A realidade é uma só. Ela é estática. Ela não muda. Não se transforma. O que muda somos nós, humanos, à medida que nos abrimos para uma experiência de vida mais profunda, que dê uma visão mais vasta dos acontecimentos. É a nossa percepção da realidade que é dinâmica. Porque temos pontos de vista relativos, progressivos no tempo.
Estamos diante de um modelo econômico em vias de desmoronamento. Ele estabelece as diretrizes e limites da política, que criam as regras do jogo impostas à humanidade.
A economia presente se subdivide em duas vertentes:
A economia presente se subdivide em duas vertentes:
- Sistema de mercado
- Sistema monetário
Enquanto o mercado define a disponibilidade de 'recursos humanos' para o sistema produtivo fazer uso do mesmo, o circuito monetário serve como intermediário para que as pessoas consigam obter alguns recursos (essenciais ou não, a depender do grau de consciência) para a manutenção da vida. Parece racional à primeira vista. E de fato é, se considerarmos os limites nos quais esse esquema pode operar. Quais seriam esses limites?
Se o dinheiro é o meio pelo qual as pessoas obtém os recursos básicos à vida, é natural que se busque uma atividade que ofereça-o em maior quantidade. E quem (ou o que) determina as atividades mais bem remuneradas? (pense...). Sim. O mercado. Ele determina as diretrizes do que é ou não é importante para a 'civilização', de forma que as pessoas se orientem de acordo com suas diretrizes.
A questão central que podemos colocar aqui é:
(a) qual a percepção dessa entidade (mercado) às diversas variáveis da vida e;
(b) qual sua sensibilidade às relações humanas?
Os modelos econômicos clássicos predominantes, condutores das políticas públicas, colocam o crescimento econômico (independentemente do meio de obtê-lo) e a geração de empregos (precários ou não) em primeiro plano. Porque considera-se que tendo crescimento e geração de empregos, todas as vertentes da vida serão atendidas naturalmente, como consequência: cultura, lazer, saúde, desenvolvimento, democracia, direitos humanos, pesquisa, educação, igualdade, etc. No entanto, se atentarmos para algumas sociedades, perceberemos que a partir de um ponto e a depender do meio de obtenção desse binômio (crescimento-emprego), não se gera o tão almejado desenvolvimento humano - nem a sustentabilidade.
O que se vê na Alemanha, países anglo-saxões e Espanha é um desemprego baixo [1], mas isso não significa que os empregos sejam bons, nem que os salários sejam bons, nem que o nível de desigualdade tenha diminuído.
"O percentual de trabalhadores pobres duplicou na Alemanha desde 2005." [1]
""Como exemplo, Krueger disse que um em cada quatro assalariados norte-americanos assinou restrições que o impede de trabalhar para a concorrência, dificultando sua capacidade para procurar salários maiores. E destacou que o salário mínimo nos EUA há 10 anos se mantém invariável em 7,25 dólares por hora (30 reais), e que, descontada a inflação, caiu 20% desde 1979." [1]
"Segundo o FMI, a participação dos trabalhadores na renda caiu de mais de 50% da renda total, no começo deste século, para menos de 40% em 2015. Essa tendência decrescente começou já em meados da década de 1970." [1]
Nesse aspecto podemos perceber que o divórcio entre emprego e qualidade de vida é crescente. Esta não se relaciona mais de forma coesa com a ocupação remunerada. A terceirização irrestrita e a fragilização da legislação trabalhista vieram para diminuir custos e com isso a instabilidade cresce. Na ânsia por lucros, as empresas começam a mudar suas diretrizes para criarem um contexto no qual não precisem dialogar mais com a sociedade e os trabalhadores. Isso é feito através de uma política de praticidade, que é propagandeada como benéfica para todos - mas antes sempre para as corporações. Os empregos são mais precários, mais instáveis e com menor significado. A taxa na qual empregos bons são eliminados não é suprida por uma criação de novos empregos, de iguais ou melhores condições para o desenvolvimento da pessoa. E a busca por recursos se torna cada vez mais o centro de gravidade da vida. Muitos, para diminuir suas preocupações, restringem seus horizontes de possibilidades e mergulham no consumo de bens e serviços sem utilidade evolutiva ou social- na ânsia por manter o controle e permanecer feliz (ou aparentar sê-lo).
As crises vem e pessoas passam por carências. Sem acesso a recursos, buscam o que podem para sobreviver. Buscam inclusive culpados por todos os males. É aí que entram oportunistas - conscientes ou não - que se aproveitam dessa fragilidade popular para aparecer e galgar degraus na escadaria do poder. Já vimos isso no passado - vemos isso hoje, de forma diferente mas essencialmente igual.
No entanto os recursos continuam os mesmos, disponíveis. Matéria e energia. Alimentos, água, capacidade de servir, moradia, infra-estrutura, etc. Chega-se à conclusão de que não se trata de falta de recursos (por ora pelo menos), mas desacoplamento entre o sistema econômico e as necessidades fundamentais da vida - tangíveis e intangíveis.
Para resolver essa questão Jacque Fresco [2] idealizou e criou o Projeto Vênus [3], que é uma possibilidade de civilização futura que se apoia no conceito de Economia Baseada em Recursos (EBR). Trata-se de uma proposta de civilização que vise adequar a organização social de forma a obter o melhor da tecnologia presente. Para isso elimina-se o sistema mercado e monetário. As relações mudam junto com o fim último.
O objetivo é desenvolvimento humano e liberdade. As relações são baseadas antes de tudo na garantia de recursos necessários a todos. Os produtos devem durar o máximo possível (sustentabilidade). Extingue-se a obsolescência programada, a propaganda, a concorrência desenfreada e outros males humanos. O tempo de trabalho compulsório diminui significativamente. As pessoas ficam livres para estudar e trabalhar com o que desejam, desenvolvendo potencialidades necessárias para um mundo melhor. Não há guerras porque não há motivos de inveja nem cobiça. Riqueza não é mais poder e poder não é mais riqueza. A indústria bélica murcha porque as diretrizes humanas não a incluem - veem-na como deletéria. Vidas se poupam, recursos deixam de ser desperdiçados.
Tudo isso pode parecer utópico para muitos. E eu sei o porquê de muitos pensarem assim.
Do ponto de vista da ciência e tecnologia, todas as condições para uma EBR já estão presentes. Do ponto de vista da mentalidade humana, de fato não existem condições para criar uma EBR que se sustente. O problema não é material - é antes espiritual, de consciência.
Não somos capazes de crer num mundo melhor. Nos agarramos às nossas poucas ou muitas misérias e desenvolvemos a mentalidade de garantir-se a todo custo - pois sem o ter não julgamos poder ser. O problema é que essa mentalidade é a causa de quase todos males que existem sobre a face da Terra. Divórcios, disputas políticas e familiares, desentendimento, guerras, assaltos, agressões, boatos, fofocas, sanções econômicas,...tudo advém da forma mental que visa galgar degraus no mundo. Se garantir. Acabamos viabilizando os maiores males por sermos neutros. Somos neutros por comodidade. Por astúcia implícita que não compreende o motivo de assim agir.
Sendo o problema puramente mental, não nos vemos diante de uma restrição exterior. O que nos impede a construção de uma civilização iluminada é o nosso espírito de acúmulo e ostentação. É um problema interior. E assim construímos barreiras para que qualquer coisa diferente, possível e que realmente nos ajude a melhorar, não vá em frente. Mas ao mesmo tempo estamos saturados. Essa vida não nos satisfaz. Não há perspectivas reais. Queremos tornar invisível os males do mundo para que a nossa vida seja possível e bonita. Me pergunto até que ponto isso é sincero e certo.
O Sol deveria ser a fonte primária de obtenção e energia.
A humanidade deveria se reproduzir dentro de suas possibilidades.
As relações deveriam ser feitas baseadas na possibilidade de criação de sinergia.
A geração de entropia deveria ser minimizada.
O Movimento Zeitgeist (espírito, 'geist', dos tempos, 'zeit') [4] visa despertar as pessoas para questões de conscientização.
Dentro dos limites do paradigma atual não há muito a ser feito exceto criar as condições para a gênese de um novo paradigma.
Quando o uivo da natureza manifesta-se furiosamente, a percepção racional deve sensibilizar ao máximo grau o espírito.
É aí que encontraremos as ideias e as forças para a transição.
Agir em unidade. |
A questão central que podemos colocar aqui é:
(a) qual a percepção dessa entidade (mercado) às diversas variáveis da vida e;
(b) qual sua sensibilidade às relações humanas?
Os modelos econômicos clássicos predominantes, condutores das políticas públicas, colocam o crescimento econômico (independentemente do meio de obtê-lo) e a geração de empregos (precários ou não) em primeiro plano. Porque considera-se que tendo crescimento e geração de empregos, todas as vertentes da vida serão atendidas naturalmente, como consequência: cultura, lazer, saúde, desenvolvimento, democracia, direitos humanos, pesquisa, educação, igualdade, etc. No entanto, se atentarmos para algumas sociedades, perceberemos que a partir de um ponto e a depender do meio de obtenção desse binômio (crescimento-emprego), não se gera o tão almejado desenvolvimento humano - nem a sustentabilidade.
O que se vê na Alemanha, países anglo-saxões e Espanha é um desemprego baixo [1], mas isso não significa que os empregos sejam bons, nem que os salários sejam bons, nem que o nível de desigualdade tenha diminuído.
"O percentual de trabalhadores pobres duplicou na Alemanha desde 2005." [1]
""Como exemplo, Krueger disse que um em cada quatro assalariados norte-americanos assinou restrições que o impede de trabalhar para a concorrência, dificultando sua capacidade para procurar salários maiores. E destacou que o salário mínimo nos EUA há 10 anos se mantém invariável em 7,25 dólares por hora (30 reais), e que, descontada a inflação, caiu 20% desde 1979." [1]
"Segundo o FMI, a participação dos trabalhadores na renda caiu de mais de 50% da renda total, no começo deste século, para menos de 40% em 2015. Essa tendência decrescente começou já em meados da década de 1970." [1]
Nesse aspecto podemos perceber que o divórcio entre emprego e qualidade de vida é crescente. Esta não se relaciona mais de forma coesa com a ocupação remunerada. A terceirização irrestrita e a fragilização da legislação trabalhista vieram para diminuir custos e com isso a instabilidade cresce. Na ânsia por lucros, as empresas começam a mudar suas diretrizes para criarem um contexto no qual não precisem dialogar mais com a sociedade e os trabalhadores. Isso é feito através de uma política de praticidade, que é propagandeada como benéfica para todos - mas antes sempre para as corporações. Os empregos são mais precários, mais instáveis e com menor significado. A taxa na qual empregos bons são eliminados não é suprida por uma criação de novos empregos, de iguais ou melhores condições para o desenvolvimento da pessoa. E a busca por recursos se torna cada vez mais o centro de gravidade da vida. Muitos, para diminuir suas preocupações, restringem seus horizontes de possibilidades e mergulham no consumo de bens e serviços sem utilidade evolutiva ou social- na ânsia por manter o controle e permanecer feliz (ou aparentar sê-lo).
Uma possibilidade se deixarmos de ver o supérfluo como essencial. |
No entanto os recursos continuam os mesmos, disponíveis. Matéria e energia. Alimentos, água, capacidade de servir, moradia, infra-estrutura, etc. Chega-se à conclusão de que não se trata de falta de recursos (por ora pelo menos), mas desacoplamento entre o sistema econômico e as necessidades fundamentais da vida - tangíveis e intangíveis.
Para resolver essa questão Jacque Fresco [2] idealizou e criou o Projeto Vênus [3], que é uma possibilidade de civilização futura que se apoia no conceito de Economia Baseada em Recursos (EBR). Trata-se de uma proposta de civilização que vise adequar a organização social de forma a obter o melhor da tecnologia presente. Para isso elimina-se o sistema mercado e monetário. As relações mudam junto com o fim último.
O objetivo é desenvolvimento humano e liberdade. As relações são baseadas antes de tudo na garantia de recursos necessários a todos. Os produtos devem durar o máximo possível (sustentabilidade). Extingue-se a obsolescência programada, a propaganda, a concorrência desenfreada e outros males humanos. O tempo de trabalho compulsório diminui significativamente. As pessoas ficam livres para estudar e trabalhar com o que desejam, desenvolvendo potencialidades necessárias para um mundo melhor. Não há guerras porque não há motivos de inveja nem cobiça. Riqueza não é mais poder e poder não é mais riqueza. A indústria bélica murcha porque as diretrizes humanas não a incluem - veem-na como deletéria. Vidas se poupam, recursos deixam de ser desperdiçados.
Tudo isso pode parecer utópico para muitos. E eu sei o porquê de muitos pensarem assim.
Do ponto de vista da ciência e tecnologia, todas as condições para uma EBR já estão presentes. Do ponto de vista da mentalidade humana, de fato não existem condições para criar uma EBR que se sustente. O problema não é material - é antes espiritual, de consciência.
Depende da humanidade. Não podemos viabilizar um mundo melhor individualmente. O indivíduo só é capaz de mostrar e viver. Mas a realização efetiva depende de uma massa crítica que se conscientize e aja. |
Sendo o problema puramente mental, não nos vemos diante de uma restrição exterior. O que nos impede a construção de uma civilização iluminada é o nosso espírito de acúmulo e ostentação. É um problema interior. E assim construímos barreiras para que qualquer coisa diferente, possível e que realmente nos ajude a melhorar, não vá em frente. Mas ao mesmo tempo estamos saturados. Essa vida não nos satisfaz. Não há perspectivas reais. Queremos tornar invisível os males do mundo para que a nossa vida seja possível e bonita. Me pergunto até que ponto isso é sincero e certo.
O Sol deveria ser a fonte primária de obtenção e energia.
A humanidade deveria se reproduzir dentro de suas possibilidades.
As relações deveriam ser feitas baseadas na possibilidade de criação de sinergia.
A geração de entropia deveria ser minimizada.
O Movimento Zeitgeist (espírito, 'geist', dos tempos, 'zeit') [4] visa despertar as pessoas para questões de conscientização.
Dentro dos limites do paradigma atual não há muito a ser feito exceto criar as condições para a gênese de um novo paradigma.
Quando o uivo da natureza manifesta-se furiosamente, a percepção racional deve sensibilizar ao máximo grau o espírito.
É aí que encontraremos as ideias e as forças para a transição.
Como fazer isso?
Cada um deve buscar o seu caminho.
Quem fica no conforto, mesmo que fazendo coisas bonitas, está fadado a ser deixado para trás.
Somente quem percebe, melhora, reconhece suas misérias e parte para a incessante e impiedosa batalha evolutiva garante sua salvação.
A escolha é sua, é minha. É nossa.
Cada um deve buscar o seu caminho.
Quem fica no conforto, mesmo que fazendo coisas bonitas, está fadado a ser deixado para trás.
Somente quem percebe, melhora, reconhece suas misérias e parte para a incessante e impiedosa batalha evolutiva garante sua salvação.
A escolha é sua, é minha. É nossa.
Referências:
[1] https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Trabalho/Os-problemas-que-se-escondem-por-tras-do-pleno-emprego-nos-paises-ricos/56/41628
[2] Jacque Fresco entrevistado por Larry King (1974)
https://www.youtube.com/watch?v=ZFH9wu76b7Y
[4] Zeitgeist Moving Forward [Full Movie] [2011]
https://www.youtube.com/watch?v=4b2N-KFTlLI
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