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domingo, 30 de novembro de 2014

UM CICLO, DUAS FASES: PIRÂMIDE EXPANSIVA, PIRÂMIDE SELETIVA.

Tenho desenvolvido o gosto pela leitura desde minha adolescência. Nessa época comecei a ver o mundo de forma diferente. E consequentemente agir de modo diferente. Não apenas em um ou outro aspecto, mas em muitos. Isso me preocupou no começo, mas com o tempo aprendi a conviver com esses contrastes e buscar os ambientes adequados – onde eu pudesse ser invisível e desenvolver o que eu chamo de potencialidades.

A leitura veio como uma espécie de salvação. Era como se eu estivesse num pedaço de terra rodeado de crocodilos (nada contra o mundo em si, e sim contra a incompreensão dele), sem nenhuma explicação ou ocupação. E me lanço nas páginas da literatura mundial, da filosofia, das artes e da ciência. E em cada parte encontro uma visão diferente. Várias delas. Cada uma com seu ponto de vista. Visões aparentemente contraditórias.

Com os anos começo a perceber que esse contraste dos diferentes escritos reside mais na forma do que na substância. Claro, cada área do saber busca a verdade usando os seus métodos: a ciência está focada na análise, controle e experimentação; a religião no sentimento e intuição; a filosofia trabalhando para abalar conceitos tidos como certezas; a arte se aproximando do sentimento humano, mas remodelando conceitos usando palavras, sons, cores, texturas e etc, e por isso causando confusão, mas ao mesmo tempo colocando o público em contato com a subjetividade.

É fácil tecermos uma visão pejorativa de algo quando esse algo é usado de forma emborcada: a ciência mal aplicada (explosivos, armas atômicas, sistemas de vigilância,...), a arte com finalidade de destruir e não conceber nada além; a filosofia igualmente, se perdendo em embromações para exaltar o eruditismo e assim deixar a sua função de lado; a religião sendo usada para tornar absoluto o relativo de alguns, gerando contradições cada vez mais evidentes com o passar do tempo.

Diagrama gráfico da escalada do saber.
O problema não são as áreas do saber, e sim a inteligência que faz uso delas (o ser humano).

Enfim...voltando ao tema.

Eu pegava livros e lia. Começava com os temas mais interessantes (para mim) e familiares (idem). Com isso surgiam referências a outras obras. Livros que inicialmente eu ignorava porque não via sentido algum em suas teorias, idéias, histórias – ou não tinha coragem de ler porque o tema parecia muito pouco digerível. E a partir desse ponto eu percebi que era possível EXPANDIR minhas áreas de interesse (e saber), formando uma rede. Muito poder subterrâneo. Sensibilidade e paciência.

Com essa tal rede expandindo eu comecei a sentir uma sensação estranha. Passava a conhecer vários assuntos e sabia relacioná-los. Em alguns me aprofundava inclusive – conforme o interesse e facilidade. Mas faltava algo que desse sentido a tudo isso. Comecei a fazer projeções considerando várias possibilidades e cheguei à conclusão de que passaria a vida inteira lendo várias coisas sem no entanto ter uma melhora efetiva. Seria apenas mera distração. E cada vez demandando mais energia. Não que isso fosse (seja) necessariamente ruim, mas o ser humano sempre teve aquela vontade de encontrar algo ou alguém que englobasse vários aspectos. O substancial. A essência. E com isso passei a buscar uma orientação.

Após reler alguns livros antigos e ficar ainda mais fascinado com seu conteúdo, me dei conta do seguinte: bons livros (ou temas ou idéias) são aqueles(as) que sempre tem algo a nos ensinar quando relidos de tempos em tempos. Isso está relacionado com a visão vasta de alguns autores. Tão vasta que nossa sensibilidade é incapaz de absorver todos conceitos. Mas quando já estamos nos direcionando para uma transformação profunda nos damos conta de que, mesmo não compreendendo muito, aquelas palavras, aquelas idéias, aquelas formas de encarar o mundo trazem uma luz. Geram um encantamento que nossa mente é incapaz de explicar. E assim decidimos guardar esses volumes para relê-los um tempo depois.

Expansão: bom até certo ponto. importante para impulsionar
a próxima etapa, mais refinada, rumo ao saber.
Razão é o carro-chefe.
Não é a grande obra que se transforma. São as pessoas.

Da mesma forma, quando lemos algo e já sacamos tudo facilmente, conseguindo demonstrar sua incompletude e (se houver) contradições, descartamos porque ela não serve mais ao nosso patamar consciencial. Não se trata de preconceito – pois para outras pessoas aquilo pode ser importante agente transformador de suas vidas – e sim de saber quando podemos ascender na pirâmide evolutiva. E assim economizar tempo e energia, nos projetando para atividades mais envolventes e elevadas.

De qualquer maneira essa rede, agora guiada por uma orientação, começou a se estreitar depois de um período de expansão. “Voltando atrás?”, alguns diriam. Não. Trata-se de uma fase complementar e inversa de um ciclo.

Explico.

Quando o número de conhecimento começou a aumentar surgiu a necessidade de dar um sentido a tudo aquilo. Um significado sem o qual a expansão continuaria, tendendo para um desmembramento do saber por excesso de conceitos enraizados. Não haveria modo de sustentar tanto conhecimento. Igualmente urgia a necessidade de aplicá-los para algo útil (na minha vida e como efeito na vida do entorno). Porque na vida toda teoria sem aplicação é desperdício. Assim como toda aplicação sem suficiente teoria embasadora tende nos deixar estagnados num nível. Em suma, deve-se buscar o EQUILÍBRIO.

Com isso a vida se torna seletiva. Isto é, mais inteligente. Mais sábia porque orientada. O que era lido em grande quantidade passa a ser feito em menores doses. O mais rápido,mais lento. Mas ganha-se em profundidade. Numa mesma quantidade de páginas, tempo, energia e fala, mais conceitos, possibilidades, alegrias e clareza. O alargamento inicial absorvente levou a uma necessidade de estreitamento seletivo. Com isso ganha-se em eficiência e produtividade interior.

Seletividade: busca pelo saber e aplicação. Buscam-se
obras / idéias / pessoas que condensem o melhor de cada
aspecto da vida e do saber. Intuição
passa a ser o carro-chefe.
Reparem: é necessário a experiência de conhecimento expansiva para chegarmos ao seu ápice (necessidade de algo a mais) que, se interpretado construtivamente, levará à continuação do processo (busca profunda-orientada). Para aqueles que vêem de fora parece ter ocorrido uma regressão – a pirâmide não é vista como uma continuação de escalada, e sim como um ricochetear, retornando ao ponto inicial. Para quem vive (ou está de forma mas compreende porque está passando/passou) vê-se a continuidade do processo construtivo da personalidade, que tende para um ponto máximo.

Eis em linhas gerais como se dá o fenômeno de ascensão humana.  

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O ABSOLUTO ENGLOBANDO O RELATIVO

Existe um motivo profundo para toda atitude humana – e também a animal, vegetal e mineral. Essa motivação profunda pode vir de dois campos distintos: o instintivo (do subconsciente) ou o intuitivo (do superconsciente).

Atitudes instintivas são mecânicas. Feitas sem raciocínio prévio. Porque já se tornou hábito, adquirido por automatismos constantes no passado. Assim o ser humano mantém seu organismo biológico em funcionamento e toma atitudes no dia-a-dia tidas como naturais, mas que a ética tem a função de controlar (a fome, o sexo e todos demais excessos). E essa ética, cuja finalidade é colocar fronteiras via religião ou leis civis, serviu de elemento balizador ao progresso da humanidade.

Se não houvesse um código de leis a tendência do ser humano seria permanecer num patamar puramente sensório. Se não indefinidamente, por um longo tempo. O que retardaria nossa jornada rumo à felicidade. Basta observar. O progresso em todos campos tem a mesma base: imaginação, ousadia, para e pensar e repensar. Importar do passado , observar o presente e se projetar para o futuro. Atender aos anseios do íntimo das pessoas. Perceber o mundo à sua volta e – no caso mais sublime – o mundo interior. Autoconhecimento.

Ao mesmo tempo, para concretizar um progresso não basta simplesmente respeitar as normas (religiosas, civis). Com isso somos meros executores. Permanecemos no presente – o melhor atingido até o momento. Realizamos obras projetadas para o futuro, mas a uma taxa quase nula, que justamente por isso desafia a paciência de alguns. Esses alguns começam a ser cada vez menos alguns e mais muitos. Lentamente, mas determinadamente.

Cristo, Sócrates, Giordano Bruno, Hipátia, Beethoven, Teilhard de Chardin, Pietro Ubaldi,...Vidas sofridas. Existências não reconhecidas. Vidas usadas como estandarte de impérios após a extinção corpórea de seus “fundadores”. “Fundadores” estes que jamais desejaram criar grupos, e sim apenas revelar verdades profundas. Ir além. Questionar. Dar o exemplo até as últimas consequências.

Como eu vinha dizendo, não basta sermos bons cidadãos para gerar progresso efetivo. Precisamos ir à fundo no trabalho de pesquisa e sentir os fenômenos mais sutis e profundos que lemos durante a vida. É preciso SENTIR – nem que minimamente – a experiência dos grandes autores para podermos realizar um processo de transformação profunda. Um processo que culminará na gênese de um ser completamente diferente. Um ser mais seletivo nas atividades, mais compreensivo aos golpes, mais previdente nos atos e palavras. E sobretudo: mais confiante diante do que o mundo vê como abismos.

As personalidades citadas no penúltimo parágrafo foram assassinadas, afastadas, excluídas, colocadas de lado ou coisas do tipo. Na época em que viveram. E muitas outras tão grandiosas quanto tiveram destinos parecidos. Eram tidas como radicais, loucas, idiotas, desestabilizadoras. Mas basta abrirmos a famosa Wikipedia e começarmos a investigação. Ver-se-à um conjunto de seres que eram fervorosamente a favor do cumprimento das condutas éticas de seu povo. A diferença: queriam viver e não apenas aparentar; queriam ir à fundo nos porquês; queriam revelar o que o íntimo do povo sentia; queriam demonstrar uma verdade universal: que a ética é relativa e progressiva. E que portanto nenhum povo, partido, religião, área do saber, grupo, etnia, pode afirmar superioridade em relação ao universo. Apenas isso. E por realizar esse trabalho foram condenados. Era demais para a forma mental da época.

A grande maioria é movida pelos instintos e não reserva (quase) nenhum tempo para se deixar levar pela intuição. Explica-se: esta ainda não foi desenvolvida. É o desconhecido, o imponderável. Para a grande maioria. Portanto não-existente. Assunto de louco. No entanto as maiores realizações começam com a projeção de alguns seres ao infinito. Síntese para se chegar a uma análise nova. O poder da visão. E após verem a concretização de algo baseado em algo imperceptível, as pessoas começam a rever seus conceitos. É o início da mudança.

Diagrama gráfico do fenômeno Queda-Salvação.
Para compreendê-lo devemos antes sentir a realidade
profunda do Todo.
A humanidade está numa era de transição profunda. Essa transição será lenta mas efetiva. Pessoas começam a sentir que existe algo saturado e passam a crer cada vez menos nas velhas fórmulas. Percebem que (talvez) uma revolução no campo mental esteja prestes a se iniciar. Por que nele? Tudo parte do cérebro. A própria biologia demonstra através de sua teoria da evolução: o sistema nervoso se torna cada vez mais sofisticado, possibilitando uma manifestação concreta de pensamentos cada vez mais complexos e sublimes.

A tecnologia? Ela continuará importante e gerando conforto. Basta não depositar todas emoções e expectativas nela. Ela é meio e não fim. O próximo carro-chefe da evolução tem um nome e se chama MORAL. Ela será o norte de progresso. Seus aliados de base: as ciências humanas e interdisciplinares, auxiliadas pela ciências naturais e linguagem matemática. As artes continuarão, mas cada vez mais conscientes de sua função construtora. Não se trata de eliminar uma coisa e inserir outra. Se trata de dar o peso respectivo a cada ramo do saber.

Quando colocamos uma idéia numa arena sujeita a críticas e observações, já revelamos boa intenção e segurança. Especialmente se a arena estiver permeada de profundidade investigativa. Se essa idéia, após constantes (digamos) assaltos continua inabalável, sendo a negação a única “crítica” a ela, tem-se um porto com um mínimo de segurança. Após várias rodadas (pontos de vista), se a tendência de solidez continuar, – e se quem a defende estiver consciente do poder da mente – descobre-se um elemento de poder incomensurável. Poder abstrato mas presente em cada gesto. Do micro ao macro. Da arte à ciência. Afirma-se o mundo mas concebe-se mais. Isso é visto de forma emborcada pelo mundo. É encarado como negação. Porque o tipo biológico predominante - tido como exemplo - é incapaz de conceber além. Sem intenção, o investigador desnuda a crua realidade contraditória. E demonstra possibilidades. De forma criativa, construtiva, respeitando as diversas relatividades e demonstrando o transformismo. Iluminação.

Quando consegue-se vislumbrar mais e vivê-lo – nem que em grau reduzido – um sinal é sentido: as portas do passado foram fechadas. O presente é incerto. Resta seguir em frente, rumo ao futuro desconhecido. Uma névoa que, se adentrada com sinceridade e vontade, se revelará cada vez menos densa, mostrando um novo mundo.


Sinceridade e Vontade !

domingo, 23 de novembro de 2014

CONHECIMENTO E POTÊNCIA INTERIOR

Cada dia superado reforça uma crença que vem me acompanhando desde que iniciei este trabalho de auto conhecimento profundo, quase coincidente com o de escrita. Na verdade trata-se do mesmo fenômeno. A diferença: enquanto de um lado se vivencia, de outro se reporta. É nesse duplo aspecto (vivência e propagação) que a palavra ganha força e a vivência é transmitida para aqueles receptivos – pessoas passando por uma experiência similar na substância.

A crença que antes era difusa vem se metamorfoseando em certeza a cada mês que passa. E a percepção – uma conscientização de meu ser e de tudo à minha volta – se torna mais intensa, mais aguda, de modo que existem verdades que se tornam tão claras que não é mais possível ignorá-las. E me parece se tratar de uma dilatação de consciência exponencial.

Ter o mundo nas palmas das mãos pelo pensamento.
Não controlar exteriormente, mas conhecer interiormente
tudo e todos. Pessoas e fenômenos. Descobrir a
lei mais elevada e agir de acordo com ela: consciência.
Diversas vezes procurei parar, respirar fundo e pensar antes de seguir minhas atividades. Fiz uma avaliação honesta me perguntando se tudo isso não passa de uma embromação de uma mente frustrada, ansiosa de atenção e/ou desocupada. Esperava obter uma resposta do mundo. Uma indicação de que eu era egoísta ou infantil ou algo do tipo. Mas quanto mais honesto eu era com as pessoas e demonstrava levar a sério minhas atitudes, apresentando argumentos com uma solidez mínima, menos repreensões eu encontrava. O máximo era um afastamento. Mas não do tipo comum. Me parecia que algumas pessoas que conviviam comigo mas mantinham uma distância exerciam uma profunda admiração pelo que eu era. Sentia isso no olhar, na vontade de cumprimentar, na disposição em me escutar – mesmo que não muito. O afastamento era por outros motivos. Era não desejado mas necessário. Não desejado porque o contato trazia à tona o inconcebível, as possibilidades e via os problemas (ditos) normais sob uma ótica mais ampla e profunda.

Quando somos incapazes de lidar com o diferente expressões formidavelmente reveladoras tomam conta de nossa face. Desviamos o olhar. E transladamos o assunto. Ou eclipsamos o difusor se nos sentimos seriamente incomodados. Sem explicação satisfatória. Medo, incompreensão? E a média pega carona e passa à frente. Mas o diferente, seja uma idéia ou esta encarnada numa pessoa, sempre assombra todos de tempos em tempos. Queiramos ou não, é a realidade da vida.

Um problema só será resolvido quando estivermos prontos para lidar com ele. Muitas vezes julgamos ter resolvido um, mas após um tempo (dias, meses, anos, décadas,...) ele volta. Mais ameaçador e mais difícil de ser evitado. E aí uma mente sensata deveria concluir que ele não foi resolvido, e sim apenas coberto. Isto é, ignorado. A isso o dicionário tem uma palavra: procrastinação.

Chegar-se-à num ponto em que a humanidade não mais poderá ignorar questões tidas como infantilidade, atraso ou subversão. Adquirir-se-à uma concepção dinâmica do Universo físico e mental. Isso possibilitará a retomada de idéias do passado sob uma nova forma, mais adequada à mentalidade humana. A própria mente humana se revela ansiosa por descobrir MUITO MAIS, negando o que muitos “pensadores” parecem desejar inculcar na mente das pessoas – e nas suas próprias: a de que “não existem alternativas a isso ou aquilo” ou “não há mais nada a fazer”. Mas por outro lado muitos pesquisadores estão retomando conceitos do passado:

a fè está sendo vista com novos olhos, e a ciência inconscientemente está confirmando muitas profecias de personalidades do campo da fé;

e esta, que se impôs ao mundo por 2 mil anos, percebe que deve se atualizar, começando a aceitar a ciência e adaptando-se ao ideal que tanto propagou;

por outro lado, estudiosos percebem as limitações da democracia, e retomaram seus conceitos, aprofundando-os e traçando um caminho evolutivo;

e surtos experimentais vem surgindo ao redor do mundo (democracia direta na Islândia / acesso gratuito a um conhecimento confiável na Wikipedia / prática da medicina voltada para mente com o intuito de prevenir e remediar doenças físicas / uso da matemática e programação para compreender fenômenos complexos como os sociais, não determinísticos).

A tecnologia ainda nos brindará com mais conforto. Mas o progresso efetivo da humanidade consistirá no início de um novo ciclo. Este se realizará no campo mental, das idéias e sentimentos. Campo mais vasto, causa de todo progresso precedente. Mais profundo e portanto mais difícil de ser desvendado. Mas igualmente mais fascinante para a mente e apaixonante para o espírito. Campo ainda difuso, mas que a cada ano se torna mais promissor. Eis a verdadeira superação pela frente. Trabalho difícil, de aceitação.

O castigo aparente do presente não deve (jamais) abalar
os nossos planos. Quem age de modo sincero e com
convicção terá o que necessita no momento certo.
A própria tecnologia trabalha para a edificação de um novo mundo. A exaustão criativa de ramos específicos do saber começam a demandar uma cooperação com outros ramos, atestando a necessidade de estabelecer pontes. Entram as relações sociais, a comunicação, a lei da analogia, entre outras.

O objetivo de toda descoberta e criação é facilitar a vida, tornando concreto o investimento livre do tempo, de acordo com nossas experiências, sentimentos e conhecimentos. “Louco”, alguém dirá. “Veja no que isso deu no passado.” E eu concordo com a sua afirmação. Mas igualmente digo que o passado está lá enquanto o presente é totalmente outro e o futuro esconde milhares de possibilidades. A mentalidade mudou, a tecnologia é outra, as relações mudaram, os conceitos estão sendo revistos. Ou seja, uma idéia que chega prematura pode ser testada e fracassar. Mas isso se deve devido à natureza ainda infantil dos seres que a aplicam, e não da idéia em si.

Acredito que as próximas expansões tendam a ser cada vez mais conduzidas por seres de natureza diversa. A mentalidade racional-analítica continuará tendo sua função, mas para melhorar o mundo a ciência deverá adentrar no campo da intuição para conduzir suas pesquisas. E a religião deverá resolver seus separatismos e unir as diversas seitas. Ela deverá mostrar que a fé do futuro, para sobreviver, deverá ser raciocinada, consciente e profunda. Uma fé não escandalosa, mas silenciosa. Fé profunda.


Eis a minha visão.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

VALIDAR A TEORIA

Nada é acaso. Tudo é justo.
A personalidade forma o destino.

Todo efeito tem uma causa.
Cada uma dessas causas tem outra mais fundamental.
E assim sucessivamente, até a origem de tudo que conhecemos.
E assim vamos do mais sublime e complexo ao mais elementar e simples.
Descobrindo e relacionando.
Convivendo e comunicando.
Nos divertindo e gerando novas perspectivas.
É a essência da vida.

Para vivermos na medida de nosso potencial devemos estar preparados para qualquer eventualidade. O ditado diz: “quem fala o que quer escuta o que não quer”. Ao mesmo tempo, um lampejo em minha mente mergulha a fundo nessa verdade que se revela incompleta. Me questiono: “então não devemos NUNCA falar o que pensamos (e sentimos)?”. Vejo o mundo, os relacionamentos, os amigos e familiares e digo a mim mesmo “não é verdade!”. Depois, penso no oposto e percebo as contantes tensões que imperam em nosso mundo. E concluo: Essa verdade constata mas não revela os porquês.


Deus é semelhante ao Sol.
Para nós, nesse mundo aparente, nasce e morre.
Mas está sempre lá, provendo energia e nos mantendo
numa trajetória. 
A nossa existência é composta de uma série de ciclos. Cada um deles se inicia com um impulso que nós – e unicamente nós – imprimimos. É análogo ao movimento de uma partícula: damos o impulso e ela segue sua trajetória em função das leis físicas. Esse movimento se extingue quando os efeitos chegam à exaustão. É claro: na vida - especialmente a humana – esse movimento é mais complexo. Não é determinístico. Entram as leis do mundo orgânico e do psiquismo. Biologia, moral, sociedade, economia, ciência, política, amor,...Livre-arbítrio. Liberdade. Pensamento...

Essa conclusão eu já sentia inconscientemente desde minha adolescência. E foi se intensificando cada vez mais no decorrer doas anos. Colegial, faculdade,...Mas nada fazia muito sentido. Eu me considerava louco. As incompreensões e rejeições do mundo, aliadas aos constantes ataques de tensão interiores atestavam isso. Eu estava diante de minha natureza e tentando compreender o mundo. Enquanto isso as pessoas vivam suas vidas tranquilamente, sem grandes problemas. Jovens e velhos. Ricos e pobres. Homens e mulheres. Nativos e estrangeiros. Estudados ou não. Tinham sucesso e se alegravam. E quando isso ocorria parecia que seria pra sempre. Mas logo depois o que era declarado eterno e abosluto caía nos porões do esquecimento. Era apenas uma etapa. Às vezes desnecessária. E quando fracassavam não entendiam o porquê. Ou melhor, viam nos efeitos as causas e declaravam mudança repentina. Mas ela só se sustentava na forma.

Eu comecei a vida que esperavam (a sociedade, as moças, o mundo de sucesso) que eu começasse. Iniciei-a já sabendo os meandros do mundo. Em sua profundidade. Iniciei-a ciente de minha inabilidade em me expressar na língua do mundo. Iniciei-a consciente de que resolveria o problema econômico. E de fato resolvi. No entanto, minha busca sempre foi em sentido oposto: a mim me interessava resolver o problema do conhecimento.

A declaração é pretensiosa à primeira vista. Mas é nela que resolvi a questão do querer-falar / ter-de-ouvir: Se as palavras partirem do íntimo e forem bem intencionadas, não há nada a temer. Sua defesa está feita. Qualquer crítica será absorvida e trabalhada. Coneitos reformulados. Treina-se a capacidade de lidar com as diferenças e compreende-se o mundo (seu e externo).

Diziam que no mundo do sucesso econômico poderia-se resolver esse problema. Não senti isso. Pelo menos em sua profundiade. Mas ninguém declarava nada a respeito. Estaria eu definitivamente louco?

Mas olho o passado recente e vejo um moço feliz nos momentos de maior atividade mental.
Momentos de criação, busca incessante, paixão e estudo. Pura emoção. Isso era vida. Isso era crescer. Isso era saúde. Atividade intensa em momentos inesperados. Atividade concretizada a partir de um ímpeto interior irrefreável. O mundo não poderia parar minha atividade frenética. Nem as moças, nem o dinheiro, nem as baladas, nem as festas, nem o mundo do sucesso (que sucesso? para quem? para onde? para quê?). Era produção por livre convicção. Ímpeto interno. Amor. Curiosidade. Distração. Diversão.

O diagrama que sintetiza a evolução.
Queda e Salvação.
Mas existe a Lei do Equilíbrio. E ela diz: se o espírito está contente e produzindo (para ele e para o mundo concreto), o mundo da matéria, forte, imponente cruel diz: “sem submissão, sem ganhos!”. Mas tudo bem. Por um tempo viver essa utopia foi possível.

Não foi nada além do concebível. Nada revolucionário para o mundo do conhecimento. Mas foi o momento em que o máximo de mim se expressou em forma de ciência e tecnologia.

Muito aquém daquilo que ultimamente vi muitos fazerem.
Mas muito além do que eu jamais acreditei que conseguiria tirar de minha mente e corpo.

Era o ambiente ideal.
Era a época das possibilidades.
O mundo parecia ser o paraíso. Mas o tempo passa e a felicidade que se apresenta é temporária. Mesmo as melhores...

Na vida caminhamos por muitas superfícies e devemos mergulhar em profundidades desconhecidas. Mesmo que saibamos por antecipações biológicas que essas – profundidades – comprimam nossa alma (inconscientemente, claro).

E assim iniciou-se um novo ciclo.

Na busca pela estabilidade no mundo renunciei à alegria do saber. Renunciei à liberdade (ou muitas delas). Renunciei ao tempo e à energia. Conhecia as leis férreas que governam a vida, e portanto fiz uma escolha consciente. Mas já pressentia como seria o fim do novo ciclo...

O tempo passou e o idealista recuou. Ele descobriu que a sinceridade é algo muito perigoso. O mundo não acredita nela – em sua essência. Os que querem acreditar, exigem mil demonstrações de persistência da parte de quem parece portá-la. Logo, o esforço para dar um passo exige cem vezes mais do que o normal. Neste mundo. Novo mundo. Mundo real. Mundo que paga. Mundo de paz e liberdade na superfície. E com isso dificulta-se a produção. 

Tentativas de persistir no ideal. Inúmeras. Teimosia, ingenuidade. Esforço incessante em manter a atividade cerebral no ritmo anterior. Estudos e amor ao saber. Nem o melhor, nem o pior. Apenas (talvez) o mais interessado. Vontade infinita. Essa era (e é e será) minha natureza. E – acredito – a de todos. E manter conexões. Mas o esforço para pertencer ao meio custava muito. Havia algo de errado. Era contraproducente.

O golpe máximo veio em momento crítico. Retração seguida de rejeição. Reagir fora dos padrões custou caro. Mas era o comportamento natural. Foi a centelha que culminou em esgotamento nervoso.

E veio o que acreditava ser o amor, que nada mais se revelou como desespero (ela) aliado à desorientação (eu). As perdições são tão boas em unir quanto em cindir. E eis que assim aconteceu.

Nada mais seria feito. Nada seria criado. Nenhum perspectiva, eu pensava. Depressão sem horizontes. Negativo dentro, negativo fora. Causa e efeito.

O tempo passa, o ambiente muda.

Cheio de temor caí num novo ambiente. Mais um passo na profundidade do mundo. E – para mim – mais um passo distante de um mundo que sinto ser o meu. Nem melhor, nem pior, mas apenas adaptado à minha natureza. Um mundo que vivi por um breve período e que me deu uma visão.

Agora teria outra visão. Dias, semanas, meses,...O tempo escorria pelas mãos. Mas ainda havia energia. E vontade. E dores do passado. Decidi começar a escrever. Loucamente, honestamente e profundamente. Não queria aparecer. Desejava apenas me salvar. Colocar pra fora. E quanto mais experiências difíceis, mais matéria-prima. Usei os golpes do mundo para criar um mapa construtivo de minha personalidade. E com isso orientar minha vida.

Se lançar no desconhecido se apoiando no sentimento.
Sentimento sincero, profundo e testado.
Sentimento validado que gerou teorias.
Teorias a serem validadas...
O conhecimento que fui adquirindo cresceu exponencialmente. Conseguia prever passos e perceber o que as pessoas queriam dizer. Imaginava as consequências. Depois, descobrindo novos autores, pude encaixar teorias que nunca ensinaram na escola nem no mundo prático nos meios em que frequentava. E elas explicavam magistralmente a humanidade. Claro, de início parecia que havia um furo aqui ou ali. Mas era apenas falta de sensibilidade aos detalhes. Sensibilidade que fui ganhando com o acúmulo de marteladas.

Me afastava do mundo mas não desejava. Queria segui-lo. Queria compreender as pessoas. E tentava e tentava. Mas simplesmente não sabia. Pareceia que qualquer gesto de sinceridade seria a ruína. Fiz pequenas tentativas, sem muito sucesso. E me contentei em cumprir meu dever.

Com o tempo comecei a me manifestar. Cheio de energia (muita energia), mas respeitando o mundo à volta e o poder. Mas sempre era uma visão destoante da média. Busquei minha loucura mas não a encontrei – devia estar muito bem escondida...

Expus minhas idéias na arena, esperando as críticas. Dessa vez, elas vieram fortes e construtivas, mas bem intencionadas. Diferente da primeira fase desse novo ciclo, tive a oportunidade de me manifestar sem sofrer represálias. Era o que queria: voz. E ela tinha preço.

George Bailey diante da áspera realidade do mundo.
Quando expomos uma visão quase inconcebível devemos saber o que estamos fazendo. No meu caso era necessidade de manifestação. Era a via que encontrei de fazer parte do mundo. De aliviar os outros mostrando que eu falava – mesmo que de coisas longínquas. Era não intencional na gênese e planejamento mas consciente na condução. Eis a energia vital de que necessitava para atuar bem no mundo visível. Antes não ocorreu, porque era livre e podia exercer minha individualidade – me conhecer. Nenhuma tensão interior.

Realizei a maior descoberta da minha vida: Pietro Ubaldi. Uma visão dos últimos problemas. Palavras que tocam o fundo da alma, com uma força de natureza inominável. Apenas quem viveu apocalípticas maturações interiores é capaz de se encantar com as afirmações. E com isso calma e conforto. Passei a depender menos de pessoas, e compreendê-las mais. Falei menos, ouvi mais. A vontade de ser visto diminuiu ao passo que a de compreender aumentou. Eis o equilíbrio agindo na vida!

Ao mesmo tempo o meu destino parecia cada vez mais claro. Não podia deixar de seguir a força interior que se revelava a cada dia mais forte. Era um tambor batendo em minha cabeça. Intensamente. E cada livro trazia uma visão de um fenômeno. Do micro ao macro. Ciência e Fé. Filosofia e Arte. Sentimento e Razão. Tudo explicado através de uma orquestração de palavras ímpar. Foi o acontecimento mais fantástico da minha vida. Um evento que deu força para resistir aos mais duros golpes e me sentir seguro diante dos abismos mais escuros e temerosos.

Na vida tudo é equilíbrio. Quem defende uma teoria até às últimas consequências deve estar preparado para vivê-la. É justo. É uma oportunidade que Deus nos dá para provarmos nosso valor. A vivência deve ser proporcional às palavras. É ela que dará credibilidade a elas. E me conscientizando cada vez mais disso comecei a sentir que a minha vida estava em outro lugar. Não eram as pessoas, não era a essência do que se fazia. Era o enorme manto que englobava a todos e me sufocoava e exigia coisas que até hoje ninguém conseguiu me dar uma razão de existir. Apenas: “o mundo é assim”. Mas o mundo, se apoiando em suas teorias e sistemas cai em constantes crises. Econômicas, políticas, sociais, religiosas, científicas. No fundo são diversas facetas de uma só: a crise moral.

Vejo os rostos das pessoas nos momentos de maior regozijo material e sinto almas desejosas de algo a mais. Olhos que desviam da sinceridade por julgarem-na algo de fracassados e fracos. Olhos que desejam a bela utopia mas rejeitam tranformação. Mas é compreensível. A vida deve satisfazer as necessidades da fome e do amor antes de se lançar nas sendas da evolução. Não se trata de títulos ou posses ou conquistas amorosas ou propriedades. Se trata de percepção do mundo. É claro que a mudança desta pode trazer as outras. De forma mais estável e durável. Porque ela é causa fundamental. Percebendo isso o mundo se transforma. Eu aposto nisso até às últimas consequências.

A Lei de Deus é perfeita.
Um ciclo não termina sem que outro esteja em maturação.
A morte de uma vida traz uma nova. Mais livre, mais orientada ao espírito.

Estamos numa caminhada ascensional rumo à perfeição perdida.
Alguns chegaram num nível tão elevado a ponto de se tornarem santos.

Eu busco (muito) menos. Procuro uma realização no campo do saber.
Procuro compreender o mundo e a mim mesmo.
Procuro questionar e melhorar.

Para isso preciso me libertar...

Uma série de acontecimentos se concatenaram de tal forma que não posso jamais ignorar a existência de uma Lei diretora que prima pelo nosso bem. Mesmo que em alguns momentos isso pareça a perdição definitiva.

Mas nesses momentos me lembro de Geogre Bailey* e me sinto calmo. Esse é o poder da arte. Da sinceridade. Do trabalho orientado para as ascensões humanas.

As dores vem em sequência. No momento certo e na medida suportável. Elas são os impulsos que nos permitem ascensão.

Espírito versus matéria.
Conhecimento versus dinheiro.
Liberdade versus escravidão.

Viver mais em função de um lado do que do outro exige conhecer o que se vivencia. Minimamente. E – principalmente – saber para onde se quer ir.

Queda e Salvação.



* http://pt.wikipedia.org/wiki/It's_a_Wonderful_Life

domingo, 16 de novembro de 2014

JOGO DE FORÇAS ASSIMÉTRICO

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A presença subterrânea da força (bélica, econômica, psicológica) enfraquece a potencialidade de qualquer conversa no plano elevado das idéias. 
As conclusões serão incompletas
                              frouxas
                              podadas - assim que se apresentarem alternativas REALMENTE novas.

É o mundo, é a vida... 
Foi assim, é assim.
Mas não precisará ser sempre assim. 
Porque "a rentabilidade do passado não é garantia de rendimentos futuros"
Nem "a falta de rentabilidade do passado é garantia de fracassos futuros"
Não é o que os financistas dizem?

E...por quê na vida seria diferente?

Senão, para que trabalhar, para que se indignar, para que viver?
Para que? Para quem?
Para quem...
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Revolução dos Cravos (Portugal, 1974).
Quando soldados e povo afirmaram em uníssono.
O ideal toma forma. Por um átimo, mas toma. 
O consenso afirma existir liberdade em nosso mundo ocidental democrático. Pelo menos é essa a idéia que os meios de comunicação mais lidos, vistos e ouvidos apregoam a milhões de ouvintes (ou devo dizer, consumidores?).

A princípio, se observarmos como as relações se tecem, podemos atestar a veracidade desta afirmação. Em seguida, se observarmos mais atentamente (ouvindo quem nunca foi ouvido, nos colocando no lugar de outros e vivendo outras realidades), percebemos que essa primeira concepção de liberdade parece contradizer as atitudes que tomamos – norteados pela mesma. Melhor dizendo: tomamos decisões baseados em como o mundo reagirá a elas. Mesmo que afirmemos o contrário, nos damos conta que estamos mascarando - por medo de sermos incapazes de sustentar nossos mais profundos sentimentos. Nos norteamos mais pelo exterior do que pelo nosso íntimo. Pelo dinheiro mais do que pela realização pessoal.

É claro que o mundo se transforma: há muitos jovens que ousam escolher carreiras baseando-se na realização pessoal e menos nos benefícios e reconhecimentos externos. Mas a realidade ainda tem peso. E esse peso emerge ao longo dos anos. É aí que somos colocados à prova.

O idealismo de muitos jovens se esvai ao longo dos anos. A imponente inércia do mundo, presente e operante, ancora a pessoa a certos comportamentos. Indivíduo após indivíduo, crença após crença, valores após valores, cedem à massa do pensamento predominante. O que é justo, belo e certo é ditado pela força numérica. O objetivismo esmagando subjetivismo. Leis estabelecidas por força do número. Diferenças aceitas somente até o ponto que comece a abalar o establishment. Mas todo progresso iniciou-se com abalos profundos – a nível individual primeiro, seguido pelo coletivo. É nesse momento de tensão entre mundo e ser que poderemos rever nosso conceitos. E - infelizmente - dificilmente poderemos expor esses problemas. Pelo menos no mundo atual, com sua forma mental voltada para o exterior.
Existe um empecilho fundamental à rápida evolução de nosso mundo: a assimetria das forças.

A moça de vermelho. Sem medo, cheia de determinação.
Focaremos no arrefecimento do que se imaginou,
OU nas possibilidades que começam a florescer
na humanidade?
A hierarquia presente nos governos, nas empresas, nas famílias, e até nos meios sociais silenciam milhares de seres cuja concepção de mundo dilatada é impedida de se manifestar. Na grande maioria das vezes esses seres sentem uma verdade muito profunda - não exposta, não lidada, não admitida - e comprovam suas idéias através de anos de observação. Tudo se encaixa. Mas são incapazes de transmitir em palavras - seja oral ou escrita - tal ordem de idéias. Conceitos tão profundos que escapam à capacidade de compreensão do mundo, que relega-os aos porões da indiferença. E mesmo conseguindo expor claramente, seus métodos não são aceitos. E jamais serão, pois esses conceitos não dependem de habilidades argumentativas, e sim de um sentimento pessoal – renasce o poder do subjetivismo. Daí o ser diferente conclui: quem é incapaz de conceber outras formas de vida é cego aos milagres (e às possibilidades) que operam todo dia diante de seus olhos.

Quando estamos diante de um sistema de hierarquias precisamos conter certos impulsos. Atitudes que mesmo visivelmente maduras colocam todos nus diante de si mesmos. Da base ao topo. E o topo e o baixo, preso à forma mental hierárquica, se ofende com essa "insubordinação" do ser que ousou apresentar sua idéias e seus sentimentos em relação ao mundo. Mesmo que de forma clara, pacífica e sincera.

O ser que sentiu o milagre da vida, chegando à solução conceptual dos últimos problemas, via síntese, é incapaz de abandonar os conceitos adquiridos. A não ser que esteja equivocado. Mas expondo a idéia à arena e sofrendo todos assaltos do mundo é possível testá-la. E se o mundo é incapaz de mostrar algo melhor, simplesmente soltando uma saraivada de negações (incompreensão) baseado numa realidade, a idéia só é reforçada. Eis o experimento mais fascinante do Universo. O ser pode se calar e retrair, mas sua mente jamais acatará os métodos do mundo. Vitória aparente deste, e maior dor e maturação daquele. Maturação esta que levará à transformação substancial da personalidade do ser.

O problema não são as hierarquias em si, e sim a falta de liberdade que elas impõem à humanidade. A não ser que se trate de uma hierarquia divina, absoluta e justa - que não é o caso, já que nosso mundo se encontra em constante transformação, dada sua relatividade.

Para deixar a gravidade do caso mais clara exponho um exemplo prático.

Vamos supor que numa organização existam seres com variadas idéias. E que exista um particularmente cujas inclinações e gostos difira enormemente da maioria. E que esse ser vá revelando isso ao longo dos anos. Chegar-se-á num ponto em que numa roda de discussão pessoas de alto escalão possam ouvir e participar de uma conversa com esse indivíduo. Mas diante de um mesmo problema em que se considera que todos entrem num consenso geral, esse ser, se possuir personalidade verdadeiramente forte, tenderá a investigar à fundo essas verdades consolidadas, desmascarando-as, revelando possíveis contradições. Choque, indignação e medo. Abalou-se uma ilha de solidez do mundo. E se ele insistir em seu ponto, os ataques começam. Incessantemente. Cada vez mais criativos e fortes. De surpresa. Eis a prova mais titânica do mundo. Tensão aguda. Pressão que, se suportada sabiamente até uma (primeira) barreira, torna-se conquista interior.

O primeiro ímpeto desse ser é restringir seu público ao âmbito pessoal: apenas aqueles hierarquicamente próximos serão passíveis de conversa. E a circunstância. Isso é vital para que o aprofundamento seja minimamente possível. Entra-se no campo da subjetividade humana. Trabalha-se com o desconhecido, com o íntimo, com as causas profundas dos fenômenos. Tarefa laboriosa e aparentemente sem sentido. Apenas quem sentiu os milagres da vida tem a energia e determinação em levar essa jornada adiante. E tanto mais longe irá quanto maior sua maturação interior. Até às últimas conseqüências – caso de Cristo e Sócrates.

Cena de "Capitães de Abril" (2000).
Antônia (Maria de Medeiros) conversa com
o capitão Salgueiro Maia (Steffano Accorsi).
Essa assimetria de forças pode ser claramente sentida no julgamento de Sócrates, quando a elite de Atenas condenou-o no mundo sem no entanto vencê-lo no campo das idéias. O que se traduz nessa realidade: o mundo, com toda sua inércia e peso material, quando diante de uma espiritualidade mais luminosa do que suas trevas, fará o possível para anular seus efeitos, matando seus emissores. No entanto o que morreu foi apenas um corpo. A idéia está presente. Fixada no solo subterrâneo, florescerá ao longo dos séculos. Cada vez mais forte, cada vez mais elaborada.

Essa assimetria permite que a ignorância e o conservadorismo imperem muito além do tempo necessário.

Quando duas pessoas sustentam duas idéias diferentes e estão diante de uma autoridade - que apóia uma delas - a tendência será a seguinte: quem concebe mais e está vetorialmente oposto ao poder, deve se limitar a não manifestar toda sua visão e potencialidade. Pois se demonstrar isso, estará ofendendo o establishment. Logo, deve ceder, deixando o outro “vencer” na arena da argumentação. Uma “vitória” apoiada na força do mundo. Uma vitória que vence apenas com uma pressão econômica (perder o emprego) e psicológica (perder o emprego, os colegas, os contatos, a voz,...). Logo, uma pseudo-vitória.

É o ser contra o mundo. O mundo contra o ser. Não pela imposição deste àquele, mas apenas porque o indivíduo solitário ousou ir além, e cada vez mais, vendo-se diante de negações sucessivas. Quem estabeleceu a cisão foi o mundo, não o ser. Este está aberto ao diálogo profundo. Aquele vê nisso uma artimanha de embromação. Será? O tempo revelará...

Numa vivência assimétrica nunca haverá lugar para o pleno desenvolvimento. Quem perde são todos. Ninguém irá além do que é admitido. Todos são educados (adestrados) a não "desrespeitarem" a "ordem" estabelecida. Resultado: muitos indivíduos se fecham e vivem a sua vida. Aceitam quem estiver disposto a conversar; aceitam uma crítica sincera; aceitam conviver. Mas jamais deixam de crer e pensar gratuitamente, por conveniência. Mas o mundo não quer ser convencido. Deseja uma falsa evolução. Uma transformação aparente, da forma. Porque trabalhar a substância é doloroso além da conta. É um trabalho tão profundo que pode resolver os problemas do trabalho na superfície – aquele tido como o único existente.

Você, descrente nos métodos do mundo, deseja mais sinceridade, mais abertura, mais liberdade, mais segurança, mais felicidade? Então não vejo outra alternativa: difunda as idéias diferentes. Viva, experimente, ame no aspecto mais amplo. Com isso teremos forças para difundir verdades profundas. Cada vez mais.

E assim iniciará a maior revolução de nossa orbe: a nossa interna.

E com ela, a do mundo.


Filmografia recomendada
>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Capit%C3%A3es_de_Abril     [sinopse]
>> https://www.youtube.com/watch?v=7cfPk3_rZxY                [trecho]


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

ASCENSÕES POR CICLOS, REVISÃO DE CONCEITOS.

Existem duas visões de mundo que se confrontam acerca da palavra "lucro". Visões antagônicas numa batalha - aparentemente - perpétua. Uma delas controla os mecanismos econômicos do mundo e convence a todos - se não nas palavras, nos atos finais - com argumentos aparentemente irrefutáveis; a outra está em confronto com o estado das coisas e, mesmo conseguindo à duras custas vencer no discurso, perde-se nos atos finais, onde a natureza humana dá a última palavra. As atitudes humanas da grande maioria desembocam numa corrente de necessidades que satisfazem instintos atávicos sofisticados do dia-a-dia. Consumismo. Mas ao fim da vida olhamos para trás amargurados, sentimos que todos sonhos que julgávamos benéficos apenas travaram nossa maturação interior. E não crendo de fato na continuidade da existência, nos apavoramos.

Existem inúmeros motivos para os apavorarmos diante do desconhecido. Um deles é exatamente a nossa ignorância acerca das grandes questões da vida. Deixamos as preocupações das grandes questões para os últimos momentos. Os últimos problemas não nos interessam: Por que estamos aqui? Como as pessoas e os fenômenos se relacionam? Para onde iremos? Como os outros sentem? Qual o destino dos seres? Por que eu sou assim e ele não? Tudo isso soa distante para o biótipo atual - tido como normal e saudável. "Pouco prático", dizem. "Chatos", outros. Já ouvi mentes instruídas e bem-sucedidas proferirem sentenças desse tipo. No entanto, observei igualmente o vazio de seus olhos e gestos quando se confrontavam com algo fora de sua área de atuação – sua zona de segurança. E de repente compreendi de onde vinha a sua (suposta) grandeza: nunca ousaram explorar campos distintos, permanecendo grandes e louvados em sua zona de conforto. Restringiram sua vida negando tudo que excedesse suas concepções.

Existe o Jesus humano e o Cristo que se manifestou através dele.
O Cristo está dentro de cada um de nós. "Sois deuses." foi dito.
Compreendendo seus ensinamentos podemos derivar todos
caminhos que levam à felicidade. Todos sistemas devem convergir
quando nós nos entendermos.
Todas certezas relativas afirmadas enfaticamente caem por água abaixo após se confrontarem com outras certezas (relativas) igualmente defendidas. No mesmo plano todos tem razão: o assassino e o santo; o explorador e o explorado; o sábio e o ignorante. Cada um combate de acordo com a sua realidade e a sua história. Não poderia ser diferente. O explorador cria o explorado se prendendo à sua riqueza e o culto que se eleva e exalta cria o ignorante. Quem ganhou consciência tem maior responsabilidade. Aqueles que detêm o poder econômico, político e cultural tem o dever de tomar a iniciativa para mitigar os antagonismos. Caso contrário os de baixo tomarão a iniciativa. Uma atitude que mesmo não sendo ideal, é o caminho natural da evolução. Assim explica-se a Revolução Francesa e Russa.

A dor poderia ser beneficamente usada por aqueles que a sofreram mais intensamente.

A humanidade caminha expandindo sua percepção. Vem uma nova idéia, e seres fora de série vivem novas verdades (baseados nessas idéias) e morrem – por elas. Outros chegam e fazem o mesmo. Cada vez com menos esforço, porque cada ato de elevação facilita o trabalho de quem vêm em seguida. Até o ponto em que a idéia é aceita e se torna consenso entre a maioria. Tem-se um novo modo de vida.
Considero que nosso modo de vida atual tem sua gênese no século XIX. É nessa época que começa a estruturação da produção e - posteriormente - do consumo. Revolução científica, industrial e criação de novas formas de vida. O mercado passa a ter importância.

O que é "lucro", exatamente? Este nada mais é do que a diferença entre quanto se investe para fazer algo e quanto se ganha com sua venda - caso seja positiva, caso contrário é prejuízo. Em linhas gerais, sem equacionamentos e jargões, é essa a essência.

Até aí nada de errado, pois é inerente à natureza humana o desejo de ter seus ganhos aumentados. Caso contrário não se progride. Daí nasce o que se denomina capitalismo. Essa nova forma de organização surgiu porque o seu predecessor (feudalismo) não estava sendo capaz de atender aos anseios humanos. O domínio aristocrático e a fé cega impediam o desenvolvimento de novas idéias. Um ciclo estava por findar.

O acúmulo de capital, de conhecimento e o aumento demográfico dos centros urbanos possibilitou o advento da indústria e dos serviços, que trouxeram um progresso material nunca antes visto pela humanidade. E nesse novo ciclo - nessa nova forma de organização - o "lucro" passou a ser a nova religião. No fundo derrubou-se um deus antropomórfico estático para se colocar um deus utilitário, produtivo e materialmente dinâmico no lugar.


O último volume da Obra.
Um Cristo cósmico é apresentado.
Foco em sua essência. Uma concepção
de justiça social fantástica, capaz de
mitigar os antagonismos e unificar
os sistemas.
Será esse ciclo o fim de todos os ciclos? Será que chegamos a um modelo ideal? A uma era pós-ideológica? Ao fim da história?

O Muro de Berlim caiu...

Um ciclo chega à exaustão quando seus métodos se mostram - cada vez mais - incapazes de solucionar os problemas do presente. Uma idéia nasce e a humanidade a abraça. Mas enquanto aquela idéia se mantém estática, os seres que a vivem evoluem. São dinâmicos. Urge a necessidade de nascerem – ou melhor, serem redescobertas – novas idéias. A consciência se dilata aos poucos. A concepção de mundo (e de si mesmo) muda. O que se julgava definitivo não é.

Revoltas e movimentos sociais; Infelicidade no serviço; Separações; Brigas; Guerras; Palavras e teorias publicadas sem reflexão ou vivência intensa; Doenças.

Tentativas precoces são feitas para iniciar novos ciclos. Apoiadas por pessoas que muito contribuíram e pouco usufruíram com a consolidação do ciclo atual. E conduzidas por pessoas geralmente mais preocupadas em si do que na progresso coletivo. Guerras e revoluções. Em seguida líderes assumem o controle e instauram temporariamente experiências diferentes. O mundo do mercado em seu auge vê essas tentativas como anomalias e utiliza todos os métodos para destruía-la. Se não pela força dos canhões, pelas sanções econômicas e pela propaganda. Enfatizam-se os aspectos ruins, enquanto os benefícios caem no esquecimento. O outro lado usa os mesmos métodos, mais radicais e brutos, porque em minoria. Minoria porque o ideal que sustenta está (ainda) em desacordo com a natureza humana. Portanto, para sustentá-lo, deve recorrer à força. Trata-se de um sistema cujo ideal que o gerou começou a andar em descompasso com seu funcionamento.

Cristianismo, Capitalismo, Comunismo.
Qual está errado, qual está certo?
Todos e nenhum.

O Cristianismo está no fim de seus dias? Ou melhor, a fé? A sociedade cientifica e utilitária hodierna julgava-o com seus dias contados após o advento da revolução tecno-científica do século XIX, ampliada no XX. No entanto, já adentrando o século XXI, nunca se viu tanto progresso material e ao mesmo tempo tantos desentendimentos em todas esferas. Matrimônios desintegrados, quedas provocadas por ilusões geradas por invenções de última geração. Invenções que parecem libertar a princípio, mas que com seu uso - e abuso - revelam ser freios evolutivos. Quantidade em detrimento da qualidade.

A ciência natural encabeçou a revolução tecnológica. As ciências humanas, ainda em maturação, confrontam o sistema que impera. Observam o ciclo histórico, as relações a nível social, os sistemas econômicos e a psicologia humana. Contestam. Até alguns anos de modo duvidoso e desordenado. No entanto, sente-se cada vez mais que uma "tecnologia" humana está prestes a surgir. A aplicação do conhecimento do humano - ser cada vez mais consciente e portanto livre, muito acima do determinismo da matéria - nele próprio e no mundo. Revolução conceptual. Dilatação de consciência.

O capitalismo proporcionou o conforto material. No entanto, a ganância humana impera e os desequilíbrios se fazem. Estes existem e sempre existirão, mas os instintos atávicos extrapolaram os limites e ampliaram a ganância a níveis tão instáveis que instalou-se um profundo descontentamento e frustração na alma de cada ser deste planeta. Rico ou pobre. Homem ou mulher. Do norte ou do sul. Do leste ou do oeste. E com isso os ciclos da natureza começaram a ser afetados. Apenas para satisfazer um modo de vida que não se sustentará com ampliação de centrais energéticas, expansões de estradas ou aumento de produção. Não! Deve-se mudar de paradigma. Transformação humana.

Mas existem outros problemas igualmente graves.

Quem produz (geralmente) recebe pouco e quem faz os outros produzirem (geralmente) recebe muito. Melhor dizendo, enquanto um recebe muito aquém, outro recebe muito além – do merecido. Sente-se isso no íntimo, apesar do método científico (racional-analítico) de hoje provar muito mas não concluir nada.

Sempre pode-se contestar algo com dados estatísticos ou científicos. A inteligência humana com seus métodos possibilitou a transformação de santos em demônios e vice-versa. Basta ter a astúcia. E assim a justiça social do Evangelho parece distante utopia.

Não se trata de uma lei aplicável a cada caso particular. No entanto, - como no caso da física micro versus a macro - adicionando-se caso a caso, chega-se a um panorama global que desnuda uma natureza de injustiça social mascarada sob a veste de uma justiça econômica. Mas quem desconhece as causas profundas ignora o verdadeiro trabalho. E com isso carreiras e pessoas e profissões e abordagens são relegadas à fome, à exclusão e ao extermínio. Extermínio silencioso. Extermínio conduzido pelo medo. Medo de enfrentar o diferente. Medo de se aprofundar. Medo de encontrar nas profundezas de algo uma verdade tão forte que abale toda concepção que fizemos de tudo e todos.

Não estar preparado para enfrentar e viver a verdade mais profunda trava a verdadeira evolução desejada.

O Comunismo é uma idéia. Um conceito. Ele não prega igualdade absoluta. Ele reconhece as diferenças e aptidões. Ele, em sua essência, defende o direito das pessoas terem suas necessidades orgânicas fundamentais supridas pelo coletivo. Mas não se deve chegar a esse sistema por força. Aí entramos no conceito de justiça social contido no Evangelho.

O Cristianismo continha em seus ensinamentos os germes da justiça social. O comunismo é um pedaço das verdades vividas e demonstradas por Cristo. Mas não um comunismo imposto pela força. E sim um comunismo, ou melhor, um estado de justiça social, que deveria se chegar à humanidade se a Igreja cumprisse seu papel no campo social.

A Igreja, ao invés de consolidar princípios sociais do Evangelho, preferiu fortalecer sua estrutura administrativa apoiando o poder. Um alimentando o outro, obtendo o máximo de pessoas e dando-lhes apenas o necessário para continuarem alimentando a ganância de uns e outros. Trava-se o crescimento interno e as possibilidades. Quem se eleva se isola. Todos perdem nessa luta infindável e contraproducente.

Daí veio o alerta ao mundo: incapaz de ouvir os explorados, o comunismo se impôs pela força. Durante 70 anos (1920-1990) o mundo ocidental se sentiu ameaçado. Mas ao contrário do que as pessoas pensam a maior ameaça não eram as armas nem a política. Era o fato do outro lado, por mais autoritário que fosse, sustentava um ideal de justiça social que o mundo anseia – ainda hoje e cada vez mais – que obrigou o ocidente a adotar princípios socialistas para evitar perder apoiadores.

Eis como surgiu o New Deal de FDR e a Europa de Bem-Estar Social.
Nesse tempo o mundo capitalista viveu seu auge. Ele combinou política social com cultura e produção. E começou a findar por causas que não dizem respeito aos gastos com políticas sociais.*

Com a queda do Muro de Berlim e da União Soviética, o mundo ocidental iniciou o que vinha desenvolvendo intensamente desde o início do século XX: mercantilização de tudo e todos.

Não aprendemos a lição. A ameaça, assim que removida, fez a mente humana excluir o ideal social. Como se esse fosse sinal de atraso. E assim veio o neoliberalismo – com suas consequências cada vez mais agudas, cujas causas se escondem cada vez mais. Mas a humanidade aprende lentamente. Precisaremos experimentar os efeitos de um modelo catastrófico em sua essência até às últimas consequências. Somente após uma catástrofe apocalíptica (tudo derivado de uma crise moral) iniciaremos um novo ciclo ascensional. Um ciclo que levará em conta os princípios de justiça social do Evangelho. E assim teremos muito menos atritos e trabalho verdadeiramente livre. 

Chegar-se-á a um sistema de justiça social por livre convicção. Serão os princípios elevados do capital aliados aos princípios elevados do social. E ambos se encontrarão por experiência e união. União esta apenas promovida por uma visão mais vasta, num mundo mais sedento pelo problema do conhecimento do que pelo crescimento econômico.

Mas a base é o Evangelho. Ainda incompreendido. Muito menos sentido.

Num mundo repleto de pessoas bem intencionadas poder-se-á ter o sistema que se queira, com o nome que se queira. Tudo dará certo. Para tudo e todos.


* Para compreender melhor isso recomendo a leitura do artigo “Será que não precisamos de um New Deal permanente?”

DA CHATICE TEIMOSA À SINCERIDADE PERSEVERANTE

Uma personalidade, vários meios, várias situações. Um destino que se molda a cada ciclo. Um destino forjado à medida que um ideal se consolida. Esse é o início do despertar da consciência, e com ela, a sensação de libertação.

Mesmo vivendo num mundo opressor sem garantias ou explicações coerentes, a dilatação dos conceitos enriquece qualquer pessoa. É uma libertação com propósito diverso. Não se trata de fugir de uma realidade opressora, mas de perceber riquezas despercebidas antes e com isso construir uma nova vida, com novas ocupações e novas fontes de inspiração e energia. Passa-se a ignorar o que não lhe acrescenta. Cada vez mais. O que interessa a muitos não causa atração ou repulsão a um ser desprendido da "realidade". O que desinteressa a muitos pode ser campo vastíssimo para evolução. Inversão de conceitos, inversão de valores. Transformação da vida. O abstrato passa a ser o campo de trabalho, mais estimulante e inabalável ao tempo e aos ataques; o concreto, uma ilusão a ser usada apenas como ferramenta.

A flor que nasce na pedra: intrusa por ser minoria frágil
ou prelúdio de uma nova era?
Quando alguém tido como chato por muito tempo ganha a fama de teimoso, está na hora de uma auto-reflexão. E - cuidado! - não se trata de um convite unidirecional cujo resultado ,tido como certo, deve ser o esperado de todos (e da pessoa), e sim uma escolha entre DOIS CAMINHOS:

(1) ou decide-se adotar métodos diferentes para levar a vida, ou
(2) continua-se o caminho trilhado (!).

“Mas como?” alguém pode perguntar. Isso levaria ao fracasso do ser em todas frentes de sua vida. Social, profissional, saúde,...Mas aí é que reside o poder da reflexão profunda e da fé férrea.

Muitos fenômenos físico-químicos, para surtirem o efeito desejado, necessitam de um tempo incomensurável para a realização plena. Na biologia pode-se afirmar o mesmo com segurança. No coletivo da humanidade, idem. Num projeto de vida, igualmente. Do micro ao macro, do átomo ao santo, do trivial ao complexo, qualquer mudança profunda (de estrutura, de sistema coletivo, de paradigma) exige uma reordenação no nível hierárquico em que ela deve operar. A analogia existe em e entre todos os planos. Quem percebeu isso tem condição de desvendar os mistérios do universo e ir além do concebível.

No fundo o processo (reflexão) nada mais é do que uma sucessão de micro-reflexões. Cada ciclo que se completa merece uma avaliação. A decisão de progredir deve se basear mais no sentimento do que na racionalidade. Mas esta não deve ser ignorada. Apenas deixada como co-piloto. A avaliação deve ser subjetiva. Do íntimo, e não na opinião do meio. Porque nosso interior diz mais do que todas externalidades, que são forma – e idem para todos. Daí a sabedoria de quem diz que querendo bem a nós estaremos melhorando o mundo. Não se trata de egoísmo, e sim de uma percepção de inter-relações e telefinalidade da vida. Porque quando estamos bem conosco expelimos o bem em todas direções. Da melhor maneira.

Ação imperceptível, discreta e efetiva.
Um serviço tão elevado, tão profissional,
que nossa incapacidade sentimental (e mental!)
só consegue classificar esses eventos como "sorte"
ou "milagre" (dependendo de sua crença).
Se todos soubessem entrar em contato com sua essência, muito menos dependência de superfluidades teríamos. Mas essa tarefa é dolorosa. É semelhante à metamorfose na qual a larva se transforma em borboleta. Enquanto esse ato de se plasmar é orgânico, o de nível humano é psíquico. É uma transformação que se dá em outro plano. Mais sutil, profundo e elaborado.

Quando se atinge e se consolida um estado de consciência pleno, não há mais volta. Toda sua existência será em função de uma ideia. Um conceito que se torna cada vez mais abstrato, mas se revela cada vez mais real para quem o percebe.

De nada adianta pedir por milagres se a todo momento somos incapazes de perceber os milhões que se apresentam intermitentemente diante de nossos olhos.

A natureza, um gesto, um olhar, uma palavra, um acontecimento animador, uma notícia, um inesperado gesto de carinho,...

O chato teimoso do presente deve ver se o seu caminho está lhe libertando (independente dos julgamentos externos) ou lhe aprisionando. Seu dever é para com ele mesmo. Se sua concepção estiver certa, o mundo lhe dará razão. Mesmo que isso demore anos, décadas ou vidas. No curto prazo apenas as sutis diferenças podem indicar admiração ou rejeição – gestos tão sutis quanto a sensibilidade exigida para captá-los. Seu agir será sempre o mesmo em substância, apesar da forma se plasmar de acordo com as circunstâncias. Assim o que era tido como chato e teimoso passará a ser reconhecido como sincero e perseverante. Inversão de valores do mundo.

Quando o ser se conecta no mais amplo aspecto aos caminhos da ascensão da espiritualidade vertical, estabelece-se uma conexão sólida com outro mundo, inconcebível para muitos. Uma ligação entre Céu e Terra. Ideal e Real. Futuro e Presente. Um ideal que se torna cada vez mais real, porque sentido e admitido. E o ser que o sente terá apoio infinito. Mesmo que sozinho no mundo. Essa perseverança vista de forma emborcada pelo mundo (teimosia) será o estímulo necessário para que o mundo se plasme.

O plantio é longo, doloroso e exige uma alta carga de criatividade. Mas vale a pena. Quem já sentiu as forças do alto se moverem - mesmo que nos mais discretos acontecimentos - está seguro e calmo em sua jornada.

Não se deseja reconhecimento. O prazer de ter ganho tanto sem depender do mundo é recompensa suficiente. Desse estado novo derivam todas qualidades práticas exigidas por nosso mundo concreto. A diferença: chegar a essa praticidade estando de acordo com o seu interior; sendo guiado com segurança; tendo uma fonte de estímulo infindável. Inesgotável porque alinhada com o Deus imanente. Tudo é subterraneamente alimentado. O mistério se faz. O mundo admira mas não compreende.

Mas não é fácil. Tudo é equilíbrio. Uma visão intensa gera sentimentos intensos, que devem ser controlados para evitar patologias mentais e/ou somáticas. Ver além requer podar sua atuação na superfície e intensificar a escavação de um universo esquecido.

Porque somos anjos decaídos em busca de uma perfeição perdida.