelecidos, consolidados através dos séculos. O velho moribundo predomina sobre o novo que quer nascer. Não se trata de organismo, mas de pensamento, ideia, ideal...Na verdade são coisas inversamente proporcionais: enquanto o organismo se desgasta, a ideia se manifesta. Lei que a humanidade do futuro irá descobrir, por bem ou por mal.

O organismo das grandes almas se desgastam até o extremo para conseguir exprimir o que elas são de fato. Pagam o preço da manifestação divina pela dilaceração da saúde, do sossego emocional, da inércia mental, da energia. Se exaurem na busca de uma diferença real, que abra as portas para uma humanidade mais harmônica, capaz de lidar com as contradições que brotam e explodem. Não se satisfazem com as receitas de sempre, por mais segurança e pequenos gozos essas possam lhe dar. Ardem pelas ideias, vivem pela meta final, sacrificam-se para transmitir o ideal. 

Apenas morrendo se renasce. Morrendo o velho renasce o novo. Nova ideia, novas qualidades, sentimentos mais refinados. Um novo que englobe as características úteis do velho, superando-o. Apresentando novas formas de ver, de sentir, de agir. É uma busca alucinante pela libertação. Para uma vida mais plena, longe das misérias ditadas pela nossa inércia espiritual. 

Nessa batalha por vezes sinto me sozinho. Tangenciam meu mundo os mais próximos, que sabem ouvir e sentir as ressonâncias interiores de minha alma triste e desolada. Recupero forças para entrar na arena de sangue da cegueira humana. Pouquíssimos compreendem, não vendo que o meu drama explícito é o drama implícito de todas as vidas, mergulhadas na restrição de possibilidades, de discursos, de métodos e (especialmente) de liberdade. Trata-se não de um drama, mas do drama universal que cedo ou tarde irá arranhar as consciências. 

Nós estamos fundidos no universo social humano, pequeno apêndice da biosfera. Logo, não há separação total entre coletivo e indivíduo. Essa fusão entre o todo e nós deve ser feita o quanto antes. Sem essa ligação os problemas continuarão presentes e insistentes. E nós combatendo um ao outro. 

O dualismo deverá ser superado pelo monismo, consciência mais ampla que mudará por completo a humanidade.  

O trabalho tem um fim, mas do ponto de vista desse plano ele é infinito...

Vídeos de referência:








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