[OBS: texto escrito em 2013]
Quando olhamos para o
mundo ao nosso redor formamos opiniões e propostas para
transformá-lo. Seres humanos são assim. É de sua natureza. E essas
opiniões (e propostas) dependem do modo como olhamos para o mundo e
– nós mesmos.
O tema sempre vem à
tona: Sensibilidade versus Atuação [1]. A percepção dos fenômenos
sutis é capaz de gerar uma satisfação interior que desencadeia um
fluxo de energia que tende a ser canalizado para atividades e modos
de pensar construtivos. E pode-se dizer com segurança que o maior
poder de um ser reside em sua capacidade de utilizar essa percepção
extra-sensorial. À medida que esse potencial se desenvolve, a pessoa
tende a se tornar calma. E igualmente independente das mazelas que afligem a
imensa maioria da humanidade. Esse é o lado positivo.
O lado negativo é a
enorme resistência da ordem estabelecida de reconhecer esse
potencial. Não encontramos ainda em nosso globo uma entidade com
poder financeiro que tome medidas efetivas para desenvolver cada ser
em sua plenitude – existem algumas que começam a criar condições
para que as pessoas se deem conta de seus poderes latentes, mas ainda
são raras.
Nada me assusta mais do
que observar as pessoas nas ruas, nos escritórios, nas salas de
aula, nas reuniões, nos jantares de família, nas festas,...e
perceber que a grande maioria das pessoas tem relações de
proximidade física (espacialmente) e, no máximo, conversam sobre
assuntos que devem (e podem) ser conversados. As Regras do Jogo, se seguidas ao pé da letra, podem com certeza evitar que o Ser garanta seus teres. Desde o corpo, a saúde e a reputação até o emprego, a sociabilidade e as garantias de oportunidades.
E assim passamos anos ao lado de pessoas sem conhecê-las de verdade.
E vice-versa.
E mesmo assim emitimos
uma série de julgamentos a respeito delas. E – felizmente – a
culpa não é nossa. Ou melhor...ela é sim. Mas não no sentido que
a maioria das pessoas imagina. Existe uma culpa que jaz subjacente à todas aparentes causas, e que por isso mesmo é de difícil investigação (pesquisa). Uma tarefa que leva à assimilação (estudo) e posterior confrontação com o já existente. E depois de muitas tempestades espirituais - interiores - brota a compreensão. As portas para a evolução efetiva são abertas.
Incômodo -> Investigação -> Assimilação -> Confrontação -> Compreensão
Quanto mais pessoas passam por esse processo, menos tenso os ambientes se tornam, e mais "milagres" acontecem. Depositamos confiança por auto-conscientização.
Quando aceitamos um
sistema, uma forma de pensar e um modo de conduta, e passamos a
conduzir nossas vidas em função dele, - na maioria das vezes sem
pensar sobre o porquê de tudo isso – o que ocorre é que, quando
observamos pessoas que questionam e até combatem (elegantemente e pacificamente) esse sistema, forma
de pensar e modo de conduta, – baseados no raciocínio e no
sentimento – nos indignamos e declaramos uma
guerra contra esses seres “rebeldes” (ou “retardados” ou
“utopistas” ou “infantis” ou coisa do tipo ou tudo isso
junto).
A grandeza da alma se mede com unidades metafísicas. As dimensões e o tempo, por maiores que sejam, jamais poderão abarcar a consciência florescente. |
Muito dos males que vem
para os cidadãos “do bem” foram causados indiretamente pelos
próprios, que parecem ignorar a História. Isso é duro de escutar e dizer. Mas não digo de graça, isto é, por vingança ou ódio ou preconceito. Digo após anos de constatações profundas e investigações interiores, fazendo uso do conhecimento para chegar à essência da Vida. Pura coordenação de saberes com o intuito de me libertar de equações filosófico-teológicas que não fechavam. Basta nos lembrarmos que
a abolição da escravidão no Brasil (em em todo mundo, em maior ou
menor grau), de certa forma, não chegou ao fim, pois para
eliminar por completo os males causados por ela precisaríamos
reparar suas causas desde a raiz. Ou seja: criar mecanismos que
possibilitem uma disputa em pé de igualdade entre cidadãos de
classes sociais, etnias e culturas diferentes. Não me refiro apenas aos métodos artificiais-imediatos, mas numa reflexão interna que nos faça reconhecer o nosso preconceito - manifestado de forma tão sutil a ponto de nos acharmos anjos.
O argumento de que
“todo mundo é igual” já pressupõe que as oportunidades e condições sempre foram assim. Pois o que é e apenas é, sempre foi e será, além de ser. Mas sabemos que tudo se transforma.
O fato de um povo, grupo, cultura, espécie se encontrar intelectual ou espiritualmente acima de outra não justifica o abuso desta por aquela.
O homem possui intelecto desenvolvido e uma intuição ainda nascente, ao contrário dos animais e vegetais, puramente e perfeitamente sensórios. No entanto isso não torna os mesmos passíveis de abuso. Porque o excesso é tão ruim para aqueles que são privados (explorados) quanto para aqueles que extraem (exploradores) do meio além do seu necessário-essencial.
Quando a consciência brota o intelecto se reorienta.
Praticar uma
desigualdade por séculos e após isso “equilibrar a balança”,
dizendo que agora as oportunidades são iguais, é um atentado contra
o bom senso. E moralmente deplorável. Há necessidade sim de criar
mecanismos “desiguais” (desiguais localmente, iguais globalmente,
na minha opinião) para reparar o mal feito. Ao menos durante determinado tempo, em situações emergenciais. Mas a questão principal é reconhecer a ignorância cometida por povos e culturas ao longo da história. Muitos se esquivam disso porque os indivíduos, - e logo a humanidade - até o presente momento, ainda não aprenderam a conversar sobre assuntos que demandam profundidade de sentimento e vastidão de visão, adotando uma visão estática no tempo e relativista no conceito.
Eis porque a marcha do progresso é lenta: buscamos (pseudo-)soluções via equações, teorias, metodologias e literatura no campo mental; ou distrações circulares via entretenimento em forma de Arte no campo sentimental; ou satisfação além-da-conta de instintos (sexo compulsório, drogas, "trabalho" excessivo e vazio, álcool, fumo, lutas, violência psicológica, econômica, física) no campo físico-material.
A solução está em saber quem você é (autoconhecimento) para orientar adequadamente seus saberes e buscar os mais adequados para seu Ser. E com isso fazer uso da Arte como entretenimento - e não do entretenimento como Arte. E naturalmente, se desprender daquilo que aprisiona. Com isso as distrações passam a ser espirais, combinando o prazer de se descobrir com as ascensões.
Crer que nossa existência está totalmente desconexa com o que acontece a 5 mil quilômetros com um povo de
etnia e cultura diferente, sem ligação hereditária com nós ou
nossa família, é tão irresponsável quanto um policial espancar um
indivíduo pobre – tido como "vagabundo"; ou um homem de negócios implementar um plano de corte de custos para a "sobrevivência" (das cifras ilusórias); ou um político se vender para
representar interesses que não coincidem com o de seus eleitores.
Mas voltando ao cerne
da questão, eu tenho cada vez mais segurança em afirmar que é
preciso combater nosso medo de estabelecermos contato com as pessoas
que estão ao nosso lado.
Mas – como eu dizia –
o problema é o que devemos combater. Não são os outros, e sim o
sistema sustentado (inconscientemente) por muitos e muitas. E antes disso, a nossa forma mental. E não vejo outro caminho a não
ser a conscientização e a coragem em defender sua postura. Mas
ambos devem andar juntos: conscientização e coragem. De modo que à
medida que a pessoa perceba como realmente as coisas funcionam e são, maior sua determinação em buscar meios (estudo, vivência, conversa,
habilidades, trabalho) para transformar sua realidade, se libertando das correntes da escravidão para começar o trabalho de ascensão.
Por mais que avancemos
nos inventos e teorias, o Universo sempre nos englobará pela matéria.
Se nos conscientizarmos de nossa razão-de-ser, teremos o Universo à nosso favor, na palma da mão.
Referências
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/10/sensibilidade-versus-atuacao.html
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