Existem
pessoas que apesar de estarem encarnadas apresentam características
de espíritos. São invisíveis aos olhos de muitos. Por parte de
governos, corporações e - mais trágico - pessoas. Governos porque
estes só consideram "gente" aqueles devidamente
registrados, carimbados, documentados e em condições de pagarem
seus impostos. Em suma manipuláveis e controláveis; por parte de
corporações, porque estas só consideram "gente" aqueles
que são direta ou indiretamente consumidores de seus produtos - ou
potenciais consumidores. Além de (claro) não interferirem no seu
processo de extração, manipulação, descarte, exploração
legalizada e coisas do tipo; e por parte de pessoas porque alguns
seres são completamente destituídos de sentidos refinados para
perceber as potencialidades de alguns seres em áreas adjacentes.
Dentre
as três invisibilidades, a última sem dúvida é a pior delas. Ser
invisível para uma pessoa ou grupo de pessoas é algo que faz muita
gente se questionar sobre suas atitudes e o caminho que ela está
trilhando. Mesmo que essa pessoa se revele bem sucedida - material e
espiritualmente - no futuro, e consiga encontrar um meio mais
receptivo, com pessoas capazes de perceber suas potencialidades. Mas
passar por túneis é sempre doloroso...
Às
vezes temos a sensação de que algo (geralmente ruim) vai durar para
sempre. Uma situação na qual estamos atrelados. Por motivos
materiais, de sobrevivência, que temos de respeitar. Impedidos de
manifestar nossas idéias e sentimentos e opiniões. Impedidos de
deixarmos nosso corpo se expressar com liberdade total. E até
impedidos, ou compelidos, a não esboçarmos nem sequer gestos de
reprovação e admiração a certas pessoas e idéias. Travados.
Etnia "errada", roupa "errada", modo de vida "errado", sem classe social,...Nem toda SABEDORIA e VIRTUDE do mundo podem reverter as consequências desse quadro. Somos civilizados ou bárbaros? |
Conseguimos
passar por esses túneis porque acreditamos num futuro melhor para
nós. Nem que minimamente. Caso contrário, se não houvesse um
mínimo de crença numa melhora, seria muito difícil suportar as
amarguras cotidianas do presente. Mas o fato é que não existe nada
mais desagradável do que ser anulado por pessoas. Essa supressão
pode ocorrer por vários motivos. A meu ver, alguém (ou um grupo)
pode anular a voz e atitudes de uma pessoa ou grupo porque:
- Possui inveja
- A maneira de comunicação do outro não lhe agrada
- Tem medo de que essa pessoa possa lhe "roubar" algo (o status de mais conhecedor de um assunto X, por exemplo)
- Os assuntos não agradam
- Não vai com a cara da outra pessoa
Enquanto
as três primeiras atitudes são reprováveis do ponto de vista
moral, a última pode ser algo natural. Mas antes deixe-me justificar
a minha ideia.
Inveja é
um sentimento ruim, que gera ódio e rancor na pessoa. Surge porque
vemos alguém numa situação melhor que a nossa (às vezes
aparentemente). E esse sentimento parece ser mais intenso quando
tivemos a liberdade de escolher o caminho. Como aquele que invejamos.
Só que não soubemos escolher de forma sagaz. E, mergulhados num
caos, desprezamos (invejamos) o outro.
O fato
da maneira de nos sentirmos incomodados com a forma de comunicação
de certas pessoas não justifica nossa repulsão a elas. Significa
apenas que não temos capacidade de lidar com diferentes formas de
manifestação (imagine só, outros poderiam pensar o mesmo de você).
E realmente: é muito mais fácil rejeitar do que tentar compreender
o outro.
Ter medo
de que alguém "roube" algo seu é motor indutor de
afastamento e corte de conexões. A fonte é o agente com esse medo.
Medo este infundado. Porque, caso alguém saiba mais sobre algo que
antes era o ponto forte de outro, nada mais sensato do que deixar
este último se manifestar.
Quanto
aos assuntos que não agradam, trata-se basicamente de uma questão
de interesses. Eu - particularmente - não vejo sentido em tratar mal
ou pelo menos não ouvir alguém que fale sobre algo diferente, ou dê
um enfoque diferente sobre um assunto, se essa pessoa for bem
intencionada e possuir conhecimento sobre o tema (além de se
comunicar bem). O problema é o seguinte: se isso ocorrer, os outros
dificilmente aceitarão as novas idéias ou novo enfoque. E mesmo que
as pessoas não aceitem e nem queiram ouvir coisas diferentes, elas
deveriam RESPEITAR a retração e busca desse ser ilhado em buscar e
desejar um grupo que o compreenda e esteja disposto a dialogar com
ele. Porque não aceitando, o que muitos desejam é que o outro se
CONFORME completamente ao meio (apenas para não incomodá-los). Não
basta deixá-lo ilhado. Deve-se reprovar seus anseios mais profundos.
Isso é a meu ver um erro grave que só tende a gerar mais
afastamento. Mas - com um pouco de sorte - esse ser, tido como
ninguém em meio X, será alguém (de muito valor) num meio Y. E
torço para que todos seres assim encontrem seu meio Y.
Finalmente
chagamos ao "não ir com a cara". Essa última razão de
rejeição tem um fundamento que me impede classificá-la como algo
reprovável. Primeiro porque não existe uma explicação lógica
para a existência de uma pessoa não ir com a cara de outra. A
própria pessoa não sabe o porquê de seu sentimento. Pode haver uma
razão para tal sentimento que vai além de nossa capacidade de
racionalizá-lo. E fenômenos sem uma explicação racional não
podem ser trabalhados no campo da ciência. Segundo algumas teorias,
pode ser um "carma", ou seja, um erro ou abuso que você
cometeu com essa pessoa que tenha deixado impressa nela essa
sensação. Mas não irei me estender nesse assunto.
Voltando
ao túnel. Quando alguém se encontra ilhado, sugiro que a pessoa se
projete para as idéias e, sempre que puder, recorra a ambientes
públicos para fazer atividades que lhe agradem. A Natureza pode ser
inclusa como uma grande aliada do bem-estar. E as atividades
culturais, igualmente, dependendo da afinidade da pessoa com elas.
Nesse ponto eu gostaria de destacar que um indivíduo com mente mais
aberta - e portanto criativo - tende a sentir menos necessidade de
contatos. A cultura lhe dá uma sensação de preenchimento sem a
necessidade imediata de contatos. Digo mais: uma pessoa culta - ou
inclinada para tal - é mais propensa a encontrar pessoas e manter um
contato saudável e não lastreado em interesses materiais. Sua
sensibilidade às coisas simples é maior. Logo, há maior quantidade
de distrações úteis em seu leque de atividades.
Não há
muito a acrescentar. O mundo é dinâmico e em poucos meses nossas
vidas podem dar reviravoltas. Você já deve ter passado por isso. Eu
já passei.
É muito
difícil prever nossas vidas num horizonte de tempo muito extenso.
Por mais sofisticado nosso modelo e estável nossa posição, há
muitas variáveis que podem entrar no jogo inesperadamente. E então,
a minha dica é: não se preocupe tanto com previsões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário