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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Lógica Autodestrutiva do Tratado de Versalhes - ou por que a austeridade é péssima

Num dos capítulos do livro "Elogio do Ócio", de B. Russell, fala-se sobre economia. Para ser mais específico, sobre o episódio ocorrido no Tratado de Versalhes, em novembro de 1918, quando os aliados, encabeçados pela França e a Inglaterra, impuseram uma dívida de guerra desproporcional e desumana à Alemanha. Um valor que o país seria incapaz de pagar em menos de um século, e que comprometeria toda sua economia caso o fizesse. Na verdade, a soma considerada "justa" impossibilitava o país germânico de pagar sua dívida.

Tratado de Versalhes (1919)
Os aliados, tendo imposto essa dívida sem medir possíveis conseqüências, e sabendo que os alemães não tinham dinheiro para pagá-la, aplicaram o seguinte método: para seus inimigos pagarem a dívida, os banqueiros ingleses e franceses decidiram conceder empréstimos em dinheiro para o governo alemão, de forma que este pudesse pagar suas dívidas. Só que - detalhe - como todo financista sempre deseja ganhar sem produzir nada, decidiram cobrar juros sobre o valor emprestado, de forma a obter algum ganho com essa política. O problema é que a Alemanha já não dispunha de dinheiro, de forma que cobrar juros (relativamente altos) de quem não dispõe de nada, só tendia a agravar a situação. Existe coisa mais insana do que isso?

Uma outra contradição dessa política vingativa estava no enfraquecimento das indústrias metalúrgicas, siderúrgicas, mecânicas e químicas aliadas. Como os alemães - além de não ter dinheiro nem poder pagar os juros - deveriam pagar a qualquer custo suas dívidas, decidiu-se que eles pagassem em bens industrializados para os aliados. Isso estimulou a indústria alemã, fazendo com que ela começasse a gerar empregos e se desenvolvesse. Por outro lado, a indústria inglesa e francesa se enfraqueceu, já que os bens manufaturados eram importados de seu inimigo, suprindo toda demanda de consumo desses países. Resultado: desemprego crescente e enfraquecimento industrial para os "vencedores", estímulo, desenvolvimento e emprego para os "perdedores". A Alemanha passou a exportar, ou seja, ter sua balança comercial com superávit, enquanto os aliados só importavam, ou seja, adquiriram uma balança comercial deficitária, se tornando dependentes. Especialmente em setores estratégicos como a metalurgia e siderurgia. Em suma, o mal lançado ao outro voltou para a fonte.

As condições do Tratado de Versalhes eram insanas e só prepararam terreno para a geração de outro conflito. E enquanto o efeito econômico - citado anteriormente - gerou um adversário extremamente forte e preparado para o conflito que viria a seguir; o efeito psicológico foi igualmente gerado pela mesma causa. O rancor e o nacionalismo floresceram no povo germânico. Estimulado pelo rancor dos seus vizinhos. Uma espiral de ódio foi se desenvolvendo. Nesse ponto eu me pergunto: existe condição mais insana do que aquela imposta pelo Tratado de Versalhes?

Todo esse caso famoso da História se encaixa perfeitamente com o discurso que ecoa nas obras de Pietro Ubaldi, cuja mensagem é: o mal é agente que se autodestrói a médio e longo prazo. Ao querer impor condições humilhantes para seus vizinhos, os países europeus se prejudicaram. Não seria mais sensato impor uma dívida pagável?

É notável (e triste) perceber que chefes de Estado, industriais e banqueiros foram incapazes de enxergar os efeitos um palmo à frente de seus narizes, enquanto as mentes sensatas e sábias, em sua maioria nas ruas ou em universidades e institutos não fossem sequer ouvidas, e muito menos tivessem o poder para mudar o desencadeamento dos fatos.

O que isso tudo tem a ensinar é que estamos todos interconectados. Se fazemos algo para alguém - seja a nível de indivíduo, sociedade ou nação - há uma reação, que com certeza virá para nós. Porque fenômenos e pessoas estão concatenadas. Como uma rede. Então o que eu sugiro é que reflitamos profundamente antes de tomar uma atitude para com os outros. Especialmente a nível global, em que milhões de pessoas serão afetadas. Mas para isso é mister que exista uma sociedade cada vez mais aberta para as reflexões "chatas" e para que os quietos e excluídos e "loucos" tenham mais espaço para se manifestar. 

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