domingo, 7 de março de 2021

Comemorando o fim de um mundo

O ser humano se comove com aquilo que impressiona seus sentidos, impacta sua mente e incomoda suas emoções. E esse impacto (além do grau dele) depende do grau de consciência do indivíduo. 

 

Fig. 1: a vida se assemelha cada vez mais a uma guerra. Na incapacidade de travarmos uma 

batalha interior construtiva, geramos uma guerra exterior destrutiva.

Captar com os sentidos praticamente todos captam. O funcionamento dos sentidos básicos é o mesmo para todo ser humano - exceto por pequenas variações decorrentes de idade, doenças ou deficiências. Quanto à mente, as divergências começam a se fazer evidentes. Aí reside o campo da argumentação, do raciocínio, do cálculo racional, dos interesses, da objetividade. A sociedade tem ideias muito distintas das coisas. E com isso a interpretação do mesmo evento tende a ser múltipla para os grupos e indivíduos. Essa interpretação se relaciona com uma visão de mundo. Um modelo ideal.

Nos efeitos praticamente todos concordamos. Nas causas primeiras não há concordância alguma. Logo, a comunhão entre mentes e corações é dificílima. Á medida que pinçamos um ou mais efeitos e começamos a investigar suas relações (com outros efeitos e causas), determinando de forma mais precisa a lógica de funcionamento do sistema (instituições, estrutura organizacional), de nossa natureza (subconsciente) e de nossa cultura (subconsciente acoplado ao consciente), começam a surgir divergências. É natural nessa fase que a humanidade passa. O grau de consciência, sendo baixo, não fornece os elementos de coesão para os fenômenos.   

Como encaramos o mundo? De forma geral, enxerga-se o mundo como um conjunto de individualidades com interesses conflitantes, que não se alteram - visão estática do universo. Logo, toda racionalidade foi construída tendo esse fato (temporário) como premissa. As construções irão assumir uma característica que vise satisfazer essa hipótese - que é correta apenas para uma fase da evolução humana. 

Sistema político (democracia representativa, sem se preocupar em como a sociedade "gera" sua "opinião"); econômico (crescimento ilimitado, e não meio de aumentar eficiência ); arte (puro entretenimento, sem função de elevar a alma); ciência (eficiente mas restrita, pois não admite outros métodos que não os seus); etc. As coisas foram construídas tendo por base o que o mundo deveria ser e o que seria a natureza humana. O problema é que as coisas mudam de dentro para fora. 

Ao longo do tempo, ocorre uma metamorfose interior no ser humano. E ela se intensifica à medida que ele evolui externamente. Eis a que o progresso está nos levando: uma transformação moral. Os indivíduos se diferenciam não apenas por suas especializações acadêmicas e profissionais, mas sobretudo por suas vivências e sensibilidades. Isso demanda uma nova forma de organizar os elementos constitutivos dos subsistemas, dos sistemas, dos sistemas de sistemas. Por isso é que reforma íntima e progresso social andam de mãos dadas. E em tempos críticos, em que existe uma forte resistência contra o progresso, isto é, uma organização mais inteligente (ou melhor...minimamente inteligente) do mundo, podemos dizer que esse progresso social demanda uma revolução sistêmica. No entanto, para isso ser feito de forma efetivo, é imperativo haver uma massa crítica.

A humanidade parece ainda não ter acordado para a questão central de tudo. Alguns percebem a insanidade desse modo de organização, de se fazer as coisas, de interpretar o mundo. Mas pouco podem fazer, pois são poucos. Podemos ter uma ideia do quão pouco baseado no modo como as pessoas reagem a lógica de funcionamento do mundo. Ou melhor, qual sua atitude. E desses, um bom número está trabalhando para deixar tudo mais claro. No entanto, o tipo médio ainda se impressiona com aquilo que faz mais barulho, tomando como verdade apenas o que chega a ele de forma esteticamente (para sua psique) agradável, e com narrativas que reforcem uma visão de mundo ultrapassada. Aí a luta por conscientizar fica muito difícil. Em última instância, cabe ao próprio indivíduo sair de sua caverna e iniciar a jornada. 


Fig. 2: Falta abrir o olho do espírito. Sem ele permanecemos cegos para a verdadeira realidade.

Todo o mal que ocorre no mundo, e especialmente no Brasil, neste momento, é consequência de uma forma mental abaixo da média mundial. Isso levou a população a cair nos diversos golpes que se sucedem no país. Reformas como a do Teto de Gastos, a Trabalhista, a da Previdência, a (futura) da Administração, etc; o linchamento midiático de atores políticos específicos; as ideias superficiais, de fácil circulação, que mexem com crenças arraigadas em grupos; entre outras coisas, prepararam o terreno ideal para o país estar à beira de uma catástrofe. E (mais trágico) dado o baixo grau de consciência da população, as coisas irão piorar - e muito. No entanto, isso é muito bom.

Quando uma pessoa se recusa a fazer ou não o óbvio (por exemplo, uma criança está prestes a pôr a mão no fogo), é necessário que uma autoridade - com uma visão mais abrangente, mais experiente, sábia, bem intencionada - exerça seu poder para evitar um mal maior. Isso é óbvio em se tratando de exemplos pequenos, simples, pontuais. A coisa se complica quando chegamos ao nível de nação, globo.

Quando uma sociedade inteira, desde seu povo até seus dirigentes máximos, não percebe a insanidade de sua "cultura", ou melhor, seu modo de agir, de levar a vida, a tendência é que as escolhas deletérias tomadas se acumulem, causando males que pipocam de modo cada vez mais desordenado. E, como não há coordenação (responsabilidade de governo e elites, nessa ordem), interesse (responsabilidade de povo e elite, nessa ordem) e visão (responsabilidade de elite e governo, nessa ordem), o produto final só pode ser uma catástrofe. 

Como toda catástrofe, o mecanismo de realimentação é positiva está em vigor. Ou seja, quanto mais se piora o quadro, mais lentas são as decisões, maiores são as discordâncias, menor é a sensibilidade. Mais lenha jogada à fogueira!

Alguns até cuidam de aspectos importantes. Mas apenas aspectos de curto prazo, que não focam na cura pela raiz. Praticamente ninguém quer atacar as causas dos males que tanto nos assolam (e de forma cada vez pior). Não há muito a fazer quando aqueles que escutam são poucos; quando os bem intencionados rareiam; quando as prioridades são invertidas; quando as redes sociais prendem a todos; quando o modo de vida é alucinante. Todos estão em busca de satisfações imediatas, resultados fáceis, e se sentirem no domínio (por isso as bolhas se popularizaram). Evita-se o choque de ideias. Justamente no momento em que o mundo mais precisa. 

Mas cuidado! Deve haver acordo apenas entre aqueles já conscientes da profunda realidade. Mas jamais haverá acordo entre quem quer evoluir e quem quer regredir ou estagnar (com aparências de progredir). Esses "acordos" devem ser rejeitados e não são o problema.

Há coisas que precisam estar claras. Poucos estão sendo capazes de hierarquizar as prioridades em seu íntimo. E isso devido a estar preso a uma visão de mundo atrasada. 

O que a sociedade, em geral, vê como sucesso, eu sinto como fracasso. O conforto me assombra, pois não é real conforto, mas confortite, que trava a pessoa, inebriando-a de prazeres inúteis que drenam recursos vitais. Os empregos se divorciaram do trabalho, assim como o culto pelo imediatismo tomou cena.

Faço o que posso. Já tentei ir além, mas percebi que isso me levaria à ruína. É uma morte em vão. Então permaneço quieto (exteriormente), mas muito ruidoso (interiormente), difundindo minhas visões e sistematizando-as (aqui); mostrando a Obra de Pietro Ubaldi e de outros iluminados; consumindo o necessário, poupando o possível; ensinando da forma mais integral; e soltando chispas se intuição sempre que posso.

É triste perceber que devemos torcer para o aumento de dor, pois parece que apenas mergulhar a sociedade no caldeirão irá fazê-la despertar para a realidade.

Não adianta xingar aqueles que estão no poder graças à contribuição geral. Seja votando ou permanecendo neutro numa luta entre sensato e insano; seja em atitudes de aderência à maioria; seja num modo de vida que consome e ignora e deseja permanecer em sua inércia; seja em sua incapacidade de integrar síntese e análise, pensamento e paixão, reforma íntima e revolução sistêmica.

Por isso assisto de camarote o fim de um mundo, com a mais cândida intenção e na expectativa de um dia poder realmente inserir todo meu potencial no mundo, com trabalho produtivo reconhecido.

E lembrem-se: 

o fim de um mundo não é o fim do mundo

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