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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Significado profundo de aproveitar a vida

A humanidade está imersa num ciclo, num grande e imenso ciclo, permeado por diversos outros semiciclos menores. Mas esse ciclo (esses ciclos) não é (não são) um ciclo(s) exatamente, a rigor, em termo absoluto. A característica cíclica (repetitiva) é uma das componentes do fenômenos da evolução humana. Há mais elementos nesse caldo profundamente monista. Há coisas sutis, que passam despercebidas aos olhos das grandes multidões. Muitos, de forma inconsciente, já pressentem essas verdades, e são incapazes de negá-las em seu íntimo. Podem seguir tendências barulhentas superficiais que se calcam na objetividade da superficialidade de um mundo vazio de convicções e carente de superações.Mas sentem no fundo se sua alma que aí existe uma verdade tão sublime, tão excelsa, plenificada de possibilidades edificantes para um mundo perdido - que flerta com a perdição mas anseia pela salvação. É aí que reside o poder do conceito, do sentimento. 

As palavras tem pouco valor frente ao conceito. Paulo de Tarso já o sabia, pois viveu o fenômeno místico. "Já não sou eu que vivo. É o Cristo que vive em mim." Ele, esse grande apóstolo do Cristo, disse - como seu Mestre - as verdades supremas em seu modo mais simples, sucinto, sem revoluteio: "A letra mata, o espírito vivifica." E é exatamente isso. Esse é a grande questão de nossos tempos. Porque hoje, mais do que nunca, o mundo carece de orientação.

O evoluído, ansioso por interagir, não vê possibilidades de encontrar ressonâncias num mundo que está majoritariamente focado no supérfluo. Preso numa forma mental. Ansioso pelo curto prazo, não vendo um horizonte mais amplo, que dê motivos para sofrer (i.e., não ser reconhecido, correr riscos materiais, liberar sua natureza inferior para superá-la) em prol de uma ascensão efetiva. Uma ascensão sem igual. Íntima, e por isso mesmo imperceptível...

Não posso afirmar que senti plenamente a sensação de libertação íntima completa. Mas sinto que já vivenciei momentos supremos, de superação. Momentos mágicos, com profusão de sentimentos ordenados rumo a uma fé num destino glorioso. Um destino que poderia ser sofrido, mas apontando para supremas ascensões biológicas, psíquicas e espirituais. Esses foram os momentos mais gloriosos de minha vida. Aqueles momentos inigualáveis, em que as forças humanas não são páreo para o fluxo ordenado de impulsos divinos. Foram verdadeiros pontos singulares. Momentos de mudança abrupta no rumo de minha vida. Trechos da trajetória cíclica que deram um impulso para que o raio da trajetória crescesse, fazendo meus revoluteios humanos abarcarem uma maior gama de fenômenos; que meus sentimentos se tornassem mais aflorados, percebendo nuances que julgava inexistentes (ou besteiras); que minha orientação aumentasse, tornando meu agir mais lento, porém muito mais preciso. Assim se inicia a construção do Eu Superior. 

Esses impulsos fazem nossas trajetórias (individual e de espécie) mais do que uma mera repetição. Elas são um lento caminhar rumo a um destino de libertação. Libertação de todas limitações desse universo de espaço-tempo. Há uma ascensão, sim. Que se dá ao longo dos ciclos. Ela é sutil, e por isso imperceptível. Mas para quem observa mais à fundo, torna-se evidente a lei mais profunda que rege o transformismo da matéria, da forma dinâmica, da vida, do psiquismo, das coletividades, da alma...de tudo. É uma espiral.

Esse ciclo ascensional tem uma característica a mais: ele é oscilatório. Avançamos radialmente, mas, ao mesmo tempo, recuamos. No entanto, a ascensão é sempre maior do que a queda, por um pequeno fator. Um delta. É nesse delta que reside o ganho. A esperança. A salvação. As possibilidades. A liberdade. O segredo da felicidade efetiva - que ainda não foi atingida. 

O objetivo da vida é evoluir - não ser feliz. 

A felicidade que não desvanece é aquela que reside no ápice da jornada evolutiva. 

Enquanto estivermos imersos num universo em relativo - isto é,  transformação incessante - não teremos felicidade. Apenas ilhas de sossego em meio a uma guerra sem fim. Batalhas longas e árduas, que são vencidas com a absorção das lições que elas trazem. Eis o que o canto da vida me disse ao longo dos últimos anos. Mas prosseguindo será possível ouvir esse canto de forma cada vez mais clara, mais sublime, mais potente...

Podemos aproveitar esses momentos de felicidade (temporários, ilusórios e frágeis), sem dúvida. Mas aproveitar significa fazer bom uso dos mesmos. Significa, em sua essência, extrair o máximo possível do seu íntimo através de condições exteriores favoráveis. Compreender isso é a chave da evolução virtuosa. Uma evolução individual com menos dor - ou melhor, com dores mais bem aproveitadas. 

Os choques da vida nos fazem compreender cada vez melhor a essência de tudo.

Para falar com as massas é mister ir ao âmago da questão, sem medo ou revoluteios. Mas ao mesmo tempo não podemos proferir os mesmos discursos de sempre. Ou falas vazias, de superfície, que são compreendidas e sentidas por todos, mas não fisgam o espírito de cada ser de forma a torná-los orientados. Creio que ainda está por nascer um tipo assim. Será um dia glorioso. Ha História já houveram alguns. Mas poucos. Pouquíssimos. Está no momento de surgir um grupo mais numeroso. A explosão dos meios de comunicação, das tecnologias da informação, tornaram a busca mais fácil.Mas é preciso filtrar muito...

O mundo vê o surgimento de seres mais evolvidos e, concomitantemente, vê  brotar de hordas numerosas e barulhentas que expiram ódio, confusão ,incompreensão. Esse fenômeno ocorre atualmente no mundo e neste país. A intensidade do trabalho construtivo de poucos é contrabalanceado pela numerosidade dos empregos deletérios de muitos. De modo que, realizando um produto que considere o peso da quantidade com a vitalidade da qualidade, a luta seja árdua, quase equilibrada, mas ainda pendendo para as forças do Anti-Sistema. Mas o futuro pertence ao bom senso, à honestidade, à transparência, à eficiência. A tendência é uma mudança. Mas antes haverá um grande confronto. Um parto de uma nova forma de vida. E como todo parto, algo doloroso e incerto. 

Aproveitar a vida. O que é?

É olhar para ao céu após uma tempestade sem igual e se deslumbrar com a magnificência de cores e formas no céu. E sentir a brisa suave no rosto. Um vento cálido, mas proeminente;

É sentir o sabor de uma refeição bem feita. Um alimento feito com amor, dedicação e alegria, em meio a um dia cheio de afazeres;

É se entrosar com uma música envolvente, portadora de sentimentos profundos sobre regiões ignotas da alma. Uma música que desperte pontos críticos, que fale com sua alma;

É ter plena certeza de que você consegue aproveitar da forma mais virtuosa os recursos energéticos, utilizando a energia elétrica para conservar alimentos bons, para lavar roupas simples e confortáveis; usando o acesso à informação para compreender melhor, para sentir o canto da História e a implicação das correntes filosóficas, para sentir o drama das grandes almas e ganhar todos tipos de conhecimentos - para aprimorar as inteligências;

É saber usar seu repertório de palavras da forma mais construtiva; seu vocabulário do modo mais envolvente; sua lógica de forma mais edificante; sua experiência do modo mais útil à coletividade;

É saber que o caminho do meio (equilíbrio) é a meta neste mundo. Mas a orientação para a vertical da ascensão deve sempre ser com toda intensidade - cada qual a seu modo e ritmo;

É ter consciência dos fenômenos mais profundos da vida, mesmo que apenas por vaga intuição e parcas experiências (como eu), ou por clareza cristalina, por ter evolvido o espírito profundamente, tornando-o apto para gloriosas missões  (como Ubaldi).

Aproveitar não é gozar! É fazer uso da experiência humana para ascender definitivamente nos degraus evolutivos.

Todas conquistas no campo humano se devem unicamente ao fato de se ter uma missão a cumprir no mesmo. Isso eu sinto, do fundo de minha alma. 

Este blog é uma parte (pequena) dessa missão. Há muito a se fazer em outros campos. Apenas aqui o falar é mais direto, para um público já preparado para compreender aspectos mais profundos da vida, sem necessitar de sistematizações acadêmicas, provas escandalosamente tangíveis. 

Desejo cumprir outros objetivos. Tento de tempos em tempos tornar meu cândido ideal uma materialização envolvente que satisfaça o intelecto e unifique os seres. De pouco em pouco sinto que as coisas vão sendo construídas.

A vida deve ser consumida para gerar psique.

Psique deve ser tensionada para despertar o espírito.

Um abalo sísmico irá nos fazer ver. 

O que acontece para alguns individualmente ocorrerá para muitos.

Assim o será.

E aí a nossa longa trajetória terá valido a pena.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Progressão da forma mental

As dores são proporcionais ao grau de insensibilidade da criatura. Quanto menor o grau de consciência, mais violentos os choques da vida, revoltando a criatura, que assim reage de modos diversos, irrefletidamente. Isso explica em grande parte porque todos nós sofremos em algum grau neste mundo. 

Para que uma coletividade - ainda na infância da consciência - despertar para uma realidade mais profunda, são inevitáveis os choques cataclísmicos, que brindam nossa civilização, de tempos em tempos. Trata-se de ondas estimulantes, acompanhadas com a intenção evolutiva da Lei. Logo, podemos chamá-las de ondas evolutivas. Vamos nos adentrar aqui no significado dessas ondas na vida individual e coletiva, para melhor compreender porque nossa vida é permeada de tantas dores. Dores advindas da incompreensão do próximo (ambiguidades nas palavras, segundas intenções das partes), da incomunicabilidade (incapacidade de se expressar) e da dispersão dos pensamentos (falta de foco no que interessa realmente).

Entre o antigo e o novo, um abismo

Muitas vezes nos perguntamos porque existe tanto sofrimento no mundo. As condições econômicas são favoráveis; a tecnologia progride exponencialmente, assim como as descobertas da ciência; os meios de comunicação são variados; as bases da organização social estão plantadas (Direito e Estado). Não há  motivos, objetivamente falando, para que grandes massas tenham carência de recursos básicos à vida como água potável, alimento saudável e abrigo decente (necessidades elementares). Tampouco à saúde básica e educação digna (necessidades para pleno desenvolvimento). No entanto, do primeiro grupo (elementares) nem todos tem acesso diário e em quantidade necessária; e o segundo grupo (pleno desenvolvimento) uma parcela muito pequena tem acesso. Todos dados indicam que não se trata de escassez de recursos ou incapacidade de fornecê-los, mas de um arranjo sistêmico - apoiado por uma lógica falha - deficiente. 

As falhas sistêmicas em nossa forma de organização coletiva, no âmbito de poder político (governos), poder econômico (corporações) e poder social (consensos na sociedade civil), se devem à forma mental que prevalece em nosso mundo. São elas que alimentam a lógica sistêmica, que por sua vez mantêm a estrutura sistêmica - ou faz pequenas mudanças vetorizadas para locais inadequados. 

Forma mental predominante >> (alimenta a) >>  Lógica sistêmica >> (que sustenta a) >>  Estrutura sistêmica

Essa estrutura reflete um modelo no qual todas instituições devem operar. Para isso, a mentalidade daqueles que estão nas instituições devem estar dentro de certos parâmetros operacionais, para evitar transformações profundas. Os mecanismos de represália são sofisticados. Foram tornados mortíferos até o mais alto grau - graças ao pleno desenvolvimento do intelecto luciférico. De modo que é extremamente difícil se comunicar entre semelhantes de forma clara, concisa - o que levaria a uma melhor compreensão do que realmente acontece em nosso mundo. 

Nunca a humanidade se viu numa situação tão confortável. Sobre isso já falamos alhures. Ao mesmo tempo, nunca se viu tanta desorientação em meio a tantas potencialidades latentes - em busca de brotar de modo orientado, materializando-se no mundo para fazê-lo progredir em termos objetivos. Ao longo de muitos anos venho constatando essa dificuldade das pessoas em imprimir à concretude do cotidiano essa criatividade subjetiva, que deseja brotar mas não sabe exatamente como - nem porque. O problema reside numa estrutura sistêmica que inibe as verdadeiras mudanças. As transformações substanciais. As interações que plasmam a alma através de um jato de afetividade direcionado para o âmago da questão, no momento certo, da maneira adequada. Mas não podemos parar por aí.

Essa estrutura é uma entidade morta por si só. Quem dá vida (e força, e autoridade e inteligência) a ela é a humanidade, sua criadora a mantenedora. É a forma mental predominante que permite a sobrevida de um corpo moribundo. Corpo inadequado para o desenvolvimento pleno da espécie humana e para o equilíbrio do planeta. Na hora de buscar culpados, devemos ver o (anti)sistema apenas como um produto materializado do subconsciente coletivo que o anima. 

Conscientemente detestamos o estado do mundo. Mas instintivamente, através de automatismos muito consolidados e ágeis, sustentamos a causa que leva a esse estado. E é aí que começa o verdadeiro jogo: como tirar o mundo desse estado engessado que causa tanta dor?

Observando à fundo podemos começar a compreender porque é tão difícil chegarmos a um acordo. Porque as pessoas discordam sobre pontos que deveriam ter consenso - e até unanimidade. Nos efeitos, a grande maioria chega a acordos. Fora casos específicos (ex.: pessoas que negam certos fatos ou conhecimento consolidados, como a esfericidade da Terra, a necessidade de haver mercados e/ou Estado, o valor das ciências humanas, etc.), as pessoas não gostam do mundo que está aí. Gostariam de ver a miséria erradicada; o transporte se tornar mais eficiente; se livrarem de várias contas desnecessárias; terem mais tempo livre, para se dedicar à família, à saúde, à cultura; de não haverem guerras; entre muitas outras coisas. Mas quando as pessoas vão relacionar esses efeitos com as causas, surge a divergência.

Nos efeitos, concordamos cada vez mais - nas causas discordamos cada vez mais violentamente. 

Trata-se de um jogo que é mantido pela estrutura sistêmica. Nós, inconscientemente, alimentamos a lógica que permite que não cheguemos a consensos gerais. Essa é um motivo mais profundo de nossa tragédia. Mas gostaria de dar um passo mais à fundo para chegar às origens..

A falta de consciência é responsável pela visão limitada das pessoas. Essa limitação torna uma comunicação construtiva impossível. Às vezes, o campo de consciência de um grupo é tão pequeno que é impossível os elementos constituintes estabelecerem uma relação mais profunda. São círculos que não se interceptam. Suas trocas são meramente baseadas em aspectos exteriores, de forma, com fins egoísticos. A expansão da consciência amplia a área desses círculos, tornando possível (um dia) o contato, a relação (tangenciar), a compreensão (intercepto das áreas comuns) e o início da fusão (encontro dos centros irradiantes da consciência). O processo é lento, pois expandir dói. Como se estivéssemos esticando membranas que estão há muitos séculos acomodadas (engessadas) com sua forma atual. Forma restrita, cristalizada e teimosa.

Compreendido isso resta a questão: como então fazer a consciência (própria e dos outros, mais próximos), expandir? Não se trata de fazer o outro pensar igual a você, mas de fazê-lo primeiramente pensar. Ou nós mesmos começarmos a pensar (o que é muito mais difícil). Aí entro com nossos modelos mentais (visões de mundo e valores) e nossa gramática (modos de comunicação)

A gramática de entes mais evoluídos é mais qualitativa e menos quantitativa. O silêncio é maior. A síntese predomina. A análise é pouca, mas bem feita. A síntese permeia as sistematizações, orientando-as. Chega-se à conclusão de que as vias da argumentação são limitadas. Ir além só irá alimentar o monstro da racionalidade luciférica que está presa a instintos baixos (ou uma forma mental a se abandonar). Observa-se isso claramente em debates entre candidatos (a prefeito, por exemplo), quando um está claramente alinhado com o ideal, cheio de vontade de melhorar a vida das pessoas, e o outro (apoiado sutilmente por uma máquina midiática que se diz imparcial) age roboticamente, se apoiando em dados sem fim, discursos monocórdicos e tom de voz fria, apoiando-se na desinformação das pessoas, de sua baixa consciência, para conseguir vencer o outro. Nesse ponto resta ao anjo se munir da couraça do intelecto e da comunicação. Mas ainda assim a luta é difícil. O equilíbrio entre forças do S e do AS não condiz com o desejo das pessoas de melhoria. O que ocorre então? Quem pode fazer a verdadeira diferença?

Numa disputa em que um ser A dá provas (de vida, de dados, de intelecto, e de habilidade administrativa) de ser aquele que irá beneficiar 98% das pessoas; e o outro deseja prosseguir com algo (uma política de prioridades) que irá beneficiar (de fato) uma minoria (de 2% diretamente, com algumas migalhas para os 10 ou 20% logo abaixo, e apenas ilusões e misérias para o restante), ainda assim vê-se um jogo relativamente balanceado, de 40-60 ou 45-55, ou mesmo 50-50. E com tendência do mal predominar. A questão é saber porque uma percentagem tão grande de indivíduos está apoiando algo que concretamente não lhes interessa. É aí que entra a questão da consciência

Um ser consciente superou a forma de pensar baseada na técnica. Ele passa pela forma de pensar sistêmica, em que as relações e suas implicações importam muito mais do que especificidades locais. Isso não significa que o saber técnico deixe de ter importância para esse indivíduo: ele apenas deixou de ter predominância. Outros, ainda mais evolvidos, conseguem chegar aos fins últimos, procurando saber quais os objetivos de arranjos sistêmicos. Seu foco é a finalidade (telefinalismo). Trata-se de uma mentalidade místico-filosófica que, da mesma forma que a precedente, usa do saber sistêmico para coordenar o saber técnico. Temos então uma falange de indivíduos, numa faixa contínua, que podem estar dentro de três grupos evolutivos (formas mentais):

a) Forma mental técnica

foco no conhecimento específico, na razão, na análise, na argumentação, no curto e médio prazo, no convencimento.

b) Forma mental sistêmica 

foco no contexto, na visão holística, na reflexão, no pensamento, na sistematização, no longo prazo, na imanência, na relação.

c) Forma mental místico-filosófica 

foco nos porquês, no sentimento, na contemplação, na experiência, no afeto, na eternidade, na transcendência, na fusão.

A seguinte abarca a(s) precedente(s). Dessa forma, crescemos sem perdermos a essência dos estágios precedentes. Quando se evolui não se destroem as qualidades de modos de vida mais atrasados, mas incorpora-se os mesmos à nova forma de vida, mais evoluída. Isso é superação. Os elementos constituintes de destaque passam a ter papel de coadjuvante. Surgem novos princípios de direção e coordenação. 

As três faixas de forma mental (a,b,c) se aplicam à humanidade atual. Temos estágios inferiores (aquém de a) e superiores (além de c). Não é escopo desse ensaio tratar das infinitas faixas de consciência. 

A questão aqui é afirmar: enquanto não tivermos uma massa crítica de indivíduos com um modo de pensar sistêmico, será muito difícil eleger pessoas aptas a melhorarem o mundo. Muito mais difícil seria sustentá-las em seus cargos, tornando seu trabalho possível. Dessa forma conclui-se que é imperativo aumentar o grau de consciência através de experiências.

Mas somos nós, humanidade, que devemos buscá-las. 

Experiência não é se refugiar em shoppings, em lojas, em carros caríssimos, em viagens faraônicas, em reinos encantados vendidos pelo capital, com "sensações inigualáveis" (como as propagandas dizem), "experiências mágicas" (idem) e coisas do tipo. É viver com o próximo. É expandir sua forma mental. É incorporar novas perspectivas à sua forma mental. É refletir sobre o que é realmente essencial e importante na vida e na evolução. É dialogar até a exaustão, buscando ir à fundo nos mecanismos de funcionamento, na natureza dos fenômenos e nas origens e fins da vida, da evolução e do cosmos.

Se não fizermos pelo bem, a dor virá. Cada vez mais intensamente, impiedosamente, nos pontos mais sensíveis. 

Quando deixaremos de ser as crianças dos jogos de palavras em busca de interesses banais para nos tornarmos os adultos da cooperação, da organização e da eficiência?

O trabalho árduo cabe tanto àqueles que aspiram uma posição de liderança quanto a todas as pessoas que devem compreender nesse ser um líder que levará todos (inclusive as elites impenitentes) a uma melhor forma de vida. É papel de todos, de acordo com sua capacidade e condições, dar sua contribuição, conscientizando-se ao máximo (ou, em outras palavras, vigiando-se).

Enquanto desejarmos ser como os (podres de) ricos, seremos todos miseráveis. Iludimo-nos em baixo, e uns poucos se iludirão no topo da pirâmide, vendo que as questões fundamentais da vida não se resolvem com dinheiro, controle e aparências.

Como se vê, a meta para "vencer na vida" não é atingir o topo da pirâmide, mas transformá-la em algo diverso. Isso é a verdadeira revolução. Todas (pseudo) revoluções fizeram apenas substituições dos grupos dirigentes no topo, com alterações de forma, mas nenhuma mudança substancial. Está na hora de surgir uma (revolução) de verdade, que irá elevar o patamar do mundo, eliminando a desigualdade, a guerra e o desrespeito à biosfera.


Na incapacidade de influenciar milhões, deixo este insignificante ensaio, para aqueles já suficientemente maduros e sensibilizados, na expectativa de que seja útil para uma humanidade futura, mais alinhada com a Lei de Deus. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A natureza do tempo

"The idea that time is an illusion has been a common theme in Buddhist philosophy (since 6th century BC). In the modern scientific era, since Wheeler and DeWitt formulated their equation (in 1967), several physicists believe that time might not be a fundamental phenomenon of nature but an emergent one. It’s worthwhile to trace the evolution of scientific thought that led us here." 

Fonte: [1]

"A ideia de que o tempo é uma ilusão tem sido um tópico comum na filosofia Budista (século VI a.C.). Na era científica moderna, desde que Wheeler e DeWitt formularam sua equação (em 1967), muitos físicos acreditam que o tempo possa não ser um fenômeno fundamental da natureza, mas sim um (fenômeno) emergente. Vale a pena traçar a evolução do pensamento científico que nos trouxe até essa conclusão."

Tradução (grifos meus)

O tempo sempre esteve presente em nossas vidas. Inconscientemente através do seu fluir, viabilizador de todos fenômenos neste universo, desde o movimento dos astros, as reações químicas, difusão das formas dinâmicas e manifestação da vida; e conscientemente através da mensuração que fazemos dele. 

Ver a magnitude da natureza é ter uma experiência diferenciada de tempo. Sempre que nos envolvemos em algo - ou sofremos por algo - o tempo se dilata ou comprime. 

A existência da matéria depende do tempo, dimensão superior à espacial - meio em que a matéria existe e se manifesta. Não é apenas o espaço que deve existir para que os objetos (dito reais) existam, ou melhor, sejam tangíveis, palpáveis aos nossos sentidos. É preciso que esses objetos existam no espaço por um tempo limitado (não nulo), também. Assim a dimensão tempo se "casa" com a dimensão espaço,, criando a malha espaço-tempo em que o mundo material existe, se manifesta, se move, colide, se junge, se perpetua e se definha à medida que avançamos na esteira desse misterioso ente chamado "tempo". 

Mas o que é de fato essa dimensão?

Ubaldi, em A Grande Síntese, nos dá uma ideia da forma com que devemos abordar o tempo: uma dimensão que faz parte de uma tríade de dimensões. A tríade subsequente àquela das dimensões do espaço (linha, superfície e volume). Esse novo grupo é constituído de dimensões superiores, ou seja, mais vastas, menos tangíveis, mais sutis e portanto mais influentes nos fenômenos da vida. Ela é formada por:

1ª dimensão = tempo

2ª dimensão = consciência

3ª dimensão = super-consciência

Podemos estabelecer uma analogia com as outras, mais familiares ao tipo comum:

1ª dimensão = consciência linear (=tempo)

2ª dimensão = consciência de superfície (=consciência)

3ª dimensão = consciência volumétrica (=super-consciência)

O tempo é a plataforma na qual a consciência irá iniciar a construção de sua forma de expressão em nosso universo físico-dinâmico-psíquico. Ele é um devenir que não tem noção de seu progredir. Ele é movimento. Ele viabiliza a manifestação, as leis que regem todos fenômenos vinculados à matéria, direta ou indiretamente. Ele é uma consciência elementar, linear, que progride sempre numa mesma direção, sem ideia de relativo, de comparação com outros fenômenos que se manifestam na esteira do tempo

O tempo é um só mas os fenômenos que em seu seio se manifestam são múltiplos. Sua diversidade é atordoante para a mente humana - e sublime para aquele que aprendeu a mergulhar no íntimo do cosmos, da vida, do pensamento e da paixão, extraindo de muitos reinos concretos a seiva da fonte infinita. 

Desses fenômenos temos muitos. A imensa maioria da matéria do cosmos é desorganizada. Está em seu nível inorgânico. As massas estelares, planetas, nebulosas, são mamutes nu m reino de micróbios. Mas sua inteligência é limitada a obedecer leis férreas. Sua energia é colossal, porém seu direcionamento não tem finalidade pensada. 

Toda matéria inerte é coordenada por leis superiores. Ela não tem poder de decisão devido ao seu grau de adormecimento. Mas há outras entidades que se destacam desse reino, formando-se em regiões distantes do cosmos, longe dos epicentros explosivos que forjam estrelas - base da vida, base dos sistemas planetários.

A vida é um epifenômeno. Surge a partir de um rearranjo de certos componentes da matéria inorgânica, que é interceptada por formas dinâmicas muito particulares, em condições ambientais peculiares. Os ritmos, períodos, intensidades e concentrações obedecem um pensamento diretor. Todo é orquestrado para que o produto final seja um ser capaz de se reproduzir - num primeiro momento, de forma assexuada; num segundo, de modo sexuado; e num terceiro ainda (nossa etapa), adquire-se a capacidade de perpetuação no plano cultural. Mas voltemos um pouco e analisemos com cuidado as nuances desses tipos de reprodução. 

A reprodução sexual marca o início de uma nova fase. Ela (assim como a assexuada, por simples divisão celular) ainda é biológica. Através da mistura de material genético, ganha-se uma riqueza (diversidade) sem precedentes. Assim o ritmo de mudança se torna frenético: a variabilidade cresce exponencialmente, colimando em possibilidades. Combinações das mais variadas permites experimentações fora do comum. O universo fica mais rico, cheio de possibilidades, beleza e crueza - isso aos olhos humanos, que conseguem se dobrar sobre o fenômeno "vida" e começar a esboçar pensamentos e exprimir sentimentos. 

A transição para a evolução cultural é um marco que aponta para um plano superior. Estamos falando da variação e seleção de ideias - ao invés de genes. Então ganha-se mobilidade. O cérebro com seu sistema nervoso, produto máximo da evolução orgânica, é o órgão melhor capaz de exprimir conceitos e se manifestar de forma coordenada no reino do espaço-tempo. A consciência, "nascida" com a vida, se torna capaz de atuar no mundo da matéria. Outrora mera condutora dos processos internos, agora rainha da situação local, moldando, inventando, reproduzindo. O artificial começa a surgir com o ápice das espécies no reino do natural - o Homo sapiens. 

Toda mudança profunda traz em si um germe a se desenvolver. O desdobramento de uma forma de existir e se reproduzir dá condições a uma nova forma (de existir e se reproduzir). E assim sucessivamente. O tempo é a esteira que viabiliza essa evolução. E ela, atuando no tempo (mas acima dele), dirige as forças da vida. Cada vez mais magistralmente, fazendo um malabarismo mais ordenado, de complexidade crescente. 

A vantagem da reprodução cultural é sua manifestação mais rápida (horizontal, via informação), livre da carne (transmissão vertical, via DNA). Assim as almas podem se influenciar sem necessidade dos meios materiais usuais. 

Nos impressionamos com um belo poema, com uma teoria científica bem formulada; com uma corrente de pensamento bem concisa e coerente; com uma sinfonia envolvente; com um beijo abrasador; com um gesto de coragem e paixão; com um discurso abrasador; com uma tecnologia criativa; com uma vida de significado e construção. Isso impacta na medula, plasmando a essência do ser sem necessitar intercâmbio de fluidos. Assim o princípio que dirige as forças do universo começa a se emancipar do determinismo da matéria, da carne, das circunstâncias...

Conhecer uma verdade cada vez mais profunda é se libertar cada vez mais.

No pensamento somos livres para abraçar o infinito do espaço; extrapolar as fronteiras do tempo; imaginar situações que ainda não existem - ou já existiram. Isso alimenta nosso sistema nervoso - que está em íntimo contato com a nossa alma, veste do espírito puro, imortal e indiviso. 

Figura 3Mas voltemos um pouco ao tema: o tempo.

Presença implica em influência. E - para seres dotados de razão - à medida que se evolui, essa influência se torna evidente e precisa ser mensurada para que avanços possam ser feitos. Avanços em vários campos.

Inicialmente objeto de estudo da ciência na sua forma medida, o tempo começa a ser observado pelos antigos gregos. Platão e Aristóteles formularam descrições dessa entidade, descrevendo-a de acordo com as suas visões de mundo. Aristóteles o relacionava ao movimento dos objetos. Platão o via como algo cíclico: voltaríamos sempre, de tempos em tempos, a um momento "inicial", a cada período determinado (de milhares de anos).

As religiões também se debruçaram sobre essa dimensão tão evidente quanto misteriosa. Os textos Védicos interpretaram o tempo como algo dotado de uma natureza cíclica, e passaram a denominá-lo 'roda do tempo', dando a ideia de algo que se repete indefinidamente. Todas essas ideias e visões continham verdades, mas não a totalidade do significado.  

Observamos essa periodicidade em vários fenômenos da natureza e humanos: as quatro estações do ano; o nascer o pôr do Sol; as monções e marés; as festividades; os ciclos biogeoquímicos; os ciclos biológicos; a retomada de ideias e teorias científicas; o ressurgimento de movimentos sociais; entre tantos outros. Não à toa muitas pessoas associaram a dimensão que mensurava a periodicidade sujeita a uma idêntica periodicidade - logicamente, de tempo mais longo, para abarcar todas as outras constatadas. Mas sente-se que existe algo além disso quando se trata de dimensões como o tempo.

O texto inicial abre a possibilidade de que o tempo não seja um fenômeno fundamental da natureza, mas sim algo que emerge de uma realidade mais profunda. 

No meu último ensaio anterior sobre monismo, dividido em duas partes [2,3], falei sobre a substância e suas manifestações, relacionando-a com o dualismo mente-corpo. Podemos enquadrar a questão do tempo nesse grande quadro. Trata-se de um relativo dimensional que emerge a partir de uma realidade infra-dimensional, até ao infinito negativo; e que esta, por sua vez, resulta de uma queda de n dimensões, que se remontarmos à origem, retorna-se ao infinito positivo, Absoluto. Como se vê, as últimas conclusões da ciência estão mais próximas da Teoria da Queda das Dimensões, descrita em detalhes no livro A Grande Síntese.

De Galileu em diante o tempo começa a ser medido de forma cada vez mais precisa. A sistematização da mensuração e o advento da revolução científica possibilitaram a criação de esquemas e mecanismos cada vez mais precisos para mensurar a passagem do tempo. Instrumentos como o relógio de pêndulo, entre outros. E assim se progride na mensuração de uma dimensão. Mas mensura-se um fenômeno no qual estamos inseridos - ou melhor, presos. A questão aqui é: como superar o tempo?

Graças a ele há morte. A entropia se alinha a unidirecionalidade dessa dimensão. Desejamos freá-la para que sejamos sempre jovens e belos; para que os momentos certos durem para sempre; para que um mal não aconteça - ou outro não volte a acontecer; para que tenhamos controle sobre nosso destino, sobre a vida dos outros. Sempre se trata de algum interesse. No entanto nos esquecemos que somente através dele a vida se viabiliza...De tal forma, que a questão deixa de ser frear o tempo, e sim superá-lo.

Como fazê-lo?

Segundo Sua Voz (AGS), trata-se de maturação biológica profunda. É necessário usar essa malha (espaço-tempo) da melhor forma possível, tornando nossos atuadores (membros, mente, língua) cada vez mais capazes de transmitir ideias elevadas, criativas, que incitem o ser humano a ir adiante na jornada do progresso. Ascensão é morrer para a vida mundana e renascer para um plano superior de existência.

Mas podemos continuar seguindo a via da "evolução do tempo".

Com a Teoria da Relatividade de Einstein, o tempo deixa o pedestal de dimensão absoluta (assim como o espaço). Desde Newton foi se consolidando a ideia de que o tempo é o mesmo para todas as pessoas do (e no) universo. Mas comprovou-se experimentalmente que isso de fato não ocorre. Quais as implicações disso?

O fato de algo não ser absoluto significa que não pode ser tomado como régua universal para medição de fenômenos. A luz (sua velocidade) passa a ser referencial absoluto. Essa translação de referenciais leva à curvatura do espaço-tempo - que deve se adaptar ao modelo mais fidedigno da realidade. Além disso, existe outra coisa interessante: o tempo parece sempre se desdobrar num sentido: do passado para o futuro. 

Não há nenhuma lei que impeça os fenômenos ocorrerem tal qual se o tempo andasse no sentido contrário. No entanto, isso não ocorre: nascemos, crescemos, nos desenvolvemos, envelhecemos e morremos. Apenas a Lei da Entropia consegue dar alguma pista a respeito. Ela relaciona a desordem com o tempo: ambos possuem a mesma orientação. Mas não explica o porquê disso.

Fenômenos quânticos - isto é, à nível subatômico - parecem desconsiderar o tempo. Logo, desconsideram (não são influenciados) por sua ação. Assim, poderíamos inferir que no "reino quântico" as coisas não caducam. Mas isso vale apenas para uma escala espacial absurdamente pequena.

Crescemos muito ao longo desses 400 anos. Nossa compreensão do tempo adquiriu mais rigor científico, mais profundidade filosófica, mais teor psicológico. Em breve descobriremos mais. 

A Grande Síntese traz, de forma sintética, qual a origem, o desenvolvimento e o destino final do tempo. Tudo me parece perfeitamente concatenado. Estamos diante de uma questão não apenas profunda no campo abstrato, mas de implicações poderosas na vida prática. Porque a percepção que temos de algo torna a nossa atitude perante a vida radicalmente diferente. Ou seja, nossa essência propulsiona o cosmos - e o tempo é apenas um efeito dela.

Referências:

[1] https://medium.com/swlh/the-true-nature-of-time-f854280a42e2 

[2]  https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/08/monismo-de-benedito-spinoza-pietro_6.html

[3]https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/08/monismo-de-benedito-spinoza-pietro.html

[4] https://forge.medium.com/theories-of-time-95783b12323a

[5]  https://medium.com/starts-with-a-bang/a-spacetime-surprise-time-isnt-just-another-dimension-28c41f14365e

domingo, 8 de novembro de 2020

A humanidade se purificando

É muito triste, mas às vezes é impossível não manifestar a perplexidade da alma ao ver o modo de (não) funcionar da sociedade em que vivemos. Não é possível escapar de uma análise incisiva da forma mental - que bombardeia as notícias de todas as fontes, os blogs pessoais, as constatações do dia-a-dia, o modo de agir das pessoas, a cultura limitada e limitante hodierna...enfim, que subjuga o ser humano a uma condição precária, na qual o avanço é freado a todo momento. Os atritos são múltiplos, intermitentes e cada vez mais engessantes. Não à toa muitos optam por se adequar - dentro de seu nível, seja ele o mais alto ou mais rasteiro na pirâmide social. Adquirem um modus operandi que viabilize continuar existindo com a minimização do sofrimento. É preciso se iludir num alto grau para que isso se efetive. E os meios abundam.

Nossa espécie está despertando para questões fundamentais. Alguns (ainda raros) veem o ponto central. Percebem o impasse da civilização. Chegaram à conclusão de que o único modo de efetivamente progredirmos como espécie é mudar a forma mental. Isso colima nas mudanças exteriores, que são mais visíveis e desejadas pelas pessoas: alteração da estrutura sistêmica que impera em nosso mundo; que conduz a comportamentos diferentes. Isso levaria (ou melhor...levará) a um cumprimento da legislação*, e a criação de mecanismos cada vez mais visando o auxílio das pessoas, sua cooperação, e a geração de ambientes propícios ao florescimento, desenvolvimento, implementação, difusão e consolidação de ideias verdadeiramente progressistas. 

É impossível dar um passo à frente sem um mínimo de evolução da consciência de uma massa crítica. Isso observa-se na História, em que avanços foram feitos apenas quando os tempos eram chegados. Diz-se "É chegado o tempo dessa ideia!". De fato, muitos profetas vem com antecedência - de décadas, séculos ou mesmo milênios - e descrevem as tristes consequências do desenvolvimento de uma forma mental. A humanidade, até hoje, considerando suas linhas gerais, sempre progrediu

a pena de morte se extingue; 

a guerra se torna cada vez mais indesejada pelo sentimento popular; 

a saúde (física, mental e espiritual) é vista como o bem precioso, como o máximo dos bens no âmbito das coisas terrenas; 

direitos humanos foram criados e se ampliaram; 

as pessoas apreendem sua importância e aprendem sobre sua gênese, função e destino; 

a visão de Deus e Universo começa a se alterar lentamente; 

a Ciência avança e reencontra aquilo que ignorava nas Escrituras Sagradas, vendo-se forçada a dialogar com a Teologia ; 

e essa, percebendo o dinamismo do universo, a importância do pensamento e os grandes erros cometidos pelas religiões monoteístas, se vê forçada am se retrair de sua cruzada e tentar relacionar suas visões com os fatos do mundo. 

Há muito a dizer. Mas a ideia central é essa: o Universo ascende numa marcha com ritmo ditado por uma lei profunda. E a humanidade, que brota (se manifesta) no seio desse cosmos, é (neste planeta) o produto mais elaborado do reino da matéria (do Anti-Sistema, AS). O ser humano é uma etapa intermediária do desenvolvimento do espírito - de sua salvação, sua redenção, sua ascensão.

Como um sábio já disse:

"Somos seres espirituais tendo uma experiência humana, e não seres humanos tendo uma experiência espiritual."

Em suma: nossa essência é espírito. Espíritos individuados, cada qual com sua singularidade, cuja natureza (substância) é idêntica à de Deus.

É preciso que as pessoas adquiram um senso de responsabilidade, independente de sua posição na escada social. Pois mesmo que 1% dominem e trabalhem contra os 99%, em última instância a culpa é de todos.

Uma pessoa sozinha não controla cem. É preciso que haja uma forma mental...uma corrente de pensamento, que esteja aderente à mente de todos(as), ou da maioria. Uma forma mental que é substrato para a manutenção do sistema predominante. Se as pessoas aceitam a realidade como dada do jeito que é, sem possibilidade de transformação, elas irão aceitar as regras do jogo e trabalhar para que um dia (quem sabe...) cheguem ao topo da pirâmide - e ajam exatamente igual àqueles que estão lá. É um em um milhão, ou um em mil, que chegará lá. Tanto faz. Porque de qualquer forma é uma parcela ínfima da sociedade. É tudo uma ilusão que alimenta um sistema cuja data de validade já expirou.

Perceber esse fenômeno profundo não implica em defender o status quo.

A desigualdade é o maior mal (manifesto, factual) que há.

A falta de consciência é o maior mal (não-manifesto, substancial) que há.

O segundo leva ao primeiro. Logo, para mudarmos nossa realidade sistêmica deplorável, é mister adquiri um grau de consciência mínimo: Uma massa crítica com esse grau será o limiar que definirá o acionamento de uma onda de transformação irrefreável que se arrastará pelo mundo. Nesse arrastão de consciência, as forças do AS não serão páreo. O Sistema (S) terá a predominância, viabilizando a elevação efetiva das condições mundiais. Ou seja, o AS será um pouco menos AS, aproximando-se (dimensionalmente) do S.

Isso ainda não está claro para muitos. E se as pessoas (leia-se, todo o povo) não se esforçarem para compreender, correrão o risco de retroceder séculos em qualidade de vida e possibilidades. O dever é de todos. Independente da escolaridade ou salário ou CEP ou patrimônio ou etc., é mister que as pessoas busquem despertar para uma realidade mais profunda. A consciência não depende inteiramente do intelecto. É claro que o desenvolvimento da razão, da sistematização, do bem-estar, das conquistas terrenas pode nos levar às portas da intuição, dum altruísmo maior, duma visão sistêmica, da bondade, entre outras coisas maravilhosas. Mas não necessariamente. 

Já vi muitas pessoas extremamente inteligentes (razão, análise, comunicabilidade, etc.) com baixo grau de consciência. E muitos com poucas vantagens terrenas (salário baixo, sem escolaridade, sem posses, etc.) com consciência de dar inveja a muitos engenheiros, advogados, médicos, e etc. (isso sem falar de diretores, CEO's, estadistas, e criaturas do tipo). Logo, não podemos esperar o povo adquirir um grau de bem estar de uma parcela pequena (digamos 10%) da população. É preciso iniciar agora, com o que se tem: a substância divina que reside em tudo e em todos.

 

Ubaldi desenvolve, numa de suas obras, um pensamento muito profundo que exprime o modo de agir das forças da vida. Diz ele que:

"A Vida prefere um magro evoluído do que um gordo involuído."

Sem querer menosprezar as pessoas pelo peso, o místico da Umbria quis dizer o seguinte:

"A Inteligência que auxilia o mundo (substância divina na criatura, Deus imanente) está orientada a construir um biótipo consciente, desperto, dono das forças da Vida, mesmo que para isso ele tenha de ter dificuldades materiais; e não um biótipo cheio de regalias, no bem estar, mas inconsciente e alienado das reais questões da existência, de sua origem, de seu destino e da Lei de Deus."

Ou...

"A Vida prefere um consciente sem bem estar do que um inconsciente com confortos materiais."

 

É preciso tomar muito cuidado ao lermos certos termos. As palavras servem para exprimir uma ideia mais profunda. Por vezes, mal interpretada, acreditamos que o autor quis dizer exatamente o que as palavras são a entender (interpretação literal). Mas, como diz Rohden, o símbolo (representação) sempre é uma degradação do simbolizado (realidade).

Quem assimila corretamente conclui que o caminho das pedras é muito óbvio. Por exemplo, vê-se com muita clareza que certas pessoas são exemplo de dedicação ao próximo e buscam promover isso na árdua batalha do cotidiano, contra as forças dos meios de comunicação, do dinheiro, das corporações, enfim...dos interesses. Guilherme Boulos é um claro exemplo disso. Ele é o único candidato a prefeito de São Paulo cuja trajetória é limpa. Eu diria quase imaculada (se compararmos às de seus adversários). Mas no entanto muitas pessoas ainda estão presas a aspectos secundários, sem importância (leia-se fake news). O poder vendeu a essas pessoas uma forma mental apodrecida (vencer no mundo é esmagar o outro, é focar no lucro, é prezar pela ordem que mantêm tudo como está); uma narrativa falsa (movimentos sociais são a baderna, quem fala em socialismo é um monstro, quem incomoda as instituições deve ser eliminado, quem quer diminuir a desigualdade deseja implantar a ditadura da esquerda, e etc.). Assim, com muita facilidade aderem aos ditames do poder e com muita dificuldade assimilam e se alinham com aqueles que desejam um mundo melhor para todos. 


Na minha visão, falta ao Boulos apenas uma coisa: perceber o aspecto mais profundo do fenômeno. Talvez ele já o perceba, de forma inconsciente. O avanço que ele tenta é árduo porque não vai à origem do bem e do mal; não atinge a fenomenologia do cosmo; não percebe que as pessoas (o povo), também deve se mexer.

De certa forma, o povo é culpado por suas misérias porque não sabe perceber o jogo profundo que está ocorrendo. E assim apoia políticas monstruosas que o leva a uma miséria maior, com menos emprego, salários rebaixados, empregos (se houverem) degradantes, transportes ineficientes, escolas e hospitais e médicos mais afastados, piores e em menor quantidade; e etc.

Não podemos eximir os 90% (ou 99%) da culpa do estado atual.

Se todos esses 90, 99% enxergassem de fato o que ocorre no mundo agora, na manhã seguinte haveria o início de uma revolução sem precedentes, global. Uma revolução que cujo cerne não seria a remoção do poder de alguns, para serem substituídos, mas na alteração da estrutura do poder. Para que todos possam ter condições mínimas de vida e - principalmente - um contexto no qual o progresso interior seja não apenas uma quimera, mas uma ralidade alcançável.

No fundo se trata de uma questão de número: basta haver uma massa crítica que enxergue a Realidade. A questão é que parece muito difícil se atingir esse estado de conscientização.

Muitos (dos poucos) buscam o meio externo, como Boulos, Eduardo Moreira, Alysson Mascaro e Valdete Severo.

Alguns buscam o meio interior, como os santos e místicos e monges. Como Francisco de Assis, Masaharu Taniguchi e Allan Kardec.

Mas conheço pouquíssimos que agregam os dois: reforma íntima que colima em atuação social - e mudança social visando despertar da consciência.

Nós só iremos avançar com essa magnífica combinação. Não apenas na teoria (mente), mas na prática. Vivendo essa realidade mais profunda. Pois a realidade é integral, como diz Ken Wilber. Logo, o íntimo e o exterior estão jungidos, conforme preconiza a Teoria de Ubaldi.

 

Devemos espiritualizar a matéria.

Devemos ascender espiritualmente e manifestar essa mudança de estado.

Manifestar é agir no mundo. Ascender é conscientizar.

É muito simples. O que dificulta é fazer isso acontecer de fato. 

O povo está na panela em termos materiais. Mas na análise profunda que fazemos, não podemos recear de colocá-lo também na panela (das responsabilidades).

Porque somente assim a pessoa pode acordar e começar a agir de fato.

Como muitos sábios já o disseram:

"É melhor uma sinceridade áspera do que uma falsidade suave."

 

O povo não pode ser o objeto de cristal intocável para os progressistas. Quem deseja o predomínio das trevas age assim. Mas não o pode quem deseja o progresso da humanidade. 

Não se trata de atacar o povo, e sim de fazê-lo despertar para a realidade, tratando-o como um ente com real poder, responsável pelos seus atos e capaz de diferenciar uma crítica feroz de um ataque de ódio. 

Esse é o significado mais profundo de V, De Vingança. Todo processo de despertar de Evey (Natalie Portman) envolveu certa dose de violência intensa por parte de V - no entanto, ela despertou de forma magnífica, mais forte do que nunca. Precisamos de um catalisador forte. Um V. Capaz de fazer despertar aquele espírito que está latente nas pessoas. Esse V pode ser um movimento, ou um evento que desencadeie um processo irreversível.


E para isso dar certo as pessoas precisam adquirir a capacidade de fazer sua autocritica.

Não é apenas uma religião ou um partido ou uma pessoa que precisa fazer autocrítica (como diz ou sugerem os pútridos meios de comunicação). É toda a humanidade! Especialmente aqueles que mais concentram poder (que não são expostos pela grande mídia, que é inclusive parte desse poder). Essa avaliação deve ser feita com severidade compatível à posição hierárquica de cada grupo, classe social e pessoa.

É preciso que todos sejamos jogados na panela. Porque nada melhor para despertar uma humanidade sedada (quase) por completo do que dar um abalo profundo e incisivo. 

Não sei quem ou qual grupo iniciará esse movimento. Mas que fique registrado aqui a visão mais profunda que brotou de uma vivência intensa, de ritmo frenético, para que futuramente uma humanidade mais evoluída, que atravessou um período triste, possa caminhar de forma mais orientada. 


É hora de iniciarmos a fusão dos grandes pilares do progresso: Evolução íntima com Revolução sistêmica.

 

Só se purifica purgando. Nesse estágio ainda é necessário - ao que parece - a querida irmã dor. Único meio de salvação no estágio hodierno da humanidade. Após os grandes eventos que aguardam este planeta, espera-se que os saltos evolutivos sejam mais suaves. Assim o progresso será cada vez mais uma tendência natural, e as pessoas se entenderão com mais facilidade. 

Assim o é (a Lei), assim o será (na nossa marcha).

Compreenda-o quem o puder.

 

Observações:

* Muitos artigos de nossa constituição não são implementados por falta de vontade política, que por sua vez se perpetua graças à inconsciência da população.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Ponto decisivo

O nosso mundo tem muitas narrativas. São explicações que tentam, de algum modo coerente, justificar porque as coisas ocorrem de tal maneira e como é o mecanismo de funcionamento. Todas possuem aspectos de uma verdade maior - mesmo se pronunciadas de maneira emborcada. Algumas versões se digladiam, outras cooperam entre si. Cooperam com o intuito de competir com outras, combatendo em todos campos, de todas formas, nos momentos mais inesperados. E sempre com os objetivos mais nobres. Essa é a dinâmica do processo ascensional em nosso plano.

A existência nesta terra sempre foi feroz. A sobrevivência sempre pareceu ser o único objetivo. Nenhum espaço para qualquer coisa que transcenda os férreos limites da realidade mais tangível. E assim a luta se daria, ad aeternum, sem nenhuma novidade evolutiva substancial: apenas variações na forma de agressão, no modo de enganar, nas técnicas de disfarçar. Variações que dão a impressão de real mudança. Especialmente para aqueles despreparados, que pouco ou nada conhecem da natureza do mundo. 

À medida que evoluímos a luta se torna mais complexa e menos feroz. No entanto, até certo ponto, esse decremento de ferocidade é compensado por um aumento pronunciado de consequências catastróficas e tensão psíquica. Dessa forma caminha-se para um ponto em que a incerteza aumenta à medida que se conhece mais. As experiências se sedimentam na psique. Os ciclos possuem ritmos mais abrangentes e sintéticos. A dinâmica se torna mais veloz, com períodos mais curtos e menos custosos para atividades que outrora pareciam inacabáveis - e mesmo impossíveis de serem realizadas. Mas a desorientação aumenta.

Quanto mais informação disponível; quanto mais contatos possíveis; quanto mais possibilidades; quanto mais a ser considerado para uma avaliação justa do outro (ou de uma ideia), tanto maior será o desgaste. A incerteza ascende e se consolida a partir do momento em que se atinge um máximo de inteligência luciférica. E com isso, o trabalho exigido daqueles que mais anseiam por colocar a humanidade numa rota salvadora, desviando-a de uma catástrofe aceitada por muitos, aumenta exponencialmente. O ritmo frenético demanda explicações incessantes. Para aquele verdadeiramente adiantado, parece absurdo ter de falar o que para ele já é óbvio. O fato de pessoas caírem em mil armadilhas tornam indivíduos, famílias, nações, povos, civilizações, reféns de um jogo de propaganda - no qual quem for mais convincente e tiver mais acesso às câmeras e microfones, ganha a mente e coração do involuído. Esse é o reino do Anti-Sistema.

Há muito desenvolvi um ensaio sobre a fenomenologia do fenômeno evolutivo [1]. Posteriormente comecei a esmiuçar os aspectos mais particulares, detalhando a visão, em vários textos [2]. Hoje tudo parece cada vez mais claro. Os fatos da vida vêm a confirmar a visão - que se desdobrou numa série de ensaios sistematizando como se dá o fenômeno íntimo de conscientização da alma humana. E podemos relacioná-lo com o jogo de forças de que tanto Pietro Ubaldi fala em suas obras.

No livro Queda e Salvação nos é apresentado o diagrama gráfico Sistema e Anti-Sistema (S e AS): dois triângulos opostos que representam a amplitude (horizontal) dos dois domínios em níveis evolutivos (vertical) distintos. Apesar de idênticos em dimensões e formas, trata-se apenas de um modelo simplificado para termos uma ideia da luta travada aqui nesse mundo. Com ele temos uma ideia da relação de forças (bem vs mal) e dos impulsos iniciais possíveis (causas) das trajetórias,  com suas inexoráveis consequências (efeitos). De modo simples, uma vez estabelecida a causa (escolha livre), sofre-se as consequências da mesma (fatalidade, determinismo) por meio da perfeição da Lei. Compreender esse mecanismo de evolução do universo em seu âmago é a chave para a libertação deste mundo - ou seja, para avançarmos no caminho do progresso efetivo. 

A evolução na forma racional (humana) parece apresentar uma particularidade: ela tende a um máximo de tensão quando o intelecto atinge sua maior amplitude de desenvolvimento. Leia-se: capacidade de argumentação, astúcia, velocidade de processamento, sistematização, capacidade de abarcar múltiplos saberes, etc. A consciência na forma humana está a meio caminho: inicia-se com o despertar da razão (homo sapiens) no ponto inferior; e finda com a superação da razão, absorvendo-a por completa e dando lugar à inteligência intuitiva, capaz de sínteses que hoje ainda parecem milagres ou inspiração mais ou menos comuns a gênios e líderes e santos e místicos. O despertar e consolidação dessa inteligência no seio da humanidade dará luz ao novo homem (super-humano), gerando uma nova espécie. 

A questão é simples: quanto mais nos afastamos do ponto inicial, mais cresce a nossa experiência. E com ela, a capacidade de raciocinar. Visamos o benefício (inicialmente nosso, depois do coletivo). Abarcando uma quantidade cada vez maior de seres - em unidades coletivas mais vastas - ganhamos potência de atuação. A capacidade de organização colima em potência de expansão. O coletivo mais complexo possibilita a vivência individual mais plena. E com isso facilita-se a reforma íntima. Ela (o íntimo do indivíduo) é a origem dessas mudanças. A consciência desperta o ser, dizendo-lhe que novas necessidades surgem. Necessidades mais elevadas, que conduzem a métodos diferentes. Trata-se de um jogo de forças entre a imanência de Deus (substância do Sistema, o Bem) e a desobediência da criatura decaída (espíritos em ascensão, nós, o Anti-Sistema, portadores do Mal). Mas o mal não somos nós, seres nas vias da redenção - apenas admitimo-lo e com isso sofremos todas as consequências daí provenientes. 

Analisando os triângulos de Ubaldi, podemos perceber que as forças S e AS se igualam no meio do caminho. Para cada espécie, nível, parece haver esse momento de equilíbrio. O homem, pelo que dizem, está justamente no meio caminho desse ciclo evolutivo universal, que vai do átomo ao espírito puro. E nossa espécie, além disso, está no seu derradeiro momento - de mudança. Atingimos o ponto máximo em termos de recusa à aceitação da Lei de Deus. Isso graças ao intelecto luciférico amplamente desenvolvido. A evolução do ser humano (homo sapiens) está a meio caminho: o máximo do AS se manifesta em nós, e concomitantemente estamos atingindo um grau de consciência que é metade das nossas possibilidades. 

Quando as forças do AS (mal, segregação, confusão, argumentação infindável, barulho, desgaste, ineficiências, ilusão, luxúria, aparências) atingem o clímax, essas perdem seu potencial armazenado, sendo seu avanço subsequente um encolhimento natural, como uma mola que já atingiu sua máxima elongação. E assim solta-se o ataque final, com todas as forças: é a hora das trevas, em que parece que tudo está perdido e nada resta à humanidade. Desespero e terror tomam conta das pessoas, que deixam de acreditar e temem a ignorância - como se esta fosse durar para sempre. Mas eis que a imanência de Deus começa a agir: primeiramente em criaturas à frente (os evoluídos), e depois naqueles mais próximos, que começam a assimilar, confirmar, vivenciar e (igualmente) atuar destemidamente. É o momento decisivo. O cume da imensa montanha. O ponto em que não é possível retroceder e todos devem dar seu máximo rendimento, até à morte do corpo físico, se necessário - para a geração da vida eterna, no espírito, garantindo assim o ressurgimento daquele (corpo físico). E assim as forças do S (bem, afirmação, reflexão, síntese, eficiência, silêncio, sinceridade, honestidade, clareza, essência) passam a controlar definitivamente o processo de redenção que vai da matéria ao espírito; das trevas à luz; da pulverização máxima à unificação total.

É importante que nos apeguemos mais ao conceito e os princípios do que à forma e às aparências. Pois é o princípio que gera o tangível. E as aparências são apenas reflexo da nossa face íntima frente ao espelho que reflete o substancial. 

Como se vê, tudo indica que a humanidade está nesse momento crítico, no qual todas as expectativas se voltam sobre nós. Há 50% de força do AS em atividade (Mal), e 50% de força do S igualmente ativa (Bem) no mundo. Como o equilíbrio é total, o embate é do mais feroz. Nesse jogo de forças o desespero chega ao limite, as forças parecem se esgotar e o sentido da luta e da vida parecem esvair pelas mãos - como as areias do tempo escorrem pela ampulheta.

Quando o intelecto era menor, o mal era mais cruel, porém sua capacidade de destruição era igualmente reduzida (ex.: Idade Média). Hoje, porém, o mal se desenvolveu a tal grau que sua manifestação plena é certeza de destruição coletiva em proporções de civilização. É mister que o bem se contraponha a essa avalanche de destruição ocasionada por uma mente que se tornou refém das aparências e das quantidades. 

A expansão horizontal do intelecto (que fortalece o mal) não segue necessariamente o mesmo ritmo da ascensão vertical da consciência (que leva ao bem). É imprescindível que aceleremos a evolução na vertical através da interiorização da vivência, buscando o máximo de compreensão possível. O mundo precisa mais do que nunca de uma nova mentalidade. Uma mentalidade monista, que perceba os fenômenos, as relações, o progresso, a história, os saberes, os desenvolvimentos, mais como algo que tende a se irmanar numa unidade íntegra, íntima e fraterna - do que como algo que deva ser gerenciado e usado em proveito particulares.


O sistema deve mudar com a mudança dos métodos.

Os métodos mudam com a mudança da mentalidade.

A mentalidade muda com a conscientização.

A conscientização se dá interiormente.

 

É você quem desperta, por si só. Ninguém pode fazer algo que cabe a ti. 

Mas nada impede outros de ajudarem você nesse processo.

Eis que reforma íntima e conscientização, se relacionam diretamente com vivência social e mudança sistêmica.


O mundo jaz em trevas, mas não por muito tempo. 

A questão é: queremos ir adiante (salto evolutivo revolucionário) ou decair alguns séculos ou milênios?


Referências:

[1] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html?m=1

[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo.htm

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Mais que Rei: Imperador

A TVE vem produzindo séries de qualidade que beiram o insuperável. Em termos de fidelidade às personalidades dos personagens históricos e aos fatos; em termos de força de penetração de trilha sonora; em termos de figurino; em termos de representação; e em termos de capacidade de síntese. São séries que podem servir, sem problema algum, a um curso de História do 2° grau (ou mesmo faculdade), dando o estímulo necessário ao estudante - que passará a ler e estudar os livros com mais interesse e visão mais profunda. Isso porque a equipe do filme tomou o cuidado de consultar diversos historiadores para construir cada cena. 

Eleonor, Carlos e Isabel

Os personagens se vestem fielmente de acordo com a época. Agem conforme os costumes. Seus olhares transmitem a intensidade de uma vida de guerras e paixões e sonhos e esquemas e vinganças. A trilha dá o tom ao sentimento dos reinos e de seus principais indivíduos, sejam reis, bispos, papas, diplomatas, soldados, mercenários ou qualquer outro tipo de classe próxima ao poder. Cada gesto tem um significado. Há cenas que poderiam se tornar quadros - como aquela da tomada de Granada pelos reis católicos Isabel e Fernando, que aliás foi construída baseada num quadro, de forma impecável, parte por parte.

Carlos I da Espanha (ou Carlos V do Sacro-Império Romano-Germânico) foi neto materno de Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Segundo filho de Joana, a Louca. Predestinado a ser herdeiro de um imenso poder. Ser mais do que um rei poderoso de um reino em ascensão: se tornar imperador. 

Castela, Aragão, Sicília, Nápoles, partes da África, Flandes, as Índias (como eram conhecidas as Américas então), o Império (parte da Alemanha, Suíça, Áustria e regiões adjacentes), entre outros: todos reinos sob domínio de um homem, que concentrou em si todos os dramas e viveu uma vida permeada de conflitos externos (guerras) devido à grandiosidade de seus domínios e à sua época - uma era permeada de descobertas e conquistas. Nesses casos a vida pessoal se mistura à vida pública de forma mais intensa, sendo impossível fugir para o recôndito da intimidade do lar. 

Isabel de Avis, filha de Manuel o Afortunado e Maria de Aragão, foi a esposa do imperador. Ela assim o quis (ou César ou nada), e assim aconteceu. Eram primos (Maria era irmã de Joana), ou seja, próximos em termos de sangue. Quando Isabel morre após o seu terceiro parto, em 1539, aos 36 anos, Carlos nunca mais se casou. Ficou de luto pelo resto de sua vida, vestindo sempre trajes pretos pelos próximos 19 anos (morreu em 1558).

A série é feita numa única temporada de 17 episódios. Iniciamos com um rapaz jovem, cabeludo, sem barba, sereno e inexperiente. Cisneros, arcebispo de Toledo, já velho, prepara tudo da melhor maneira possível para que Carlos assuma um reino sem problemas. Mas as instabilidades vêm e vão, e a tarefa de consolidação no poder não serão nada triviais para o jovem rei. 

A vida de Carlos foi um eterno conflito entre reinos. O fato de ter se tornado imperador abriu brechas para a preocupação dos vizinhos (dentre os quais a França, de Francisco I, e Roma, com vários Papas que conviveram com o reinado de Carlos), que viam no rapaz uma ameaça: muito poder, muitos domínios, muitos títulos na mão de uma pessoa. Tratava-se de um herdeiro de algo tão grande que o peso dessa herança poderia muito bem quebrar uma pessoa psicologicamente. E não faltaram guerras e esquemas e clima hostil durante o seu reinado. A paz do rei-imperador estava restrita à poucos momentos de sua vida íntima.

Ele tem um caso com Germana de Foix, uma mulher ainda jovem, viúva de seu avô Fernando de Aragão. Teve um filho com ela. Mas as obrigações de sua posição logo os afastaram. Foi seu primeiro amor, escondido, não declarado, forçado a viver nas sombras de um contexto que impedia a troca de afetos entre pessoas de posições distintas. Esse amor, apagado pelas imposições férreas da vida de liderança e política e guerra, logo foi substituído pela princesa de Portugal.

O conforto de Carlos (sua paz) estava em sua esposa, Isabel. Com ela viveu os melhores momentos. Tiveram três filhos, dos quais o primogênito, Felipe II (conhecido como o rei prudente), viria a assumir seu lugar, compartilhando o poder com o irmão de Carlos, Fernando de Áustria. 

Sua família sempre foi fonte de conflitos: sua irmã Eleonor sempre teve casamentos feitos e desfeitos de acordo com os interesses do império (que poderíamos dizer que eram do imperador, seu irmão) ou pela falta de caráter daqueles que a acompanharam. Uma vida infeliz. Um mar de decepções, ponto trágico que teve em comum com sua mãe, Joana, a Louca. Joana, que aliás, viveu 76 longos anos - dos quais 50 deles infelizes, levando-a à loucura. Era uma mulher instável, mas sabia como as coisas funcionavam. Se decepcionou com o mundo. Mas sobretudo, com sua família, a qual jamais perdoou por tê-la tratado como uma simples marionete. Maria e Catalina (de Áustria), tiveram um pouco mais de sorte. 

Sente-se a trilha sonora do argentino Federico Jusid. A mesma emoção sentida na série Isabel se encontra aqui em Carlos. Excelente escolha - tanto por escolhê-lo quanto por mantê-lo orquestrando. 

A série, além de empolgante, é uma verdadeira aula de História. Assisti-la não é um mero exercício de entretenimento - aliás, há muito mais cultura e conscientização do que isso. Trata-se de um lazer que se insere no seio de um processo de incremento cultural, de despertar dos sentimentos, e de conscientização sobre o funcionamento das engrenagens do poder, tanto à nível público, na política (da paz e da guerra) quanto na psíquica, no comportamentos. Vale como semente para futuros desenvolvimentos educacionais. Vale como núcleo para bate papos interessante. Vale, até certo ponto, como elemento transformador.

Uma curiosidade: Carlos não terminou seu reinado com sua morte - decidiu abdicar do trono, repartindo seus domínio entre seu filho Felipe II e seu irmão Fernando da Áustria. De certa maneira, uma pessoa que iniciou com a vivência do que conhecemos como vida de aposentado, recolhendo-se para que os mais jovens continuassem as brigas pelos objetivos de um mundo feroz e intenso.

Referências:

[1] http://lab.rtve.es/carlos-v/

[2] http://lab.rtve.es/serie-isabel/personajes/

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Monismo: de Benedito Spinoza a Pietro Ubaldi (Parte II)

Vivemos na era da informação. Há muito conhecimento sendo gerado e difundido pelo mundo. Ele é gerado em função de recompensas mundanas (dinheiro, promoção, titulação, prestígio, poder, vaidade, garantia de benefícios); e difundido pelos mesmos motivos, além de falta de ocupação das pessoas. Essa falta de ocupação advém da excessiva concentração do ser no mundo exterior. Com isso surge o senso de estar observando tudo à volta constantemente. E com isso, avaliando as coisas e as pessoas. Esses fatores são um sério empecilho para quem deseja descobrir aspectos mais profundas da realidade.
Ubaldi aos 45 anos - iniciando a missão.

Cristo disse que deveríamos buscar as coisas do Céu (Deus) em primeiro lugar. Todo o resto viria de acréscimo. Mas não fazemos isso: deixamos as questões mais importantes (a satisfação da Vontade de Deus e a busca por Ele) sempre por último - e nunca chegamos aos últimos afazeres! Então nada ocorre que não seja o esperado. Nada fantástico, inexplicável, maravilhoso, harmoniosamente coordenado, ocorre em nossas vidas. Esperamos o milagre fervorosamente, cumprindo rituais (sejam eles acadêmicos, profissionais, sociais ou religiosos) para que talvez ele ocorra em nosso benefício. Mas somos incapazes de criá-lo. Porque é muito trabalhoso dar um salto no desconhecido. Já falei alhures sobre essa questão [1]. Meu ponto agora é outro. 

Quem seria capaz de investir todas suas forças e mente num projeto que seguramente não trará nenhuma recompensa da parte do mundo? Investir no sentido de se doar, de corpo e alma. 

Estamos constantemente atazanados com reuniões e formalismos. Com pagamento de contas. Com processos jurídicos. Com questões burocráticas e de controle. Com medos que nos conduzem a tensões enormes - que por sua vez clamam por satisfações estapafúrdias, que gastam matéria e energia sem acrescentar um milímetro de grandeza às nossas experiências. Pois são elas o que engrandecem o espírito, isto é, nosso ser.

Tudo que levamos deste mundo é nossa essência. Ela é impactada por experiências durante a existência terrena. Se prezamos o acúmulo de coisas, sejam títulos, quantidade de fala, dinheiro, orgasmos, citações, contatos e etc., em detrimento da qualidade do aprendizado com a vida (especialmente com nossas derrotas e misérias), o que levaremos quando as traças corroerem tudo? Estaremos nus diante de nosso destino. Vazios de experiências e com um senso de tempo perdido. Essa não é a vida que eu quero. Isso no entanto não significa dar um passo cego em qualquer direção - em nome da coragem. Pois coragem não é isso, e sim avançar com determinação e senso de dever rumo a regiões desconhecidas, tremendo mas vivendo. 

Pascal: santo e gênio. Coisa rara.

Os grandes saltos evolutivos são impulsos embalados por coragem. São gritos de paixão dados por espíritos decaídos que anseiam retornar à pátria celeste. São expansões de consciência que levam o organismo biofísico aos limites, lutando contra o psiquismo que se torna diretor. Assim surgem patologias sublimes, que escondem um fenômeno profundo. É uma dor bela, digna de grandes espíritos. É o sofrimento que leva à redenção. Exige senso de infinito e eterno. Infinito porque opera na qualidade, com poucos resultados quantitativos (como reconhecimento). Eterno porque não se espera efeitos no espaço de uma vida terrena. É assim que surgem seres da envergadura da Pietro Ubaldi.

O mundo muito caminhou até chegar ao ponto em que estamos. 

Foram 4 bilhões de anos de esboços geológicos para se chegar a uma geosfera e biosfera amena;

Foram 3,8 bilhões de anos de elaboração da vida para se atingir uma criatura capaz de ter consciência dos fenômenos mais profundos do Universo, e da consciência de Deus;

Foram 6 milhões de anos do gênero Homo para se chegar a uma espécie capaz de brindar a Terra com almas da magnitude imensurável, em todos os campos, como o amor, a liderança, o pensamento, a ciência e a arte;

Foram 150 mil anos de evolução do Homo sapiens, passando por três revoluções (Y.N.Harari): cognitiva, agrícola e científica. Esta última começou a unificar o globo (pré-história da noosfera, ainda em formação, segundo T. de Chardin) e trazer à tona cada vez maiores e mais ousados impulsos rumo a uma unificação dos saberes, das pessoas, das ciências e das religiões, das correntes filosóficas e dos períodos;

Foram necessárias revoluções profundas no campo religioso, desde a noção de continuidade da vida após a morte (~80 mil a.C.), que partiu do animismo, adentrou no politeísmo (Antiguidade), se tornou monoteísta (Idade Média) e agora começa adentrar no monismo (séc. XVI até hoje).

O monismo já foi vislumbrado e proferido desde Orígenes. Muitos amadureceram seu aspecto. Spinoza trouxe-o a um nível nunca antes atingido. Mas desde sua época, poucos debruçaram sobre a questão central de Deus e o Universo. 

Nesse intermédio passamos por mais um grande ciclo: o da ciência e da tecnologia, em que o bem-estar e a democracia passaram a ser ideais a serem conquistados e efetivados. O Estado moderno nasce, e com isso toda sua formulação (Hobbes). Os avanços passam a ser exponenciais, tanto nas descobertas do mundo (física, química, astronomia, biologia, medicina, economia, sociologia, psicologia,..). As artes manifestas as sensações do espírito e se alinham ao pensamento da época (romantismo, racionalismo, naturalismo, positivismo, cubismo, modernismo, existencialismo,...). O mundo se torna um universo de passo exponencial. 

Os desenvolvimentos múltiplos geram paradoxos. Surgem desentendimentos e armas fortes para argumentar. O ego domina. O Eu sufoca. No meio de tantas obrigações (muitas inúteis), nos prendemos aos pequenos prazeres: checamos mensagens a todo minuto, conferimos investimentos, curtimos pessoas nas redes sociais, buscamos sociabilidade para falar sobre aspectos superficiais, descuidamos de nossos projetos mais íntimos, exigimos rapidez e beleza plástica, afogando nossa sensibilidade - a única capaz de perceber a beleza profunda e a velocidade da tartaruga. Velocidade que, apesar de ínfima, é preenchida de orientação e determinação [2]

Ubaldi em sua
maturidade.

Pietro Ubaldi nasceu em 1886 na cidade de Foligno, província da Umbria, numa Itália recém-unificada. De família riquíssima, tinha sua vida garantida. Nada precisaria fazer exceto seguir as regras de sua classe social e se aproveitar de suas benesses econômicas. Mas um problema colocou tudo por água abaixo: tinha uma afinidade indescritível pelo Evangelho e por seu verdadeiro autor: Cristo. 

O que parecia um salto rumo à perdição se revelou numa bênção para a humanidade - que ainda não se dá conta do tesouro deixado por um ser que decidiu viver conforme a Vontade de Deus.

Ubaldi deixou não apenas uma Obra de 24 volumes, na qual sintetiza de forma magistral (eu diria mesmo encantadora) todo o conhecimento e sentimento humano, arranhando o divino como ninguém o fizera até o momento. Ele igualmente viveu a sua Obra. Ela só se realizou graças à sua vida devotada ao Evangelho. Mas havia alguns detalhes importantes a mais.

Pessoas santas que seguiram o Evangelho há poucas, mas há. A própria rainha Isabela de Castela era uma pessoa fervorosamente devota a Deus (à seu modo, mas devota) [3]. Gênios da ciência, do pensamento e da arte, há poucos, mas também numerosos considerando seu mundo. Mas poquíssimos são aqueles que unificam as duas características: Santo e Gênio. Blaise Pascal pode ser considerado um deles. Pietro Ubaldi outro. Mas em Ubaldi ainda temos uma característica que o diferencia, abrindo talvez uma nova modalidade de seres que estão vindo à superfície desse pequeno planeta.

Em Ubaldi nasce pela primeira vez uma visão unificada do Todo (em vários aspectos, não apenas um). Surge o princípio que vêm embalando muitas pessoas - com visões cada vez mais claras do mundo ao nosso redor. O monismo começa a ganhar a cara que realmente tem. A palavra se aproxima do conceito - a letra se aproxima do espírito. Vivifica-se a razão através de uma fusão entre o incompreensível e o compreensível. Mas esse é apenas o início, como se revela na Obra. Será preciso adquiri um novo tipo de consciência (intuitivo-sintética) para compreendermos definitivamente todos os problemas de nosso tempo. Será preciso ascender em termos de inteligência, tornando o que gênios fazem ainda de forma desordenada (inspiração sem controle, inerte) um processos sistemático, controlado (inspiração ativa, consciente). Dessa forma controlamos o contato com o fenômeno mais profundo.

Spinoza havia dado um avanço ousado para sua época. Fora rejeitado por isso. Ignorado e desprezado por seus colegas de fé, compatriotas e contemporâneos. Mas hoje grandes acadêmicos estudam e percebem a grandeza de seus pensamentos -  e pessoas se encantam com suas visões de Deus. No entanto, a mentalidade mais avançada dos dias atuais (pessoas que unem sensibilidade, conhecimento, discernimento e equilíbrio) esboça os paradoxos do monismo spinoziano [4]. As pessoas mais evoluídas do mundo caminham a passos largos, mas ainda não encontram as orientações e explicações para as suas dúvidas porque a assimilação de grandes ideias demora décadas (senão séculos) para ser visualizada pelo mundo.

A visão de Spinoza demorou trezentos e cinquenta anos para ser plenamente compreendida e limitada pelo grupo que está na vanguarda da vivência e compreensão de Deus e do Universo. Quanto tempo será necessário para esse grupo assimilar Ubaldi e - incrivelmente, mas provavelmente - pontuar os paradoxos (agora muito menos graves e numerosos)?

Não encontro ainda muitos textos de pessoas que fazem um estudo profundo de Ubaldi e sua obra mundo afora. No Brasil, no entanto, temos grandes almas que já estão no curso de assimilação e de extensão dos conceitos. Pessoas como Maurício Crispim, Gilson Freire, Orlando Ribeiro, João Attilio,  Julio Damasceno, entre outros, estão tornando o Brasil o verdadeiro herdeiro inicial da Obra de Pietro Ubaldi - que aliás ofertou sua Obra oficialmente para os povos do Brasil e da América Latina [5].

Os paradoxos do monismo do século XVII são solucionados pelo monismo de Ubaldi, que plantou suas bases na faixa central do século XX (1931-1971). Vamos às questões:

1. Transcendência e imanência
Na visão de Ubaldi, Deus está em tudo que existe, existiu e jamais existirá no Universo, mas ao mesmo tempo está além desse todo universal, superando o espaço, o tempo e a nossa razão, de modo que ele transcende tudo que existe, garantindo-lhe um aspecto de mistério. Logo, a concepção de Deus se torna vastíssima, coordenando harmoniosamente Seu aspecto transcendente (Deus origem e fim de tudo, mas sempre mais do que suas criaturas) com Sua imanência (Deus animando o mundo, presente na dor de suas criaturas, ajudando-as a evoluir).

Isso resolve o infindável conflito entre presença e ausência da divindade. Deus é  infinito e eterno, mais do que o mundo (como a Igreja afirma de Sua magnanimidade) e, ao mesmo tempo, presente em todas as coisas do mundo (como Spinoza vislumbrou). Isso satisfaz simultaneamente as duas visões de mundo, sem ferir a outra. Aliás, uma reforça a outra, formando uma unidade coesa que não mais se digladia entre si - mas através de seus dois elementos manifestos e compreendidos, reforça-se cada vez mais.

Logo, a questão não é mais sobre
Deus = Universo, ou Deus = Universo
mas sim sobre
Deus e Universo, ou Deus > Universo + Deus contém Universo

Resta saber porque então a criação está num mundo imperfeito, cheia de dores e em mudança perpétua - do ponto de vista da dimensão espaço-tempo, pelo menos.

2. Teoria da Queda
Ubaldi resgata os conceitos do cristianismo de forma magistral. Indo (aparentemente) na contramão dos espíritas (mas não do espiritismo, que jamais negou a queda dos espíritos) e de sistemas evolucionistas, o grande místico da Umbria resolve a questão atribuindo a causa dos males do mundo à criatura. Isto é, nós.

Ubaldi chega a uma afirmativa inquestionável: no Sistema (o Universo Perfeito, que não é o nosso!) há apenas o Criador e as Criaturas, sendo que estas foram criadas por Deus.

O que ocorreu subsequentemente foi um processo de contração evolutiva, ou queda dimensional, que acabou por gerar o universo físico-dinâmico-psíquico em que estamos sofrendo e evoluindo. Essa queda só pode ter tido uma causa:

A) Ou Deus nos "arremessou" para esse mundo material cheio de dores (o Anti-Sistema, AS);

B) Ou a Criatura (os espíritos) fizeram algo que gerasse essa contração dimensional.

Mas Deus sendo Absolutamente Perfeito, Amor infinito, não poderia lançar seus filhos a uma realidade tão devassa. Logo, só resta imputar a culpa à criatura, ou seja, nós. O que nos leva a outro questionamento:

Se Deus é perfeito, como ele poderia ter criado filhos que caíram (ou seja, imperfeitos)? De modo que ou Deus é mau e logo não é Deus; ou Deus não tinha controle sobre as ações da criatura - e também não é Deus. De modo que as pessoas, não admitindo seu erro, imputam a Deus a causa de suas dores, classificando-o como perverso ou incompetente.

Grave erro...

3. Sobre a perfeição de Criador e das Craturas
Falamos que Deus é ABSOLUTAMENTE Perfeito. Se seus Filhos fossem tão perfeitos quanto ele, haveria uma completa identidade, e o Filho se igualaria ao Pai; e haveriam infinitos Deuses - coisa que caracterizaria uma anarquia de desordem, não um reino de ordem.

A criatura é RELATIVAMENTE perfeita. Ou seja, ela é perfeita em relação às suas qualidades características e funções divinas. Ela é uma célula perfeita, que deve cumprir a função para a qual nasceu. Se ela decidir se ocupar dos afazeres de uma célula diferente (outra natureza), ela estará invadindo um domínio que não é seu, e todo o sistema, por efeito dominó, irá colapsar - pelo menos para uma parcela de criaturas.

Percebam: a perfeição é bela e máxima, mas ela se subdivide em dois tipos: relativa e absoluta. Sem essa diferenciação Deus não seria possível.

Nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus, e não de modo idêntico a Ele.

Semelhança implica que compartilhamos a mesma substância divina, mas não somos os agentes centrais da mesma. Se fôssemos idênticos não haveria diferenciação. Seríamos Deus mais muitos. Perde-se a unidade. E como somos forrados de defeitos, cai por água abaixo a ideia de Deus. Percebem? Devemos ver as nuanças para aceitar a Teoria.

Ubaldi narra de forma apaixonante sobre a criação original dos espíritos no Sistema (o universo perfeito, nosso verdadeira Lar). Seu livro Deus e Universo é uma síntese teológica-filosófica que aborda o que faltava abordar em A Grande Síntese. Com isso tem-se o panorama geral do fenômeno involutivo-evolutivo de nosso Universo.

Há muitos assuntos a serem tratados. É fascinante. Mas uma hora é preciso parar para descansar.

Numa próxima oportunidade pretendo começar a esmiuçar a Obra, relacionando-a ponto-a-ponto com a evolução humana e revelando a sua importância.

Deixo aqui uma bela palestras de Gilson Freire, proferida no COngresso Pietro Ubaldi.



Referências: