A evolução individual e coletiva foi, é, e – pelo que me parece –
sempre será influenciada por diferentes formas de inteligências. Cada
uma delas possui uma função específica
e, como consequência, momentos e circunstâncias adequadas para agir. No
entanto, é muito usual nos momentos de demanda de uma inteligência
específica, ocorrer a falha da mesma. E isso pode ser explicado de
várias formas.
Mas antes preciso revelar como interpreto cada uma dessas inteligências.
O INSTINTO é algo mecânico. Uma atitude que não mais necessita passar
por uma unidade de processamento (o cérebro) para ser executado.
Exemplo: defesa da prole (ou autodefesa num ambiente hostil. defesa
física ou psicológica); conservação (fome); perpetuação da espécie
(reprodução, atração sexual); entre outros. Trata-se de uma inteligência
que no linguajar popular não é vista como tal porque já foi
inteiramente assimilada individualmente e coletivamente pelas espécies. É
algo primário, mas ainda necessário.
Albert Einstein (1879-1955) |
Quando digo que o
instinto é primário, é porque o considero o alicerce que irá permitir o
florescimento e consolidação da inteligência que a segue: a RAZÃO.
A razão é uma faculdade que começa a ser desenvolvida na espécie
humana. Pode-se dizer que seu pleno desenvolvimento é uma exclusividade
dela. E que através de nossa constituição física complexa – teoricamente
adequada ao nosso grau espiritual – o ato de raciocinar pode se
manifestar no mundo palpável que nos rodeia desde o momento do
nascimento até a nossa morte.
A razão é ordenada e portanto
trabalha de forma mais lenta – a lentidão nem sempre implica preguiça.
ela é cada vez mais pensamento profundo. É através dela que nossa mente
recebe um mundo desordenado e devolve um mundo um pouco menos
desordenado. À nossa própria mente. E passar essa visão de mundo mais
cristalina aos semelhantes (capazes de compreendê-lo) é dever de todo
ser.
No mundo oficial, convencionou-se estabelecer como
patamar final de evolução possível a um ser humano aquele que tem sua
razão completamente desenvolvida. E seus instintos presentes, mas
controlados. Esse seria o ideal de super-homem de nossa sociedade. Mas
como é possível sentir na vida (afetiva, social e cultural) e observar
nos (manipuladores) meios de comunicação, parece que o super-homem do
presente não solucionará muita coisa daqui para frente...
O último grau de inteligência só começa a florescer com o amadurecimento do segundo.
A INTUIÇÃO é uma forma de sensibilidade a fenômenos cuja natureza é tão
iminente quanto permanente. Fenômenos incapazes de serem detectados
pelos órgãos sensoriais que temos à disposição. Fenômenos que nossas
ferramentas e métodos são muito pobres para explicar e exemplificar.
Porque ela não é racionalizável (explicada) – no presente! Por isso o
lapso de tempo entre uma atitude gerada pela intuição e sua ação efetiva
é veloz. Trata-se aparentemente de um instinto. Um decréscimo na
evolução. Mas um olhar cuidadoso revela que se trata de um mentalidade
completamente diversa.
Cometa representando o fenômeno evolutivo-intelectual. |
O ser que opera intuitivamente não sabe
explicar o porquê de agir daquela forma. E como consequência é comummente
taxado de ingênuo, idiota, utópico ou perigoso ou variações desse tipo.
Mas se alguém se dedicar a observar as consequências de suas atitudes,
perceberá – sem no entanto saber explicar – que elas desembocam de uma
forma elegante, num ponto pronto para recebê-la. E no momento certo.
Sorte ou planejamento? Certo ou errado?
É muito difícil para
um ser “realista”, com “pé no chão”, “inteligente”, compreender o que se
passa na mente de uma criatura cuja vida é conduzida pela intuição.
Uma das características mais interessantes é que o produto final da
atitude de uma pessoa intuitiva demora muito tempo para se efetivar –
na maioria dos casos. Mas a demora parece ser proporcional à eficácia.
Isso é assombroso para o biótipo adequado ao mundo de hoje. E
deslumbrante para uma pequena parcela utópica, ingênua, louca e perigosa
da sociedade...
A partir do raciocínio desenvolvido é possível
estabelecer uma relação entre os três tipos de inteligências e o que
Ubaldi denomina por sub-consciente, consciente e
super-consciente.
Pode-se estabelecer a seguinte relação:
INSTINTO está para SUB-CONSCIENTE
RAZÃO está para CONSCIENTE
INTUIÇÃO está para SUPER-CONSCIENTE
Importando pensamentos desenvolvidos (magistralmente) por Pietro
Ubaldi, podemos fazer a analogia dos três com o progresso evolutivo de
nosso ser.
Pietro Ubaldi (1886-1972) |
Imaginemos nossa evolução como um cometa. Não
podemos definir um ponto específico no qual nos situamos. Deixamos um
rastro enorme que torna impossível uma dissociação. A cauda, o núcleo, e
a parte frontal fazem parte do mesmo “ser”.
Da mesma forma,
nossas inteligências estão presentes em nós. Os instintos são a cauda. O
passado que se arrasta por muito tempo e deve ser mantido para nossa
sobrevivência material. No entanto, sua super-valorização tende a
atrasar o desenvolvimento das inteligências mais elevadas. Não é à toa
que uma vida equilibrada pede que não ignoremos os instintos básicos,
mas ao mesmo tempo saibamos controlá-los para não sofrermos
consequências indesejadas no futuro – é aí que a razão age.
A
razão é o núcleo. A realidade presente. E a intuição a parte frontal
que, com nada à sua frente, pode vislumbrar horizontes nunca adentrados.
Eis o processo de evolução completo.
Agora, quanto à falha
comentada no início, posso afirmar com relativa segurança que ela ocorre
devido a uma falta de desenvolvimento de uma inteligência ainda pouco
desenvolvida. Perceba que o sentido é único (o instinto nunca falha, mas
a razão sim. a razão pode falhar, mas a intuição acerta. se não acerta,
não é intuição, e sim um instinto travestido de intuição. Auto-engano).
Através da constatação é possível perceber que trata-se efetivamente de
um fluxo unidirecional*. Ou seja, parece (parece) haver uma Lei
inexorável e bela que rege o fenômeno de evolução de cada criatura viva
do cosmos.
Não é belo tudo isso?
* não confundir com o
fluxo bidirecional das relações entre nosso ser e todas outras
entidades do Universo. Num caso trata-se de relações; no outro, de
evolução.
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