Páginas de meu interesse

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Engenharia: Para quê? Para quem? Para 'onde'? 18.11.2019

Estou disponibilizando a palestra ministrada na segunda-feira para a turma do 3º ano de Eng. de Controle e Automação (ECA) do IFSP, intitulada Engenharia: Para quê? Para quem? Para 'onde'? 

Para quê remete à finalidade do estudo da engenharia - e demais cursos tecnológicos. Qual a finalidade de passar cinco (ou mais) anos estudando exaustivamente disciplinas puxadas, que exige uma rotina de estudo fora do comum? Será que no final conseguirei exercitar plenamente os conteúdos que estudei? Ou devo seguir outros caminhos, que o mercado oferece, por terem mais empregabilidade, remuneração e perspectiva de crescimento na carreira? Essas questões afligem muitos. Mas talvez o mais crítico seja algo que não esteja no rol das preocupações dos estudantes (ou formandos), que é a importância da engenharia para o progresso humano. O que nos leva à segunda pergunta.

Para quem instiga a pessoa. O trabalho do profissional engenheiro se destina a quem exatamente? E serve à que interesses? Deve dar lucro à empresa? Se sim, por quê? Existe casamento perfeito entre lucro corporativo, direitos sociais, desenvolvimento tecnológico, aumento global de eficiência, equilíbrio ecológico e qualidade de vida do funcionário? Se sim, vale sempre? Há incompatibilidades? Esse profissional, que muito estuda, possuidor de um raciocínio lógico muito desenvolvido, com conhecimentos muito específicos, está trabalhando para o progresso no eixo tecnológico. Mas esse progresso visa satisfazer a quê exatamente? A quem? De que forma? E mais: quais as relações entre bem-estar humano, crescimento interior, liberdade e tudo isso? Isso nos leva a outras regiões.

Para 'onde' é uma pergunta que tenta revelar ao aluno que a engenharia - como técnica, como faculdade, como conceito - evolui com o tempo. E como se vê, torna-se cada vez mais integrada ao ambiente onde atua, tendo obrigatoriamente de considerar que outrora julgava irrelevantes.

O engenheiro do século XXI deve ser um profissional com pensamento sistêmico, capacidade de síntese e aberto a vários tipos de experiências e conhecimentos. Gera-se com isso um generalista profundo.

Generalista profundo = 
Especialista + Visão sistêmica + Capacidade de síntese + Conhecimentos gerais

A minha apresentação sobre a Economia Baseada em Recursos na SNCT despertou o interesse de uma professora. Assim, num momento em que eu estava distraído, ela me abordou e começou a conversar sobre aquilo que foi apresentado. A conversa foi agradável e se estendeu ao longo de mais de 1 hora e meia, chegando a extrapolar as fronteiras do assunto (já muito amplo) do meio ambiente. Ficou combinado que numa 2ª feira de novembro eu iria na sua aula para realizar a apresentação de um tema que relacionasse economia com engenharia e outros assuntos. 

Essa pessoa ministra a disciplina de economia para a engenharia. Só que - pelo que ela me repassou - os alunos, infelizmente, não veem uma relação muito forte entre questões econômicas e a sua formação central. A mentalidade dos alunos da engenharia ainda é, em larga medida, refém do pensamento cartesiano, linear, analítico. Imagine o esforço que deve ser convencê-los da intensa relação entre a lógica econômica que impera (na mente), aceita passivamente por uma imensa massa de seres, e da vida cotidiana dos mesmos.

A relação entre a função do Estado, das corporações e da sociedade para o progresso da espécie é incompreendida em sua verdadeira amplitude e significado. As pessoas (os alunos) observam as coisas como tendo funções limitadas e natureza estática. Nada evolui após ter sido concebido. Essa é a percepção que muitos tem das instituições. Mas há outros agravantes.

A opinião de muitos é moldada ao invés de formada. Constantes bombardeios pela mídia levam a pessoa a um caminho único que se consolida através da repetição de eventos e correntes de pensamento (selecionadas à dedo) que levam a pessoa a aderir cada vez mais a um campo de opinião. O espectro se reduz e assim morre o dinamismo. Tem-se o tipo perfeito para atravancar o progresso coletivo.

Não se percebe que a adoção de um modo de vida implica na vida dos outros. E mais: ecoa no tempo. De tal modo a criar um hábito coletivo - tanto do ponto de vista de quem adere ao comportamento 'ideal' quanto àqueles que o combatem e denunciam. Pois os próprios modos de resistir são, astutamente, estabelecidos pela mentalidade dominante. Esta é sustentada pelo grupo do topo, que possui voz, poder e conhecimento - porém não sabedoria.



parte 1

parte 2

Nenhum comentário:

Postar um comentário