"Discuta com
serenidade; o opositor tem direitos iguais aos seus"
É
curioso como certos temas - como este - surgem em momentos oportunos.
Isto é, às vezes a oportunidade de refletir sobre um assunto surge
logo após a vivência do tema em questão. Essa oportunidade forma
,a meu ver, a circunstância ideal para extrair o máximo das regiões
mais profundas do inconsciente.
Até o
presente momento tive duas ou três grandes discussões com colegas
de trabalho (agora estão mais para amigos). E ao contrário do que é
usual, esses conflitos de idéias e visões destruíram (alguns)
muros e edificaram (algumas) pontes entre nós. E - muito engraçado
- parece que tudo transcorreu desse jeito simplesmente porque o
objetivo de todos envolvidos era (e é) a busca pela verdade. Cada um
a seu modo. Todos com um ideal comum. Um ideal abstrato nas
aparências e se revelando cada vez mais concreto, à medida que nos
sensibilizamos para o desconhecido.
Grandes
temas como política, economia, sexo, sociedade, cultura, arte,
ciência discutidos à luz da razão e sem conceitos pré-concebidos
tendem a iluminar os envolvidos. Cada um perceberá as igualdades
universais (como os direitos) e as diferenças individuais (como as
experiências) e assim será possível conduzir discussões de modo
cada vez mais enérgico e estável, mantendo um estado de fusão
entre as pessoas por maior tempo. Temas tido como polêmicos serão
vistos à luz de uma fé raciocinada. As visões abrangerão mais
pontos de vista (universalidade) Pura emoção. Não serão feitos
ataques à vida dos outros e sim reflexões sobre idéias variadas. A
unificação terá prioridade.
Como
atingir um estado ao mesmo tempo de alta dinamicidade e estabilidade
em conversas com temas que tocam pontos nevrálgicos? Primeiro
deve-se admitir que não somos anjos - ou melhor, somos em nossa
essência, mas ela está recoberta de materialidade. Estamos em busca
de uma perfeição perdida. Depois, precisamos nos livrar dos
preconceitos em relação às opiniões alheias. Muitas pessoas são
aparentemente calmas, mas passam a vida se esquivando ou se mantendo
neutras em assuntos delicados - que, apesar disso, são importantes e
um dia esbarram nos afazeres cotidianos. Isso é bom até certo
ponto. Mas a na vida chega-se um momento em que devemos adotar uma
postura perante o mundo, e nesse momento a indiferença (essa fuga
pacífica) será mais nocivo.
Quando
alguém julga fútil um tema que o outro julga como sério - e
vice-versa - a discussão tende à discórdia, e só produzirá
afastamento entre os envolvidos, além de reforçar suas idéias
originais, afastando-se mais um do outro. Cisão ao invés de
unificação.
As
pessoas são em sua maioria prisioneiras de uma forma mental. Abraçam
poucos pontos de vista sobre a realidade que lhes bombardeia
incessantemente. Logo, se revoltam por ter uma visão incompleta do
Todo. Se isolam num relativismo que nada acrescenta, mesmo que façam
isso de modo pacífico. Não entrar em conflito não significa
ascensão evolutiva necessariamente.
É
muito cômodo se prender a um aspecto da realidade, encontrar seus
iguais e dizer que o mundo está errado. Usando argumentos
pré-formatados, aparentemente irrefutáveis, é possível calar
muitas vozes que, apesar de não se expressarem bem, sabem que aquele
ponto final é vazio para uma mente verdadeiramente investigativa.
Mas esta, mesmo se expressando bem, dificilmente fará suas idéias
permearem o biótipo comum, que é incapaz de conceber modos de vida
mais vastos e aspectos mais profundos.
Para
resolver o problema da discussão destrutiva cada pessoa deveria se
perguntar, fazendo uma auto-análise, se aquilo que ela julga sério
(ou fútil) realmente o é. O fio condutor desse questionamento deve
ser a finalidade da existência: evolução. A partir daí, é
possível iniciar um longo processo de orientação. A discussão se
torna construtiva. Ainda é confronto de idéias. Ainda é enérgica.
Ainda é trabalhosa. Mas deixará todos mais esclarecidos ao terminar
o debate. Essa é uma das artes da vida. Uma arte que assusta muitos,
mas que é o caminho para a superação.
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