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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Progressão da forma mental

As dores são proporcionais ao grau de insensibilidade da criatura. Quanto menor o grau de consciência, mais violentos os choques da vida, revoltando a criatura, que assim reage de modos diversos, irrefletidamente. Isso explica em grande parte porque todos nós sofremos em algum grau neste mundo. 

Para que uma coletividade - ainda na infância da consciência - despertar para uma realidade mais profunda, são inevitáveis os choques cataclísmicos, que brindam nossa civilização, de tempos em tempos. Trata-se de ondas estimulantes, acompanhadas com a intenção evolutiva da Lei. Logo, podemos chamá-las de ondas evolutivas. Vamos nos adentrar aqui no significado dessas ondas na vida individual e coletiva, para melhor compreender porque nossa vida é permeada de tantas dores. Dores advindas da incompreensão do próximo (ambiguidades nas palavras, segundas intenções das partes), da incomunicabilidade (incapacidade de se expressar) e da dispersão dos pensamentos (falta de foco no que interessa realmente).

Entre o antigo e o novo, um abismo

Muitas vezes nos perguntamos porque existe tanto sofrimento no mundo. As condições econômicas são favoráveis; a tecnologia progride exponencialmente, assim como as descobertas da ciência; os meios de comunicação são variados; as bases da organização social estão plantadas (Direito e Estado). Não há  motivos, objetivamente falando, para que grandes massas tenham carência de recursos básicos à vida como água potável, alimento saudável e abrigo decente (necessidades elementares). Tampouco à saúde básica e educação digna (necessidades para pleno desenvolvimento). No entanto, do primeiro grupo (elementares) nem todos tem acesso diário e em quantidade necessária; e o segundo grupo (pleno desenvolvimento) uma parcela muito pequena tem acesso. Todos dados indicam que não se trata de escassez de recursos ou incapacidade de fornecê-los, mas de um arranjo sistêmico - apoiado por uma lógica falha - deficiente. 

As falhas sistêmicas em nossa forma de organização coletiva, no âmbito de poder político (governos), poder econômico (corporações) e poder social (consensos na sociedade civil), se devem à forma mental que prevalece em nosso mundo. São elas que alimentam a lógica sistêmica, que por sua vez mantêm a estrutura sistêmica - ou faz pequenas mudanças vetorizadas para locais inadequados. 

Forma mental predominante >> (alimenta a) >>  Lógica sistêmica >> (que sustenta a) >>  Estrutura sistêmica

Essa estrutura reflete um modelo no qual todas instituições devem operar. Para isso, a mentalidade daqueles que estão nas instituições devem estar dentro de certos parâmetros operacionais, para evitar transformações profundas. Os mecanismos de represália são sofisticados. Foram tornados mortíferos até o mais alto grau - graças ao pleno desenvolvimento do intelecto luciférico. De modo que é extremamente difícil se comunicar entre semelhantes de forma clara, concisa - o que levaria a uma melhor compreensão do que realmente acontece em nosso mundo. 

Nunca a humanidade se viu numa situação tão confortável. Sobre isso já falamos alhures. Ao mesmo tempo, nunca se viu tanta desorientação em meio a tantas potencialidades latentes - em busca de brotar de modo orientado, materializando-se no mundo para fazê-lo progredir em termos objetivos. Ao longo de muitos anos venho constatando essa dificuldade das pessoas em imprimir à concretude do cotidiano essa criatividade subjetiva, que deseja brotar mas não sabe exatamente como - nem porque. O problema reside numa estrutura sistêmica que inibe as verdadeiras mudanças. As transformações substanciais. As interações que plasmam a alma através de um jato de afetividade direcionado para o âmago da questão, no momento certo, da maneira adequada. Mas não podemos parar por aí.

Essa estrutura é uma entidade morta por si só. Quem dá vida (e força, e autoridade e inteligência) a ela é a humanidade, sua criadora a mantenedora. É a forma mental predominante que permite a sobrevida de um corpo moribundo. Corpo inadequado para o desenvolvimento pleno da espécie humana e para o equilíbrio do planeta. Na hora de buscar culpados, devemos ver o (anti)sistema apenas como um produto materializado do subconsciente coletivo que o anima. 

Conscientemente detestamos o estado do mundo. Mas instintivamente, através de automatismos muito consolidados e ágeis, sustentamos a causa que leva a esse estado. E é aí que começa o verdadeiro jogo: como tirar o mundo desse estado engessado que causa tanta dor?

Observando à fundo podemos começar a compreender porque é tão difícil chegarmos a um acordo. Porque as pessoas discordam sobre pontos que deveriam ter consenso - e até unanimidade. Nos efeitos, a grande maioria chega a acordos. Fora casos específicos (ex.: pessoas que negam certos fatos ou conhecimento consolidados, como a esfericidade da Terra, a necessidade de haver mercados e/ou Estado, o valor das ciências humanas, etc.), as pessoas não gostam do mundo que está aí. Gostariam de ver a miséria erradicada; o transporte se tornar mais eficiente; se livrarem de várias contas desnecessárias; terem mais tempo livre, para se dedicar à família, à saúde, à cultura; de não haverem guerras; entre muitas outras coisas. Mas quando as pessoas vão relacionar esses efeitos com as causas, surge a divergência.

Nos efeitos, concordamos cada vez mais - nas causas discordamos cada vez mais violentamente. 

Trata-se de um jogo que é mantido pela estrutura sistêmica. Nós, inconscientemente, alimentamos a lógica que permite que não cheguemos a consensos gerais. Essa é um motivo mais profundo de nossa tragédia. Mas gostaria de dar um passo mais à fundo para chegar às origens..

A falta de consciência é responsável pela visão limitada das pessoas. Essa limitação torna uma comunicação construtiva impossível. Às vezes, o campo de consciência de um grupo é tão pequeno que é impossível os elementos constituintes estabelecerem uma relação mais profunda. São círculos que não se interceptam. Suas trocas são meramente baseadas em aspectos exteriores, de forma, com fins egoísticos. A expansão da consciência amplia a área desses círculos, tornando possível (um dia) o contato, a relação (tangenciar), a compreensão (intercepto das áreas comuns) e o início da fusão (encontro dos centros irradiantes da consciência). O processo é lento, pois expandir dói. Como se estivéssemos esticando membranas que estão há muitos séculos acomodadas (engessadas) com sua forma atual. Forma restrita, cristalizada e teimosa.

Compreendido isso resta a questão: como então fazer a consciência (própria e dos outros, mais próximos), expandir? Não se trata de fazer o outro pensar igual a você, mas de fazê-lo primeiramente pensar. Ou nós mesmos começarmos a pensar (o que é muito mais difícil). Aí entro com nossos modelos mentais (visões de mundo e valores) e nossa gramática (modos de comunicação)

A gramática de entes mais evoluídos é mais qualitativa e menos quantitativa. O silêncio é maior. A síntese predomina. A análise é pouca, mas bem feita. A síntese permeia as sistematizações, orientando-as. Chega-se à conclusão de que as vias da argumentação são limitadas. Ir além só irá alimentar o monstro da racionalidade luciférica que está presa a instintos baixos (ou uma forma mental a se abandonar). Observa-se isso claramente em debates entre candidatos (a prefeito, por exemplo), quando um está claramente alinhado com o ideal, cheio de vontade de melhorar a vida das pessoas, e o outro (apoiado sutilmente por uma máquina midiática que se diz imparcial) age roboticamente, se apoiando em dados sem fim, discursos monocórdicos e tom de voz fria, apoiando-se na desinformação das pessoas, de sua baixa consciência, para conseguir vencer o outro. Nesse ponto resta ao anjo se munir da couraça do intelecto e da comunicação. Mas ainda assim a luta é difícil. O equilíbrio entre forças do S e do AS não condiz com o desejo das pessoas de melhoria. O que ocorre então? Quem pode fazer a verdadeira diferença?

Numa disputa em que um ser A dá provas (de vida, de dados, de intelecto, e de habilidade administrativa) de ser aquele que irá beneficiar 98% das pessoas; e o outro deseja prosseguir com algo (uma política de prioridades) que irá beneficiar (de fato) uma minoria (de 2% diretamente, com algumas migalhas para os 10 ou 20% logo abaixo, e apenas ilusões e misérias para o restante), ainda assim vê-se um jogo relativamente balanceado, de 40-60 ou 45-55, ou mesmo 50-50. E com tendência do mal predominar. A questão é saber porque uma percentagem tão grande de indivíduos está apoiando algo que concretamente não lhes interessa. É aí que entra a questão da consciência

Um ser consciente superou a forma de pensar baseada na técnica. Ele passa pela forma de pensar sistêmica, em que as relações e suas implicações importam muito mais do que especificidades locais. Isso não significa que o saber técnico deixe de ter importância para esse indivíduo: ele apenas deixou de ter predominância. Outros, ainda mais evolvidos, conseguem chegar aos fins últimos, procurando saber quais os objetivos de arranjos sistêmicos. Seu foco é a finalidade (telefinalismo). Trata-se de uma mentalidade místico-filosófica que, da mesma forma que a precedente, usa do saber sistêmico para coordenar o saber técnico. Temos então uma falange de indivíduos, numa faixa contínua, que podem estar dentro de três grupos evolutivos (formas mentais):

a) Forma mental técnica

foco no conhecimento específico, na razão, na análise, na argumentação, no curto e médio prazo, no convencimento.

b) Forma mental sistêmica 

foco no contexto, na visão holística, na reflexão, no pensamento, na sistematização, no longo prazo, na imanência, na relação.

c) Forma mental místico-filosófica 

foco nos porquês, no sentimento, na contemplação, na experiência, no afeto, na eternidade, na transcendência, na fusão.

A seguinte abarca a(s) precedente(s). Dessa forma, crescemos sem perdermos a essência dos estágios precedentes. Quando se evolui não se destroem as qualidades de modos de vida mais atrasados, mas incorpora-se os mesmos à nova forma de vida, mais evoluída. Isso é superação. Os elementos constituintes de destaque passam a ter papel de coadjuvante. Surgem novos princípios de direção e coordenação. 

As três faixas de forma mental (a,b,c) se aplicam à humanidade atual. Temos estágios inferiores (aquém de a) e superiores (além de c). Não é escopo desse ensaio tratar das infinitas faixas de consciência. 

A questão aqui é afirmar: enquanto não tivermos uma massa crítica de indivíduos com um modo de pensar sistêmico, será muito difícil eleger pessoas aptas a melhorarem o mundo. Muito mais difícil seria sustentá-las em seus cargos, tornando seu trabalho possível. Dessa forma conclui-se que é imperativo aumentar o grau de consciência através de experiências.

Mas somos nós, humanidade, que devemos buscá-las. 

Experiência não é se refugiar em shoppings, em lojas, em carros caríssimos, em viagens faraônicas, em reinos encantados vendidos pelo capital, com "sensações inigualáveis" (como as propagandas dizem), "experiências mágicas" (idem) e coisas do tipo. É viver com o próximo. É expandir sua forma mental. É incorporar novas perspectivas à sua forma mental. É refletir sobre o que é realmente essencial e importante na vida e na evolução. É dialogar até a exaustão, buscando ir à fundo nos mecanismos de funcionamento, na natureza dos fenômenos e nas origens e fins da vida, da evolução e do cosmos.

Se não fizermos pelo bem, a dor virá. Cada vez mais intensamente, impiedosamente, nos pontos mais sensíveis. 

Quando deixaremos de ser as crianças dos jogos de palavras em busca de interesses banais para nos tornarmos os adultos da cooperação, da organização e da eficiência?

O trabalho árduo cabe tanto àqueles que aspiram uma posição de liderança quanto a todas as pessoas que devem compreender nesse ser um líder que levará todos (inclusive as elites impenitentes) a uma melhor forma de vida. É papel de todos, de acordo com sua capacidade e condições, dar sua contribuição, conscientizando-se ao máximo (ou, em outras palavras, vigiando-se).

Enquanto desejarmos ser como os (podres de) ricos, seremos todos miseráveis. Iludimo-nos em baixo, e uns poucos se iludirão no topo da pirâmide, vendo que as questões fundamentais da vida não se resolvem com dinheiro, controle e aparências.

Como se vê, a meta para "vencer na vida" não é atingir o topo da pirâmide, mas transformá-la em algo diverso. Isso é a verdadeira revolução. Todas (pseudo) revoluções fizeram apenas substituições dos grupos dirigentes no topo, com alterações de forma, mas nenhuma mudança substancial. Está na hora de surgir uma (revolução) de verdade, que irá elevar o patamar do mundo, eliminando a desigualdade, a guerra e o desrespeito à biosfera.


Na incapacidade de influenciar milhões, deixo este insignificante ensaio, para aqueles já suficientemente maduros e sensibilizados, na expectativa de que seja útil para uma humanidade futura, mais alinhada com a Lei de Deus. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A natureza do tempo

"The idea that time is an illusion has been a common theme in Buddhist philosophy (since 6th century BC). In the modern scientific era, since Wheeler and DeWitt formulated their equation (in 1967), several physicists believe that time might not be a fundamental phenomenon of nature but an emergent one. It’s worthwhile to trace the evolution of scientific thought that led us here." 

Fonte: [1]

"A ideia de que o tempo é uma ilusão tem sido um tópico comum na filosofia Budista (século VI a.C.). Na era científica moderna, desde que Wheeler e DeWitt formularam sua equação (em 1967), muitos físicos acreditam que o tempo possa não ser um fenômeno fundamental da natureza, mas sim um (fenômeno) emergente. Vale a pena traçar a evolução do pensamento científico que nos trouxe até essa conclusão."

Tradução (grifos meus)

O tempo sempre esteve presente em nossas vidas. Inconscientemente através do seu fluir, viabilizador de todos fenômenos neste universo, desde o movimento dos astros, as reações químicas, difusão das formas dinâmicas e manifestação da vida; e conscientemente através da mensuração que fazemos dele. 

Ver a magnitude da natureza é ter uma experiência diferenciada de tempo. Sempre que nos envolvemos em algo - ou sofremos por algo - o tempo se dilata ou comprime. 

A existência da matéria depende do tempo, dimensão superior à espacial - meio em que a matéria existe e se manifesta. Não é apenas o espaço que deve existir para que os objetos (dito reais) existam, ou melhor, sejam tangíveis, palpáveis aos nossos sentidos. É preciso que esses objetos existam no espaço por um tempo limitado (não nulo), também. Assim a dimensão tempo se "casa" com a dimensão espaço,, criando a malha espaço-tempo em que o mundo material existe, se manifesta, se move, colide, se junge, se perpetua e se definha à medida que avançamos na esteira desse misterioso ente chamado "tempo". 

Mas o que é de fato essa dimensão?

Ubaldi, em A Grande Síntese, nos dá uma ideia da forma com que devemos abordar o tempo: uma dimensão que faz parte de uma tríade de dimensões. A tríade subsequente àquela das dimensões do espaço (linha, superfície e volume). Esse novo grupo é constituído de dimensões superiores, ou seja, mais vastas, menos tangíveis, mais sutis e portanto mais influentes nos fenômenos da vida. Ela é formada por:

1ª dimensão = tempo

2ª dimensão = consciência

3ª dimensão = super-consciência

Podemos estabelecer uma analogia com as outras, mais familiares ao tipo comum:

1ª dimensão = consciência linear (=tempo)

2ª dimensão = consciência de superfície (=consciência)

3ª dimensão = consciência volumétrica (=super-consciência)

O tempo é a plataforma na qual a consciência irá iniciar a construção de sua forma de expressão em nosso universo físico-dinâmico-psíquico. Ele é um devenir que não tem noção de seu progredir. Ele é movimento. Ele viabiliza a manifestação, as leis que regem todos fenômenos vinculados à matéria, direta ou indiretamente. Ele é uma consciência elementar, linear, que progride sempre numa mesma direção, sem ideia de relativo, de comparação com outros fenômenos que se manifestam na esteira do tempo

O tempo é um só mas os fenômenos que em seu seio se manifestam são múltiplos. Sua diversidade é atordoante para a mente humana - e sublime para aquele que aprendeu a mergulhar no íntimo do cosmos, da vida, do pensamento e da paixão, extraindo de muitos reinos concretos a seiva da fonte infinita. 

Desses fenômenos temos muitos. A imensa maioria da matéria do cosmos é desorganizada. Está em seu nível inorgânico. As massas estelares, planetas, nebulosas, são mamutes nu m reino de micróbios. Mas sua inteligência é limitada a obedecer leis férreas. Sua energia é colossal, porém seu direcionamento não tem finalidade pensada. 

Toda matéria inerte é coordenada por leis superiores. Ela não tem poder de decisão devido ao seu grau de adormecimento. Mas há outras entidades que se destacam desse reino, formando-se em regiões distantes do cosmos, longe dos epicentros explosivos que forjam estrelas - base da vida, base dos sistemas planetários.

A vida é um epifenômeno. Surge a partir de um rearranjo de certos componentes da matéria inorgânica, que é interceptada por formas dinâmicas muito particulares, em condições ambientais peculiares. Os ritmos, períodos, intensidades e concentrações obedecem um pensamento diretor. Todo é orquestrado para que o produto final seja um ser capaz de se reproduzir - num primeiro momento, de forma assexuada; num segundo, de modo sexuado; e num terceiro ainda (nossa etapa), adquire-se a capacidade de perpetuação no plano cultural. Mas voltemos um pouco e analisemos com cuidado as nuances desses tipos de reprodução. 

A reprodução sexual marca o início de uma nova fase. Ela (assim como a assexuada, por simples divisão celular) ainda é biológica. Através da mistura de material genético, ganha-se uma riqueza (diversidade) sem precedentes. Assim o ritmo de mudança se torna frenético: a variabilidade cresce exponencialmente, colimando em possibilidades. Combinações das mais variadas permites experimentações fora do comum. O universo fica mais rico, cheio de possibilidades, beleza e crueza - isso aos olhos humanos, que conseguem se dobrar sobre o fenômeno "vida" e começar a esboçar pensamentos e exprimir sentimentos. 

A transição para a evolução cultural é um marco que aponta para um plano superior. Estamos falando da variação e seleção de ideias - ao invés de genes. Então ganha-se mobilidade. O cérebro com seu sistema nervoso, produto máximo da evolução orgânica, é o órgão melhor capaz de exprimir conceitos e se manifestar de forma coordenada no reino do espaço-tempo. A consciência, "nascida" com a vida, se torna capaz de atuar no mundo da matéria. Outrora mera condutora dos processos internos, agora rainha da situação local, moldando, inventando, reproduzindo. O artificial começa a surgir com o ápice das espécies no reino do natural - o Homo sapiens. 

Toda mudança profunda traz em si um germe a se desenvolver. O desdobramento de uma forma de existir e se reproduzir dá condições a uma nova forma (de existir e se reproduzir). E assim sucessivamente. O tempo é a esteira que viabiliza essa evolução. E ela, atuando no tempo (mas acima dele), dirige as forças da vida. Cada vez mais magistralmente, fazendo um malabarismo mais ordenado, de complexidade crescente. 

A vantagem da reprodução cultural é sua manifestação mais rápida (horizontal, via informação), livre da carne (transmissão vertical, via DNA). Assim as almas podem se influenciar sem necessidade dos meios materiais usuais. 

Nos impressionamos com um belo poema, com uma teoria científica bem formulada; com uma corrente de pensamento bem concisa e coerente; com uma sinfonia envolvente; com um beijo abrasador; com um gesto de coragem e paixão; com um discurso abrasador; com uma tecnologia criativa; com uma vida de significado e construção. Isso impacta na medula, plasmando a essência do ser sem necessitar intercâmbio de fluidos. Assim o princípio que dirige as forças do universo começa a se emancipar do determinismo da matéria, da carne, das circunstâncias...

Conhecer uma verdade cada vez mais profunda é se libertar cada vez mais.

No pensamento somos livres para abraçar o infinito do espaço; extrapolar as fronteiras do tempo; imaginar situações que ainda não existem - ou já existiram. Isso alimenta nosso sistema nervoso - que está em íntimo contato com a nossa alma, veste do espírito puro, imortal e indiviso. 

Figura 3Mas voltemos um pouco ao tema: o tempo.

Presença implica em influência. E - para seres dotados de razão - à medida que se evolui, essa influência se torna evidente e precisa ser mensurada para que avanços possam ser feitos. Avanços em vários campos.

Inicialmente objeto de estudo da ciência na sua forma medida, o tempo começa a ser observado pelos antigos gregos. Platão e Aristóteles formularam descrições dessa entidade, descrevendo-a de acordo com as suas visões de mundo. Aristóteles o relacionava ao movimento dos objetos. Platão o via como algo cíclico: voltaríamos sempre, de tempos em tempos, a um momento "inicial", a cada período determinado (de milhares de anos).

As religiões também se debruçaram sobre essa dimensão tão evidente quanto misteriosa. Os textos Védicos interpretaram o tempo como algo dotado de uma natureza cíclica, e passaram a denominá-lo 'roda do tempo', dando a ideia de algo que se repete indefinidamente. Todas essas ideias e visões continham verdades, mas não a totalidade do significado.  

Observamos essa periodicidade em vários fenômenos da natureza e humanos: as quatro estações do ano; o nascer o pôr do Sol; as monções e marés; as festividades; os ciclos biogeoquímicos; os ciclos biológicos; a retomada de ideias e teorias científicas; o ressurgimento de movimentos sociais; entre tantos outros. Não à toa muitas pessoas associaram a dimensão que mensurava a periodicidade sujeita a uma idêntica periodicidade - logicamente, de tempo mais longo, para abarcar todas as outras constatadas. Mas sente-se que existe algo além disso quando se trata de dimensões como o tempo.

O texto inicial abre a possibilidade de que o tempo não seja um fenômeno fundamental da natureza, mas sim algo que emerge de uma realidade mais profunda. 

No meu último ensaio anterior sobre monismo, dividido em duas partes [2,3], falei sobre a substância e suas manifestações, relacionando-a com o dualismo mente-corpo. Podemos enquadrar a questão do tempo nesse grande quadro. Trata-se de um relativo dimensional que emerge a partir de uma realidade infra-dimensional, até ao infinito negativo; e que esta, por sua vez, resulta de uma queda de n dimensões, que se remontarmos à origem, retorna-se ao infinito positivo, Absoluto. Como se vê, as últimas conclusões da ciência estão mais próximas da Teoria da Queda das Dimensões, descrita em detalhes no livro A Grande Síntese.

De Galileu em diante o tempo começa a ser medido de forma cada vez mais precisa. A sistematização da mensuração e o advento da revolução científica possibilitaram a criação de esquemas e mecanismos cada vez mais precisos para mensurar a passagem do tempo. Instrumentos como o relógio de pêndulo, entre outros. E assim se progride na mensuração de uma dimensão. Mas mensura-se um fenômeno no qual estamos inseridos - ou melhor, presos. A questão aqui é: como superar o tempo?

Graças a ele há morte. A entropia se alinha a unidirecionalidade dessa dimensão. Desejamos freá-la para que sejamos sempre jovens e belos; para que os momentos certos durem para sempre; para que um mal não aconteça - ou outro não volte a acontecer; para que tenhamos controle sobre nosso destino, sobre a vida dos outros. Sempre se trata de algum interesse. No entanto nos esquecemos que somente através dele a vida se viabiliza...De tal forma, que a questão deixa de ser frear o tempo, e sim superá-lo.

Como fazê-lo?

Segundo Sua Voz (AGS), trata-se de maturação biológica profunda. É necessário usar essa malha (espaço-tempo) da melhor forma possível, tornando nossos atuadores (membros, mente, língua) cada vez mais capazes de transmitir ideias elevadas, criativas, que incitem o ser humano a ir adiante na jornada do progresso. Ascensão é morrer para a vida mundana e renascer para um plano superior de existência.

Mas podemos continuar seguindo a via da "evolução do tempo".

Com a Teoria da Relatividade de Einstein, o tempo deixa o pedestal de dimensão absoluta (assim como o espaço). Desde Newton foi se consolidando a ideia de que o tempo é o mesmo para todas as pessoas do (e no) universo. Mas comprovou-se experimentalmente que isso de fato não ocorre. Quais as implicações disso?

O fato de algo não ser absoluto significa que não pode ser tomado como régua universal para medição de fenômenos. A luz (sua velocidade) passa a ser referencial absoluto. Essa translação de referenciais leva à curvatura do espaço-tempo - que deve se adaptar ao modelo mais fidedigno da realidade. Além disso, existe outra coisa interessante: o tempo parece sempre se desdobrar num sentido: do passado para o futuro. 

Não há nenhuma lei que impeça os fenômenos ocorrerem tal qual se o tempo andasse no sentido contrário. No entanto, isso não ocorre: nascemos, crescemos, nos desenvolvemos, envelhecemos e morremos. Apenas a Lei da Entropia consegue dar alguma pista a respeito. Ela relaciona a desordem com o tempo: ambos possuem a mesma orientação. Mas não explica o porquê disso.

Fenômenos quânticos - isto é, à nível subatômico - parecem desconsiderar o tempo. Logo, desconsideram (não são influenciados) por sua ação. Assim, poderíamos inferir que no "reino quântico" as coisas não caducam. Mas isso vale apenas para uma escala espacial absurdamente pequena.

Crescemos muito ao longo desses 400 anos. Nossa compreensão do tempo adquiriu mais rigor científico, mais profundidade filosófica, mais teor psicológico. Em breve descobriremos mais. 

A Grande Síntese traz, de forma sintética, qual a origem, o desenvolvimento e o destino final do tempo. Tudo me parece perfeitamente concatenado. Estamos diante de uma questão não apenas profunda no campo abstrato, mas de implicações poderosas na vida prática. Porque a percepção que temos de algo torna a nossa atitude perante a vida radicalmente diferente. Ou seja, nossa essência propulsiona o cosmos - e o tempo é apenas um efeito dela.

Referências:

[1] https://medium.com/swlh/the-true-nature-of-time-f854280a42e2 

[2]  https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/08/monismo-de-benedito-spinoza-pietro_6.html

[3]https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/08/monismo-de-benedito-spinoza-pietro.html

[4] https://forge.medium.com/theories-of-time-95783b12323a

[5]  https://medium.com/starts-with-a-bang/a-spacetime-surprise-time-isnt-just-another-dimension-28c41f14365e

domingo, 8 de novembro de 2020

A humanidade se purificando

É muito triste, mas às vezes é impossível não manifestar a perplexidade da alma ao ver o modo de (não) funcionar da sociedade em que vivemos. Não é possível escapar de uma análise incisiva da forma mental - que bombardeia as notícias de todas as fontes, os blogs pessoais, as constatações do dia-a-dia, o modo de agir das pessoas, a cultura limitada e limitante hodierna...enfim, que subjuga o ser humano a uma condição precária, na qual o avanço é freado a todo momento. Os atritos são múltiplos, intermitentes e cada vez mais engessantes. Não à toa muitos optam por se adequar - dentro de seu nível, seja ele o mais alto ou mais rasteiro na pirâmide social. Adquirem um modus operandi que viabilize continuar existindo com a minimização do sofrimento. É preciso se iludir num alto grau para que isso se efetive. E os meios abundam.

Nossa espécie está despertando para questões fundamentais. Alguns (ainda raros) veem o ponto central. Percebem o impasse da civilização. Chegaram à conclusão de que o único modo de efetivamente progredirmos como espécie é mudar a forma mental. Isso colima nas mudanças exteriores, que são mais visíveis e desejadas pelas pessoas: alteração da estrutura sistêmica que impera em nosso mundo; que conduz a comportamentos diferentes. Isso levaria (ou melhor...levará) a um cumprimento da legislação*, e a criação de mecanismos cada vez mais visando o auxílio das pessoas, sua cooperação, e a geração de ambientes propícios ao florescimento, desenvolvimento, implementação, difusão e consolidação de ideias verdadeiramente progressistas. 

É impossível dar um passo à frente sem um mínimo de evolução da consciência de uma massa crítica. Isso observa-se na História, em que avanços foram feitos apenas quando os tempos eram chegados. Diz-se "É chegado o tempo dessa ideia!". De fato, muitos profetas vem com antecedência - de décadas, séculos ou mesmo milênios - e descrevem as tristes consequências do desenvolvimento de uma forma mental. A humanidade, até hoje, considerando suas linhas gerais, sempre progrediu

a pena de morte se extingue; 

a guerra se torna cada vez mais indesejada pelo sentimento popular; 

a saúde (física, mental e espiritual) é vista como o bem precioso, como o máximo dos bens no âmbito das coisas terrenas; 

direitos humanos foram criados e se ampliaram; 

as pessoas apreendem sua importância e aprendem sobre sua gênese, função e destino; 

a visão de Deus e Universo começa a se alterar lentamente; 

a Ciência avança e reencontra aquilo que ignorava nas Escrituras Sagradas, vendo-se forçada a dialogar com a Teologia ; 

e essa, percebendo o dinamismo do universo, a importância do pensamento e os grandes erros cometidos pelas religiões monoteístas, se vê forçada am se retrair de sua cruzada e tentar relacionar suas visões com os fatos do mundo. 

Há muito a dizer. Mas a ideia central é essa: o Universo ascende numa marcha com ritmo ditado por uma lei profunda. E a humanidade, que brota (se manifesta) no seio desse cosmos, é (neste planeta) o produto mais elaborado do reino da matéria (do Anti-Sistema, AS). O ser humano é uma etapa intermediária do desenvolvimento do espírito - de sua salvação, sua redenção, sua ascensão.

Como um sábio já disse:

"Somos seres espirituais tendo uma experiência humana, e não seres humanos tendo uma experiência espiritual."

Em suma: nossa essência é espírito. Espíritos individuados, cada qual com sua singularidade, cuja natureza (substância) é idêntica à de Deus.

É preciso que as pessoas adquiram um senso de responsabilidade, independente de sua posição na escada social. Pois mesmo que 1% dominem e trabalhem contra os 99%, em última instância a culpa é de todos.

Uma pessoa sozinha não controla cem. É preciso que haja uma forma mental...uma corrente de pensamento, que esteja aderente à mente de todos(as), ou da maioria. Uma forma mental que é substrato para a manutenção do sistema predominante. Se as pessoas aceitam a realidade como dada do jeito que é, sem possibilidade de transformação, elas irão aceitar as regras do jogo e trabalhar para que um dia (quem sabe...) cheguem ao topo da pirâmide - e ajam exatamente igual àqueles que estão lá. É um em um milhão, ou um em mil, que chegará lá. Tanto faz. Porque de qualquer forma é uma parcela ínfima da sociedade. É tudo uma ilusão que alimenta um sistema cuja data de validade já expirou.

Perceber esse fenômeno profundo não implica em defender o status quo.

A desigualdade é o maior mal (manifesto, factual) que há.

A falta de consciência é o maior mal (não-manifesto, substancial) que há.

O segundo leva ao primeiro. Logo, para mudarmos nossa realidade sistêmica deplorável, é mister adquiri um grau de consciência mínimo: Uma massa crítica com esse grau será o limiar que definirá o acionamento de uma onda de transformação irrefreável que se arrastará pelo mundo. Nesse arrastão de consciência, as forças do AS não serão páreo. O Sistema (S) terá a predominância, viabilizando a elevação efetiva das condições mundiais. Ou seja, o AS será um pouco menos AS, aproximando-se (dimensionalmente) do S.

Isso ainda não está claro para muitos. E se as pessoas (leia-se, todo o povo) não se esforçarem para compreender, correrão o risco de retroceder séculos em qualidade de vida e possibilidades. O dever é de todos. Independente da escolaridade ou salário ou CEP ou patrimônio ou etc., é mister que as pessoas busquem despertar para uma realidade mais profunda. A consciência não depende inteiramente do intelecto. É claro que o desenvolvimento da razão, da sistematização, do bem-estar, das conquistas terrenas pode nos levar às portas da intuição, dum altruísmo maior, duma visão sistêmica, da bondade, entre outras coisas maravilhosas. Mas não necessariamente. 

Já vi muitas pessoas extremamente inteligentes (razão, análise, comunicabilidade, etc.) com baixo grau de consciência. E muitos com poucas vantagens terrenas (salário baixo, sem escolaridade, sem posses, etc.) com consciência de dar inveja a muitos engenheiros, advogados, médicos, e etc. (isso sem falar de diretores, CEO's, estadistas, e criaturas do tipo). Logo, não podemos esperar o povo adquirir um grau de bem estar de uma parcela pequena (digamos 10%) da população. É preciso iniciar agora, com o que se tem: a substância divina que reside em tudo e em todos.

 

Ubaldi desenvolve, numa de suas obras, um pensamento muito profundo que exprime o modo de agir das forças da vida. Diz ele que:

"A Vida prefere um magro evoluído do que um gordo involuído."

Sem querer menosprezar as pessoas pelo peso, o místico da Umbria quis dizer o seguinte:

"A Inteligência que auxilia o mundo (substância divina na criatura, Deus imanente) está orientada a construir um biótipo consciente, desperto, dono das forças da Vida, mesmo que para isso ele tenha de ter dificuldades materiais; e não um biótipo cheio de regalias, no bem estar, mas inconsciente e alienado das reais questões da existência, de sua origem, de seu destino e da Lei de Deus."

Ou...

"A Vida prefere um consciente sem bem estar do que um inconsciente com confortos materiais."

 

É preciso tomar muito cuidado ao lermos certos termos. As palavras servem para exprimir uma ideia mais profunda. Por vezes, mal interpretada, acreditamos que o autor quis dizer exatamente o que as palavras são a entender (interpretação literal). Mas, como diz Rohden, o símbolo (representação) sempre é uma degradação do simbolizado (realidade).

Quem assimila corretamente conclui que o caminho das pedras é muito óbvio. Por exemplo, vê-se com muita clareza que certas pessoas são exemplo de dedicação ao próximo e buscam promover isso na árdua batalha do cotidiano, contra as forças dos meios de comunicação, do dinheiro, das corporações, enfim...dos interesses. Guilherme Boulos é um claro exemplo disso. Ele é o único candidato a prefeito de São Paulo cuja trajetória é limpa. Eu diria quase imaculada (se compararmos às de seus adversários). Mas no entanto muitas pessoas ainda estão presas a aspectos secundários, sem importância (leia-se fake news). O poder vendeu a essas pessoas uma forma mental apodrecida (vencer no mundo é esmagar o outro, é focar no lucro, é prezar pela ordem que mantêm tudo como está); uma narrativa falsa (movimentos sociais são a baderna, quem fala em socialismo é um monstro, quem incomoda as instituições deve ser eliminado, quem quer diminuir a desigualdade deseja implantar a ditadura da esquerda, e etc.). Assim, com muita facilidade aderem aos ditames do poder e com muita dificuldade assimilam e se alinham com aqueles que desejam um mundo melhor para todos. 


Na minha visão, falta ao Boulos apenas uma coisa: perceber o aspecto mais profundo do fenômeno. Talvez ele já o perceba, de forma inconsciente. O avanço que ele tenta é árduo porque não vai à origem do bem e do mal; não atinge a fenomenologia do cosmo; não percebe que as pessoas (o povo), também deve se mexer.

De certa forma, o povo é culpado por suas misérias porque não sabe perceber o jogo profundo que está ocorrendo. E assim apoia políticas monstruosas que o leva a uma miséria maior, com menos emprego, salários rebaixados, empregos (se houverem) degradantes, transportes ineficientes, escolas e hospitais e médicos mais afastados, piores e em menor quantidade; e etc.

Não podemos eximir os 90% (ou 99%) da culpa do estado atual.

Se todos esses 90, 99% enxergassem de fato o que ocorre no mundo agora, na manhã seguinte haveria o início de uma revolução sem precedentes, global. Uma revolução que cujo cerne não seria a remoção do poder de alguns, para serem substituídos, mas na alteração da estrutura do poder. Para que todos possam ter condições mínimas de vida e - principalmente - um contexto no qual o progresso interior seja não apenas uma quimera, mas uma ralidade alcançável.

No fundo se trata de uma questão de número: basta haver uma massa crítica que enxergue a Realidade. A questão é que parece muito difícil se atingir esse estado de conscientização.

Muitos (dos poucos) buscam o meio externo, como Boulos, Eduardo Moreira, Alysson Mascaro e Valdete Severo.

Alguns buscam o meio interior, como os santos e místicos e monges. Como Francisco de Assis, Masaharu Taniguchi e Allan Kardec.

Mas conheço pouquíssimos que agregam os dois: reforma íntima que colima em atuação social - e mudança social visando despertar da consciência.

Nós só iremos avançar com essa magnífica combinação. Não apenas na teoria (mente), mas na prática. Vivendo essa realidade mais profunda. Pois a realidade é integral, como diz Ken Wilber. Logo, o íntimo e o exterior estão jungidos, conforme preconiza a Teoria de Ubaldi.

 

Devemos espiritualizar a matéria.

Devemos ascender espiritualmente e manifestar essa mudança de estado.

Manifestar é agir no mundo. Ascender é conscientizar.

É muito simples. O que dificulta é fazer isso acontecer de fato. 

O povo está na panela em termos materiais. Mas na análise profunda que fazemos, não podemos recear de colocá-lo também na panela (das responsabilidades).

Porque somente assim a pessoa pode acordar e começar a agir de fato.

Como muitos sábios já o disseram:

"É melhor uma sinceridade áspera do que uma falsidade suave."

 

O povo não pode ser o objeto de cristal intocável para os progressistas. Quem deseja o predomínio das trevas age assim. Mas não o pode quem deseja o progresso da humanidade. 

Não se trata de atacar o povo, e sim de fazê-lo despertar para a realidade, tratando-o como um ente com real poder, responsável pelos seus atos e capaz de diferenciar uma crítica feroz de um ataque de ódio. 

Esse é o significado mais profundo de V, De Vingança. Todo processo de despertar de Evey (Natalie Portman) envolveu certa dose de violência intensa por parte de V - no entanto, ela despertou de forma magnífica, mais forte do que nunca. Precisamos de um catalisador forte. Um V. Capaz de fazer despertar aquele espírito que está latente nas pessoas. Esse V pode ser um movimento, ou um evento que desencadeie um processo irreversível.


E para isso dar certo as pessoas precisam adquirir a capacidade de fazer sua autocritica.

Não é apenas uma religião ou um partido ou uma pessoa que precisa fazer autocrítica (como diz ou sugerem os pútridos meios de comunicação). É toda a humanidade! Especialmente aqueles que mais concentram poder (que não são expostos pela grande mídia, que é inclusive parte desse poder). Essa avaliação deve ser feita com severidade compatível à posição hierárquica de cada grupo, classe social e pessoa.

É preciso que todos sejamos jogados na panela. Porque nada melhor para despertar uma humanidade sedada (quase) por completo do que dar um abalo profundo e incisivo. 

Não sei quem ou qual grupo iniciará esse movimento. Mas que fique registrado aqui a visão mais profunda que brotou de uma vivência intensa, de ritmo frenético, para que futuramente uma humanidade mais evoluída, que atravessou um período triste, possa caminhar de forma mais orientada. 


É hora de iniciarmos a fusão dos grandes pilares do progresso: Evolução íntima com Revolução sistêmica.

 

Só se purifica purgando. Nesse estágio ainda é necessário - ao que parece - a querida irmã dor. Único meio de salvação no estágio hodierno da humanidade. Após os grandes eventos que aguardam este planeta, espera-se que os saltos evolutivos sejam mais suaves. Assim o progresso será cada vez mais uma tendência natural, e as pessoas se entenderão com mais facilidade. 

Assim o é (a Lei), assim o será (na nossa marcha).

Compreenda-o quem o puder.

 

Observações:

* Muitos artigos de nossa constituição não são implementados por falta de vontade política, que por sua vez se perpetua graças à inconsciência da população.