quarta-feira, 9 de abril de 2014

A BUSCA DE UM DNA SOCIAL


Uma das características mais interessantes do estudo está no fato de que as áreas do conhecimento - por mais diversas que sejam – revelam estar cada vez mais relacionadas à medida que nos aprofundamos nelas.

A relação entre diferentes saberes é uma ponte que se revela cada vez mais forte à medida que nos aprofundamos na ciência, na filosofia, na teologia ou na arte. E essa característica, essa unidade, é, a meu ver, o laço unificador que é responsável por aproximar diferentes pessoas preocupadas em diferentes saberes - isto é, se elas forem capazes de perceber essa ponte.

Porém, existe uma outra vantagem nessa unidade: podemos usar uma ciência para apoiar (ou inspirar) outra. E é justamente isso que pretendo fazer nas próximas linhas.

Sou uma pessoa muito preocupada com a questão social. É um assunto que permeia minha mente há alguns anos. Antes de forma superficial – o que me fez chegar a conclusões equivocadas. Agora, de forma mais profunda. E me dei conta de que essa questão, o nosso eterno problema de injustiça social, talvez (talvez) possa começar a ser solucionado se nos inspirarmos na biologia. Sim. Exatamente. Na ciência que estuda a vida orgânica.

Essa ideia de estudar a sociedade como organismo biológico não é nova. Durkheim [1] talvez tenha sido um dos primeiros pensadores a estabelecer essa abordagem. E o raciocínio central é o seguinte: o indivíduo está para a sociedade como a célula está para o organismo. Trata-se de uma analogia muito interessante, que tende a aumentar – ou criar – interfaces entre essas duas ciências.

Dessa forma podemos estabelecer a seguinte relação de similaridade:

CÉLULA →TECIDO → ÓRGÃO → ORGANISMO [BIOLOGIA]

INDIVÍDUO → COMUNIDADE → NAÇÃO → PLANETA [SOCIOLOGIA]

Muito bem. Sabe-se que existem vários tipos de células: neurônios, embrionárias, do sangue, tronco,...Com cada tipo especializada numa função específica, que leva ao funcionamento do sistema (circulatório, respiratório, nervoso, hormonal,muscular,...), que por sua vez interage com outro sistema, e estes, em COOPERAÇÃO, possibilitam que o organismo opere adequadamente, com suas máximas potencialidades – internamente e no nível material. Assim temos um organismo sadio.


Quando um grupo de células de um tipo não opera de acordo com sua natureza os órgãos, e consequentemente o sistema, tende a não funcionar adequadamente – por exemplo, o sistema circulatório, caso falhe, não poderá alimentar as células do organismo, mesmo que o seu vizinho, o sistema respiratório, opere a 100%. Consequentemente a pessoa adoece e morre. Podemos experimentar essa situação para qualquer grupo de células e o resultado final será o mesmo: falência dos órgãos e morte do organismo.

Agora vamos assumir que o nosso planeta seja um grande organismo e que cada um de nós, seres vivos, somos as células.

Cada um de nós possui uma individualidade. E pessoas diferentes, mas com semelhanças em suas funções, – digamos, profissões – podem ser vistos como operários aptos a edificarem o conhecimento de uma determinada forma. E assim com cada grupo de pessoas com função específica. Dessa forma temos coletores de lixo, engenheiros, arquitetos, jardineiros, professores, médicos, cientistas, filósofos, artistas, entre outros. Todos trabalhando a seu modo e (teoricamente) em prol de um ideal comum: o progresso da sociedade. Ou melhor, do planeta como um todo. Pelo menos assim deveria ser, se nos inspirássemos na biologia.

Somos diferentes. No entanto, devemos ter um ideal comum se desejamos progredir. Pois estamos todos INTERCONECTADOS. Diversos estudos de diversas áreas demonstram essas conexões, seja esse o seu objetivo ou não. É cada vez mais difícil negar essa (bela e consoladora) relação.

A sobrevivência do planeta significa a nossa sobrevivência. Nós dependemos desse grande organismo vivo. Aliás, nós somos constituintes desse imenso organismo! Tijolos de uma grande casa.

Segundo os físicos a Terra “nasceu” há 4 bilhões de anos.
Nós, como espécie, há 4 milhões.

Ela (a Mãe Terra) é 1.000 vezes mais antiga do que nós.
E sempre se virou muito bem sem nossa espécie.

Nós, por outro lado, sempre dependemos dela e nos aproveitamos de seus recursos – por isso MÃE Terra. No entanto, dada nossa capacidade de criar, temos a possibilidade de crescer com ela e mantê-la saudável. E ela nos retribuirá se agirmos de acordo com o bom senso. Mas para cumprirmos essa tarefa é necessário que saibamos antes ser COOPERATIVOS entre nós mesmos.

Nossas DIFERENÇAS são naturais.
Não devemos COMPETIR devido a elas mas COOPERAR por causa delas.

Por que?

Porque quando viramos para o lado e lutamos entre nós estamos reduzindo a possibilidade de trabalharmos por um grande ideal comum (a sustentabilidade, um sistema econômico mais humano, a democratização, etc). Matamos a nós mesmos e – consequentemente – o SER que nos sustenta: Terra.

Quando tomarmos consciência de que precisamos de um ideal social (e depois ecológico e espiritual),

de que devemos ter um sistema que propicie liberdade para cada indivíduo exercer ao máximo suas capacidades intelecto-morais;

de que devemos ter um sistema que não permita uma pessoa ou grupo de pessoas explorarem outro grupo;

de que devemos ter um sistema que seja capaz de escutar TODOS, até que cada um tenha revelado todas suas ideias, sonhos e pensamentos, e que saiba fazer uso inteligente dessa riqueza;

de que devemos ter um sistema que não negue o básico a ninguém, isto é, que opere com base a Lei da Caridade,

Quando isso ocorrer teremos um DNA social.

E assim poderemos dar o próximo passo rumo à Evolução.


[1] http://sociologiass-unesp.blogspot.com.br/2012/05/durkheim-sociedade-como-organismo.html

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