Páginas de meu interesse

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A natureza do tempo

"The idea that time is an illusion has been a common theme in Buddhist philosophy (since 6th century BC). In the modern scientific era, since Wheeler and DeWitt formulated their equation (in 1967), several physicists believe that time might not be a fundamental phenomenon of nature but an emergent one. It’s worthwhile to trace the evolution of scientific thought that led us here." 

Fonte: [1]

"A ideia de que o tempo é uma ilusão tem sido um tópico comum na filosofia Budista (século VI a.C.). Na era científica moderna, desde que Wheeler e DeWitt formularam sua equação (em 1967), muitos físicos acreditam que o tempo possa não ser um fenômeno fundamental da natureza, mas sim um (fenômeno) emergente. Vale a pena traçar a evolução do pensamento científico que nos trouxe até essa conclusão."

Tradução (grifos meus)

O tempo sempre esteve presente em nossas vidas. Inconscientemente através do seu fluir, viabilizador de todos fenômenos neste universo, desde o movimento dos astros, as reações químicas, difusão das formas dinâmicas e manifestação da vida; e conscientemente através da mensuração que fazemos dele. 

Ver a magnitude da natureza é ter uma experiência diferenciada de tempo. Sempre que nos envolvemos em algo - ou sofremos por algo - o tempo se dilata ou comprime. 

A existência da matéria depende do tempo, dimensão superior à espacial - meio em que a matéria existe e se manifesta. Não é apenas o espaço que deve existir para que os objetos (dito reais) existam, ou melhor, sejam tangíveis, palpáveis aos nossos sentidos. É preciso que esses objetos existam no espaço por um tempo limitado (não nulo), também. Assim a dimensão tempo se "casa" com a dimensão espaço,, criando a malha espaço-tempo em que o mundo material existe, se manifesta, se move, colide, se junge, se perpetua e se definha à medida que avançamos na esteira desse misterioso ente chamado "tempo". 

Mas o que é de fato essa dimensão?

Ubaldi, em A Grande Síntese, nos dá uma ideia da forma com que devemos abordar o tempo: uma dimensão que faz parte de uma tríade de dimensões. A tríade subsequente àquela das dimensões do espaço (linha, superfície e volume). Esse novo grupo é constituído de dimensões superiores, ou seja, mais vastas, menos tangíveis, mais sutis e portanto mais influentes nos fenômenos da vida. Ela é formada por:

1ª dimensão = tempo

2ª dimensão = consciência

3ª dimensão = super-consciência

Podemos estabelecer uma analogia com as outras, mais familiares ao tipo comum:

1ª dimensão = consciência linear (=tempo)

2ª dimensão = consciência de superfície (=consciência)

3ª dimensão = consciência volumétrica (=super-consciência)

O tempo é a plataforma na qual a consciência irá iniciar a construção de sua forma de expressão em nosso universo físico-dinâmico-psíquico. Ele é um devenir que não tem noção de seu progredir. Ele é movimento. Ele viabiliza a manifestação, as leis que regem todos fenômenos vinculados à matéria, direta ou indiretamente. Ele é uma consciência elementar, linear, que progride sempre numa mesma direção, sem ideia de relativo, de comparação com outros fenômenos que se manifestam na esteira do tempo

O tempo é um só mas os fenômenos que em seu seio se manifestam são múltiplos. Sua diversidade é atordoante para a mente humana - e sublime para aquele que aprendeu a mergulhar no íntimo do cosmos, da vida, do pensamento e da paixão, extraindo de muitos reinos concretos a seiva da fonte infinita. 

Desses fenômenos temos muitos. A imensa maioria da matéria do cosmos é desorganizada. Está em seu nível inorgânico. As massas estelares, planetas, nebulosas, são mamutes nu m reino de micróbios. Mas sua inteligência é limitada a obedecer leis férreas. Sua energia é colossal, porém seu direcionamento não tem finalidade pensada. 

Toda matéria inerte é coordenada por leis superiores. Ela não tem poder de decisão devido ao seu grau de adormecimento. Mas há outras entidades que se destacam desse reino, formando-se em regiões distantes do cosmos, longe dos epicentros explosivos que forjam estrelas - base da vida, base dos sistemas planetários.

A vida é um epifenômeno. Surge a partir de um rearranjo de certos componentes da matéria inorgânica, que é interceptada por formas dinâmicas muito particulares, em condições ambientais peculiares. Os ritmos, períodos, intensidades e concentrações obedecem um pensamento diretor. Todo é orquestrado para que o produto final seja um ser capaz de se reproduzir - num primeiro momento, de forma assexuada; num segundo, de modo sexuado; e num terceiro ainda (nossa etapa), adquire-se a capacidade de perpetuação no plano cultural. Mas voltemos um pouco e analisemos com cuidado as nuances desses tipos de reprodução. 

A reprodução sexual marca o início de uma nova fase. Ela (assim como a assexuada, por simples divisão celular) ainda é biológica. Através da mistura de material genético, ganha-se uma riqueza (diversidade) sem precedentes. Assim o ritmo de mudança se torna frenético: a variabilidade cresce exponencialmente, colimando em possibilidades. Combinações das mais variadas permites experimentações fora do comum. O universo fica mais rico, cheio de possibilidades, beleza e crueza - isso aos olhos humanos, que conseguem se dobrar sobre o fenômeno "vida" e começar a esboçar pensamentos e exprimir sentimentos. 

A transição para a evolução cultural é um marco que aponta para um plano superior. Estamos falando da variação e seleção de ideias - ao invés de genes. Então ganha-se mobilidade. O cérebro com seu sistema nervoso, produto máximo da evolução orgânica, é o órgão melhor capaz de exprimir conceitos e se manifestar de forma coordenada no reino do espaço-tempo. A consciência, "nascida" com a vida, se torna capaz de atuar no mundo da matéria. Outrora mera condutora dos processos internos, agora rainha da situação local, moldando, inventando, reproduzindo. O artificial começa a surgir com o ápice das espécies no reino do natural - o Homo sapiens. 

Toda mudança profunda traz em si um germe a se desenvolver. O desdobramento de uma forma de existir e se reproduzir dá condições a uma nova forma (de existir e se reproduzir). E assim sucessivamente. O tempo é a esteira que viabiliza essa evolução. E ela, atuando no tempo (mas acima dele), dirige as forças da vida. Cada vez mais magistralmente, fazendo um malabarismo mais ordenado, de complexidade crescente. 

A vantagem da reprodução cultural é sua manifestação mais rápida (horizontal, via informação), livre da carne (transmissão vertical, via DNA). Assim as almas podem se influenciar sem necessidade dos meios materiais usuais. 

Nos impressionamos com um belo poema, com uma teoria científica bem formulada; com uma corrente de pensamento bem concisa e coerente; com uma sinfonia envolvente; com um beijo abrasador; com um gesto de coragem e paixão; com um discurso abrasador; com uma tecnologia criativa; com uma vida de significado e construção. Isso impacta na medula, plasmando a essência do ser sem necessitar intercâmbio de fluidos. Assim o princípio que dirige as forças do universo começa a se emancipar do determinismo da matéria, da carne, das circunstâncias...

Conhecer uma verdade cada vez mais profunda é se libertar cada vez mais.

No pensamento somos livres para abraçar o infinito do espaço; extrapolar as fronteiras do tempo; imaginar situações que ainda não existem - ou já existiram. Isso alimenta nosso sistema nervoso - que está em íntimo contato com a nossa alma, veste do espírito puro, imortal e indiviso. 

Figura 3Mas voltemos um pouco ao tema: o tempo.

Presença implica em influência. E - para seres dotados de razão - à medida que se evolui, essa influência se torna evidente e precisa ser mensurada para que avanços possam ser feitos. Avanços em vários campos.

Inicialmente objeto de estudo da ciência na sua forma medida, o tempo começa a ser observado pelos antigos gregos. Platão e Aristóteles formularam descrições dessa entidade, descrevendo-a de acordo com as suas visões de mundo. Aristóteles o relacionava ao movimento dos objetos. Platão o via como algo cíclico: voltaríamos sempre, de tempos em tempos, a um momento "inicial", a cada período determinado (de milhares de anos).

As religiões também se debruçaram sobre essa dimensão tão evidente quanto misteriosa. Os textos Védicos interpretaram o tempo como algo dotado de uma natureza cíclica, e passaram a denominá-lo 'roda do tempo', dando a ideia de algo que se repete indefinidamente. Todas essas ideias e visões continham verdades, mas não a totalidade do significado.  

Observamos essa periodicidade em vários fenômenos da natureza e humanos: as quatro estações do ano; o nascer o pôr do Sol; as monções e marés; as festividades; os ciclos biogeoquímicos; os ciclos biológicos; a retomada de ideias e teorias científicas; o ressurgimento de movimentos sociais; entre tantos outros. Não à toa muitas pessoas associaram a dimensão que mensurava a periodicidade sujeita a uma idêntica periodicidade - logicamente, de tempo mais longo, para abarcar todas as outras constatadas. Mas sente-se que existe algo além disso quando se trata de dimensões como o tempo.

O texto inicial abre a possibilidade de que o tempo não seja um fenômeno fundamental da natureza, mas sim algo que emerge de uma realidade mais profunda. 

No meu último ensaio anterior sobre monismo, dividido em duas partes [2,3], falei sobre a substância e suas manifestações, relacionando-a com o dualismo mente-corpo. Podemos enquadrar a questão do tempo nesse grande quadro. Trata-se de um relativo dimensional que emerge a partir de uma realidade infra-dimensional, até ao infinito negativo; e que esta, por sua vez, resulta de uma queda de n dimensões, que se remontarmos à origem, retorna-se ao infinito positivo, Absoluto. Como se vê, as últimas conclusões da ciência estão mais próximas da Teoria da Queda das Dimensões, descrita em detalhes no livro A Grande Síntese.

De Galileu em diante o tempo começa a ser medido de forma cada vez mais precisa. A sistematização da mensuração e o advento da revolução científica possibilitaram a criação de esquemas e mecanismos cada vez mais precisos para mensurar a passagem do tempo. Instrumentos como o relógio de pêndulo, entre outros. E assim se progride na mensuração de uma dimensão. Mas mensura-se um fenômeno no qual estamos inseridos - ou melhor, presos. A questão aqui é: como superar o tempo?

Graças a ele há morte. A entropia se alinha a unidirecionalidade dessa dimensão. Desejamos freá-la para que sejamos sempre jovens e belos; para que os momentos certos durem para sempre; para que um mal não aconteça - ou outro não volte a acontecer; para que tenhamos controle sobre nosso destino, sobre a vida dos outros. Sempre se trata de algum interesse. No entanto nos esquecemos que somente através dele a vida se viabiliza...De tal forma, que a questão deixa de ser frear o tempo, e sim superá-lo.

Como fazê-lo?

Segundo Sua Voz (AGS), trata-se de maturação biológica profunda. É necessário usar essa malha (espaço-tempo) da melhor forma possível, tornando nossos atuadores (membros, mente, língua) cada vez mais capazes de transmitir ideias elevadas, criativas, que incitem o ser humano a ir adiante na jornada do progresso. Ascensão é morrer para a vida mundana e renascer para um plano superior de existência.

Mas podemos continuar seguindo a via da "evolução do tempo".

Com a Teoria da Relatividade de Einstein, o tempo deixa o pedestal de dimensão absoluta (assim como o espaço). Desde Newton foi se consolidando a ideia de que o tempo é o mesmo para todas as pessoas do (e no) universo. Mas comprovou-se experimentalmente que isso de fato não ocorre. Quais as implicações disso?

O fato de algo não ser absoluto significa que não pode ser tomado como régua universal para medição de fenômenos. A luz (sua velocidade) passa a ser referencial absoluto. Essa translação de referenciais leva à curvatura do espaço-tempo - que deve se adaptar ao modelo mais fidedigno da realidade. Além disso, existe outra coisa interessante: o tempo parece sempre se desdobrar num sentido: do passado para o futuro. 

Não há nenhuma lei que impeça os fenômenos ocorrerem tal qual se o tempo andasse no sentido contrário. No entanto, isso não ocorre: nascemos, crescemos, nos desenvolvemos, envelhecemos e morremos. Apenas a Lei da Entropia consegue dar alguma pista a respeito. Ela relaciona a desordem com o tempo: ambos possuem a mesma orientação. Mas não explica o porquê disso.

Fenômenos quânticos - isto é, à nível subatômico - parecem desconsiderar o tempo. Logo, desconsideram (não são influenciados) por sua ação. Assim, poderíamos inferir que no "reino quântico" as coisas não caducam. Mas isso vale apenas para uma escala espacial absurdamente pequena.

Crescemos muito ao longo desses 400 anos. Nossa compreensão do tempo adquiriu mais rigor científico, mais profundidade filosófica, mais teor psicológico. Em breve descobriremos mais. 

A Grande Síntese traz, de forma sintética, qual a origem, o desenvolvimento e o destino final do tempo. Tudo me parece perfeitamente concatenado. Estamos diante de uma questão não apenas profunda no campo abstrato, mas de implicações poderosas na vida prática. Porque a percepção que temos de algo torna a nossa atitude perante a vida radicalmente diferente. Ou seja, nossa essência propulsiona o cosmos - e o tempo é apenas um efeito dela.

Referências:

[1] https://medium.com/swlh/the-true-nature-of-time-f854280a42e2 

[2]  https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/08/monismo-de-benedito-spinoza-pietro_6.html

[3]https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/08/monismo-de-benedito-spinoza-pietro.html

[4] https://forge.medium.com/theories-of-time-95783b12323a

[5]  https://medium.com/starts-with-a-bang/a-spacetime-surprise-time-isnt-just-another-dimension-28c41f14365e

Nenhum comentário:

Postar um comentário