No Evangelho, a parábola dos trabalhadores de última hora é muito interessante. Dentre os que a leram, poucas compreendem seu significado profundo. E isso é compreensível, pois se trata de um tema que deve ser absorvido a partir de uma perspectiva das intenções, e não das realizações. É - como todas parábolas - uma parábola decifrável apenas a partir de visões qualitativas aliada a análises quantitativas.
Existem questões que a razão não pode desvendar porque a (super-)lógica envolvida para a solução dos mistérios da vida e da evolução exigem métodos diferentes. Isso significa que não podemos compreender algo simplesmente baseado em fatos, objetividade e análises. Muito menos chegar a uma verdade através de argumentação. Explico.
Conhecer uma miríade de coisas não nos torna pessoas conhecedoras de como funciona a realidade - estou falando da realidade superficial que atinge nossos sentidos. Podemos assistir e ler jornais; conversar horas a fios com nossos colegas mais próximos e familiares; programas nossos eletrônicos para nos informar dos emails, telefonemas, acontecimentos, vídeos a assistir e etc.; podemos até ler muito. Mas tudo isso não garante que sejamos verdadeiros conhecedores. Essas coisas nos informam. Nos dão fatos. Ou ideias a partir de um determinado ponto de vista - portanto, relativas. Ideias que progridem no tempo, à medida que a humanidade evolui, ou seja, desperta a consciência.
Cada fonte (de informação) possui seu interesse ao divulgar algo ou sugerir uma ideia. Pode ser ter muitas visualizações (YouTube); ganhar 'likes' (Facebook); ganhar ibope (grandes aglomerados de comunicação, ou pessoas físicas); garantir controle de mentes (idem anterior); garantir uma renda (idem); e por aí vai. Acho que dá para captar o ponto. Se algo é divulgado com intenção que não seja despertar a consciência (=evoluir), então essa informação já contém em si um vício. Aquele que capta e absorve entra numa engrenagem: está aderindo a algo relativo mentalmente. Torna aquilo absoluto através de repetições mentais. Sua perspectiva de mundo fica viciada. E a partir daí o foco é reforçar aquela narrativa - uma narrativa sugerida pelo meio.
A sabedoria se obtém a partir do momento em que essas informações (que geram conhecimento) são usadas para tornar as pessoas melhores. Mas para sermos sábios precisamos ver mais do que nossos sentidos apontam e ir além do que nossa mente pode analisar. É preciso sentir.
É preciso ter fé - isto é, dar um salto consciente no abismo do desconhecido.
É preciso perceber que o passado deve ser superado - e não reproduzido.
É preciso sentir que o futuro não é uma extrapolação do presente - e sim uma geração do divino.
Falo tudo isso porque, antes de começar minha breve visão, gostaria de deixar o leitor no clima adequado, preparando-o para aproveitar melhor a visão.
Fig. 1: "O reino dos céus é como a um proprietário que saiu de manhã para contratar trabalhadores para a sua vinha."
= Através de Deus, o S envia suas oportunidades manifestas para que os caídos no AS reconstruam sua perfeição perdida.
Como se sabe, o senhor da vinha foi buscar trabalhadores para trabalhar em seu vinhedo. Combinou com os primeiros que encontrou, logo no início do dia, um denário pelo dia de trabalho. Ao longo do dia - resto da manhã, início e meio da tarde, e final da tarde - encontrou outros tantos trabalhadores. Ao final do dia, começou por pagar os que chegaram por último. Todos receberam o mesmo denário.
Do ponto da vista de justiça humana, é errado pagar alguém que trabalhou menos horas o mesmo que outro que trabalhou muito mais. Os trabalhadores que suportaram o sol e calor receberam o mesmo soldo do que aqueles ficaram apenas uma hora, sujeitos ao tempo fresco do fim de tarde. Doze horas longas versus uma hora tranquila. Mesma remuneração. Justo? Se observarmos com cuidado, sim.
Quando o senhor percorre os campos em busca de trabalhadores, ele dá a oportunidade de trabalhar àqueles que estão sem nada fazer. São as pessoas que não estão fazendo absolutamente nada, ou seja, estão em ócio puro - e não ócio criativo. Quem deseja saber sobre isso veja a definição de Domenico de Masi [1].
Há muitas pessoas que desejam trabalhar e não podem. Buscam oportunidade mas não encontram nenhuma. E quando falo trabalhar, me refiro a empregos decentes, que sejam úteis à sociedade porque criam valor (cultura, ideias, produtos e serviços necessários, produtos e serviços sustentáveis, inspiração).
O senhor da vinha deve ser visto como Deus - Aquele que oferece o melhor a seus Filhos. Oferece oportunidades de crescer. São momentos que surgem ao longo da vida e devem ser aproveitados para crescimento, ganho de experiência, geração de valores - em todos sentidos. Não aceitar essa oportunidade é um mal não ao Criador, mas à criatura. Porque Deus só oferece o melhor - para retornarmos a ele. O caminho, na maioria das vezes, pode parecer árduo. E é. Mas isso é porque pensamos no curto prazo.
Igualamos gozo a felicidade.
Igualamos barulho a importância.
Igualamos aparência a substância.
Igualamos ter a ser.
Fazemos isso inconscientemente. Porque está ainda preso em nosso passado consolidado (instintos). São tendências a serem superadas. Ou seja, tudo de importante está invertido, pois nos encontramos no Anti-Sistema (AS).
Se formos observar da perspectiva puramente factual, iremos classificar a parábola como absurda - ou seja, injusta e consequentemente inútil. Mas o problema está em nosso baixo grau de consciência, e não nas escrituras sagradas.
Muitos desejam realizar seus potenciais mas não encontram oportunidade neste mundo. Temos um sistema que não funciona mais para o ser humano. Isto é: não funciona nem para obter o mínimo de utilidade evolutiva para a espécie. No entanto, o sistema de Deus é perfeito, e sempre rega o Universo de chances. Basta captarmos as vibrações. Para captar, é imperativo se sensibilizar.
Fig.2: É no interior que reside a solução dos enigmas exteriores.
A palavra-chave aqui é intenção. Aquele que tem boa vontade; aquele que busca; aquele que é sincero. Aquele que procura tornar cada gesto e ato de sua vida num serviço à evolução merece tanto quanto aquele outro que realiza essa mesma busca mas encontrou sua vocação antes. Perceberam a ideia? Se trata de intenção, não de execução visível.
As intenções são lidas na intimidade - Deus lê nossas intenções.
As execuções são lidas pela mente - são visíveis e avaliadas por nós.
"Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos." Mateus, 20:1 a 16.
A inversão (primeiros-últimos) é a mensagem de que todo o nosso Universo (Anti-Sistema) será reabsorvido no Reino de Deus (Sistema); de que todo mal será retificado; de que toda dívida será paga; de que tudo que se prioriza será deixado como aspecto menor, ao passo de que tudo que é desprezado ganhará prioridade. É mudança de foco.
Os chamados são os convidados a participar da obra de (re)criação contínua. É a oportunidade oferecida pela Lei.
Os escolhidos são aqueles que atendem o chamado.
Pouco valor se dá ao verdadeiro trabalho oferecido: o trabalho de criar o melhor de si mesmo.
Trabalho oferecido pelas forças do Alto através das circunstâncias da vida.
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