sábado, 16 de maio de 2015

CHEGAR À SÍNTESE A PARTIR DA ANÁLISE

É regra geral haver pouca consideração com os santos, os místicos e os profetas. Consideração no sentido de percebê-los como biótipos muito à frente de sua época, cujas atitudes perante o tangível e o intangível será regra comum para uma humanidade futura - muito muito futura. Consideração no sentido de não haver tentativas sinceras e profundas em compreendê-los e contextualizar as suas ações, estabelecendo relações entre casos que observamos - e às vezes nós mesmos - e esses expoentes.

A dificuldade em assimilarmos os ensinamentos - via exemplo - das grandes almas intuitivas reside em nossa mentalidade intelectiva-sensitiva. Ela obstrui ou ignora o porvir. Ela ignora o futuro dentro de nós, em gestação a cada momento. Uma gestação que se dá naturalmente, inconscientemente (em nosso estágio atual), e portanto imperceptivelmente, resultando daí uma desconsideração por grandes idéias e ideais. Para aqueles que pendem mais para o sensitivo (animal), predominam os instintos, e todo intelecto serve (disfarçadamente) para encobrir segundas intenções; no outro caso, o intelecto predomina sobre o instinto, controlando-o e se dedicando a atividades de maior prazo. Mas poucos são aqueles que conseguem transcender a zona de consciência intelectiva-analítica, passando para a zona intuitivo-sintética

O conhecimento tende a nos tornar preconceituosos, afirma Ubaldi. Eu percebi isso à medida que subia degraus na pirâmide instrutiva: ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, especialização, mestrado,...E também à medida que ia adquirindo outros saberes de outros campos. Línguas, Matemática, Ciências Naturais, Ciências Humanas. Daí parte tudo, no ensino primário, e vai se seccionando e se aprofundando. A partir de um ponto especializa-se num campo específico sem se preocupar com a manutenção dos conhecimentos passados. Nem sequer nos damos ao trabalho (Trabalho...) de relacioná-los com nossa vida pessoal e profissional. 

Não digo com isso que a especialização em si seja um mal, mas que o modo como ela é lecionada (ou vomitada, em muitos casos) nos obriga a adotarmos uma "atitude" de máquinas ágeis em busca de boas notas ou suficientes, além de nos deixar cronologicamente e energicamente saturados. E assim viramos seres desinteressados à real diversidade e à orientação máxima, taxando aquela de prejuízo e a última de vazia. E o resultado está na vida que cada um leva, com suas "soluções práticas", que apenas nos afastam dos problemas - cada vez mais evidentes. Problemas que um dia deverão ser enfrentados frente à frente. E...conselho de amigo: quanto antes nos despertarmos para isso, melhor.

Mas voltando à questão. Quando falo em transcender não me refiro a negar o passado, suprimindo-o e/ou condenando-o. Trata-se de perceber que a Vida possui algo a mais, muito mais poderoso, que deve guiar os nossos instintos e o nosso intelecto. Porque todos sabem muito bem: depois de muito brincarmos com uma coisa, extraindo dela por muitos anos (ou décadas, ou séculos, ou milênios) todas possibilidades, nos cansamos e ansiamos por mais, mesmo sem saber exatamente o que. Isso vale para objetos, para atitudes e para sistemas (físicos, sociais ou conceptuais). A sensibilidade permite sentir o porvir, e com isso adquirimos a crença, que persistentemente adotada se transformará em fidelidade, ou fé. Aí estaremos sintonizados com o Infinito, e direcionaremos todos nossos canais (bens, corpo, pensamentos e emoções) para a Fonte Universal (Divindade), por meio do nosso Espírito individual, indiviso e consciente

Einstein dizia: "Penso 99 vezes e nada me vêm à mente. Deixo de pensar e eis que encontro a solução." Isso é intuição. Isso é conexão com o Mais. Pensar pode ser (e é, na maioria dos casos) pré-requisito para uma grande idéia, mas ela vem através do relaxamento completo. Da reflexão profunda, meditativa. 

Para muitos, pensar é condição, e intuir é causa de grandes idéias.

Apenas os profetas antigos (Isaías, Moisés, Malaquias,...) e alguns místicos e santos célebres foram capazes de intuitivamente chegar às grandes verdades sem nenhuma instrução formal terrena. Jesus, o Cristo, talvez seja o exemplo máximo. Um Ser que desde a mais tenra infância transpirava sabedoria de outro mundo, em harmonia com a natureza e os homens. E em comunhão com Deus. Tamanha era sua sabedoria que esta suplantava seu intelecto. 

Ser bom, ser sinceramente bom, é a "suprema inteligência". 
Ser Alguém é algo tão divino que não sabemos classificar seres de tal porte, reservando a admiração ou temor (dependendo da vida que levamos e ansiamos...).

No entanto, apesar de tudo, podemos ver alguns seres com muita habilidade nos afazeres do mundo, atingindo o ápice em termos intelectivos, e ao mesmo tempo orientados para o progresso. São professores, pesquisadores, transeuntes e até homens de negócio*, com um senso de transformismo e orientação. Mesmo que não demonstrem explicitamente isso, agem conduzidos por um monismo profundo, sendo implicitamente crísticos sem se declararem como tal. Esses seres podem falar com autoridade e força, mas jamais seu alvo é um outro ser, seja infra-hominal ou hominal. E não desrespeitam o Mais (o divino), por sentirem uma profunda Realidade e uma vasta Verdade. Seu alvo é o combate à forma mental engessada que predomina. Eles relacionam, escutam, divulgam, englobam, explicitam, criam, trabalham e estudam incessantemente, apesar das negações e calúnias, seja da mídia, seja da sociedade, seja de qualquer órgão do Poder. Porque quem busca a Verdade não pode compactuar com o Poder além de um certo grau.

Cristo não compactuou absolutamente com o Poder, pois a sua Verdade era máxima. E por isso teve de morrer. O mundo não suportou tamanha luz encarnada, e se sentiu dividido. Mas foi esse evento marcante e impactante o impulso inicial de uma transformação sem precedentes na humanidade terrena. Compreenda-o quem o puder...

Mostrar as divisões e mazelas através de boas atitudes e ensinamentos não é ser divisor. Apesar de muitos divisores taxarem os precursores de novas eras como entes malignos. 

Quem divide é quem esconde e ignora a Realidade mais profunda.

É aquele que ignora o mendigo, a pobreza, a falta de perspectiva de muitos, a doença, a guerra e seus inúmeros defeitos. 

Quem ignora a si mesmo é divisor.

O problema de nosso mundo é o seguinte: ainda não estamos preparados para lidar com a auto-crítica. Não vamos muito fundo na auto-análise por ser dolorosa e trabalhosa. 

Dolorosa e trabalhosa...

Por não sabermos lidar com a nossa substância divina, e também por ver essa mesma atitude nos outros, decidimos adotar consciente ou inconscientemente um contrato social que diz: "não se fala em A, B, F, U, I, X, e T, mas de C, J e Y pode-se falar à vontade" Mas a questão é que justamente os temas proibidos (polêmicos) são aqueles que devem ser trabalhados. Percebam isso.

Não adianta fugir para baladas ou bares, ou mesmo se afogar no estudo incessante e desorientado de teorias e equações e textos; nem sequer buscar as academiais ou o reconhecimento social; ou o sexo intenso, as drogas e as bebidas; ou os restaurantes e viagens luxuosas; ou as casas suntuosas (palácios!) e veículos sofisticados. Não, isso não lhe trará nenhuma solução. Apenas ilusão...

Frustração do autor, por não ter isso? Não sei...Já tive oportunidade de ter algumas dessas coisas e permaneci como um inerme. Sentia alguma coisa de vazia em tudo isso. É claro que todos temos vícios e defeitos, mesmo que em graus diferenciados. Mas reconheço o muito que tenho de fazer apesar do muito já superado.

Não forço ninguém a lidar com sua substância. A pessoa deve estar preparada para isso. Só cito exemplos que podem acelerar o processo de transformação. Pense, repense, reflita e constate. Ao longo de um longo tempo. Posso garantir que seu tempo não será perdido.

Estude sim. Adquira bens e cuide do físico, da saúde. Mas apenas na medida certa (você irá descobri-la).

Podemos chegar à consciência intuitiva indiretamente. Basta crer em algo a mais enquanto desenvolvemos o conhecimento do mundo que nos rodeia. Crer antecede o saber.

Desenvolver o intelecto de um modo sábio, tornando-o ferramenta de algo maior. Uma nova dimensão nos espera.

* Ricardo Semler, empresário muito à frente de nosso tempo.  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Semler






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