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quinta-feira, 3 de maio de 2018

Cap. 2 - Intuição (AGS)

"Não vos espanteis com esta incompreensível intuição(3). Começai por não negá-la e ela aparecerá. O grande conceito que a ciência afirmou (embora de forma incompleta e com conseqüências erradas), a evolução, não é uma quimera e estimula vosso sistema nervoso para uma sensibilidade cada vez mais delicada, que constitui o prelúdio dessa intuição. Assim se manifestará e aparecerá em vós essa psique mais profunda, por lei natural de evolução, por fatal maturação que está próxima. Deixareis de lado, para uso da vida prática, vossa psique exterior e de superfície, a razão, pois só com a psique interior que está na profundeza de vosso ser, podereis compreender a realidade mais verdadeira, que se encontra na profundeza das coisas. Esta é a única estrada que conduz ao conhecimento do Absoluto. Só entre semelhantes é possível a comunicação; para compreender o mistério que existe nas coisas deveis saber descer no mistério que está em vós.
(grifos meus)

Logo após mostrar os limites da razão e seu produto concreto - a ciência - Sua Voz apresenta o futuro ao qual todos iremos fatalmente chegar através da evolução: a conquista de uma nova inteligência. Trata-se mais de um início em outro plano do que em uma continuidade da mentalidade hodierna

A intuição é uma faculdade capaz de realizar sínteses sem perscrutar o universo através dos processos sistematizadores da razão. O indivíduo evoluído que opera nesse plano busca apenas o indispensável no meio externo, maximizando a eficiência mental para gerar excedentes (de tempo, disposição) que permitem um estado de maior vigília nos momentos mais significativos de seu dia. A integração é mais importante do que o acréscimo de informações desconexas - muitas sem sentido e degradantes. 

Quando desenvolvi o ensaio do ciclo com duas fases [1], esboçando um diagrama, estava ilustrando o esquema geral desse longo processo evolutivo do indivíduo. Após esse escrito, numa noite tempestuosa surgiu, num turbilhão, um desencadear de ideias que deram um caráter mais detalhado do conceito, e me pus a escrever tudo que me vinha à mente, com um ímpeto irrefreável, que só cessou após completar o conjunto de ensaios em sua totalidade [2]

"Os dois pólos do ser - consciência exterior clara e consciência interior latente - tendem a fundir-se. A consciência clara experimenta, assimila, imerge na latente os produtos assimilados através do movimento da vida - destilação de valores, automatismos, que constituirão os instintos do futuro. Assim expande-se a personalidade com essas incessantes trocas e se realiza o grande objetivo da vida. Quando a consciência latente tiver se tornado clara e o Eu tiver pleno conhecimento de si mesmo, o homem terá vencido a morte. Aprofundarei mais adiante essa questão.
(grifos meus)

A morte é causada pela fragmentação da consciência. A evolução pode ser vista como uma faca de dois gumes do ponto de vista humano: ao mesmo tempo em que percebem-se novas interconexões através da sensibilização, a mesma deixa o ser mais sensível às vicissitudes da vida (de si e dos outros), sendo mais incomodado com as questões que pouco afligem a média, sendo portanto ignoradas. 

À medida que sinto o progredir da minha visão dos fenômenos da vida humana percebo que a causa das resistências à implantação de minhas ideias se deve à conformação que a maior parte da sociedade assume perante certos assuntos, recorrendo à conformação para "resolver" suas questões. Dessa forma qualquer possibilidade de tentar métodos inovativos e atitudes diversas são vistas como preocupação. Aquilo que pode causar um maior esforço (de energia, de tempo, de vontade, de busca por soluções) pelo grupo humano tende a ser deixado de lado. "O outro que inicie esse trajeto! Se ele for bem sucedido, bom para ele. Se não, irei criticá-lo o resto da vida pelos seus fracassos." Assim funciona o inconsciente médio da humanidade. Ele acaba sendo uma barreira monumental para os espíritos dispostos a superar certas misérias da realidade. Essa barreira, sendo observada, desafio o ser a se lançar num caminho sem volta, no qual a necessidade de maquinação de ideias e a intensidade da vivência se intensifica a tal ponto que esquece-se dos rituais, aparências e distrações do mundo. O mundo não compreende, mas o desespero da miséria interior é mais forte do que o temor pela rejeição exterior. Nascem as possibilidades das criações fantásticas. Assim gestam-se Beethovens, Pascais, Turings, Chopins, Einsteins e toda miríade de almas dispostas a superarem uma realidade limitada e portanto triste. 

Viver na (e pela) verdade é libertação das correntes animais que nos puxam para uma existência densa. É o início de um processo de ascensão, que por mais doloroso que seja, é seguido pelas almas desejosas de algo a mais. 

"O estudo das ciências psíquicas é o mais importante que podeis hoje fazer. O novo instrumento de pesquisa que deveis desenvolver e se está desenvolvendo, naturalmente, é a consciência latente. Já olhastes bastante para fora de vós. Agora resolvei o problema de vós mesmos e tereis resolvido todos os outros problemas. Habituai aos poucos vosso pensamento a seguir esta nova ordem de idéias. Se souberdes transferir o centro de vossa personalidade para essas camadas profundas, sentireis revelar-se em vós novos sentidos, uma percepção anímica, uma faculdade de visão direta; esta é a intuição da qual vos falei. Purificai-vos moralmente e refinai a sensibilidade do instrumento de pesquisa, que sois vós, e só então podereis ver."
(grifos meus)

Quanto mais vivemos em profundidade, maiores são as possibilidades de descobertas. Ao mesmo tempo, maior a incompreensão, o que leva o trabalho de justificação (perante o mundo) tarefa árdua. Por vezes tão desgastante que opta-se por conviver com a opressão da ignorância. Ubaldi sentiu isso, o que permitiu usar toda essa lenta dor para iniciar seu processo de maturação. Apenas após vinte anos de incompreensão e ataques psicológicos e econômicos à sua pessoa ele pôde iniciar a sua missão. Foi necessário fazer o voto de pobreza com plena consciência para que a alma se abrisse para verdades inacessíveis a nós, presos no plano da razão governada pelos instintos. 

Aqueles que absolutamente não sentem essas coisas, os imaturos, ponham-se de lado; tornem-se a chafurdarem-se na lama de suas baixas aspirações e não peçam o conhecimento, precioso prêmio concedido apenas a quem duramente o mereceu."
(grifos meus)

O discurso é forte e ofende aqueles menos dispostos a sair da posição de conforto (conceitual). Apenas quem está disposto a evoluir reconhece a finalidade das forças da vida que o comprimem e esmagam, demandando algum tipo de reação. No nível atual, a maioria dessas é pobre, colimando em consumo conspícuo e trabalho alienado - coisas que satisfazem o ego e atrasam o despertar do Eu. 

Reconhecer nossa miséria humana é a primeira coisa a ser feita para divinizar a substância dentro de nós.

Devemos espiritualizar a matéria - não materializar o espírito.

A substância deve ficar sempre mais transparente.

Referências:
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_27.html?m=0

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