quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ANÁLISE DO VOLUME O SISTEMA (parte 2)

O Sistema é o volume que conclui a trilogia iniciada por A Grande Sìntese e continuada em Deus e Universo. Enquanto o primeiro é uma síntese científico-filosófica que alça o leitor da ciência material à realidade do espírito, usando os métodos e linguagem do mundo, o segundo é uma síntese teológica, tratando diretamente dos últimos problemas como o egocentrismo; a origem e fim do mal e da dor; confirmações dessas afirmações em nosso mundo; imanência e transcendência, entre outros.

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Eu abro um parênteses para ressaltar que a leitura e compreensão da Obra de Ubaldi exige muito mais maturação interior do que erudição. É a busca por significados profundos, ignorados pelo mundo, que dará ao leitor uma curiosidade fora do comum em persistir na leitura. Página após página. Capítulo após capítulo. Livro após livro. Falo isso porque à primeira vista (ou leitura) as palavras de Ubaldi podem parecer repetitivas, dando a falsa impressão de que o autor não sabe ser conciso ou é desocupado, o que os fatos de sua vida comprovam não ser verdade: Um professor secundário que deve se dedicar ao ensino durante o dia todo para ganhar o soldo, cuidar da manutenção da casa e compras (não tinha empregada) e, além disso, enviar boa parte do ordenado para a família certamente não dedicaria sua parca energia e escasso tempo livre restante para uma atividade vazia de significado. Além disso, percebi que não se trata de repetição, e sim de um martelar de idéias com pequenas alterações a cada ciclo. Testar o leitor realmente disposto a se adentrar nas grandes verdades.

Você lê lê e lê...Vira as páginas e continua. Resolve mergulhar. Deve-se entrar no íntimo das palavras, procurando substância na forma. E para quem conseguiu realizar essa imersão começa a sentir centelhas luminosas. É a Verdade. É glorioso! Começam a surgir frases que sintetizam grandes problemas. Nada de novo. Apenas assuntos que sempre foram debatidos mas nunca resolvidos. Alguns filósofos, cientistas, teólogos e artistas chegaram a esboçar soluções. Mas Ubaldi consegue fazer um equilíbrio magistral, convencendo aquele leitor em busca de sua evolução – ou pelo menos uma explicação para a vida. Como ele faz isso? Expondo pontos de vistas dos mais diversos, se humilhando às vezes, para mostrar que até aqueles que mais julgamos inúteis e ruins possuem sua razão, e que esta muda com os erros e as dores. São preciosismos escondidos numa nuvem densa de palavras. Nuvem que deve ser vista como um todo e como uma finalidade. Deve-se saber diferenciar tudo aquilo que parece igual. E encontrar semelhanças nos tópicos aparentemente mais desconexos.

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O mais interessante do livro O Sistema está na seção de perguntas e respostas. São objeções bem calcadas feitas à teoria exposta por Ubaldi, na qual ele não tem medo de expor e responder.

Talvez a questão mais intrigante seja relativa à impossibilidade da Queda, porque a criação deveria ser perfeita.

Eis em linhas gerais os questionamentos:

“Se Deus criou todos nós a partir de Sua substância, e Dele só poderiam surgir seres perfeitos, como foi possível a Queda?” [A]

“Além disso, admitindo que houve o evento Queda, como Deus, onipotente, onisciente e onipresente (como o próprio senhor afirma) foi capaz de não prever isso, com os seres revoltosos realizando seu egoísmo máximo? Não seria esta uma falha de seus três atributos?” [B]

As questões são realmente intrigantes e confesso que antes de ler o livro eu tinha dúvidas. Mas depois de ver a resposta cheguei à conclusão: tinha em mãos um volume capaz de resolver os problemas últimos. E a partir deles tudo, desde às questões mais globais e abstratas às particularidades da vida cotidiana, é visto de forma diversa. Tudo...

A resposta é muito profunda e realmente esclarecedora. Me limito a mostrar em linhas gerais (e bem resumidamente) a resposta.

[R. A]
Deus, na criação original – a espiritual, perfeita, absoluta, e não aquela do nosso universo físico – era perfeito em termos Absolutos. No entanto, quando ele, a partir de si mesmo – pois Deus é TUDO – criou uma infinidade de individuações (nós!) a partir de sua substância, estas eram igualmente perfeitas. Mas o eram em relação à sua função e hierarquia no Sistema. E mesmo com essa repartição infinita, Deus permanece em sua transcendência, senhor Absoluto do Todo, ocupando lugar central.

Em suma: a Deus(Criador) cabe a Perfeição Absoluta, aos Espíritos (Criação) cabe a Perfeição relativa.

Sendo perfeitos em relação à nossa função, existia a possibilidade de queremos nos intrometer no campo de outros seres, nos ocupando de algo para o qual não fomos designados.

[R. B]
Essa resposta é longa e demanda uma série de explicações.
Me contento apenas em lançar a pergunta – com a resposta já embutida em si – ao questionador:

Que Deus é mais perfeito?
Aquele que cria uma miríade de seres perfeitos e autômatos, que jamais desobedecem, previsíveis e sem liberdade; ou Aquele que cria seres perfeitos mas livres para escolher entre o egoísmo puro ou o altruísmo?

Um Deus que cria, dá liberdade para o ser de escolher (livre-arbítrio), e, se este escolher errado (egoísmo), estará sujeito à Lei, que levará à Queda e da mesma forma permitirá guiá-lo até a Salvação, é a síntese máxima do Amor.

O fato de termos caído não desfaz a onipotência de Deus. Ele antecipou tudo, criando uma Lei Una que se manifesta uma multiplicidade de formas em nosso universo relativo. Isso demonstra Sua onisciência. Uma capacidade de antever todos movimentos da criatura. E seu maior gesto de Amor está em ter descido conosco até o Anti-Sistema (universo físico, caos, fragmentação), se mantendo dentro de densa camada de matéria, em substância espiritual, em cada criatura rebelde, garantindo a nossa salvação: onipresente. Com a nossa revolta, que gerou a Queda, Deus se mantém no Sistema (Paraíso, Céu, universo puramente espiritual, amor, harmonia, luz) em sua transcendência E se torna imanente. É ela que garante nossa salvação.


Ler a teoria de Ubaldi sobre a criação não nega nenhuma alegoria de qualquer religião. Ela apenas explica de forma global e profunda, no plano conceptual. Sem antropomorfismos. Puro conceito, pura idéia, puro espírito. Tampouco a ciência é capaz de provar o contrário, pois todas suas análises e experimentos são pequenos tijolos na grande pirâmide do conhecimento esboçada pelo místico da Umbria. De forma clara e racional, para satisfazer a mente moderna. Á medida que as descobertas científicas caminham, mais elas demonstram o que antes negavam. Eis o poder da visão.


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