Os frutos (ou efeitos) de atos gigantescos - que não visam reconhecimento do mundo nem atenção do poder - começam a ser percebidos à medida que a função deles começa a ficar consolidada. A partir daí, formam-se esboços de organizações (órgãos) coletivas. Esse processo, uma vez iniciado, não tem retorno efetivo: poderão haver oscilações que dêem uma ideia de fragmentação, mas isso é apenas uma sensação momentânea de quem vê um átimo do grande devenir fenomênico. A realimentação ocorre naturalmente, gerando um ritmo de que Pietro Ubaldi tão bem desenvolveu em sua obra. Assim a função justifica a formação e consolidação do órgão; e este potencializa a realização da função.
Gilson Freire levanta aspectos muito interessantes em seu livro Arquitetura Cósmica. Ao ler esse magnífico volume (uma monumental odisséia espiritual pela história do pensamento humano), nos deparamos com um autor que demonstra claramente a importância do monismo ubaldiano. Dr. Gilson, como um competente profissional, relembra toda a nossa longa trajetória pelas religiões, filosofias e ciências, destacando aspectos que marcaram o sistema de crenças e valores ao longo do tempo, assim como a evolução do pensamento científico e correntes filosóficas. Ele pontua os paradoxos de cada sistema - e como os sistemas subsequentes absorveram e resolveram esses paradoxos, gerando outros, mais sofisticados.
Do animismo ao politeísmo. Deste ao monoteísmo. E deste último ao monismo. Cada salto é gigantesco. Cada fase é uma assimilação longa e lenta, permeada de dores, guerras, vidas que se elevam ou despencam, que amam e sofrem, que criam e destroem. Em todos os campos, por vários motivos particulares. Mas sempre justificando como motivo-mor Deus, o infinito, o eterno, o belo, o absoluto.
É uma longa jornada. Uma escalada que é sentida como mais ou menos árdua conforme a diferença entre o nível evolutivo de quem a realiza e o nível médio da coletividade. E também em função do nível evolutivo geral das criaturas que formam uma sociedade. Ou seja: é função de um delta (= diferença entre altura individual e coletiva) e de um absoluto (= altura média de todos que formam o contexto). Isso mostra que a sensibilização do ser exige um trabalho contínuo de adaptação a ambientes que não estão em sintonia com a sua natureza. Natureza essa que adquire maior dinamismo em determinadas fases da vida, oscilando violentamente em busca de conquistas superiores. Novas ascensões que arriscam tudo em prol da única coisa que realmente interessa: a reconquista da perfeição perdida.
Quando Gilson Freire atinge o monismo ubaldiano (últimos dois capítulos), são listadas as grandiosas conquistas de Ubaldi, justificadas de forma magistral, ponto a ponto. Mas ao mesmo tempo são apresentados alguns paradoxos que permaneceram. Isso não significa de modo algum que a obra de Ubaldi seja falha, e sim que estamos num processo de transformismo contínuo em nosso psiquismo.
Como Gilson diz, os paradoxos deixados pela Obra são muito salutares, porque nos fazem evoluir. O próprio Ubaldi comenta em um de seus volumes que dentro de alguns séculos ou milênios surgirá uma criatura que apresentará uma visão ainda mais vasta de Deus e Universo. Ou seja, isso aponta para a grandiosidade do místico da Umbria, ao perceber, sentir e viver esse transformismo na medula. Ele foi capaz de apontar soluções elevadíssimas e ainda assim ter a humildade (elevadíssima) de não colocar um ponto final - mas sim de dizer que, dentre tudo que já existiu, para ele a sua visão foi a que foi mais longe. E isso fica sem dúvida comprovado por qualquer um que tenha lido, estudado e sentido a sua magnífica obra de 24 volumes. E observado sua vida, passo-a-passo, percebendo como ocorre o fenômeno do milagre.
Tudo isso demonstra que a Teoria Unificada de Pietro Ubaldi (nas palavras de Gilson) deve ser eixo central para reorientar a ciência, sintetizar as filosofias, unificar as religiões e irmanar a humanidade. Pode-se chegar à visão do Todo por outras vias, sem dúvida. Mas a tendência que vejo e sinto é que, independentemente do caminho, a unificação será o produto final.
O interessante da Obra de Ubaldi é que nunca os escritos sagrados foram explicados de modo tão límpido, claro, sistematizado e interconectado com os fenômenos. Para quem realmente se dedica (de corpo e alma) a essa descoberta incrível, é impossível não perceber a magnanimidade de um ser que, sozinho, desprezado e abandonado perante grupos com interesses particulares, - que acabaram, no fundo, ajudando o grande missionário se colocando contra a Lei de Deus - deixou a este mundo um exemplo de vida tão elevada, abnegada e pura; e concomitantemente, uma obra tão formidável, científica e poética, apresentando uma sinfonia divina que deverá embalar a Nova Civilização do Terceiro Milênio.
"Minha obra está terminada. Se, daqui a muitos anos, uma humanidade diferente, bem maior e melhor, olhando para trás, pesquisar esta semente – lançada com uma antecipação muito grande, para que fosse logo fecundada pela compreensão – e admirar-se com o fato de ter sido possível tal antecipação aos tempos, tenha ela então um pensamento de gratidão para o ser humano que, sozinho e ignorado, realizou este trabalho, através de seu amor e de seu martírio."
Despedida, AGS.
Quando li A Grande Síntese pela primeira vez, assim que terminei a leitura da parte final (Despedida), chorei de emoção e disse para mim mesmo: "ESSAS PALAVRAS NÃO FORAM ESCRITAS POR UM SER DESTE MUNDO". Me lembro até hoje dessa sensação. Nunca havia lido algo igual. E assim absorvi toda a obra, estudei, refleti e continuarei fazendo isso. Relacionando com outros grandes iluminados (Rohden, Baghavad Gita, Tao Te Ching, T. Chardin), com as últimas descobertas da ciência, com os movimentos sociais e políticos, com a minha vida pessoal, com a arte...com tudo e todos, a todo momento, de vários modos. Por um único motivo: chegar mais 'perto' de Deus.
Li diversos livros de autores brilhantes, intelectualmente refinados, cognitivamente ágeis e até mesmo com temperos de sentimento. Mas nada rasgou minha alma a ponto de abalá-la profundamente. De mudar completamente o modo como caminho neste mundo (ainda) sinuoso e cego para as realidades sublimes do cosmos.
Estamos longe...muito longe de atingir o ponto ômega. Não espacialmente, nem cronologicamente - ou sequer intelectualmente. Mas em termos íntimos, de percepção. Estamos na realidade tão perto e ao mesmo tempo tão longes dessa sublime realidade que tudo arrasta. Mas como é bom saber de tudo isso. Como aquele filme de Wim Wenders, 'Tão Perto, Tão Longe'
Mas o que importa é ter ganho uma visão suficientemente forte que dê a couraça ao ser. O estofo íntimo, adquirido com essa explosão de percepção, é o elemento que dá inicio a essa mudança.
Individualmente já estamos caminhando.
Resta estabelecer as conexões, que tenderão a incendiar o coletivo de uma maneira nunca antes vista, tornando o corpo coletivo desordenado num corpo coeso. Um corpo que marcha como um soldado e não cambaleia como um bêbado. Um corpo que funciona organicamente, percebendo que o sofrimento de um que seja é o sofrimento de todos.
Esse é o nosso destino e nossa salvação.
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