sábado, 29 de maio de 2021

Evolução do Trabalho

Os símbolos (representações), assim como os simbolizados (real), devem evoluir com o tempo. É uma marcha firme, ordenada, destemida, em que ambos entes (forma e essência) devem estar em paralelo, sem grandes desvios. Isso significa que a forma deve expressar da melhor maneira possível o grau do ser - e que o ser deva trabalhar arduamente para dar à forma condições de melhor representá-lo no mundo externo. 

A matéria evolui, assim como as formas dinâmicas (energia), as formas orgânicas (vida), as ideias (pensamento) e além. Ideias dizem respeito ao conceito que cada um de nós tem a respeito de algo. São as definições que temos de cada símbolo (seja palavra, desenho, equação, som, etc.), somadas às nossas experiências, com traumas e potencialidades, que plasmam a forma mental que gera ideias. É importante portanto, atentar para esse significado - uma vez que é através dele que a gente recebe as ideias dos outros.

Fig.1: Mais do do tornar as condições justas, deve-se inserir o sopro divino no ato do trabalho.

Somos substância, mas atuamos e vivemos através das formas. Enquanto não regressarmos ao S, devemos compreender muito bem como funciona o transformismo no AS. Em particular, o transformismo no nível humano (em que nos situamos).

Somos criaturas posicionadas entre dois extremos (plenitude do Sistema e plenitude do Anti-Sistema). As forças do S se igualam àquelas do AS. Logo, a luta é mais difícil. Há muita coisa nebulosa. Um jogo de forças astuto se camufla de algo belo - e este fica com dificuldade maior em atuar no campo concreto. Mas apesar de tudo, a vitória final é do bem, pois a preponderância das forças do Alto é evidente se olharmos com profundidade a trajetória do Universo, da vida, e das civilizações. Para quem deseja saber mais a respeito dessa situação (momentânea porém muito intensa e aparentemente eterna e desesperadora), recomendo um ensaio do ano passado [1].

O trabalho sempre existiu. A matéria trabalha arduamente, à seu modo, pela coesão dos elementos; a energia igualmente, só que pela transformação das formas físicas; a vida também, através da busca incessante por expressar cada vez melhor formas que sentem e pensam; o pensamento, pela construção de ideias, pela expressão cada vez mais elegante e precisa; o espírito, pela dedicação à Deus e ao Universo, da forma mais criativa. É uma hierarquia bela e harmoniosa na qual o ser humano começa a aprender qual o seu papel nessa pirâmide que está além da própria palavra. 

No gênero Homo, ou melhor, na espécie Homo Sapiens, o trabalho passa a ter significado econômico. De repente surge o significado, a definição e a palavra. Com isso vêm o estudo acerca do fenômeno 'trabalho' à nível de sociedade - temos como exemplo o Prof. Ricardo Antunes da Unicamp. Surge concomitantemente os institutos e as profissões que defendem aqueles que mais produzem - temos como belo exemplo a (bela) juíza Drª. Valdete Souto Severo. Percebe-se que existe uma evolução da ideia à medida que ela é representada, implementada, sentida e percebida pelas pessoas - antes de forma prática, depois pensada e modelada, depois adaptada e reimplementada, e assim por diante. É um avanço em espiral. E há retrocessos e avanços na jornada. Mas os avanços sempre superam os retrocessos (graças a Deus...literalmente).

O vídeo abaixo é uma palestra da Drª. Valdete. Ela protege os mecanismos que podem direcionar o trabalho para metas mais altas - e as pessoas para um despertar íntimo. 

O trabalho é algo visto como fardo no mundo atual. Parte dessa mentalidade é realimentada pelo mau uso do trabalho: as jornadas são incompatíveis com o nível tecnológico, de conhecimento, e de potencialidades de muitos seres. O que deveria haver é um programa ordenado a nível global, contínuo, de reorientação das atividades humanas. Uma redução de jornada criaria uma sobra de disposição humana para abraçar atividades úteis socialmente. É uma questão de apostar no melhor dentro do ser humano - e não em suas tendências instintivas atávicas, repletas de vícios ainda não superados. É uma atração para o alto ao invés de uma estabilização no lodo do passado.

O trabalho é visto como obrigação que alimenta um espírito ainda incapaz de fazer uso de condições mais humanas - e até mesmo, mais divinas. Por isso muitos abraçam funções repetitivas, adentram em comissões inumeráveis, e sustentam burocracias intermináveis. Tudo em nome do bom funcionamento da instituição (repetições); da ocupação da mente (comissões); e da garantia de segurança legal e imagem profissional (burocracias). O motivo orbita sempre em torno de ocupar o que não se sabe preencher e parecer que se está construindo algo efetivamente em prol da humanidade. Em suma: deixar ecoar livremente os instintos atávicos na forma de um tipo moderno, com palavras rebuscadas, raciocínios sofisticados e motivos nobres. Mas quem viu (e sentiu) fenômenos mais profundos que governam cada átimo da vida individual e coletiva; quem num relampejo teve a visão das origens e do destino, este não mais vê sentido nessas atividades humanas - a não ser cumprir o mínimo indispensável para que não tenha suas condições de trabalhar no quem realmente importa travadas.

Ubaldi discorre sobre a função do trabalho em toda sua obra. Ele fala em trabalho-expiação, trabalho-funçãotrabalho-missão, dentre outras espécies. Mas de modo geral, podemos perceber que o modo de encarar as obrigações está mais focado numa tarefa que não dá verdadeira alegria. Algo que não inspira, não faz a pessoa crescer interiormente (nem materialmente, especialmente para os que mais precisam disso). Algo que carece de estofo significativo. 

Fig.2: As abelhas já aprenderam a se organizar de forma perfeita - considerando seu nível. 
Nós ainda não. Ainda fomos incapazes de formar uma sociedade orgânica.

O modo como encaramos o trabalho se relaciona profundamente com a maneira que o executamos

Percebendo-o como algo que só pode ser cansativo, criamos os empregos socialmente inúteis ; e outros, se úteis, mal remunerados, de tal forma que mal dá para garantir a subsistência com seus rendimentos. Há ainda aqueles trabalhos que oferecem oportunidades de progresso em seu campo - mas eles são restritos a gerarem frutos para o trabalhador e para um seleto grupo. Pior: esse tipo de pessoa (que possui esse trabalho) geralmente está num vórtice social-midiático-ideológico que o coloca em contraste com o restante da população. Não se trata de contraste direto, evidente. Trata-se de um contraste indireto, via ideias que em sua essência geram efeitos de desagregação.

Um outro problema está no mau uso da tecnologia. 

Um economista inglês muito famoso, John Maynard Keynes, deu uma palestra em Madrid em 1930 intitulada 'Possibilidades Econômicas para Nossos Netos' [2]. Nessa palestra Keynes esclarece o quão grande foi o salto em termos de riqueza per capita produzida pela humanidade desde o início da Idade Moderna (Séc. XV) até o início do Século XX (~1930). Se for criado um sistema de distribuição que viabilize uma igualdade social do tipo de uma Europa Ocidental para todo o globo, com certeza seria possível atingir-se um nível de vida bom para todo ser humano deste planeta, com todos vivendo uma vida sem desespero, com os recursos básicos.

O que são recursos básicos?

Água, alimento, moradia, vestimenta, saneamento, energia, serviços médicos, escolas, universidades, hospitais, renda, aposentadoria, segurança, transporte, lazer, cultura e etc. Essas coisas não são luxo. São fundamentais. No entanto, para muitos elas são um sonho. Luta-se décadas e gerações para se conseguir colocar a família num plano de saúde (mafioso); os filhos numa escola particular (que se aproveita da ausência ou ineficiência da educação pública); adquirir de um carro (que é uma ineficiência energética, desagregador social e estimulante da inveja); fazer parte de um clube seleto (do qual o resta não tem acesso); conquistar um título (para exibi-lo e enriquecer ainda mais); e por aí vai. Percebe? Não só batalhamos agressivamente para conseguir suprir as necessidades da vida, mas o fazemos da pior forma. E uma vez adquiridos, fazemos mau uso delas.

Fig.3: Nossas necessidades vão muito além do físico. Nosso trabalho deve suprir todas as necessidades humanas. 
Ele deve dar os meios de vida física, deve viabilizar relações saudáveis, deve reforçar a auto-estima, deve promover a transformação (evolução do pensamento), deve gerar coesão conceitual no ser (integração sistêmica), deve dar um impulso efetivo no todo (ser um diferencial) e deve (acima de tudo) servir ao movimento de salvação do AS.

A pior forma é aceitar as coisas oferecidas pelo mercado (a preços cada vez mais insanos) ao invés de perceber que somente coletivamente, numa sociedade orgânica, com um Estado monista e o ideal da coisa pública garantida é possível construir uma verdadeira civilização.

E o trabalho com tudo isso?

O trabalho se insere nessa ciranda através da distorção de seu real significado.

As pessoas, gastando de 80% a 90% de seu tempo em atividades em condições ruins, e sem possibilidade de refletir, questionar, interagir (à fundo) com seu semelhante, alinhar suas vibrações com a natureza infra-humana (já estabilizada e fonte de vida), se esquecem completamente de questões como Deus, universo, evolução, amizade, afeto, criatividade e etc. Mas não é só isso: a energia despendida não é proporcional ao tempo (despendido) nos trabalhos. Se 80% do seu tempo (12~13h de 16h desperto) foi para o emprego - incluindo almoço, banheiro, transporte e coisas do tipo - 98% da energia (=disposição) foi embora. Em suma: não sobra nada, pois é preciso tempo e disposição para dedicar-se a algo na vida.

O que as pessoas fazem saindo do trabalho e chegando em casa?

Elas começam outra rotina desagregadora da alma. A rotina para aliviar o stress (consumo conspícuo via gula, luxúria, shopping, etc.); para se enganar, se mantendo em sua bolha consciencial (mídia, fofoca). Alguns ficam maquinando esquemas para melhorarem suas vidas em termos de posição na pirâmide social. Mas a pirâmide é toda defeituosa. Uma estrutura apodrecida que mostra suas fissuradas a cada ano e década que passa. Subir socialmente se torna então apenas um meio de exercer o egoísmo de modo mais amplo; de se enganar de mofo mais efetivo; de se afastar de algo que está dentro de você. Ou seja: de se enganar ainda mais. Mas com um problema adicional: a responsabilidade cresce exponencialmente!

Trabalho não é emprego. Ambos deveriam estar muito próximos - mas infelizmente não estão.

Trabalho é realizar algo socialmente útil e espiritualmente revigorador.

Emprego é ser remunerado por fazer algo para alguém.

Vamos analisar nosso mundo a partir das definições:

A) Temos muita gente empregada SEM trabalho.

B) Há alguns que trabalham E estão desempregados. 

C) A responsabilidade pela salvação da civilização está naqueles que trabalham E estão empregados.

    C.1.) Dentre estes, muitos são mal remunerados e estão em empregos com pouca liberdade.

    C.2) Dos que restam, uma parte não tem consciência do funcionamento do universo, da vida e das ideias.

      C.3) A outra parte, que possui essa visão, é a ponta de lança que deve se unir e começar a criar as bases de uma nova civilização.

Vocês percebem que não podemos exigir algo transformador de quem está com as mãos atadas - seja pela ilusão do sentido da vida, seja pela restrição material-social.

É preciso antes identificarmos em que grupo estamos e - se estivermos em C.3 - a partir daí começar a unificar nossas ideias. Interagir é a palavra-chave. Nossa força está em nossa união. União feita através de diálogo, compreensão, vivência e amor. Dessa forma formaremos uma massa crítica que pode se alastrar pela sociedade, queimando o terreno humano com o calor da vivência sincera e a luz da unidade espiritual. 

É preciso implementar desde já o que acreditamos de forma conscientemente intuitiva. Não podemos esperar a conjuntura estar adequada. Àqueles de bom coração digo: a hora chegou! É preciso se munir de ousadia inteligente [3]. Ter a iniciativa e enfrentar o mundo que morre, gerando os conceitos, os gestos, os atos, as ideias e as filosofias que moverão o mundo futuro. Um mundo possível apenas com a maturação. Mundo centrado 

Quem vê e tem as condições (C.3), ouça: somos os catalisadores da mudança!

Irmanemos o mundo em torno de um ideal tão lógico, tão atraente, tão fascinante, tão dinâmico, tão intenso e vasto, que todos os outros se sintam tentados a abandonar suas práticas viciantes que prendem seus destinos e dilaceram suas vidas, dia a dia. 

Lógico pela concatenação perfeita de tudo e todos;

Atraente por fazer qualquer um querer saber mais, ver mais, ouvir mais e comentar mais;

Fascinante por deixar a pessoa paralisada, por confrontar o inconfrontável;

Dinâmico por ser veloz na adaptação aos novos tempos;

Intenso por atingir na alma, como um raio, sem precisar de elucubrações acadêmicas densas;

Vasto por englobar todas teorias, filosofias e sentimentos, simultaneamente e sempre, numa dança apaixonante. Por abraçar tudo e todos a todo momento, de todas formas.

Isso é monismo.

O trabalho deve evoluir dentro de nós. O conceito deve ser revisto, pois tudo evolui conforme o ser cresce. Devemos sentir a dor mais profunda que martela sempre.  Por quê fugimos? Por quê nos afogamos em shoppings, consumo, fofoca, violência, álcool, relações físicas brutas, palavras sem sentido. Por quê nos prendemos a coisas que não nos acrescentam valor? 

Fig. 4: Vou até o fim e além. Porque essa é minha vida. Vida de construção de um destino.

Aqui irei mostrar o belo de uma vida simples, com a vivência de cada momento singelo.

Aqui irei revelar o trabalho de uma vida aparentemente desocupada e sem méritos sociais.

Aqui irei tornar atraente o que todos aprenderam a ter vergonha de possuir: coragem de pronunciar o impornunciável, ímpeto criativo capaz de gerar coisas originais e humildade geradora de força para marchar sempre - cada vez mais certeiro, mais ágil, mais envolvente.

Isso é trabalho

Trabalho é gerar algo de útil para a sociedade - mesmo que o grosso desta não o perceba. 

Trabalho é preparar terreno para futuras criações.

Trabalho é estudar, é pesquisar, é refletir.

Trabalho é produzir um texto que brota da alma sem esperar nada em troca.

Trabalho é criar melodias e sinfonias, sentindo a recompensa no ato de ouvir as vibrações divinas.

Trabalho é se envolver e alucinar em torno de novidades construtivas.

Trabalho é o meio de se chegar à capacidade de amar.

E amar é criar!

Quantos neste planeta realmente trabalham? Precisamos de um tipo de trabalho completamente novo, verdadeiramente transformador - não de burocracia engessante, formalismos excessivos e medrosos ou repetições de rituais.

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