domingo, 30 de dezembro de 2018

Três Inteligências - Três Tipos Humanos

Quando uma pessoa se percebe infinitamente pequena diante do imponderável e aceita essa condição como fundamental para atingir uma expansão interior, nesse ponto iniciar-se-á o processo evolutivo. Trata-se de uma transformação de qualidades íntimas, de uma percepção diferenciada dos gestos dos outros, dos olhares, dos ritmos, das ações e dos ciclos históricos. Para ser mais e melhor é necessário - antes de tudo - ver mais. Condição sine qua non

Trabalho não é emprego - emprego não é trabalho.
Eles podem se associar intimamente - mas seus conceitos
são distintos. 
Como podemos melhorar nossa vida pessoal, em todos aspectos? Como podemos enfrentar momentos de alta tensão, encarar um sistema de incoerências (cada vez mais) gritantes e assimilar de forma construtiva experiências históricas pessoais e coletivas? Os métodos do mundo oferecem pseudo-soluções. Distrações das mais diversas. Produtos acabados, por um preço acessível, que deformam o real significado daquelas tensões; que desorganizam a intuição que vínhamos montando a respeito de como as coisas são, nos apresentando "o lado belo da vida"; e ocultando as experiências dolorosas, se apoiando no nosso desejo de se livrar do desagradável, do inconcebível, do altamente diferenciado.

Se formos procurar respostas aos nossos problemas mais íntimos no mundo exterior, nunca teremos algo definitivo. Falta-lhes um elemento subjetivo. Uma característica que nada pode nos dar - exceto nós mesmos. 

O mundo pode dar muitos conselhos. Desses, uma grande parte será superficial e/ou incompleto. Cabe a nós extrair o significado de cada ato a atitude exterior. Esses conselhos não apontam para a meta suprema - apenas, com sua forma de dizer e insistir, indicam sua natureza. Daí tem-se pistas para iniciar um mapeamento do mundo em que se vive. 

Muitos podem se perguntar de onde vêm tantas afirmações fortes presentes nesse espaço virtual. A banca que avaliou o autor classificou uma série de afirmativas vindas do mesmo como "demasiadamente fortes". Eis a resposta: o significado da vida foi sendo edificado em meu edifício conceptual através de numerosas constatações. Rejeições, tons de voz, comportamentos, alterações dos mesmos em contextos diversos, reações a eventos, formas de manifestar dor e prazer, formas de conceber dor e prazer,...Isso começou a formar um substrato valioso, que seria ocasionalmente relembrado e retrabalhado. Revive-se o momento de modos diversos. À medida que a linha do tempo se desdobra, é possível fazer avaliação mais precisa, com contextualizações variadas. A personalidade, ao evoluir, adquire noções, e assim habilidade de avaliar de forma mais imparcial e madura. 

Volume escrito nos últimos anos de vida
terrena do autor. Aqui um velho se dobra
sobre seu passado, confirmando as
intuições do início de sua jornada.
Livro fantástico - autor ímpar... 
É normal usar de apoio um grande evento pessoal, próximo no tempo - e intenso na sensação - para permear os escritos. O evento do dia 21/12 trouxe mais confirmações da Lei que tudo domina. Assim a segurança do autor aumenta em paralelo à sua liberdade de imaginação, ousando se lançar a terrenos inexplorados, fazendo uma varredura mais impetuosa e eficiente dos elementos de que dispõe. Logo, é normal retomar temas antigos, já tratados aqui - mas com uma visão mais sintética, capaz de alçar quem está correndo os olhos pelos cadáveres literários (as frases), em busca de algum conceito novo, a um patamar de aceitação. As pessoas estão em busca de um edifício coerente de ideias. Uma ousadia em ver alguém que se despe completamente, revelando suas misérias, e buscando se dobrar sobre si mesmo para realizar a mudança. Eis que termino de reler o volume Um Destino Seguindo Cristo.

Por quê refazer a leitura de uma obra tão longa? Reler algo. Sobretudo um autor que tanto escreve (Ubaldi), revoluteando incessantemente assuntos que poderiam ser abordados com maior rapidez. Pois eis que nove dias atrás obtive uma pista do que essa irresistível atração pela Obra pode significar.

O autor foi classificado como "prolixo" por um dos membros.

Vejamos a definição oficial do termo:

prolixo
/cs/
adjetivo
  1. 1.

    que usa palavras em demasia ao falar ou escrever; que não sabe sintetizar o pensamento.

    "escritor p."
  2. 2.

    cansativo por estender-se demais no tempo; que tende a arrastar-se.

    "discurso p."

De fato, em relação a outros, o volume de palavras, frases, orações, páginas é maior. Mas esse blog não trata de sintetizar um pensamento. Ao menos não no sentido em que se conhece. Trata-se de transmitir um sentimento usando os meios do mundo - que, sejamos sinceros, são muito limitados. Já tratei dessa limitação (gramatical), através do lançamento de um manifesto [1]. Esse sentimento (intuição) é um pensamento diverso daquele que se conhece. Ele está liberto das amarras da formalidade. Das limitações do espaço e do tempo. Das convenções sociais e acadêmicas. Ele é um pensamento que não segue cultos e não reverencia nada tangível. É um pensamento que não pode ser capturado pela superfície. É oculto aos instrumentos - por mais sofisticados que sejam. É algo que se revela àqueles que não desejam deflorá-lo. É um quid do ponderável que se traduz num respiro de um imponderável misterioso e potente. Um imponderável acima das limitações humanas: medo, esperanças, alegrias e dores. 

A vida orgânica iniciou-se há muito tempo.
Chegamos ao ápice em termos cérebro-cêntricos.
É hora de iniciar a escalada psico-cêntrica.
Quem opera no (e em prol do) Infinito, esquece-se das formalidades. Das restrições temporais. 

Eis que o presidente da banca, ao final das críticas, deixa passar uma chispa de sentimento em relação ao candidato, afirmando que "é difícil passar um conhecimento superior em poucas palavras quando se está fazendo isso pela primeira vez."

É o processo normal. Quando o infinito (na forma de intuição) pousa no terreno do mundo, finito, é normal que sua manifestação se dê de forma relativamente desordenada, com grande carga de palavras e discursos intensos, permeados de paixão. Trata-se de uma primeira aproximação. Haverão outros que irão desenvolver uma linguagem mais eficaz. Uma gramática mais evoluída. Não simbolicamente, mas evolutivamente. 

A maturação das almas fará com que a biologia se torne cada vez menos orgânica e mais psíquica. A vida, com as experiências, tende a se tornar cada vez mais abstrata, intangível, leve, integrada, unificada. Capaz de lidar com mais contradições. 

Eis que a parapsicologia tende a se tornar objeto de maior interesse para aqueles que exauriram todas as possibilidades do mundo de forma intuitiva, em lampejos rápidos que fornecem o desenvolvimento dos métodos e sistemas do mundo, revelando a falência dos mesmos. 

parapsicologia
substantivo feminino
  1. ramo da psicologia que estuda fenômenos que parecem transcender as leis da natureza, tais como a telepatia, a premonição, a psicocinese etc.

Através da intuição - um fenômeno parapsicológico para a ciência atual - Pietro Ubaldi obteve a síntese do processo evolutivo, delineando a grande linha mestra da evolução. Essa pode assumir múltiplas formas, a depender das escolhas pessoais, do contexto e da constituição genética do ser. Mas a Lei é sempre una.

Há anos foi escrito um ensaio a respeito das três inteligências [2] e seu papel no processo evolutivo. Agora a percepção se torna mais madura. A vivência e a releitura permitem esse aprofundamento. As mesmas palavras, percepções diversas. Cada vez mais intensamente, sente-se o canto da vida e a potência do pensamento de Deus, que guia o caos relativo deste mundo com maestria que desconhecemos. Assim admira-se cada vez mais a Sua obra.

Assagioli (1888-1974) confirma
cientificamente as experiências de Ubaldi.
Este confirma experimentalmente as
teorias do cientista da mente.
O humilde professor da Umbria classifica três planos a personalidade humana:

"Podemos, portanto, ter uma distinção não só estrutural mas também dinâmica, o que nos permite traçar os três planos nos quais a personalidade humana pode funcionar e os quais ela, segundo um esquema preestabelecido, deve atravessar na sua evolução. Nesta classificação, então, o involuído encontra-se situado no primeiro grau; o tipo médio normal, no segundo; e o evoluído, no terceiro. Eles mostram de fato as seguintes características: 1) O involuído, no nível subconsciente, manifesta-se no campo da matéria, como corpo e senti-dos; 2) O tipo mediano normal, no plano de consciência média, manifesta-se no terreno da energia, como vontade e ação; 3) O evoluído, no âmbito do superconsciente, manifesta-se no campo espiritual, como intelecto e pensamento."
(Um Destino Seguindo Cristo, p.293) (grifos meus)

Podemos de modo grosseiro associar o involuído a alguém dominado por tamoguna; o tipo médio, aquele cujo centro de gravidade esteja em rajoguna; e o evoluído, o ser que tenha predominância de sattvaguna

Uma análise minuciosa e sincera de nossa personalidade nos permite fazer uma auto-classificação. Perceber-se-á que o grosso das amostras se encontra no mediano normal. A vontade e ação movem as pessoas. Demonstração de força, autoridade, desejo de resposta, de estar certo, de garantir a vitória do grupo do qual faz parte,...tudo características do tipo médio. É muito difícil se desprender desse tipo de mentalidade. Deve-se ter uma técnica, aliada a estofo espiritual, que pode se traduzir como uma ousadia inteligentemente conduzida [3].

A descrição dos comportamentos dá uma ideia clara, que concatena as três inteligências: o instinto (subconsciente), a razão (consciente) e a intuição (superconsciente). A ciência está por descobrir que o inconsciente não apenas tem um domínio enorme sobre a vida consciente atual, mas se subdivide em dois: um superior (super) e outro inferior (sub). O primeiro é a natureza automática, o passado consolidado, os (inúmeros) vícios e (raras) virtudes consolidadas na alma. O segundo é um senso do porvir, um apêndice que se projeta para o futuro, o ideal, o alto sentimento.

Diagrama do ovo (de Assagioli).
O trabalho do ser consiste em trazer cada vez mais o superconsciente para a região do consciente, assimilando-o, e assim operar de forma desperta sobre temas que facilmente se perdem no mistério. Esse trabalho contínuo se sedimenta com as vidas, passando a fazer parte de nossa natureza. Assim nos melhoramos - e melhoramos o mundo. Construímos a personalidade através dessa fluxo entre essas três regiões. Capta-se do super (inspiração) para se trabalhar no mundo (intelecto). Esse árduo trabalho pode criar obras concretas. Mas elas se desfazem no desdobrar do tempo. O que importa é a experiência adquirida. Aquela que crava no subconsciente, enriquecendo-o. Por isso cada momento é importante em nossas vidas.

Deus não mede nossa grandeza com a mesma régua que usamos para dar valor às coisas exteriores. A Ele só interessa a intenção, o esforço e a orientação. Tudo mais é dado de acréscimo - se precisarmos.

"Com isso, temos as seguintes posições:

1) O involuído não é controlado pela razão, sendo instintivo, impulsivo, emotivo, sugestionável e receptivo, apenas registrando impressões e experiências.

2) O tipo médio normal não é mais dirigido apenas pelos apetites nem movido automaticamente por atrações e repulsões, em função de prazer ou dor, mas também raciocina, calcula, prevê, dirige, organiza e atua. Todavia, muitas vezes, ele se deixa usar como instrumento colocado a serviço do nível inferior, do qual realiza os impulsos. Ele é o meio realizador, adaptado à ação. Pode, excepcionalmente, seguir os impulsos do nível superior, fazendo-se dirigir pelo superconsciente em vez do subconsciente.

3) O evoluído, no ápice da escala, por visão interior dos princípios diretivos, possui o sentido da orientação e é levado a dominar os outros dois termos, para fazê-los avançar, procurando superar o subconsciente instintivo e dirigir o consciente racional. Assim, coloca tudo em marcha no caminho da evolução, reduzindo o corpo (animal), que passa a ser apenas a parte material, e transformando a vontade (ação) em meios para chegar a um plano de existência superior. Neste terceiro nível é o anjo que deseja substituir-se ao animal."
(Um Destino Seguindo Cristo, p.293-294) (grifos meus)

Isso explica o porquê de nossa atual civilização ser incapaz de superar seus problemas sistêmicos. Todas construções econômicas, políticas e culturais se apoiam na substância do tipo dominante, mediano, cuja meta suprema é o conforto material, o bem-estar, as alegrias de superfície, a sensação de prazer e domínio - mesmo que em plano mais sofisticado do que o do selvagem. 

É mister superar a natureza presente para edificar uma nova civilização. Para chegarmos ao outro lado de forma mais coesa. 

Quanto mais evoluído se é, mais envolvimento no processo e menos busca de resultados. Porque os horizontes de tempo se tornam vastos, fazendo com que as vivências cotidianas, com suas vitórias e derrotas, tenham um valor por demais relativo, diminutas face às grandes questões cósmicas. E assim nos tornamos capazes de dominar a construção da nossa personalidade. Os véus pré-vida e pós-vida inexistem. Seus tecidos se tornam mais tênues. As transições mais suaves. Sabe-se que a verdadeira vida é uma só e a descida neste mundo representa provas de tormentos variados, que o evoluído usa para engrandecer o espírito, edificando-o. A consciência dilata com o uso eficiente da dor.

É por esses motivos que quem atingiu um grau de maturação suficientemente alto mantém a calma interior em momentos de grandes pressões. Sua preocupação não está nos "ganhos" e "perdas" - aspectos transitórios que nada revelam da verdadeira natureza. Vive-se a todo momento e integralmente a essência das coisas. O envolvimento é total. A sinceridade, um dever. Tudo é justo. Se ocorre algo inesperado, de grande abalo, mantém-se a calma. Pois algo melhor pode estar sendo preparado a partir de um golpe momentâneo. Somente pode fazer afirmações de tal força quem viveu o fenômeno. Caso contrário, escrever é uma atividade vazia.

O mundo é repleto de bela literatura e pobre de vivência. A beleza de superfície nos engessa. Com o tempo, enjoa. A vivência buscada é de um bem-estar, de "se garantir", de obter o máximo de prazer sem que os outros percebam. Assim ela se empobrece, pois deve estar se vigiando a todo momento, maquiando-se, ocultando intenções, complicando coisas simples. É o pavor de ser desnudada! Assim ela se torna pobre. Pobre porque débil, incapaz de se lançar a buscas mais profundas. Sem ousadia inteligente. Sem vigor evolutivo...

Enquanto as palavras desse espaço não forem sentidas na medula, e aqueles que lerem não se iniciarem na prática, comprovando por si mesmos a potência da Lei de Deus, esse espaço não terá cumprido sua função, que é ajudar a humanidade a evoluir. 

Referências:
[1] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/08/manifesto-por-uma-gramatica-sem.html
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/06/instinto-razao-e-intuicao-as-tres.html
[3] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html

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