Existe
uma grande desvantagem e uma grande vantagem em ter um gosto
cinematográfico diferente da média. A grande desvantagem é que
você dificilmente poderá assistir um filme no cinema que atenda
suas expectativas – a não ser que você more numa cidade como São
Paulo ou Rio de Janeiro, e tenha tempo (e dinheiro) para frequentar
cinemas onde a diversidade abunde e os temas sejam enriquecedores
para a sua alma. Agora, a grande vantagem é a seguinte: quando nos
deparamos com um filme fantástico, de qualidade, somos capazes de
sentir a grandiosidade dele e saimos da sala emocionados e mais ricos
em experiência e repensando a vida e tudo mais. É um prazer que
muitos ainda não conseguem ter. E é esse prazer que eu senti quando
saí do auditório do SESC após ter visto o filme “O Concerto”
(Le Concert) do já consagrado diretor romeno Radu Mihaileanu*.
"Le Concert" (2009) |
A trama
é bem simples. Um já aposentado maestro da orquestra do teatro
Bolshoi, Andrey Simonovich Filipov, cuja carreira pública foi
interrompida precocemente, – sua mente era muito aberta para o
regime autoritário vigente... – vê a oporunidade de reviver seus
dias de glória quando acidentalmente intercepta uma carta endereçada
ao novo dono da Orquestra.
Assim
que o zelador (que triste destino...) Filipov lê a carta vinda
diretamente do “Théatre du Chatelet” de Paris, sua mente começa
a maquinar um plano de proporções Homéricas sem precedentes em sua
vida. Um plano que fará ele e sua antiga orquestra constituída de
músicos judeus e ciganos (os melhores no 'métier', também
desempregados ou com sub-empregos) voltarem a sentir o prazer de
tocar para o público. E para um retorno triunfal, nada mais adequado
do que o Concerto de Violino de Tchaikovsky em Ré maior.
Os
preparativos começam a envolver cada vez mais gente. Antigos colegas
recebem telefonemas do famoso maestro. Os colegas vão se revendo. O
plano se espalha e começa a tomar forma. E com a orquestra oficial
ocupada com outros assuntos por um tempo, não há tempo a perder.
Falta apenas a peça final. E ela está em Paris.
A famosa
violinista Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent) nunca tocou o
Concerto de Violino em Ré maior de Tchaikosky por um medo
inexplicável – que será revelado oportunamente no filme. Mas tem
um ardente desejo de tocá-lo. Com a Orquestra do Bolshoi. Sob a
regência de Filipov. Tudo converge para um espetáculo sem
precedentes e a partir desse ponto humor, emoção, sentimentos e
técnica se misturam para arquitetar o maior espetáculo sonoro das
últimas décadas. Em Paris. Em Berlim. Em Londres. Em todo o mundo.
A
estruturação do filme é perfeita. Uma espiral ascendente permeada
de problemas e dificuldades é vista. E nunca se sabe se o tão
esperado concerto dará certo. Preconceitos, medos e fantasmas do
passado conspiram para o sucesso do plano de Filipov. Mas no decorrer
da história o espectador percebe a causa de tamanha determinação
do ex-maestro. Seus motivos vão além de sua profissão. Ele quer
ter uma segunda chance. E...não vou me estender no assunto
(recomendo que veja o filme. É MUITO BOM).
Assistir
“O Concerto” é uma emoção ímpar. Se trata de um filme
multicultural. O espectador poderá ouvir a língua russa, o inglês
e o francês; se verá diante dos hábitos, maestrias, vícios e
charmes de diversas culturas: hebraica, cigana, francesa, russa,...;
conhecerá os diversos tipos de pessoas. Resumindo, terá a
oportunidade de ver um mosaico em forma de película.
Poucas
vezes na minha vida posso dizer que saí de uma projeção me
sentindo elétrico e emocionado. Feliz. Estava emocionado com um
final tão bem feito que repensei a cena final e os detalhes dezenas
de vezes. Era fantástico. É fantástico. E sempre será fantástico.
Esse
filme, além de divertir, induz ao questionamento das instituições
e mostra o eterno desejo humano de fazermos aquilo que mais
desejamos. Foi a melhor introdução que uma pessoa poderia ter a um
dos concertos mais famosos de todos os tempos.
“O
Concerto” é a prova concreta de que diversão, sentimento e
crítica podem caminhar de mãos dadas.
Ficha
completa
Trailer
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