sexta-feira, 25 de junho de 2021

O tempo que resta

Nunca antes em nossa civilização tantas coisas aconteceram com tanta intensidade em tão pouco tempo. A confusão é generalizada: cada fonte de informação parece dizer algo diferente - e muitos desejam se tornar famosos nas mídias sociais, obtendo seu momento de fama. A incerteza é grande para quem se acostumou aos métodos de superfície (razão, astúcia, cálculo de interesses, argumentação). O desespero abunda em todos atos. A pobreza está sendo conhecida em seu aspecto mais profundo: uma pobreza interior. Pobreza de movimentos verticais; pobreza de visão; pobreza de sentimentos; pobreza de fazer uso correto das coisas dadas temporariamente. Isso se traduz em incapacidade de estar a sós. O ruído interior é muito pobre, fazendo o ser buscar barulho exterior para tranquilizar seu inferno íntimo. Nesse sentido, quem está preso às coisas, às formas, às aparências, sente que tudo irá acabar com a  transição prestes a ocorrer. Por outro lado, quem está 'firmando sua casa em rocha sólida' se sentirá bem, tendo a força necessária para passar por esse período caótico. Porque o resultado final será um mundo melhor.

Fig.1: O mundo que está se esfacelando é o mundo materialista, centrado na astúcia e na força.
O mundo de regeneração está sendo formado. Trata-se de um mundo em que o espírito 
ganha predominância sobre a matéria. Um mundo substancialmente melhor. Muito melhor.

Como será esse mundo?

Não dá para imaginar nos mínimos detalhes. Mas podemos ver algumas características dele através de práticas específicas em sociedades distintas. As forças da vida estão presentes em germe em cada oásis nesse oceano de absurdos e dores. Oceano de incomunicabilidade. São práticas comunitárias e legislações à frente do tempo; são correntes de pensamento unificadoras; são teorias inovadoras; são culturas equilibradas, que absorvem o melhor do passado e preparam terreno para os progressos do futuro. Progressos em sentido político, econômico, urbano, jurídico, filosófico, educacional, administrativo, ético, científico, tecnológico, artístico. 

Nessa zona de transição coexistem luz e sombra, céu e inferno, anjos e demônios, futuro e passado, conhecimento e ignorância, unificação e segregação, ordem e caos. Há uma intensificação de ambos os pólos (o futuro do superconsciente e o passado do subconsciente), que combatem no terreno do consciente, palco de lutas titânicas na qual as últimas batalhas são as mais desesperadoras. 

Quando o velho está prestes a morrer, todas as forças atávicas são postas em ação, tornando o trabalho do novo árduo. A tensão cresce até o máximo suportável. As forças do AS, diminuindo se igualam às do S, que aumentam. A humanidade está num ponto especial: o meio do caminho evolutivo [1]. É aí que a luta se torna mais feroz. Porque é o ponto decisivo. A oportunidade de passar para o lado em que a ascensão se dará de modo diferente, menos forçada.

As coisas vão ficando mais claras a cada dia que passa. Quem já está desperto e começa a jornada rumo a uma transformação de substância foca cada vez mais (tempo, energia, recursos) e de forma criativa  (intelecto, sentimentos, reflexão) em dar significado à sua vida. 

O Universo é algo sério. E evolução não é simples objeto de estudo e argumentações; não é preciosidade a ser vista como verniz cultural para embelezar a epiderme da inteligência; não é algo a ser usado para dar aparência e para sossegar o ogro que reside dentro de nós. Ela é eixo central da Lei, que dita o ritmo que as criaturas devem seguir em cada nível - para que possam ascender da forma mais eficaz e eficiente possível, gerando efetividade.

Observemos mais à fundo o que é exatamente uma boa ascensão.

Podemos trabalhar usando os conceitos já conhecidos dos 3 E's (Eficiência, Eficácia, Efetividade) para ter uma ideia mais clara. 

Eficiência é a capacidade de fazer mais com menos. Aponta para aproveitamento máximo dos recursos. Nosso sistema econômico - apoiado por uma cultura intelectualmente avançada, mas com pouca consciência - não prima pela eficiência. Apenas por eficiência de determinados produtos e serviços, para determinadas pessoas (que podem fazer uso), considerando que a entrega de potência e consumo deve se dar a partir de um patamar elevado (já insustentável). Ou seja: a eficiência do mundo parte de um ponto baixíssimo (que oculta), que sob o ponto de vista do evoluído é uma colossal ineficiência em termos de vida e evolução. Exemplo é os sistema de transporte, os jogos, as bebidas alcólicas, as propagandas alienantes, os aplicativos multifuncionais sem aplicação benéfica, o sistema tributário global, o sistema educacional, a forma de diálogo entre as pessoas, entre outros.

Eficácia é a capacidade de produzir resultado. Nesse quesito a humanidade também não vai bem: busca crescimento econômico e consegue cada vez menos. Para disfarçar trabalha com dados e muda metas, maquiando elas. Os padrões se rebaixam para que a aceitação seja controlável. Taxa-se de demodè ideias com potencial transformador [2]. E com isso continua a se perseguir metas que levam a desarranjos sistêmicos cada vez menos controláveis. A geosfera responde; a biosfera responder; e a noosfera se forma em meio a esse caos. 

Efetividade é a capacidade de fazer corretamente o que deve ser feito. De certo modo, sabemos o que deve ser feito. Mas não o fazemos. Por quê? Porque ainda não sentimos tão à fundo o quão vital é cumprir essas metas. As Metas de Desenvolvimento do Milênio [3] são apenas marcos iniciais para se construir um verdadeiro mundo de regeneração. Essas metas apontam para uma nova forma de organização. Isso implica num novo sistema econômico (justiça social com fins de evolução do ser) e político (poder de participação baseado numa hierarquia de valores substancial). Esse novo sistema depende de uma nova forma mental - da qual eu desenvolvi alguns aspectos em ensaio anterior [4]. Para chegarmos a ela, devemos acelerar nosso processo de aprendizado. Não me refiro aqui a escolas, mas sim ao modo como assimilamos valores e convertemos estes em vivência prática (conceitos e atos).

Se observarmos bem, com muita atenção, percebemos claramente que todas nossas definições, métricas e metas estão boas. Há porém um único problema (que acaba por derrubar tudo): não compreendemos o que definimos, distorcemos as métricas e somos incapazes de focar nas metas. 

"Ansiamos pela verdade mas somos incapazes de vivê-la."

    Frase retirada do filme O Rei dos Reis [5]. 

Tudo isso revela algo muito profundo. Basta observarmos com atenção. Basta pararmos um pouco, relaxarmos, sentarmos confortavelmente e observar as coisas.  Não há erro em nossos pontos, individualmente falando. O que existe é uma descoordenação entre os pontos, que leva a um estado de caos. Assim constrói-se a contradição permanente. Qualquer movimento individual que seja calcado na lógica individualista gerará expansão egoísta em função da compressão das adjacências. É mister que  os movimentos individuais sejam permeados de visão sistêmica; que a vida das pessoas, grupos e instituições seja conduzida por um pensamento sistêmico

Visão sistêmica = qualidade de enxergar as relações, o transformismo gerado por elas.

Pensamento sistêmico = qualidade de planejar, agir e reordenar baseado na visão sistêmica. 

Fig.2: É imprescindível compreender o que é ter visão sistêmica e pensamento sistêmico.

Já falei alhures dos porquês da necessidade de superarmos o capitalismo [2]. Não se trata de ditadura de partidos (ainda mais porque o que realmente há é ditadura de megacorporações, sustentadas por uma forma mental coletiva em deterioração), nem de equalizações de superfície, nem de masssificação de pensamentos (mesmo porque isso é o que já existe atualmente, sob o capitalismo turbinado), nem de tornar a sociedade 100% agrícola, nem de supressão da propriedade privada, etc. Trata-se de criar um forma de organização inteiramente nova, que expresse em alto grau o que um mundo de regeneração deverá ser. Essa forma de organização implica num novo sistema econômico e político. Ou melhor: trata-se de uma reordenação da participação coletiva e da lógica econômica. 

É preciso mudar a maneira de conceber o sistema-Terra, o sistema-Vida e o sistema-Humanidade (com sua noosfera nascente). E como esses estão relacionados (intimamente!).

Alysson Leandro Mascaro, da USP, explica formidavelmente o aspecto político, social e econômico.

Luiz César Marques, da Unicamp, descreve magistralmente o aspecto econômico, energético e ecológico.

Ambos se encontram no terreno econômico (que nos toca mais de perto). E apontam para uma nova filosofia de vida. 

Vídeo: O Socialismo é uma Alternativa atual? Entrevista de A. Mascaro a Breno Altman.

Os dois únicos pontos que a teoria de Mascaro precisaria incorporar são: (1) a visão espiritual, o princípio central que governa todo o Universo. Isto é, a visão monista de Pietro Ubaldi e; (2) a questão ecológica, com o tema da matriz energética, da entropia, do modo de vida equilibrado, etc. Ele já possui implicitamente espírito ecológico. Eu diria até monista, tendo em vista a sua elevada intenção e exemplo de vida. Mas ainda de forma difusa. Não deixa de ser uma grande alma que, se compreendida e coordenada dentro do grande esquema monístico do Universo, pode dar uma contribuição extraordinária. 

     Vídeo: Futuro do Planeta (Quem somos nós?). Entrevistando Luiz César Marques.

Quanto ao Luiz Marques, o único ponto a ser incorporado é o espiritual. Não se trata de atropelar toda sua brilhante contribuição, mas de enquadrá-la num esquema maior. Um esquema tão vasto que assombra muitos. Esse esquema é a Teoria Unificada de Pietro Ubaldi. 

Se essas duas almas (Mascaro e Marques) pudessem se reunir numa live e alinhar suas visões, criando uma interface entre os domínios abordados por cada um, teríamos algo fantástico. Posteriormente poderia ser dado um próximo passo: reuni-los (a visão unificada de ambos) com uma pessoa do porte de Gilson Freire ou Maurício Crispim ou Jorge Damas ou Júlio Damasceno. Com qual finalidade? De acoplar da melhor forma todas essas ideias. Trata-se de unificação

O monismo (ou visão espiritual-mística-teológica) absorve a questão ecológica, que delimita as diretrizes político-econômicas globais, que apontam para a cultura e natureza humanas - que percebem que devem ser transformadas (cultura) e superada (natureza mais baixa), para que toda essa hierarquia se forme, realimente e progrida. 

Não é difícil. Basta uma pequena abertura das partes. 

Há ainda na mentalidade das pessoas uma grande resistência a determinados conceitos - sejam ele nutricionais, políticos, religiosos, filosóficos ou ecológicos. É preciso forjar uma forma mental humana que seja capaz de compreender que palavras devem ser interpretadas à fundo. 

Um artigo recente de Luiz Marques revela o que quero dizer:

Fig.3: Entrevista com Luiz Marques pelo IHU [6]. 
Data: 28 de Julho, 2020.

Algumas observações do competente e equilibrado Sr. Marques apontam para a gravidade na situação:

“Em 2030 estaremos ainda mais distantes do que hoje dos dois primeiros dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: erradicação da pobreza e fome zero.pandemia é, em suma, uma gota d’água a mais num quadro muito mais amplo de erosão da segurança e da saúde humanas no âmbito de crises sistêmicas que se abatem sobre as sociedades contemporâneas”, constata." (grifos meus)

A pandemia é apenas um grande evento que possui gênese em causas profundas. Ela não é algo anormal se considerarmos nossa lógica de desenvolvimento. 

Fig. 4: Luiz César Marques trabalha em prol da evolução e do despertar do espírito - 
apesar de não falar sobre Deus, espírito e monismo. É uma pessoa de espírito monista sem sabê-lo. 

Há mais:

Luiz Marques defende que “a primeira e mais fundamental condição para atenuar e aumentar as chances de nos adaptar ao colapso socioambiental em curso é superar o capitalismo”. Assim, diz que é preciso abandonar a ideia de que o capitalismo é uma máquina que pode ser ‘educada’ para novos tempos. Mas é preciso calma. Segundo ele, não basta apenas inverter os polos e achar que a saída é o socialismo, ao menos como conhecemos. “A sociedade pós-capitalista será também uma sociedade pós-socialista, pois, do ponto de vista ambiental, o socialismo foi tão catastrófico quanto o é o capitalismo. A palavra socialismo tem ainda sentido no século XXI se, e somente se, for entendida como ecossocialismo”, sugere(grifos meus)

Nesse ponto é preciso alinhar o 'socialismo' de Mascaro com o 'Ecossocialismo' de Marques. A questão é colocar o sistema social em função do sistema ambiental (geosfera e biosfera). 

"Esse ecossocialismo “pressupõe abandonar a ideia, cara à tradição liberal, de que o Homo sapiens é redutível ao Homo economicus, uma criatura cuja ação se orienta pela busca de uma maior apropriação de bens e valores”

Se percebermos as ideias de Marques, nos daremos conta de que estão completamente coerentes com a visão de Sua Voz em AGS.

"Vossa ciência econômica acredita justificar-se – como se partisse de um originário princípio de justiça – afirmando, com sua premissa hedonística, a presença de um tipo abstrato de homo economicus, como se, na realidade, um aspecto pudesse ser isolado do outro e cada fenômeno não estivesse vinculado a todos os fenômenos na lei universal. Vossas ciências sociais se baseiam confortavelmente em qualquer mentira cômoda. Melhor seria enfrentardes a verdade, dizendo que, quase sempre, o homem, não apenas como uma hipótese econômica mas também na realidade, é um perfeito hedonista, como consequência da aplicação da sua natureza egoísta no campo dos negócios; que o do ut des não é um equilíbrio de direitos, mas sim uma avaliação de forças para um mútuo estrangulamento.

AGS, Cap. 92 (grifos meus)

O papel do Estado é igualmente importante nessa nova civilização:

"Na direção desta renovação só pode estar o órgão máximo da consciência coletiva: o Estado. Compete à autoridade central do Estado, como personificação integral da ética humana, inocular no fenômeno econômico doses cada vez mais enérgicas do fator moral, estabelecendo constrições e correções que purifiquem a atividade econômica e a riqueza, para canalizá-las em direção a objetivos mais elevados. Compete ao Estado intervir e corrigir, introduzindo um mínimo ético cada vez mais elevado no fenômeno econômico, dirigindo, interna e externamente, o árduo equilíbrio das permutas para um regime de colaboração, que não é apenas compensação, mas sim unificação de egoísmos; não apenas coordenação, mas sim fusão num organismo econômico universal."

AGS, Cap. 92 (grifos meus)

Vejamos algumas frases-chave proferidas por Luis Marques na entrevista citada:

"A perspectiva de um fim da humanidade se seculariza, isto é, deixa o domínio da escatologia religiosa, durante a Revolução Industrial" – Luiz Marques

O 'fim da humanidade' se concretiza a partir da ciência que analisa e projeta, da mídia que dá os meios das pessoas conscientes se informarem e conhecerem, e da escala dos atos da humanidade. 

"Nunca estivemos tão próximos da catástrofe e é, portanto, natural e mesmo inevitável que o tema do risco existencial venha ocupar o centro da reflexão sobre o destino da humanidade e mesmo da vida pluricelular no planeta" – Luiz Marques

Os riscos crescem e são reais. Mas apenas se apoiando no infinito e eterno teremos força e inspiração para superar essa fase e (quem sabe) salvarmos até boa parte do mundo material que foi construído, tornando a evolução menos dolorosa. 

"Estamos em vias de ultrapassar limites catastróficos de aquecimento global e evoluindo como sonâmbulos em meio à sexta extinção em massa de espécies e à liquidação da biodiversidade planetária" – Luiz Marques

Uma vida miserável é aquela que despreza a essência da Vida. Uma vida miserável é aquela que não quer evoluir nas ideias; que não quer compreender; que não quer integrar; que não quer se ater ao essencial, buscando avidamente superficialidades inúteis para o gozo imediato.

"O Brasil e os EUA, com seus governos criminosamente responsáveis por milhares de mortes evitáveis, mostram que a pandemia está ainda em uma fase ascendente" - Luiz Marques

Brasil e EUA se assemelham em termos de estarem embalados por políticas anti-sociais, cultura consumista e projetos de curto-prazo. Deveríamos nos apoiar em outros modelos - e nos inspirar em grandes almas. 

"A pandemia é certamente uma gota a mais nesse copo cheio de diversas crises convergentes, agindo em sinergia no processo em curso de colapso socioambiental" – Luiz Marques

A pandemia é um grande evento. Não é causa do colapso socioambiental. 

"Mesmo sem Trump, o mundo vai se tornando um lugar mais sombrio à medida que se reproduz o círculo vicioso de degradação ambiental que aprisiona o capitalismo globalizado" – Luiz Marques

Os líderes tem pouca influência no processo de degradação global. Porque a lógica sistêmica é quem dita os cursos da humanidade. Com ou sem presidentes destruidores, a rota permanece a mesma, pois se trata de algo mais profundo. Mudemos a forma mental que o resto mudará.

A economia global irá crescer. Porém será um crescimento cada vez mais artificial, dependente e destrutivo. Para crescer mais no efêmero, deve-se afogar mais na ilusão.

"capitalismo é uma máquina de acumulação e de reprodução ampliada de capital. É certo, portanto, que, passada a pandemia ou mesmo antes disso, haverá novos surtos de crescimento. O PIB da China, por exemplo, já voltou a crescer 3,2% no segundo trimestre de 2020, comparado com o mesmo período em 2019. Mas esses crescimentos serão, doravante, localizados, efêmeros e ocorrerão a taxas cada vez menores em relação ao passado. Essas taxas são claramente decrescentes após os chamados “trinta anos gloriosos” iniciados no segundo pós-guerra, como mostra o gráfico da Figura 2.

Fonte: [6] (grifos meus)

O gráfico citado reproduzo abaixo, para o leitor saber que não se trata de opinião, mas sim de constatação de fatos.

Fig. 5: PIB Mundial. Porcentagens de Mudança entre 1970 e 2011 
(ano a ano e médias por períodos (Fonte: Gail Tverberg, Our finite world, 18/VII/2012)

Percebem? Estamos caindo gradativamente em taxas de crescimento.

E os indicadores sociais aparentemente positivos locais escondem o fato de que a degradação da qualidade se dá em paralelo à manutenção dos indicadores econômicos:

"China e a Índia são as grandes e quase únicas exceções nesse quadro, mas são exceções efêmeras porque a economia de ambos os países não deve resistir por muito mais tempo às suas catastróficas situações ambientais. Mesmo nos poucos países em que o desemprego diminuiu significativamente ocorreu “uberização” e outras formas de deterioração qualitativa das condições de trabalho, com empobrecimento relativo e mesmo absoluto da grande maioria da população."

(grifos meus)

Por fim, LM destaca 'quatro imperativos inegociáveis e impostos com força de lei pétrea' centrais para uma transição menos brutal (os dados replico dos trechos iniciais, diretamente da fonte, ):

(1) Evitar uma ainda maior desestabilização do sistema climático, o que significa subordinar a economia, a política e tudo o mais à necessidade de que as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa retornem tão cedo quanto possível abaixo de 350 partes por milhão.

(2) Interromper a remoção e a degradação das florestas e demais biomas naturais do planeta e, na medida do possível, restaurá-los. Isso só será possível se reduzirmos drasticamente a dieta carnívora e se substituirmos o sistema alimentar globalizado e dominado pela agroquímica e pela finança internacional por um sistema agrícola livre de agrotóxicos e baseado na autossuficiência dos territórios.

(3) Construção de uma nova ordem jurídico-política internacional, de natureza democrática, capaz de coordenar o combate às principais emergências globais e no qual não haja mais lugar para a noção arcaica, irracional e militarista de soberania nacional absoluta. A humanidade tem que aprender a conviver pacificamente com ela própria, livre da tutela militar, e a compartilhar esse planeta com as demais espécies.

(4) Redefinição filosófica e espiritual da posição do homem no âmbito da biosfera, com abandono do antropocentrismo em favor do biocentrismo e de uma ecologia integral, nos moldes propostos pela encíclica Laudato Si’ bem como por diversos outros programas ecológicos que não sejam simples “capitalismo verde”. Para isso, é preciso maior engajamento da ciência na produção de conhecimento e tecnologia voltada para a viabilização dos três pontos acima. A política deve se basear em evidências científicas e a ciência deve assumir suas responsabilidades políticas.

(os grifos são meus)

'Redefinição filosófica e espiritual da posição do homem' é sem dúvida um movimento de aproximação à visão monista do Universo. Logo, para esses grandes pensadores, Deus passará a ocupar lugar em suas visões - e ocupará posição central, absoluta, transcendente e imanente , simultaneamente. 

A Encíclica Laudato Si' pode ser visualizada/baixada (pdf) na internet [7]. Ela é um marco na Igreja e mostra que pela primeira vez a instituição possui um líder à altura dos desafios globais. Basta que o corpo da Igreja e os fiéis também estejam com a mentalidade alinhada e o coração sensibilizado. Em suma: é preciso que o restante do corpo também desperte.

Há muitas pessoas publicando artigos de boa qualidade na internet que apontam para essa degradação acelerada. Uma autora, Jessica Wildfire, aborda o aspecto da decadência do modelo estaduindense [8]. São relatos de quem viveu e sentiu à fundo. De quem tentou vencer num modelo falido, e percebeu que não se trata de um fracasso de esforço humano, mas de uma desorientação completa da humanidade - que se plasma num sistema podre, que nos EUA age com toda sua brutalidade.

Há outras fontes que falam sob um olhar mais espiritual:

"Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não se verão nem milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural, no sentido comum que se dá a essas palavras.

Não olhem para céu, à procura de sinais precursores, porque não verão nada. E aqueles que lhe disserem que sim, estarão iludindo-os. Mas olhem em torno de vocês, entre os homens, é aí que encontrarão os sinais."

Fonte: [9] (grifos meus)

Dois olhares: um mais particular, outro mais geral. Mas tratam do mesmo problema e apontam para a mesma necessidade: MUDAR A FORMA MENTAL e SENSIBILIZARMOS.  

Os dizeres são muito claros e ribombam em minha alma:

"Vocês não sentem uma espécie de vento que sopra sobre a Terra e agita os Espíritos?  O mundo está em espera, como que preso a um vago pressentimento da aproximação de uma tempestade.

Entretanto, não acreditem no fim do mundo material. A Terra progrediu, a partir de sua transformação, deve progredir ainda mais e de forma alguma ser destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos.

Então, não é o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral: é o velho mundo, o dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que desmorona. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo acabará com a geração que se vai, e a nova levantará o novo edifício que as gerações seguintes consolidarão e completarão."

Fonte: [9] (grifos meus)

Tudo começa a se encaixar. É uma lógica perfeita que dá explicação a tudo. Mas acima de tudo: dá ânimo para quem anseia por um mundo melhor, mais sincero, mais eficiente, eficaz e efetivo. Aquece o coração daqueles que lutam e sofrem pela manifestação da vontade de Deus num mundo árduo e ainda ignorante.

Fig. 6: É preciso tomar cuidado nessa transição. Fonte: [10]

"A época atual é de transição. Os elementos das duas gerações já se misturam. Quem estiver de fora assistirá à partida de uma e à chegada da outra, e cada uma já está assinalada no mundo pelas características que lhes são próprias.

As duas gerações que se sucedem  têm ideias e pontos de vista opostos. Pelas disposições morais, mas, sobretudo, pelas intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo."

Fonte: [9] (grifos meus)

Esse contraste forte faz com que a tensão seja muito grande. E aponta para um momento de intensificação de conflitos, conforme eu desenvolvi anteriormente em outro ensaio [1]. 

Vamos concluir esse texto mostrando mais algumas características daqueles que estão preparando o terreno da Nova Civilização do Terceiro Milênio - e daqueles que insistem em permanecer na barbaridade do passado, que intensifica a luta presente.

"A nova geração deve fundar a era do progresso moral e se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, reunindo ao sentido inato do bem crenças espiritualistas, o que é o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas por aqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a ajudar o movimento regenerador.

Ao contrário, o que distingue os Espíritos atrasados é, antes de tudo, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de todo poder superior à Humanidade. Depois, é a propensão instintiva para as paixões degradantes, pelos sentimentos antifraternais de orgulho, de ódio, de inveja, de cupidez, enfim, a predominância do apego por tudo o que é material."

Fonte: [9

Cada um pode fazer uma auto-análise de alma e se classificar como um ou outro. Ou seja, aqueles que ficarão e aqueles que serão convidados a ajudar almas mais atrasadas, em pontos desagradáveis do Universo.

O tempo que resta deve ser usado para essa decisão: em que mundo queremos viver? o que é vital? o que é supérfluo? o que é deletério? 

Eu quero ter acesso a ar, água, alimento, abrigo e afeto (todos de boa qualidade). Desenvolvidos cada um ao máximo, em todas suas ramificações. Eu quero estar mais próximo a Deus. E devo trabalhar para isso então. Porque a recompensa será a construção do paraíso no interior do ser - indestrutível, portanto.

E assim, quem perseverar, ao final dessa longa jornada, poderá descansar (e evoluir) em porto seguro, num mundo muito mais apto ao trabalho real...

Fig. 7: O fim de uma jornada marca o início de um novo ciclo. Há de ser glorioso...
Fonte: Analogicus (Pexels)

Amém!


P.S.: Abaixo um documentário que dá uma ideia da transformação pela qual estamos passando:


Referências:

[1] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/10/ponto-decisivo.html

[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2021/05/socialismo-sonho-ou-destino.html

[3] https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/metas_desenvolvimento_milenio.pdf

[4] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2021/06/a-ponte-entre-tecnica-primorosa-e-o.html

[5] https://www.youtube.com/watch?v=iE5WkXT2Anc

[6] http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/601328-pandemia-evidencia-a-emergencia-de-superar-o-capitalismo-e-conceber-outro-socialismo-entrevista-especial-com-luiz-marques

[7] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

[8] https://aninjusticemag.com/were-out-of-time-to-prevent-our-own-extinction-7b6658d9e675

[9]  https://www.vademecumespirita.com.br/regeneracao+da+humanidade.aspx

[10] https://pt.slideshare.net/gracinha45/regenerao-da-humanidade

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