sábado, 11 de outubro de 2014

SER CONVENIENTE PARA CONVIVER, SER SOZINHO PARA SE CONHECER.

De alguns tempos pra cá fui percebendo várias coisas interessantes na minha vida - e na vida das pessoas. Detalhes importantes do dia-a-dia. Acontecimentos banais e breves, mas cheios de verdades profundas por trás. Sou muito mais paciente em lidar com reações de pessoas após soltar alguma ideia ou pergunta. Porque passei a compreender o que leva muitas pessoas a reagirem de tal forma ao ouvirem algo de alguém.

Cada ser humano tem uma bagagem de experiências - sua história. Além disso, o meio em que as pessoas vivem influenciam suas atitudes. Digamos que são limitadores de liberdade virtuosos ou viciantes - o que caracteriza um ou outro será abordado futuramente em outro texto. Existem ainda as conexões feitas por essa pessoa, que irão brotar e se manter (ou não) baseado em suas crenças e valores. Conhecendo verdadeiramente a fundo esse quadro (HISTÓRIA-MEIO-CONEXÕES) é possível prever as possibilidades de conexão profunda com essa pessoa e saber como conduzir uma conversa com ela.

Agora começa a se esboçar em minha mente o seguinte: em geral, quanto maior o número de conexões, menos seletivo o critério de seleção das mesmas; e (também em geral) vice-versa. Não se trata de uma verdade absoluta porque podem haver pessoas com poucas e más conexões. Como por exemplo gente que constantemente rompe amizades ou é incapaz de fazê-las porque tem pouca tolerância às diferenças e ainda não aprendeu a lidar com o mundo porque não o compreendeu.

Alguém pode refutar dizendo que é ou conhece pessoas cheias de boas amizades que sempre querem estar próximas e comparecem às suas festas e conversam e dão conselhos e ouvem e etc. No entanto, essa observação me parece muito vaga porque provavelmente está sendo feita baseada em aparências. Experimente por exemplo perguntar a essa pessoa sobre a posição social, renda, herança, atributos físicos, comunicabilidade, antepassados, etnia, religião, orientação política e formação desse indivíduo "abençoado", e ele lhe dará - se estiver disposto a isso - uma série de respostas que derrubará sua afirmação. Isto é, por trás dessa quebra de regra (qualidade com quantidade) reside uma série de aparências. Em camadas. Expor detalhes desse tipo no dia-a-dia provavelmente trará uma horda de inimigos. Mas ao mesmo tempo eles podem trazer amigos - de verdade.

O mundo às vezes tem uma visão emborcada de
felicidade, associando-a aos gozos. Logo se
descobre que o abuso leva à dor e involução.
Quem se contenta com as idéias e vê os milagres
que se operam todo dia deixa de se abalar. Mas
o mundo o vê como idiota ou louco.
Ser saudavelmente sozinho é uma atitude que prima pelo autoconhecimento e é causada pela sensação de independência.

Ser doentiamente sozinho é uma atitude causada pelo desejo de exclusão dos outros, que leva à própria exclusão.

Quem é saudavelmente sozinho dificilmente sofrerá de solidão.
Quem é doentiamente sozinho dificilmente sentirá plenitude.

E os conectados?

Quem é hiperconectado sente uma necessidade de sê-lo (caso contrário não seria). Partindo do pressuposto de que todos somos diferentes, então criar um grande leque de "amizades" significa que a pessoa terá de assumir uma personalidade camaleônica, omitindo opiniões em eventos sociais, na escola, no trabalho e (ás vezes) na família e na cama, para manter as possibilidades externas e não ter amolações. Os valores são esquecidos gradativamente. Nada que possa "manchar" sua imagem é emitido. Tudo é calculado, avaliado, ponderado. Infelizmente no sentido egoístico. Ou seja, não fazemos o mal porque estamos convictos de que não é certo. Não o praticamos por fora porque queremos manter uma boa imagem perante o mundo. Mas sempre que possível, quando ninguém vê - ou achamos isso - deixamos nossos instintos fluírem sem rédeas.

Quando agimos em função do mundo perdemos a identidade e o próprio mundo. Porque o que é externo, o que é aparência, está se transformando e nossa capacidade de acompanhar algo além de nós é limitada.

Quando agimos seguindo nossa consciência, o mundo pode nos condenar, mas SEMPRE estaremos em paz conosco, porque nosso SER divino é imaterial e repleto de verdades. A independência externa é mínima, conduzindo a uma vida mais orientada e feliz.

A arte da vida consiste em saber fazer suas coisas sem deixar de conviver com o mundo. E expor suas idéias em ambientes receptivos a ela. É uma busca incessante. Experiências que desmascaram ilusões aqui e ali, tornando-nos mais experientes no viver. Com o tempo passamos a saber como e quando agir. Saberemos de antemão se vale ou não a pena começar a tocar num assunto com um grupo ou uma pessoa. Perderemos menos tempo e menos energia com o que nada nos acrescenta. Nos sentiremos cada vez menos presos a grupos, – sejam de qualquer espécie – nos limitando a cumprir obrigações por mera questão de subsistência.

O futuro está escondido nos pensamentos que o nosso mundo tem como insignificantes. Ele está nesse baú secreto, misturado com diversas idéias travestidas de promissoras e resolutoras. Idéias semelhantes em sua forma, mas que se revelam frouxas à medida que um investigador começa a estudá-las. São teorias feitas apenas para satisfazer um grupo. E infelizmente esse fato faz com que verdadeiras teorias sejam deixadas de lado, com medo de ser uma perda de tempo se aprofundar. Mas quem ousa adentrar nesse campo e abraçar uma idéia desse tipo começa a perceber que não existem contradições. Tudo se encaixa em substância. Há unificação de saberes e grupos. A complementariedade suplanta a segregação. Revela-se que os desentendimentos se devem pela falta de uma visão global e longo prazo. Pela ausência de uma orientação. Esta só pode ocorrer com um sentimento de que tudo concorre para uma finalidade. Quando a humanidade tomar posse desse sentimento começará uma grande revolução na humanidade. Uma revolução mental, que conduzirá a um novo sistema e a implantação de uma justiça social, diversidade cultural e produtividade vinculada não apenas à economia, mas antes de tudo às necessidades evolutivas de cada ser humano.

Nesse ínterim devemos aceitar a realidade presente e buscar formas criativas de nos distrairmos construtivamente ao invés de buscarmos vencer grupos ou pessoas. Isso vale para tudo e todos. Priorizando as coisas simples por tempo suficiente é possível que comecemos a ver seu real valor. E com isso o modo de vida passe a ser cada vez menos dependente do exterior. Porque rico no interior. E com isso nos libertamos, aos poucos, de meios insalubres, que nos obrigam a adotar uma forma mental restrita ao universo das finanças. Mentalmente, depois economicamente. Em ciclos. Aos poucos.

E todo o poder (carnal, material, bélico, financeiro) do mundo deverá se adaptar cada vez mais a uma nova forma mental. Mais consciente, mais sensível, mais sábia.

Como dizia Vitor Hugo,


Existe uma coisa mais poderosa do que todos os exércitos do mundo: uma ideia cujo tempo é chegado.”

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