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A presença subterrânea da força (bélica, econômica, psicológica) enfraquece a potencialidade de qualquer conversa no plano elevado das idéias.
As conclusões serão incompletas,
frouxas e
podadas - assim que se apresentarem alternativas REALMENTE novas.
É o mundo, é a vida...
Foi assim, é assim.
Mas não precisará ser sempre assim.
Porque "a rentabilidade do passado não é garantia de rendimentos futuros"
Nem "a falta de rentabilidade do passado é garantia de fracassos futuros"
Não é o que os financistas dizem?
E...por quê na vida seria diferente?
Senão, para que trabalhar, para que se indignar, para que viver?
Para que? Para quem?
Para quem...
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Revolução dos Cravos (Portugal, 1974). Quando soldados e povo afirmaram em uníssono. O ideal toma forma. Por um átimo, mas toma. |
O
consenso afirma existir liberdade em nosso mundo ocidental
democrático. Pelo menos é essa a idéia que os meios de comunicação
mais lidos, vistos e ouvidos apregoam a milhões de ouvintes (ou devo
dizer, consumidores?).
A
princípio, se observarmos como as relações se tecem, podemos
atestar a veracidade desta afirmação. Em seguida, se observarmos
mais atentamente (ouvindo quem nunca foi ouvido, nos colocando no
lugar de outros e vivendo outras realidades), percebemos que essa
primeira concepção de liberdade parece contradizer as atitudes que
tomamos – norteados pela mesma. Melhor dizendo: tomamos decisões
baseados em como o mundo reagirá a elas. Mesmo que afirmemos o
contrário, nos damos conta que estamos mascarando - por medo de
sermos incapazes de sustentar nossos mais profundos sentimentos. Nos
norteamos mais pelo exterior do que pelo nosso íntimo. Pelo dinheiro
mais do que pela realização pessoal.
É
claro que o mundo se transforma: há muitos jovens que ousam escolher
carreiras baseando-se na realização pessoal e menos nos benefícios
e reconhecimentos externos. Mas a realidade ainda tem peso. E esse
peso emerge ao longo dos anos. É aí que somos colocados à
prova.
O
idealismo de muitos jovens se esvai ao longo dos anos. A imponente
inércia do mundo, presente e operante, ancora a pessoa a certos
comportamentos. Indivíduo após indivíduo, crença após crença,
valores após valores, cedem à massa do pensamento predominante. O
que é justo, belo e certo é ditado pela força numérica. O
objetivismo esmagando subjetivismo. Leis estabelecidas por força do número.
Diferenças aceitas somente até o ponto que comece a abalar o
establishment. Mas todo progresso iniciou-se com abalos profundos
– a nível individual primeiro, seguido pelo coletivo. É
nesse momento de tensão entre mundo e ser que poderemos rever nosso
conceitos. E - infelizmente - dificilmente poderemos expor esses
problemas. Pelo menos no mundo atual, com sua forma mental voltada
para o exterior.
Existe
um empecilho fundamental à rápida evolução de nosso mundo: a
assimetria das forças.
A moça de vermelho. Sem medo, cheia de determinação. Focaremos no arrefecimento do que se imaginou, OU nas possibilidades que começam a florescer na humanidade? |
A
hierarquia presente nos governos, nas empresas, nas famílias, e até
nos meios sociais silenciam milhares de seres cuja concepção de
mundo dilatada é impedida de se manifestar. Na grande maioria das
vezes esses seres sentem uma verdade muito profunda - não exposta,
não lidada, não admitida - e comprovam suas idéias através de
anos de observação. Tudo se encaixa. Mas são incapazes de
transmitir em palavras - seja oral ou escrita - tal ordem de idéias.
Conceitos tão profundos que escapam à capacidade de compreensão do
mundo, que relega-os aos porões da indiferença. E mesmo conseguindo
expor claramente, seus métodos não são aceitos. E jamais serão,
pois esses conceitos não dependem de habilidades argumentativas, e
sim de um sentimento pessoal – renasce o poder do subjetivismo. Daí
o ser diferente conclui: quem
é incapaz de conceber outras formas de vida é cego aos milagres (e
às possibilidades) que operam todo dia diante de seus olhos.
Quando
estamos diante de um sistema de hierarquias precisamos conter certos
impulsos. Atitudes que mesmo visivelmente maduras colocam todos nus
diante de si mesmos. Da base ao topo. E o topo e o baixo,
preso à forma mental hierárquica, se ofende com essa
"insubordinação" do ser que ousou apresentar sua idéias
e seus sentimentos em relação ao mundo. Mesmo que de forma clara,
pacífica e sincera.
O
ser que sentiu o milagre da vida, chegando à solução conceptual
dos últimos problemas, via síntese, é incapaz de abandonar os
conceitos adquiridos. A não ser que esteja equivocado. Mas expondo a
idéia à arena e sofrendo todos assaltos do mundo é possível
testá-la. E se o mundo é incapaz de mostrar algo melhor,
simplesmente soltando uma saraivada de negações (incompreensão)
baseado numa realidade, a idéia só é reforçada. Eis o experimento
mais fascinante do Universo. O ser pode se calar e retrair, mas sua
mente jamais acatará os métodos do mundo. Vitória aparente deste,
e maior dor e maturação daquele. Maturação esta que levará à
transformação substancial da personalidade do ser.
O
problema não são as hierarquias em si, e sim a falta de liberdade
que elas impõem à humanidade.
A não ser que se trate de uma hierarquia divina, absoluta e justa -
que não é o caso, já que nosso mundo se encontra em constante
transformação,
dada sua relatividade.
Para
deixar a gravidade do caso mais clara exponho um exemplo prático.
Vamos
supor que numa organização existam seres com variadas idéias. E
que exista um particularmente cujas inclinações e gostos difira
enormemente da maioria. E que esse ser vá revelando isso ao longo
dos anos. Chegar-se-á num ponto em que numa roda de discussão
pessoas de alto escalão possam ouvir e participar de uma conversa
com esse indivíduo. Mas diante de um mesmo problema em que se
considera que todos entrem num consenso geral, esse ser, se possuir
personalidade verdadeiramente forte, tenderá a investigar à fundo
essas verdades consolidadas, desmascarando-as, revelando possíveis
contradições. Choque, indignação e medo. Abalou-se uma ilha de
solidez do mundo. E se ele insistir em seu ponto, os ataques começam.
Incessantemente. Cada vez mais criativos e fortes. De surpresa. Eis a
prova mais titânica do mundo. Tensão aguda. Pressão que, se
suportada sabiamente até uma (primeira) barreira, torna-se conquista
interior.
O
primeiro ímpeto desse ser é restringir seu público ao âmbito
pessoal: apenas aqueles hierarquicamente próximos serão passíveis
de conversa. E a circunstância. Isso é vital para que o
aprofundamento seja minimamente possível. Entra-se no campo da
subjetividade humana. Trabalha-se com o desconhecido, com o
íntimo, com as causas profundas dos fenômenos. Tarefa laboriosa
e aparentemente sem sentido. Apenas quem sentiu os milagres da vida
tem a energia e determinação em levar essa jornada adiante. E tanto
mais longe irá quanto maior sua maturação interior. Até às
últimas conseqüências – caso de Cristo e Sócrates.
Cena de "Capitães de Abril" (2000). Antônia (Maria de Medeiros) conversa com o capitão Salgueiro Maia (Steffano Accorsi). |
Essa
assimetria de forças pode ser claramente sentida no julgamento de
Sócrates, quando a elite de Atenas condenou-o no mundo sem no
entanto vencê-lo no campo das idéias. O que se traduz nessa
realidade: o mundo, com
toda sua inércia e peso material, quando diante de uma
espiritualidade mais luminosa do que suas trevas, fará o possível
para anular seus efeitos, matando seus emissores.
No entanto o que morreu foi apenas um corpo. A idéia está presente.
Fixada no solo subterrâneo, florescerá ao longo dos séculos. Cada
vez mais forte, cada vez mais elaborada.
Essa
assimetria permite que a ignorância e o conservadorismo imperem
muito além do tempo necessário.
Quando
duas pessoas sustentam duas idéias diferentes e estão diante de uma
autoridade - que apóia uma delas - a tendência será a seguinte:
quem concebe mais e está vetorialmente oposto ao poder, deve se
limitar a não manifestar toda sua visão e potencialidade. Pois se
demonstrar isso, estará ofendendo o establishment.
Logo, deve ceder, deixando o outro “vencer” na arena da
argumentação. Uma “vitória” apoiada na força do mundo. Uma
vitória que vence apenas com uma pressão econômica (perder o
emprego) e psicológica (perder o emprego, os colegas, os contatos, a
voz,...). Logo, uma pseudo-vitória.
É
o ser contra o mundo. O mundo contra o ser. Não pela imposição
deste àquele, mas apenas porque o indivíduo solitário ousou ir
além, e cada vez mais, vendo-se diante de negações sucessivas.
Quem estabeleceu a cisão foi o mundo, não o ser. Este está aberto
ao diálogo profundo. Aquele vê nisso uma artimanha de embromação.
Será? O tempo revelará...
Numa
vivência assimétrica nunca haverá lugar para o pleno
desenvolvimento. Quem perde são todos. Ninguém irá além do que é
admitido. Todos são educados (adestrados) a não "desrespeitarem"
a "ordem" estabelecida. Resultado: muitos indivíduos se
fecham e vivem a sua vida. Aceitam quem estiver disposto a conversar;
aceitam uma crítica sincera; aceitam conviver. Mas jamais deixam de
crer e pensar gratuitamente, por conveniência. Mas o mundo não quer
ser convencido. Deseja uma falsa evolução. Uma transformação
aparente, da forma. Porque trabalhar a substância é doloroso além
da conta. É um trabalho tão profundo que pode resolver os problemas
do trabalho na superfície – aquele tido como o único existente.
Você,
descrente nos métodos do mundo, deseja mais sinceridade, mais
abertura, mais liberdade, mais segurança, mais felicidade? Então
não vejo outra alternativa: difunda as idéias diferentes. Viva,
experimente, ame no aspecto mais amplo. Com isso teremos forças para
difundir verdades profundas. Cada vez mais.
E
assim iniciará a maior revolução de nossa orbe: a nossa interna.
E
com ela, a do mundo.
Filmografia recomendada
>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Capit%C3%A3es_de_Abril [sinopse]
>> https://www.youtube.com/watch?v=7cfPk3_rZxY [trecho]
Filmografia recomendada
>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Capit%C3%A3es_de_Abril [sinopse]
>> https://www.youtube.com/watch?v=7cfPk3_rZxY [trecho]
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