“Talvez
nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que
organizam fóruns e conferências, que servem muito às cadeias
hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não
reúne ninguém e transforma em decisões...”
José
“Pepe” Mujica
José "Pepe" Mujica discursando na ONU. |
Nunca
imaginei que houvesse alguém assim hoje em dia, ocupando um cargo de
poder.
Abri uma
revista para ler algumas matérias. Uma delas era sobre o (crescimento do) ateísmo nos últimos anos no Brasil. Várias personalidades eram
destacadas. Dentre elas um cara chamado José Mujica, o “Presidente
mais Pobre do Mundo”. Do Uruguai.
Peguei o
trecho que falava sobre ele e comecei a ler. E os fatos começaram a
causar verdadeira perplexidade seguida de admiração: o
presidente-agricultor não tem conta bancária nem dívidas; seu
patrimônio e o de sua esposa somam US$ 212 mil e suas posses
consistem em três terrenos, três tratores e dois carros de 1987 –
dentre eles um fusca azul, o seu carro, avaliado em US$ 1.000*. Não
mora em palácios, e sim em seu sítio, Rincón Del Cerro, onde
sempre viveu. E isso é só uma parte da história
Dos US$
12.500 que recebe de salário, fica com apenas US$ 1.250 e doa os 90%
restantes para ONGs que constroem casas populares. E pelo perfil
judicioso e modo de discursar de Mujica **, eu tenho segurança de
que esses US$ 11.250 mensais vão exatamente para as pessoas que ele
deseja ajudar. Dessa forma, fazendo jus à máxima mais alta de
Cristo (“Fora da Caridade não há Salvação”), José Mujica
pode ser considerado um dos pouquíssimos cristãos – no verdadeiro
sentido da palavra – ocupando um cargo de poder em nossos tempos
conturbados. Mesmo sendo ateu. Porque, afinal de contas, isso não
quer dizer nada. Mujica acabou de comprovar isso.
A
respeito do salário que resta, o presidente afirma:
“Este
dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que
vivem com bem menos”***
Não
existe segredo em sua atitude. Apenas conscientização. Uma noção
profunda de que o excedente não irá melhorar sua qualidade de vida.
E que muitas pessoas muito capazes – que não tiveram a devida
oportunidade – podem gerar mais para a sociedade graças a essas
doações.
“A
espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que
superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas
que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses
imediatos que nos governam e nos afogam.”
Nessa
frase Mujica demonstra a importância de pensarmos a longo prazo como
indivíduos e como corpo coletivo. Os interesses imediatos que nos
governam e afogam são os modernos cultos à tecnologia, ao corpo,
aos prazeres imediatos e visíveis, ao dinheiro fácil, às
“amizades” fáceis, aos relacionamentos fáceis,...A tudo fácil
e sem necessidade de pensar e lidar com o diferente e refletir e isso
tudo junto.
Talvez
os anos tenham trazido sabedoria a Mujica. Mesmo assim, é
impressionante. Sua vida simples parece demonstrar o tipo biológico
do futuro. É como uma visão de um outro mundo. Um mundo melhor. Um
mundo feliz. É um ser que, dada a oportunidade de TER muito mais,
preferiu SER muito mais, dando o muito mais para os que realmente
precisam. Isso é algo muito próximo – se não exatamente - ao
ser evoluído, que Pietro Ubaldi descreve em suas obras.
Ao se
colocar em evidência com esse tipo de vida, Mujica mostra ao mundo o
caminho da sustentabilidade e do equilíbrio. Fazendo uso judicioso
do poder, arquitetou um plano de trazer uma mensagem ao mundo.
Através do exemplo de vida.
Sim. Ele
(Mujica) participou de grupos terroristas. E foi preso por 14 anos.
Mas Nelson Mandela também. Yasser Arafat também. E a contribuição
deles foi grande em promover a paz e aproximação dos povos no
mundo.
Santo
Agostinho teve uma vida desregrada antes de se dedicar à castidade e
simplicidade. Assim como São Francisco de Assis. Nem por isso seus
feitos posteriores foram diminuídos.
O
Uruguai tem adotado a sua própria via. A Via Uruguaia. Encabeçada
pelo seu novo presidente, que parece saber muito de inovação.
Dentre as atitudes inovadoras temos: a estatização da produção
das drogas e o controle de seu consumo; a legalização do aborto e
dos casamentos homossexuais.
Enquanto
a maior parte do mundo segue reproduzindo fórmulas que não mais se
adequam a uma nova sociedade, o Uruguai tenta outro caminho. Podem
surgir problemas? Sim. Como todas novas empreitadas (quantos
cientistas famosos não tiveram de fazer e refazer seus experimentos
e teorias para chegarem ao resultado esperado). Mas é mister que
sejam trilhadas vias alternativas. É o futuro. É o progresso.
“Este
é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando
consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do
esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto
de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida
humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale
mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as
coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la
e entender que a espécie é nosso "nós".
”
Palavras
de um ser humano à frente de seu tempo, que não precisa de títulos,
religião, dinheiro e poder para ser grande. Porque ele em si já o
é.
Referências
*
http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2012/11/presidente-mais-pobre-do
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