Tenho
desenvolvido o gosto pela leitura desde minha adolescência. Nessa
época comecei a ver o mundo de forma diferente. E consequentemente
agir de modo diferente. Não apenas em um ou outro aspecto, mas em
muitos. Isso me preocupou no começo, mas com o tempo aprendi a
conviver com esses contrastes e buscar os ambientes adequados –
onde eu pudesse ser invisível e desenvolver o que eu chamo de
potencialidades.
A leitura
veio como uma espécie de salvação. Era como se eu estivesse num
pedaço de terra rodeado de crocodilos (nada contra o mundo em si, e
sim contra a incompreensão dele), sem nenhuma explicação ou
ocupação. E me lanço nas páginas da literatura mundial, da
filosofia, das artes e da ciência. E em cada parte encontro uma
visão diferente. Várias delas. Cada uma com seu ponto de vista.
Visões aparentemente contraditórias.
Com os
anos começo a perceber que esse contraste dos diferentes escritos
reside mais na forma do que na substância. Claro, cada área do
saber busca a verdade usando os seus métodos: a ciência está
focada na análise, controle e experimentação; a religião no
sentimento e intuição; a filosofia trabalhando para abalar
conceitos tidos como certezas; a arte se aproximando do sentimento
humano, mas remodelando conceitos usando palavras, sons, cores,
texturas e etc, e por isso causando confusão, mas ao mesmo tempo
colocando o público em contato com a subjetividade.
É fácil
tecermos uma visão pejorativa de algo quando esse algo é usado de
forma emborcada: a ciência mal aplicada (explosivos, armas atômicas,
sistemas de vigilância,...), a arte com finalidade de destruir e não
conceber nada além; a filosofia igualmente, se perdendo em
embromações para exaltar o eruditismo e assim deixar a sua função
de lado; a religião sendo usada para tornar absoluto o relativo de
alguns, gerando contradições cada vez mais evidentes com o passar
do tempo.
Diagrama gráfico da escalada do saber. |
O
problema não são as áreas do saber, e sim a inteligência que faz
uso delas (o ser humano).
Enfim...voltando
ao tema.
Eu pegava
livros e lia. Começava com os temas mais interessantes (para mim) e
familiares (idem). Com isso surgiam referências a outras obras.
Livros que inicialmente eu ignorava porque não via sentido algum em
suas teorias, idéias, histórias – ou não tinha coragem de ler
porque o tema parecia muito pouco digerível. E a partir desse ponto
eu percebi que era possível EXPANDIR minhas áreas de interesse (e
saber), formando uma rede. Muito poder subterrâneo. Sensibilidade e
paciência.
Com essa
tal rede expandindo eu comecei a sentir uma sensação estranha.
Passava a conhecer vários assuntos e sabia relacioná-los. Em alguns
me aprofundava inclusive – conforme o interesse e facilidade. Mas
faltava algo que desse sentido a tudo isso. Comecei a fazer
projeções considerando várias possibilidades e cheguei à
conclusão de que passaria a vida inteira lendo várias coisas sem no
entanto ter uma melhora efetiva. Seria apenas mera distração. E
cada vez demandando mais energia. Não que isso fosse (seja)
necessariamente ruim, mas o ser humano sempre teve aquela vontade de
encontrar algo ou alguém que englobasse vários aspectos. O
substancial. A essência. E com isso passei a buscar uma
orientação.
Após reler alguns livros antigos e ficar ainda mais fascinado com
seu conteúdo, me dei conta do seguinte: bons livros (ou temas ou
idéias) são aqueles(as) que sempre tem algo a nos ensinar quando
relidos de tempos em tempos. Isso está relacionado com a visão
vasta de alguns autores. Tão vasta que nossa sensibilidade é
incapaz de absorver todos conceitos. Mas quando já estamos nos
direcionando para uma transformação profunda nos damos conta de
que, mesmo não compreendendo muito, aquelas palavras, aquelas
idéias, aquelas formas de encarar o mundo trazem uma luz. Geram um
encantamento que nossa mente é incapaz de explicar. E assim
decidimos guardar esses volumes para relê-los um tempo depois.
Não é a grande obra que se transforma. São as pessoas.
Expansão: bom até certo ponto. importante para impulsionar a próxima etapa, mais refinada, rumo ao saber. Razão é o carro-chefe. |
Da mesma forma, quando lemos algo e já sacamos tudo facilmente,
conseguindo demonstrar sua incompletude e (se houver) contradições,
descartamos porque ela não serve mais ao nosso patamar consciencial.
Não se trata de preconceito – pois para outras pessoas aquilo
pode ser importante agente transformador de suas vidas – e sim de
saber quando podemos ascender na pirâmide evolutiva. E assim
economizar tempo e energia, nos projetando para atividades mais
envolventes e elevadas.
De qualquer maneira essa rede, agora guiada por uma orientação,
começou a se estreitar depois de um período de expansão. “Voltando
atrás?”, alguns diriam. Não. Trata-se de uma fase complementar
e inversa de um ciclo.
Explico.
Quando o número de conhecimento começou a aumentar surgiu a
necessidade de dar um sentido a tudo aquilo. Um significado sem o
qual a expansão continuaria, tendendo para um desmembramento do
saber por excesso de conceitos enraizados. Não haveria modo de
sustentar tanto conhecimento. Igualmente urgia a necessidade de
aplicá-los para algo útil (na minha vida e como efeito na vida do
entorno). Porque na vida toda
teoria sem aplicação é desperdício. Assim como toda aplicação
sem suficiente teoria embasadora tende nos deixar estagnados num
nível. Em
suma, deve-se buscar o EQUILÍBRIO.
Com isso a vida se torna seletiva.
Isto é, mais inteligente. Mais sábia porque orientada. O que era
lido em grande quantidade passa a ser feito em menores doses. O mais
rápido,mais lento. Mas ganha-se em profundidade. Numa mesma
quantidade de páginas, tempo, energia e fala, mais conceitos,
possibilidades, alegrias e clareza. O alargamento inicial absorvente
levou a uma necessidade de estreitamento seletivo. Com isso ganha-se
em eficiência e produtividade interior.
Reparem: é necessário a experiência de conhecimento expansiva para
chegarmos ao seu ápice (necessidade de algo a mais) que, se
interpretado construtivamente, levará à continuação do processo
(busca profunda-orientada). Para aqueles que vêem de fora parece
ter ocorrido uma regressão – a pirâmide não é vista como uma
continuação de escalada, e sim como um ricochetear, retornando ao
ponto inicial. Para quem vive (ou está de forma mas compreende
porque está passando/passou) vê-se a continuidade do processo
construtivo da personalidade, que tende para um ponto máximo.
Seletividade: busca pelo saber e aplicação. Buscam-se obras / idéias / pessoas que condensem o melhor de cada aspecto da vida e do saber. Intuição passa a ser o carro-chefe. |
Eis em linhas gerais como se dá o fenômeno de ascensão humana.