As
mudanças vem de dentro para fora. Interior, exterior. Uma onda que
se manifesta por sucessivas camadas. Passa de uma interna para outra
externa, se consolida e segue dessa forma, até atingir o mundo
tangível. Aquele que vemos, sentimos e consideramos. O “mundo
real”, por assim dizer.
Eis
que a Revolução Industrial se dá após o terreno estar preparado
para as máquinas e o advento de um modo de vida diverso. A ciência
utilitária substitui a fé cega. E a exploração iniciou um novo
ciclo. Não mais uma exploração apoiada na ignorância das pessoas,
mas na necessidade das mesmas em levar uma vida minimamente
confortável. Numa primeira fase, a divindade passou a ser a
produção. Hoje – 2a fase – ela passou a ser o consumo.
A
humanidade evolve por ciclos. Cada qual com seu significado e ditado
por suas regras. Cada ciclo, ou época, com sua ética, que melhor
possibilita o desenvolvimento dos valores presentes. Mas cada ciclo
chega à exaustão após um período – cuja duração pode variar
de poucos anos a séculos ou milênios.
Um
ciclo começa a se abalar quando as pessoas começam a vislumbrar
outros. O abandono do velho só será definitivo quando o novo for
aceito pelas mentes e todas bases de uma nova forma de vida
(concebê-la) for reconhecida. O novo se apóia no velho. Só se
destrói o que não é útil à vida. Não se destroem indivíduos.
Abandona-se concepções ultrapassadas.
A manifestação do pensamento independe do tempo. Suas ondas não são captáveis pelos nossos instrumentos (ainda). Seu poder é incalculável, como tudo que reside no imponderável. |
O
novo quer nascer, mas o velho não quer morrer.
Os
precursores de um novo mundo tem a árdua tarefa de se sacrificar por
um ideal. São os santos, os gênios, os místicos. Cada um busca o
progresso da humanidade à sua forma, usando seus métodos e suas
ferramentas.
Nosso
mundo científico-industrial já dá sinais de saturação. O binômio
produção-consumo, gerado pelo trinômio
descrença-ciência-tecnologia, tenta se apresentar como a finalidade
definitiva da vida. O peso que antes estava na produção migrou para
o conusmo. Este se intensificou. Depois se sofisticou. E encantou
grande parte das pessoas que, sem vislumbrarem outras possibilidades,
abraçaram a solução oferecida pelos “sábios”. Mas as crises
são frequentes: depressão, crise financeira, fragmentação dos
relacionamentos, busca por prazeres cada vez mais intensos que geram
dependência.
Nossa
vida atual é ditada pelo tempo. Nosso mundo moderno teve sua gênese
no século XIX e ganhou forma nas últimas décadas do século
passado. Tudo orbita em torno do tempo: velocidade, potência,
desempenho, ascensão salarial, produção, produtividade,...Ele
passou a ser o termômetro da saúde de uma pessoa ou povo. Seu
salário depende de quantas horas você fica dentro do escritório;
Sua imagem social depende de em quanto tempo você é capaz de
satisfazer os pedidos de seus “amigos”; Sua fama (e
possibilidade) nos relacionamentos depende de seu desempenho, ditado
pelo tempo de manter tudo funcionando de acordo com o que o outro
espera.
Quantidade,
não qualidade. Isso é o que o mercado pede. Ele, uma entidade não
individuável – e portanto não culpável – afirma que faz cada
vez mais rápido – e dá cada vez mais – em intervalos cada vez
mais curtos. E melhor. Melhor para quem? E...será que você quer
mesmo esse “melhor”? Você precisa desse produto, desse serviço?
O
melhor logo se torna pior (ou segundo melhor) assim que uma
“novidade” surge. Eis o que (muitos) dizem ser a eterna busca por
melhorar. Mas existe uma diferença abissal entre uma dinamicidade
instável-destrutiva e uma dinamicidade estável-construtiva, apesar
de ambas serem (aparentemente) iguais.
Por
que o trabalho é mensurado e remunerado pela sua quantidade e não
por sua qualidade?
Por
que o número de horas estagnados num dado sítio espacial é MAIS
VALORIZADO do que TUDO CONSTRUTIVO gerado por uma pessoa?
Por
que as pessoas veem possibilidade de crise quando se cogita mudar a
mentalidade, mas ao mesmo tempo sentem que muitos comportamentos
“improdutivos” não afetam em nada o dia-a-dia. Pelo contrário,
parecem tornar as coisas melhores.
Por
que não consumimos menos e pensamos mais? Tornar-nos-íamos mais
independentes e assim o mundo começaria a estabelecer as bases
definitivas de uma revolução espiritual.
Com
poucas necessidades materiais, o pensamento dominante se veria em
constante conflito. Desesperado, atacaria por todos lados com
propagandas e promessas, de forma muito mais agressiva e nociva do
que os políticos – estes seriam meras marionetes nas mãos de
grupos poderosos que sempre estão nos bastidores.
As
pessoas passam a valorizar mais seu tempo. Abdicam de um modo de vida
que nada lhes acrescentou exceto a experiência da desilusão. Foi
útil sim, de qualquer forma. Mas acabará.
As
pessoas abandonarão seus empregos e começarão o TRABALHO REAL.
Este será um trabalho consciente, que mensura a qualidade do produto
e considera as necessidades reais do ser.
O tempo aprisiona o inconsciente, porque o engloba. O consciente aprisiona o tempo, porque o engloba. Quantos conscientes temos em nosso mundo? |
Trata-se
de um trabalho que já pode ser visto em pequena escala, geralmente
mal-remunerado e pouco valorizado socialmente. São os artistas
criativos que alegram as pessoas nas ruas e através de suas músicas,
representações, escritos e formas convidam pessoas a sentirem e
pensarem de modo diferente; são os cientistas da natureza e da
sociedade que pesquisam novas relações e tentam compreender o
porquê disso e daquilo; são os pesquisadores dos institutos; são
os escritores que despejam sentimento e sinceridade crua em suas
páginas (ou telas); são os cineastas; são os estudantes; são os
legisladores que trabalham incessantemente para aprovarem leis mais
adequadas à personalidade do futuro; são os juízes que julgam mais
pelas causas do que pelos efeitos; são até aqueles tidos como
inúteis, mas nunca foram mensurados com outros instrumentos e
considerando o eterno vir-a-ser da humanidade e dos cosmos. São os
santos, exemplares fora de série, que viveram na íntegra o
Evangelho, mostrando que um dia sentiremos a divindade e viveremos de
acordo com nosso ser divino.
O
trabalho presente é ditado pelo tempo e pelas aparências. O lucro é
a desculpa dos gurus do mercado para sustentar a manutenção de um
modelo que se defronta com crises cada vez mais frequentes e intensas
(façam um apanhado histórico nos jornais...quantas vezes
economistas, financistas e outros istas afirmaram veementemente que
tais medidas resolveriam de uma vez todo problema da estabilidade
econômica, e em pouco tempo um novo colapso, inesperado, se abateu).
Eles negam as verdadeiras inovações, taxando-as de loucura. Se
esquecem que os sucessos de hoje se consolidaram após sofrerem
muitos fracassos.
Pessoas
tentaram, erraram, sofreram e morreram para descobrir verdades. Se
arriscaram. Fizeram o que sentiam que tinham de fazer.
Imagine
se todo mundo ouvisse os conselhos de não tentar nada fora da
fronteira.
A
loucura se desvanece à medida que a fileira de seres extraordinários
elevam idéias desejadas e irrealizáveis. Sangram, mas executam. Não
ligam para isso.
A
evolução TEMPO → CONSCIÊNCIA diz: “a vida deve ser ditada pela
qualidade ao invés da quantidade”. “a quantidade teve sua função
no desenvolvimento orgânico. Agora é vez de dar espaço ao
desenvolvimento psiquico. Ele nos colocará em contato direto com a
espiritualidade.”
O
tempo nos aprisiona fisicamente e mentalmente. A consciência é a
voz que nos liberta de uma forma mental. Muda a mentalidade, muda a
atitude, mudam as possibilidades. Eis a mecânica dos milagres.
Espírito,
energia, matéria.
Pensamento,
vontade, ação.
A
consciência clama por mais tempo livre. O prórpio nome já diz:
LIVRE. Não é à toa. O mundo possui ainda em grau muito reduzido
ocupações que dão a oportunidade da pessoa se desenvolver ao
máximo, da melhor forma, primeiro para si mesma, depois para a
sociedade, depois para todos os seres e o Universo.
O
que digo pode parecer superfluidades de um romântico idealista. Mas
convido os leitores a observarem seu cotidiano ao longo dos meses e
anos. Observarem de verdade os mais íntimos detalhes e
acontecimentos de suas vidas. Estudem o que as pessoas veem como
problemas e como não solucionam os mesmos – pelo menos não
definitivamente. Estudem História (individual e coletiva) e
percebam. Tentem aos poucos verem coisas de outros pontos de vista.
Saiam da rotina nem que por apenas 20 minutos. Gastem um tempo
ouvindo aquele que vocês consideram chato ou idiota. Talvez vocês
descubram algo. Mas ouçam DE VERDADE. Com a alma. Ouçam não apenas
as ondas acústicas que se manifestam pelo ar, mas a graciosa
harmonia de gestos e olhares que expressam com maior transparência a
substância de cada criatura.
“O
tempo que você gosta de perder não é tempo perdido.”
Hoje
é terça-feira. Eu estou em casa. E graças a isso fiz um pouco de
trabalho real.
Idéias
são imateriais. Mas são elas que movem montanhas e planetas e
pessoas.
Discretamente
e elegantemente.
Afinal de contas, Cristo tinha razão.
Afinal de contas, Cristo tinha razão.
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