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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sensibilidade versus Atuação

Atualmente estou lendo um livro chamado “The Happiness Project”. O que me atraiu logo de relance foi justamente esse título, que fala sobre um dos temas fundamentais da existência, que sonda a mente de qualquer ser: a felicidade.
Aprovado pela primeira etapa, – no título – peguei
o livro e li o pequeno resumo na contracapa. Encontrei uma frase da autora que citava exatamente aquilo que ela sentiu quando teve a ideia de começar esse curioso projeto, que consistia em aumentar seu nível de felicidade: “The days are long, but the years are short” (Os dias são longos, mas os anos são curtos). Essa faísca, que surgiu justamente enquanto ela estava andando de ônibus num dia chuvoso, foi a gênese que culminou com seu projeto e conseqüente livro. No entanto, me recordo de ter proferido essa mesma frase para uma pessoa há alguns anos quando comentava sobre alguma coisa da vida – um daqueles momentos filosóficos no qual eu inconscientemente propago pensamentos mais profundos para alguém. Era a mesma sensação. E achei incrível. Dias longos e cansativos, mas os anos correndo rápido, e você ficando mais velho sem ter aproveitado de fato nada.

Não desejo me ater à discussão sobre quem é o autor original da frase – mesmo porque pessoas podem ter a mesma ideia quase ao mesmo tempo no mundo, sem que um tenha noção da existência do outro – como, por exemplo Newton e Leibnitz em relação à invenção do Cálculo Diferencial e Integral. O importante foi a profunda identificação gerada com esse pensamento. Identificação esta que me fez sentir menos sozinho e mais próximo da verdade (e..por que não, da felicidade?). E para mim essa busca se resume basicamente no nosso modo de percepção do ambiente exterior.

Desde o início da civilização nós tivemos como norte de desenvolvimento a capacidade de atuação. Devemos ser expansivos, comunicativos e agressivos (porém hoje em dia de forma maquiada, sutil e discreta) para sermos bem sucedidos. Pelo menos é isso o que a maioria das famílias ensina aos seus filhos. E as escolas. E a sociedade. Em suma, sempre foi valorizada uma postura falocêntrica. Até as mulheres tendem a ser mais reconhecidas e valorizadas no trabalho e na sociedade se tiverem um comportamento mais “forte” e viril. Sensibilidade é algo de segunda classe. Indiretamente admitido como importante, mas nunca desejado pela maioria das pessoas. No entanto, é interessante perceber que são as pessoas mais sensíveis aquelas capazes de levar uma vida mais plena.

Explico e exemplifico melhor.

Imagine um sujeito capaz de admirar um pôr-do-sol por um bom tempo – 5 a 10 minutos por exemplo, algo plausível. Se trata de alguém capaz de alimentar sua alma através dos sentidos. A sensação de admirar um pôr-do-sol radiante é ímpar e propicia uma tranqüilidade e paz que nenhum aparato à capaz de lhe proporcionar. Ao mesmo tempo, esse fenômeno diário da natureza é capaz de manter uma pessoa distraída por um bom período. Sem custo algum. Nenhuma taxa (ninguém foi capaz de inventar uma desculpa para privatizá-lo...ainda).

Muito bem. Esse tipo de apreciação é tão sutil que seus efeitos são igualmente pouco perceptíveis. Mas – eu garanto – são intensos e renovadores. Agora vamos estender esse modo de vida simples a outros setores para mostrar as múltiplas possibilidades que o Universo nos apresenta – sem custo algum.

Existem alguns locais onde é possível pegar livros emprestados e devolvê-los após um período. Esses lugares se chamam bibliotecas e ainda existem – apesar de serem pouco freqüentadas. Uma pessoa pode não gostar de ler a princípio. Mas talvez, por uma circunstância da vida, alguém, ao se interessar por algo que uma pessoa disse (uma idéia, uma teoria, um modo de vida, uma história de vida, uma técnica, uma curiosidade, etc), acabe recorrendo às prateleiras empoeiradas de uma biblioteca para buscar saber mais sobre esse algo. E durante essa busca, pode ser (pode ser) que esse alguém encontre outras coisas interessantes, que falem de sua vida. Um livro pode indicar outro. Direta ou indiretamente. E de repente, sem querer, a pessoa pode se ver lendo incessantemente. Em busca de algo a mais. E passa horas e horas toda semana imersa num mundo que foi edificado aos poucos, por diversas mentes, de diversos lugares, que igualmente buscavam esse algo a mais. Uma comunicação indireta se estabelece. Vitória e glória para quem teve a coragem de “perder” seu tempo nesse mundo.

Então, da leitura construtiva via bibliotecas pode-se concluir: o custo é nulo (ou quase), o ganho em conhecimento é grande, a pessoa se sente mais calma e começa a observar diversas coisas ao seu redor de forma diferente. Se ver mais mazelas, ela pode buscar mais informação (e reflexão!) para combatê-las. Mas com certeza vai começar a perceber que existem coisas boas imperceptíveis para milhões de transeuntes.

Quem capta mais belezas e significados do meio em que vive tem mais condições de ser feliz com menos. Isso significa menor dependência de recursos materiais, e consequentemente a pressão do mundo laboral se torna menor. Eis o destino natural do ser dotado de sensibilidade.

Com menos preocupação em conseguir recursos, o sensível é menos permeável às loucuras das pessoas “normais”. Coisas que são vitais para a (ainda) maioria são vistas como fúteis e efêmeras para aqueles com sensibilidade aguçada. Ao passo que as verdadeiras preocupações destes são vistas como tolices e infantilidades – ou até mesmo doença – para o tipo atuante. Um é a antítese do outro.

Apesar do ser atuante ter sido (e ainda ser) necessário e até imprescindível para o desenvolvimento da civilização, seu tempo está prestes a acabar para dar lugar a um novo tipo, com percepções mais aguçadas das relações e dos fenômenos. Um tipo mais voltado para o intangível. Discreto, sem vontade de aparecer ou aparentar. Mais focado no SER. Isto é...se a nossa civilização deseje realmente dar o passo à frente.

A riqueza do sensível jamais será captada pelo atuante. Este não consegue compreendê-la. E é aí que reside a causa que forçará a metamorfose do ser atuante – para o ser sensível. Caso isso não ocorra o atuante tende a se autodestruir, ou melhor, se transformar para melhor de forma dolorosa.

Indivíduos do novo tipo começam a nascer cada vez mais. Segundo a Doutrina Espírita esse tipo é denominado por criança INDIGO e CRISTAL. A primeira é inconformada com a injustiça e faz de tudo para construir um mundo diferente e melhor do que o presente, combatendo a injustiça com palavras, argumentos e atos sempre que possível; enquanto a segunda - também diferente - é mais delicada e tem sensibilidade apurada. Uma complementa a outra nessa jornada pela construção de um novo mundo. Essas novas gerações que pensam diferente vem pipocando ao redor de nós. Em todas classes sociais. Em todas nações. Em todas crenças e etnias. Resta à sociedade e famílias do tipo antigo saber acolher de forma adequada esse novo tipo de ser, com alta sensibilidade, menos refém da matéria e mais voltado para as riquezas da alma. Ser que deve ser visto como motor de construção de uma nova civilização, e não como uma anormalidade.

Nos últimos 2 séculos o desenvolvimento foi pautado por progressos materiais. A ciência foi aplicada sem consciência, gerando uma tecnologia que poderia propiciar muito mais bem-estar para todos os seres vivos deste planeta - e até para a própria Terra. Esse período é conhecido como Era Industrial. Mas - para alívio dos(as) sensatos(as) - é transitório. Muito mais breve do que a era que a precedeu (Agrícola) e que sucederá (Pós-Indutrial). Essa nova era será o início de um novo modo de agir, de sentir e - sobretudo - de pensar.

Aquele famoso ditado "Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos" será sentido na prática.

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