Todos são
um Ser. Poucos sabem o que é Ser. Muitos querem Ter porque acreditam
que esse é o meio para solução de todos seus problemas, conduzindo
a uma felicidade eterna. Felicidade esta repleta de gozos sem
responsabilidades. Uma felicidade particular, segregada, construída
e mantida à custa de um mundo que - em sua grande maioria - não
pára de sofrer. Mas não!, responde o novo-rico. "Eu conquistei
minha felicidade através de lutas contínuas, partindo da pobreza,
sem apoio familiar nem condições. Ninguém nunca me ouviu ou
acreditou em mim, mas eu me fiz!", proclama com muito orgulho e
determinação este homem. É difícil negar perante a força da
afirmação e o conjunto de fatos que comprovam seu (aparente)
sucesso. Mas quantos tipos partindo dessas condições atingem esse
patamar? Poucos. Por falta de vontade, alguns diriam. Mas observa-se
indivíduos criativos e enérgicos que passam sua existência
produzindo novidades e no entanto nada recebem – hoje pelo menos.
Daí percebe-se que não basta a vontade. Deve-se oferecer algo que
satisfaça o biótipo presente e seu sistema. “A pessoa certa na
hora certa”, dizem. De fato. Isso não significa que estes garantam
a implantação do ideal futuramente, mas apenas que o mundo regozije
de uma novidade – que apesar de tudo é um passo evolutivo, mesmo
que orientado para um beco sem saída.
Experiências
ruins e boas são experiências construtivas perante a evolução.
Outro
ponto: quem garante que essa conquista - este conceito de felicidade
- seja realmente uma conquista efetiva? Quem garante que no âmago de
sua alma não impere um vazio que se silenciou através da aquisição
de distrações externas, incluindo pseudo-amizades e
pseudo-matrimônios? Quem garante que seus "amigos" (agora
que ele é rico e bem sucedido) gostam de quem ele é, e não do que
ele tem ou que posição ocupa? Quem garante, enfim, que foi dado um
ponto final na questão da busca pela felicidade?
Quem
descobre e afirma sua personalidade íntima inicia um processo de
cisão com o mundo. Mas se funde com sua essência divina, capaz de
fornecer todo o combustível necessário para sua plena realização
ao longo das existências. Quaisquer que sejam os obstáculos do
mundo, ele suportará os golpes deste, usando-os para sua elevação.
A sensação inicial será de abandono e indiferença, seguida por um
período de sucessivas tentativas de compreender tudo que lhe ocorre.
Finalmente, o porquê do mundo se comportar daquele modo surge, e com
isso atinge-se um estado de calma inconcebível antes do início do
processo de maturação. Meio ciclo foi realizado.
A metade
final do caminho consiste em saber viver no mundo sem ser do mundo.
Esta segunda parte já foi atingida. O Ser já ascendeu um degrau.
Seu novo estado evolutivo, estando guardado no subconsciente, se
manifesta nas suas atitudes que o levam a adotar postura de vida
diversa. Resultado: um destino peculiar, muito diferente da média.
Incompreendido, rejeitado ou ambos.
SER →
CONSCIENTIZAÇÃO → ADAPTAÇÃO
Quem se afirma se identifica consigo mesmo e começa o verdadeiro trabalho de autoconhecimento. Trabalho orientador que irá conduzir o ser a caminhos tão árduos quanto libertadores. |
Como
descer para conseguir ganhar o pão sem perder a orientação?
Como
viver no mundo sendo apto para outro completamente diverso?
Como
encarar o cotidiano sem poder expressar abertamente suas idéias?
Não se
trata nem sequer de ter sucesso, porque o ideal nunca é para o
presente. A tarefa é sacrifical, de renuncia a vantagens do mundo em
prol de uma libertação interior. O Ser sabe disso e aceita essa
realidade. Não se pode esperar do mundo nada mais. Não é justo.
Quem não se afirma se condena mentalmente. Mesmo se bem-sucedido. A negação da essência divina gera conflito constante que deve ser anestesiado com alegrias externas efêmeras. |
O Ser
anseia por descobrir as novas verdades sentidas. Para isso procura se
desenvolver nas mais diversas vertentes, experimentando e observando.
Cria esboços de pensamentos. Imagina qual será o papel da ciência,
da fé e das filosofias. Procura explicações para o mal e o bem que
lhe atinge. É de certa forma um detetive. Se satisfaz com pouco e se
encanta com os milagres que se operam cotidianamente, sem que o mundo
os perceba - o imponderável. Sente mais as coisas de dentro e vive
para elas. As de fora pouco lhe interessam. Na verdade estas de nada
serviriam. Bastaria que lhe fosse garantida uma liberdade – por
parte do mundo – para buscar se conhecer melhor. Muitos anseiam por
isso. Cada vez mais.
Seus
métodos são simples e lentos. Os resultados impressionam para quem
percebe todo o desenrolar fenomênico. O conceito de “milagre” é
renovado, migrando para o universo psíquico, sendo a realidade
dinâmica e física mera consequência do pensamento.
O Ser não
sabe explicar o que ele sente. Pode não convencer, mas sabe viver.
Com menos – expectativas terrenas, bens materiais,
serviços,...Conquistas amorosas passam para segundo plano. Amor
passa para o primeiro. Essa revolução de conceitos muda tudo. O que
se tenta aparentar passa a se tentar SER; e o que ERA passou-se a
aparentar. Assim o Ser não teme expor seus defeitos para corrigi-los
o mais rápido possível. Com a sinceridade ele conduz seus atos e
conversas, tornando difícil ofendê-lo. Porque os ataques serão
vistos mais como dados experimentais e oportunidades de superação
do que lanças visando feri-lo. Vitória e glória. Independência do
mundo, alinhamento com Deus.
Estudo,
trabalho, dor e evolução. Sucessivamente.
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