quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Da biosfera à noosfera

Teilhard de Chardin (1881-1955) foi um padre jesuíta francês. Paleontólogo, filósofo e teólogo. Usou todo seu tempo, conhecimento e (possivelmente) dor para construir uma visão do universo, englobando ciência e religião. Escreveu livros que versam sobre a gênese da vida a partir de um ponto de vista das espécies, tangenciando todo o manancial teológico, físico e químico relacionado às origens e desenvolvimentos de todas formas vivas*.

"Através de suas obras, legou para a sua posteridade uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas.[1] (grifos meus)

A noosfera inicia a se erguer. Aos poucos a
humanidade percebe que cumpre uma função. 
Todo aquele que busca conciliar opostos da vida - tidos como inconciliáveis - começa a sofrer uma resistência tremenda do meio. Seja por limitações íntimas que emergem do subconsciente, preso ao remoto e seguro passado, ou de reações de grupos e instituições humanas, a titânica tarefa de integrar teorias científicas, pensamentos filosóficos e valores religiosos  é ingrata. Se a unidade a ser feita envolver inter-relações (ex.: ciência-religião), a tarefa é muito mais (in)tensa.
Contemporâneo de Ubaldi, o padre francês buscou criar uma Obra de mesma potência. O místico da Umbria ficou a par do seu colega próximo (em espírito, dores e pensamentos), chegando a dedicar um capítulo de seu livro A Descia dos Ideais ao padre.
"Em Teilhard encontramos os seguintes conceitos: transformismo, evolucionismo, estrutura orgânica do universo e tendência do ser a alcançar um estado cada vez mais orgânico, de unificação. O homem é um elemento consciente, que, existindo em função de um todo organizado, é destinado a se tornar sempre mais consciente desse todo e dessa organicidade. A evolução é orientada por um íntimo impulso telefinalístico, em direção a um ponto conclusivo: Deus. O fim supremo da existência é a convergência das diversas consciências individuais na consciência única e total do centro Ômega, último momento e fim da evolução: Deus. Teilhard nada mais acrescenta. Mas tudo isto implica e deixa entrever a possibilidade lógica de que este ponto possa ser também o Alfa de todo o processo, que, para ser completo, deve conter ainda a sua contrapartida involutiva precedente, como demonstramos claramente no volume O Sistema."
A descida dos ideais - Cap. IV: Encontro com Teilhard de Chardin
(grifos meus) 

Chardin abordou a fase evolutiva de nosso universo físico-dinâmico-psíquico. Sistematizou a parte ascensional (processo evolutivo) do ciclo involução-evolução vislumbrado e descrito por Ubaldi. Admite a existência de um ponto definido de criação de tudo que conhecemos e antevê o telefinalismo da vida. Também admitiu a imanência divina na criatura, isto é, em todos os fenômenos que se manifestam no universo, desde os infra-humanos até os 'sobrenaturais' (além de nossa parca compreensão), passando pelo reino humano. Faltou apenas concluir o grandioso pensamento, fechando o ciclo através de uma visão clara da criação original e da queda.
Ciclo involução-evolução. A substância (ômega)
permeia tudo e viabiliza a salvação. Do estado
espírito puro (alfa) decaímos ao estado de inconsciência
plena (gama). A energia (beta) intermedeia o processo.

No ciclo (ver figura ao lado) a queda é a involução. A evolução é redenção, ou seja, recuperar, com o próprio esforço (suor do rosto) a perfeição perdida. A Grande Síntese descreve a evolução do átomo ao espírito puro. Foi concluída em agosto de 1935. Para a teoria ficar completa, seriam necessários 16 anos de produção literária formidável. Deus e Universo é escrito numa rapidez impressionante. Um surto que se despeja na forma de seiva divina. Vinte noites, vinte capítulos. Uma visão da criação original, do Absoluto, como ninguém antes fora capaz de conceber. Essa é o último volume escrito na Itália, em 1951 - logo após o retorno de sua longa viagem ao Brasil. Assim, a primeira parte da Obra é concluída na metade do caminho (1931-1951), estabelecendo um edifício conceitual inigualável. As próximas produções estariam mais relacionadas à assimilação das profundas revelações obtidas e à implementação da Lei de Deus na vida cotidiana.

Voltando a falar de Teilhard, acredito que sua maior contribuição tenha sido antever a formação de uma nova camada evolutiva global denominada noosfera [2].

O que é exatamente isso?

Sabe-se que Biosfera é a esfera da vida (bios). Noosfera seria a esfera do pensamento humano (nous = pensamento), que começa a ser formada a partir da explosão tecnológica da segunda metade do século XX.

A partir do início deste século vivenciamos um ritmo evolutivo sem precedentes. O ser humano está sentindo coisas - às vezes as mesmas - de um modo que nunca sentira antes. O ritmo das mudanças, a intensidade e variedade das conexões, o fluxo de informações, a mudança frenética dos valores, a oscilação da personalidade,...tudo isso se relaciona com a integração que estamos tendo com as tecnologias.
Teilhard de Chardin, em 1947.
O advento da internet foi o primeiro passo para criar uma comunidade global, onde informações circulam como nunca antes. Conhecimento é compartilhado, construído e destruído. A rotina das pessoas muda, incorporando rituais cada vez mais normais, alimentados pelo sistema e valorizados pelo senso comum. Há muita desorientação nessa fase, com indivíduos perdendo capacidade de concentração e distorcendo informação (quase sempre contra seus próprios interesses pessoais e de classe!). No entanto, há também indivíduos que aproveitam os meios para o progresso humano, abarcando a esfera da compreensão e da redução do sofrimento das pessoas.
Sinto que este espaço virtual se coloca como um minúsculo ponto de um grande turbilhão fenomênico global, que se difunde a uma taxa cada vez maior, e se consolida de forma profunda da cultura humana - seja ela qual for.

Todas as barreiras que as intempéries e distâncias colocavam estão sendo suprimidas. Da mesma forma, os mecanismos de inteligência artificial, redes neurais e automação possibilitam a tradução de textos, a busca relâmpago por vocábulos que dão resultados de todos tipos, indo além da definição  (ex.: relações). Os vídeos, podcasts, apresentações dinâmicas mostram de formas mais amigáveis conhecimentos e ideias profundas. A acessibilidade permite a deficientes se expressarem. A portabilidade dá mais agilidade ao registro. E os custos decrescentes permitem àqueles(as) munidos de vontade, repletos de conhecimento e com traços de sabedoria espalharem ao mundo uma ideia unificadora que tenderá a conduzir todos a um grande pensamento central, capaz de abarcar uma verdade mais vasta. Trata-se de uma concepção de Deus, de telefinalismo, de evolução, de criação, de amor, de ciência, de governo, de utilitarismo, nunca antes esboçada.

Está tudo ficando mais claro. A aurora da História já começou por trazer luzes de pensamento e de paixão. Grandes ensinamentos transportados através das capacidades fora do comum de criaturas tremendamente evoluídas. Seres que vieram com muita antecipação. Seres que revelaram grandes verdades - hoje sendo retomadas com as ferramentas, métodos e conhecimentos mais atuais. É desnecessário citar. O íntimo os conhece.

noosfera, assim como a biosfera e a geosfera, precisa ser nutrida. Apenas muda o tipo de alimento, que agora se dá mais no terreno imaterial, psíquico nervoso do intelecto - e já apontando para o germe da intuição.

"Na teoria original de Vernadsky, a noosfera seria a terceira etapa no desenvolvimento da Terra, depois da geosfera (matéria inanimada) e da biosfera (vida biológica). Assim como o surgimento da vida transformou significativamente a geosfera, o surgimento da conhecimento humano, e os consequentes efeitos das ciências aplicadas sobre a natureza, alterou igualmente a biosfera. 

No Conceito da Noosfera do filósofo francês Teilhard de Chardin, assim como há a atmosfera, existe também o mundo das ideias, formado por produtos culturais, pelo espírito, linguagens, teorias e conhecimentos. Seguindo esse pensamento, alimentamos a Noosfera quando pensamos e nos comunicamos.[2] (grifos meus)

Espalhar ideias e emitir opiniões é uma forma de "regar" essa esfera. Esfera de pensamento que está sendo formada. Nós estamos mudando profundamente nos últimos anos devido a tecnosfera que possibilitou ao ser humano lidar com uma multiplicidade de fenômenos. Antes era possível ser rei, mas apenas de um local, porque estes eram desconexos e o elemento força era a única forma de poder. Hoje isso não é mais possível, pois o domínio é compartilhado. Hoje, para dominar, é preciso seguir regras complexas que estão mudando a todo momento. É preciso adquirir a inteligência e a sinuosidade das palavras. É preciso cavalgar no indomável turbilhão evolutivo que arrasta a tudo e a todos.

A melancolia pode ser vista como a fase de desespero.
Percebe-se a fraqueza dos métodos do mundo. O olhar é
profundamente negador. Mas a partir do abismo da indiferença
que deverá brotar a plenitude de algo novo.
Aqueles que estão adiante, antevendo uma esfera mais pura e radiante, tem uma vida árdua. Devem conduzir o processo, antevendo e fazendo uso de elementos que já sentem como arcaicos.

Aqueles que estão atrás dessa grande marcha se veem forçados a evoluir. Dos instintos à mostra para a astúcia pensada. Da força fisica para a força econômica e psicológica. Do amor individual a um amor comunitário.

"A transição biosfera-noosfera é o resultado direto do aumento exponencial de complexidade biogeoquímica e a consequente liberação de “energia livre” devido à aceleração da transformação termo-químico-nuclear dos elementos." [idem]

O desgaste dos mundos (esferas) inferiores é a forma como a natureza reverencia as potencialidades do espírito, que na forma humana deve assumir o compromisso de criar uma nova esfera, perfeita como as outras - só que em seu nível. Nível de ideias, de pensamentos, de conhecimentos e métodos. Nível que dá o primeiro passo no universo do imaterial, que remete ao sublime. É o momento mais crítico e majestoso da humanidade. Como todas grandes transformações, é dolorosa enquanto não é compreendida em sua essência. Para isso devemos recorrer às grandes almas do passado e trabalhadores do presente, que forjam os meios - mesmo sem o saberem - para a trilha ser menos lamacenta.  

Aí vemos o conceito de ressurreição que Cristo nos trouxe. Morrer (o que já está desgastado) para renascer (apto a novas criações). É preciso evoluir os significados para manter a única força que nos mantém vivos atuante em nossa alma. Deus é indefinível. Apenas a experiência direta de Sua Lei trará o impulso necessário à evolução.

"Um dos indícios de noosfera é traduzido pelo crescente aumento de pessoas tendo a mesma ideia praticamente ao mesmo tempo, mesmo estando isoladas. Seguindo Leis físicas, a explicação para isso seria dada por uma relatividade divergente de velocidade presente entre a matéria e a energia, ou entre o cérebro e a noogênese, na qual as informações acessadas já estariam dispostas na Noosfera, mesmo que de forma primordial" [idem]

É como se estivéssemos alimentando uma camada com o passar do tempo. Forma-se uma corrente de pensamentos que circula pelo planeta. O acesso não é apenas tecnológico, mas mental.

Tudo isso foi previsto já em 1931, quando Sua Voz passa a Ubaldio desdobramento da evolução nas próximas décadas

"O progresso científico, principal fruto de vossa época, ainda avançará no campo material, no entanto está acumulando energias, riquezas e instrumentos para uma nova e grande explosão. Imaginai a que ponto chegará o progresso mecânico, ampliando-se ainda mais, se tanto já conseguiu em poucos anos! Não mais existirão, na verdade, distâncias; os diferentes povos de tal modo se comunicarão, que haverá uma sociedade única." 
Mensagem de Natal (1931) (grifos meus)

Estamos diante de um momento único. É hora de sintonizar-se à corrente evolutiva que começa a se formar. 

Observações:
* Teilhard também lecionou física e química no colégio jesuíta. Como todo seminarista, acabou estudando múltiplos temas relativos à ciência, filosofia e religião, adquirindo uma cultura geral invejável. 

sábado, 24 de agosto de 2019

A experiência

A melhor sensação da vida é a liberdade. Mas para muitos, essa liberdade não é nada mais do que a liberação dos instintos mais baixos, que consomem as energias do ser e travam os vetores mentais responsáveis pela criação. É uma pseudo-liberdade. Uma libertação ao avesso. Uma ilusão que tem um início prazeroso e divertido, porem um fim triste e desesperador. 

Existe no entanto uma outra liberdade, buscada por poucos (eu diria pouquíssimos). Ela é criadora e dinâmica. Avessa à preguiça e solta de todas amarras mundanas. Ela é altiva (imponente) e ativa (opera incessantemente). Ou seja, nesse campo de forças a criação é verdadeira gênese de ideias, inventos, projetos e formas de vida, porque se eleva acima da mediocridade dos rituais. Se destaca das ondas medianas. Se desvincula do oceano de ruído e rupturas contantes que irritam a alma. O espírito arde por novas formas de se manifestar e necessita que a mente se acalme, abandonando algumas coisas do mundo para atuar em prol de questões verdadeiramente importantes, que vão além das aparências e das formas. 

A luz irradia para todos cantos do
universo. Quem vê claramente percebe
a natureza de tudo. Tudo fica claro para
quem vê a essência das coisas.
O progredir do tempo, para algumas criaturas, se dá de uma forma completamente diferente. Ao invés de ser mera passagem de eventos, com preparações incessantes e lembranças repetitivas, se torna um devenir instantâneo que abraça todos momentos. Do remoto passado ao insondável futuro, aquele que não se conforma com a falta de disposição do mundo em lidar com questões mais substanciais (humanas, abstratas, de longo prazo, de complexidade), se vê abandonado pelas forças do mundo. A única alternativa é abandonar suas expectativas em relação a estas e contar com sua própria sinceridade e seriedade. Se coerentes, ordenadas e intensas, essas duas forças irão ressoar pelo universo físico-dinâmico-psíquico, extrapolando seus limites, acionando engrenagens poderosas cuja causa movente se encontra em outras 'regiões'.

Não é possível depositar confiança naquele que ainda não adquiriu o senso de seriedade. Seja indivíduo ou grupo, é preciso mapear até que ponto é possível tratar de certas coisas. 

Quando se chega nos limites evolutivos da psique de alguém, as reações às intenções de desenvolvimentos virtuosos (e trabalhosos!) virão na forma de piadas ou condenações ou escapismos. A maioria define o que é importante ou não. Quem faz mais ruído e usa de mais argumentos/leis/normas tem o predomínio sobre as questões. O bom senso, a reflexão e o ímpeto criativo tem pouquíssimo valor num mundo que não adquiriu a ousadia de transcender seus hábitos multimilenares. O ser se vê sozinho diante de questões que lhe incomodam. Eis o momento em que o ímpeto brota, com toda força, para vetorizar aquilo que estava em repouso - e realizar novas potencialidades.

Vivemos num mundo em que estar 'conectado' é sinônimo de vida. Vida que se tornou sinônimo de utilidade. Utilidade que é vista em seu aspecto restrito, de satisfação de rituais e prazeres (sejam eles mais ou menos elevados). Essa é a realidade mais profunda. Pode assumir níveis tamásicos (menos comum), rajásicos (mais comum) ou sáttvicos (ainda raro). Assim estamos. Mas não somos isso. 

Estado não é essência. Esta é algo profundo que sempre se manifesta de forma mais clara ao longo do progresso individual e coletivo. Aquele é uma situação presente da forma, que expressa em grau sempre insuficiente a magnanimidade da essência. 

O estado de alguém evolui para o melhor, ao longo da esteira do tempo.
A essência é única e apenas pode ser melhor descoberta, compreendida e revelada.

O estado progride no tempo.
A essência está além do tempo,

Podemos dizer que a essência progride apenas se considerarmos uma conscientização de uma perfeição perdida. Nesse aspecto a tarefa do ser humano é adquirir a noção do que ele realmente deve ser. Isso transcende sua forma humanoide. Pois nós somos seres espirituais tendo uma experiência humana - e não seres humanos tendo uma experiência espiritual.

Pietro Ubaldi nos revela que nossas criações fazem uso dos meios (coisas do mundo, incluindo mente) mas não partem de nenhuma entidade que reconhecemos como diretora:

"Quando vos falo de desenvolvimento que, por um processo automático, vai do psiquismo à gênese do espírito, sem a intervenção de nenhuma força exterior, deveis compreender bem meu pensamento. Em meu sistema, a Substância, mesmo em suas formas inferiores, γ e β, inclui, em estado potencial e latente, todas as infinitas possibilidades de um desenvolvimento ilimitado."
AGS - Cap. LXIII. CONCEITO DE CRIAÇÃO
(grifos meus)

Deus opera a todo momento em nosso Universo porque ele está além do mesmo. Porque superar não significa estar apartado, e sim englobar algo (espacialmente, conceitualmente, espiritualmente,...), dominando o que o outro reconhece e aquilo que está além dele (mas não percebe). 

É preciso que esse conceito vá se arraigando cada vez mais em nosso íntimo, pois é aí que está a chave da salvação. Por mais abstrato (e inútil) pareça, é mister se abrir a esse turbilhão de ideias revolucionárias. Um dilúvio divino que a mente racional pode negar por argumentações, ou ignorar se distraindo com futilidades. Mas jamais eliminá-la de seus próprios processos, pois quanto mais ela se desenvolve, mais descobre sobre um mundo que outrora ignorava. Chegará um momento em que será impossível não encarar de frente a questão central da vida, do universo, da evolução, das origens e do fim.

"Em sua essência, que abrange o todo, o Absoluto não age no tempo, a não ser no sentido de um átimo de seu eterno devenir, no sentido de uma Sua particular descida no relativo. É neste sentido que devem ser entendidas as Escrituras, e somente assim elas são compreensíveis."
AGS - Cap. LXIII. CONCEITO DE CRIAÇÃO
(grifos meus)

Não sabemos interpretas as Escrituras devido ao nosso grau (baixo) de consciência. Atualmente ela opera na superfície. Não percebe em profundidade, e com isso vincula tudo a questões pessoais. É o ego dominante expresso pela racionalidade argumentativa.

Na tranquilidade da natureza é possível
se conhecer melhor. 
As rupturas constantes interrompem os processos que demandam liberdade de tempo e anulamento das obrigações (das quais muitas são inúteis). A tecnologia, no sistema econômico hodierno, serve muito mais à repetições inúteis do que a verdadeiras criações e reforma íntima. Ela foi adulterada pela falta de desenvolvimento moral humano, que possui um sistema econômico que cada vez mais se evidencia como brutal, de futuro tenebroso e sem solução de continuidade na esteira evolutiva que Deus reservou a nós. 

Para realmente estudarmos, pesquisarmos, elaborarmos conteúdo de qualidade e estabelecermos relações sólidas, devemos colocar prioridade sobre o processo criativo. Se atendermos às mil chamas cotidianas, observarmos mensagens nas redes sociais e correios eletrônicos (emails), lermos manchetes de jornais, repetirmos as mesmas (e limitadas) opiniões àqueles que concordam com elas, não conseguiremos jamais criar algo verdadeiramente significativo. Concentração criadora e sociabilidade superficial são elementos que não estão em sintonia. Um é a antítese do outro. 

Igualmente, colocar expectativas em instituições, pessoas e correntes de pensamento que não podem entregar mais do que suas próprias capacidades é agir de forma pouco sábia. É preciso identificar em que pontos é possível avançar ou não em conjunto. E logo, pois isso evitará uma série de decepções. Assim, para quem vê um pouco adiante, deve-se operar em portos seguros. Trabalhar em pontos que já possuem em si certo dinamismo, isto é, disposição em mudar, revelando-se cada vez mais o que realmente são. Esse é o grande segredo da vida.

O autor sofreu uma grande decepção ao perceber que um problema não foi tratado de forma suficientemente madura. Assim ele se deu conta de que, de fato, os indivíduos não o fazem de má intenção - apenas não percebem a gravidade de certos temas - se acalmou. Será preciso buscar superar a questão mergulhando em si só, se concentrando no trabalho. 

Quem cria e faz não tem tempo para discutir e mostrar.

O mundo ainda não se sensibilizou para questões sistêmicas, que exigem uma visão mais madura dos fenômenos. A humanidade ainda não adquiriu plenamente a capacidade de projetar no tempo certas políticas (leia-se atitudes). Ou de identificar o grau de importância de certas conexões (leia-se palavras/ conselhos dos outros).

A experiência mística é aquela que fará brotar aquilo
que está enclausurado na matéria. Sair da prisão,
das limitações materiais, energéticas, mentais. Esse é
o grande desafio.
O autor se retrai e faz o seu trabalho. De forma mais intensa e criativa. Gerou mais textos, prepara três cursos paralelamente, prepara uma palestra e esquematiza um novo curso. Tudo isso de forma alternada. Não bastasse isso, há ainda a questão de sua pós-graduação e a necessidade de exercer o magistério. Sempre quer melhorar os métodos, a fala, o modo de avaliar. Mas há coisas que deseja iniciar mas ainda não teve tempo. 

O desejo de retomar sua produção intelectual, elaborando e apresentando artigos referentes à sua formação, é grande e crescente. Somado a isso esboça-se o desejo de apresentar coisas novas, a fronteira da engenharia, para turmas a se formarem. 

No mundo da vivência interior as vontades são infindáveis - nem sequer caberiam em todo esse espaço...

Recentemente faz uma breve experiência: se desconecta do mundo nos aspectos mais perturbantes. O nível metabólico está no mínimo, se restringindo apenas ao essencial, de forma a criar uma zona apta à reflexão. 

Sem paz não é possível atender os tormentos da alma.  
Essa paz deve ser exterior e interior.

Um pouco de tempo a mais e será possível chegar a conclusões prévias sobre a loucura do culto tecnológico e social atual. E sobre as maravilhas das criações, livres das amarras das expectativas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Renascença do ideal

O ideal jamais perece. Porque ele não pertence ao plano da consciência, da matéria e da energia. O ideal é uma emanação do espírito. É imortal, belo e incompreensível à mente humana. É uno, e portanto coerente. Ele embala as  ideias revolucionárias que impulsionam vetores evolutivos: ciência, fé, arte, organização social, instituições, pensamento, afetividade, tecnologias, indústria, comunicação,...Dá tom ao ritmo de transformação de um período, caracterizando uma época.

Só se percebe a importância de certos indivíduos/atos após sua passagem/conclusão por este mundo. No momento da gênese das coisas mais incríveis, que se desenvolvem de acordo com planos predeterminados, ninguém percebe o que nasceu. Os desenvolvimentos são igualmente relegados à escuridão das percepções humanas. Pobres percepções, que só são acionadas com barulhos inquietantes, piadas repetitivas, ruidosas e cansativas. Percepções grosseiras que apontam para a constituição psíquico-nervosa do biótipo predominante. Mas é esse tipo que faz a verdade. Porque no plano do intelecto (consciência de superfície), a mente é refém dos instintos, sejam eles mais ou menos virtuosos. 

 É melhor ter um bom ego do que um mau ego. Mas continua sendo um ego. O problema é não perceber que nos momentos críticos a evolução se dá na vertical. Essa vertical é a quebra de paradigmas. A superação através de uma dor profunda (vivência), que revela que aquele método...um certo modo de agir ou conjunto de modos...não levará o ser que deseja realmente criar algo novo a lugar algum. Não levará àquele "local" especial, desejado, vislumbrado em sonhos e esboçado em ensaios idealistas com uso de ferramentas do presente. 

A memória do passado deve estar além da interpretação unidimensional. A teoria das probabilidades nos leva a conclusões equivocadas. Pietro Ubaldi discorre sobre isso de forma magistral em sua Obra:

"A história jamais caminhou uniformemente, mas sempre por ações e reações, por impulsos e contrachoques, progredindo no tempo não como um rio canalizado em margens feitas pelo homem, mas como um curso d’água que, deixado livremente vagar pela planície, por ela serpenteia da maneira que o seu dinamismo lhe permite. Este processo de ação e reação contraria o que presume o cálculo das probabilidades, de modo que amanhã pode suceder o contrário de hoje. Essa é a lei da vida, que não está baseada na continuação indefinida de estados idênticos e constantes, mas sim na compensação de contrários e no seu equilíbrio. Sabemos que a oscilação entre contrários, isto é, entre um extremo positivo e um extremo negativo, em que cada fenômeno se inverte no seu oposto, é a base da luta, da evolução e da própria percepção."

Ascensões Humanas (Cap. XV: O atual momento histórico)
(grifos meus)

O que ocorre? Qual o fenômeno que não captamos adequadamente com a mente, atrasando assim a sedimentação de uma grande verdade em nosso subconsciente?

A lei da compensação (ou do equilíbrio) estabelece uma oscilação entre diversas dualidades, não-linear, que é compensada de maneira exata no desdobrar do tempo. Essa lei é a base da luta, que não apenas caracteriza a ascensão humana, mas igualmente a busca pela evolução orgânica, das espécies, das galáxias e dos elementos subatômicos. Das formas de energia e das ideias. É uma lei que vem enquadrar a teoria da probabilidade numa ordem mais vasta, que lhe dê sentido, carreando fileiras de criaturas desesperadas num turbilhão evolutivo. Esse turbilhão será ordenado e conduzido pelas ferramentas mais aptas em assimilar o fenômeno e forjar os meios terrenos para a consolidação de novas formas. É um trabalho titânico em seu momento genético e de desenvolvimento. Comumente o condutor perece de exaustão e incompreensão no meio do caminho - para outro continuar o trabalho de forma mais potente. E tempos depois reconhece-se seu valor inestimável. E vem as formas primitivas de reconhecimento, que consistem em erguer estandartes do gênio, santo, místico ou herói morto, para criaturas exercerem seus egoísmos através de rituais. Mas dessa forma alguma coisa se assimila do ideal. 

 Se a probabilidade de um evento ocorrer é considerada baixa, essa conclusão se dá porque diversos acontecimentos pretéritos comprovam a ideia de que certas coisas nunca ocorreram em determinadas condições. Quantas vezes não ouve-se o outro dizer, com segurança paleolítica, frases como "Isso nunca irá ocorrer. A História demonstra isso." Mas esse não é o ponto. Aliás, é apenas um aspecto do fenômeno. 

A vida surge assim que o planeta estabelece as condições propícias: proporção de dióxido de carbono, gás metano, oxigênio, nitrogênio, pressão, temperatura, correntes e ciclos, estruturas geológicas, entre outras. 3,8 bilhões de anos atrás isso ocorreu. Assim que esse globo incandescente se resfria, a água se faz em meio a um regime multimilenar de chuvas torrenciais que vão resfriando a superfície, e as concentrações de nutrientes na água atingem uma proporção estequiométrica que é capaz de "chamar" no campo do pensamento puro a gênese (manifestação) de formas de vida já adequadas à quele ambiente. Pobre para nós. Mas ideal para os primeiros seres (considerados) vivos que habitaram - e ainda habitam - esse planeta. 

Para compreender esse fenômeno é preciso expandir o conceito de 'vida'. Pois a vida (orgânica) só pode surgir de uma outra forma rudimentar de vida - mesmo que não a denominemos como tal. É preciso estender o conceito de 'vida' (bios) por aprofundamento de consciência, percebendo que as formas orgânicas são apenas as manifestações mais evidentes à sensibilidade humana e sua mente analítica que classifica e sistematiza.Minha incapacidade descritiva e baixeza (até vileza) espiritual me força a recorrer à fonte que mais me inspira:

"Geralmente, procurais a vida em seus efeitos, não em suas causas; na forma, não no princípio. Conheceis da vida as últimas consequências, mas descurastes, a priori e de propósito, seu centro gerador. Tivestes até a ilusão de poder reproduzir a gênese dos processos vitais, provocando os fenômenos últimos e mais afastados da causa determinante. Ora, a verdadeira vida não é uma síntese de substâncias proteicas, mas sim o princípio que estabelece e dirige essa síntese; a vida não reside na evolução das formas, mas sim na evolução do centro imaterial que as anima; a vida não está na química complexa do mundo orgânico, mas sim no psiquismo que a guia."

AGS - Cap. LI: Conceito substancial dos fenômenos biológicos
(grifos meus) 

A biologia moderna compreendeu toda a estrutura do DNA e como se dá o processo de replicação (para transmissão) dos genes. Ela destrinchou o mecanismo de coordenação. Mas não sabe o que o causa (o porquê). Qual a lógica por trás dessas formações perfeitas. Qual o princípio diretor. A coordenação obedece ao princípio diretor divino. Assim a forma se molda e se adapta. Assim as coisas renascem. Do lodaçal imundo brota a bela flor de lótus.

Na natureza infra-humana os fenômenos são perfeitos - porque alinhados com o pensamento divino. No reino humano ainda não há fenômenos. Existem processos. Estes são produtos da mente racional-analítica. As criações são artificiais e destacadas do Todo. O pensamento é sequencial e restrito aos limites dos paradigmas. As atitudes são frouxas, sem firmeza, sem convicção que dá segurança. São como uma chama bruxuleante, que a qualquer brisa ameaça se extinguir. O progresso se torna muito lento dessa forma. E doloroso. 

Os olhos já dizem tudo. Gestos e palavras são pobres.
Retomo o conceito tratado aqui, da lei de compensação. Trata-se de um aspecto que a ciência probabilística (se é que podemos denominá-la como tal) enxergou um seu aspecto limitado - e que o ser humano, julgando tudo conhecer com base nisso, desenvolveu conclusões equivocadas, que desanimam seus ímpetos advindos da alma. 

Quanto mais tentativas de realizar algo tendo em mente o ideal fracassam, maior a probabilidade de que a realização desse ideal se dê no futuro. 

O acúmulo de erros constitui a base sob a qual os pioneiros do futuro irão forjar sua couraça material, mental e espiritual. Esse acúmulo de fracassos é uma garantia de vitória definitiva de Deus, que sabiamente opera fora dos limites do tempo e do espaço. Fora da limitada consciência, que só pode conceber até certos limites. Mas é preciso que as tentativas estejam alinhadas com o ideal! Bem intencionadas. Sinceras e sérias. Assim a expansão de um polo (conservador) traz dentro de si sua exaustão, dando cada vez mais espaço para um novo movimento, totalmente oposto, se consolidar (progresso). Eis como a vitória de um acaba sendo seu futuro fracasso - e os sucessivos fracassos de outro consolidam sua vitória subsequente. 

Como a humanidade ainda ensaia sua forma de consciência nova, intuitiva, ela se apoia na argumentação e na forma para fazer valer princípios superiores. Esses meios são fracos para o que se deseja construir. Dessa forma novos sistemas econômicos e políticos não conseguem se estabelecer de modo efetivo. Quem gere melhor o paradigma atual é aquele lado que se aproveita do ódio e da miséria. Eis a direita hodierna, que assume uma forma assombrosa no Brasil. 

À esquerda cabem as falhas e erros. No entanto seu programa é o único que esboça - de alguma forma - os rumos de uma nova civilização

Mas para ter força é preciso abraçar a vertente mística da vida humana. É preciso combinar reforma íntima com justiça social - uma coisa só manifesta em seu aspecto individual e coletivo. E a partir daí se ganhará uma nova forma de atuar. Não mais reação sem reflexão. Afeto orientado e não mais argumentação interesseira.

Esse século deve consolidar na psique humana essa nova forma de ser.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Um homem sério

Um certo dia estava um jovem - em aparência e experiência - ouvindo uma preleção num centro de espiritualidade, com muita atenção. O tema era referente a seres adiantados evolutivamente, que vieram a este planeta imprimir impulsos vigorosos a um ou mais vetores do progresso civilizatório. Sua concentração era máxima. Porém seu estado interior não era aquele comum, que domina a maioria de seus semelhantes, dominados pela pressa em entender para a partir daí ignorar, ridicularizar, rejeitar ou questionar. Nada que se assemelhasse a isso. Seu estado era de profunda introspecção. Parara no tempo para adentrar nas divagações íntimas da alma, em que o desligamento exterior fazia os nervos inverterem sua orientação de sensibilidade, tornando as dores e ruídos físicos menos intensos. O trovejar interior do silêncio se fazia. O interior se fazia mais presente do que o exterior.

As melhores sensações se dão no silêncio pleno.
Em meio a profundas reflexões, essa criatura tem uma visão. Constrói-se diante de si uma verdade que passará a orientar o resto de seus dias. Essa verdade diz respeito à seriedade

Findada a preleção, aquele que outrora se dirigira ao público com segurança e determinação ouve uma pergunta simples, porém fora do comum:

"Pode-se concluir, então, que quanto mais sério o espírito, mais evoluído ele é?"

O homem recebe a pergunta de surpresa. Não sabia ao certo a resposta. Nunca havia pensado sobre aquilo. Sua face e seus gestos apontavam para isso. Já seu olhar dava a certeza. Ficou uns bons 5 segundos - que pareceram bem longos para aquele que fizera a pergunta - antes de lançar uma resposta titubeante:

"Sim...podemos dizer isso." 

A resposta não tinha a segurança da certeza nem o ímpeto da paixão. Nem a candente palavra que alegra o coração - nem a cortante racionalidade que demonstra e comprova. Era uma resposta que falava mas não dizia. Uma resposta (infelizmente) vazia. 

Para uma pergunta ainda muito à frente do momento evolutivo, uma resposta que lança o investigador da alma à solidão. O vazio da resposta parece ser um retrocesso doloroso, diante do qual o idealista sonhador, cheio de coragem e criatividade, se vê privado de avançar por falta de caminhos abertos. Diante dele, paredes robustas e um mar de explicações sinuosas que drenam energia e tempo.

Esse jovem percebeu que ele é uma pessoa séria. Muito mais séria do que a média. Para certas questões (verdadeiros pontos nevrálgicos). Esse dia foi o ponto de inflexão em sua vida desorientada. A partir daí ele começaria a se conduzir pautado por orientações diversas. 

Trata-se de um ser invertido neste mundo. O que para ele é sério, para os outros não o é - ou se é, o é para poucos e nem tanto. E o que é sério para os outros para ele não o é. Nem para todos os casos, mas em alguns pontos. E ao que parecia, quanto mais crucial era a questão para os outros, mais idiotice era para ele. E vice-versa.  A questão material fundamental, no entanto, se fazia exceção devido aos férreos e cruéis imperativos do mundo, que esmagavam o ser que ousasse ignorar seus rituais. Então era dada uma certa importância a certas questões. Mas apenas devido às ameaças do mundo (que assumem várias formas, desde as mais belas e atraentes da sedução através dos gozos, até as mais terríveis e cruéis, que lançam o ser ao vazio financeiro, social, profissional e psicológico). Era uma preocupação por precaução. 

Quem está no AS deve cumprir suas leis - mesmo que elas estejam fadadas a falir e causem dores não percebidas por aqueles que se sentem confortáveis no lamaçal terrestre.

Vivemos numa era de profunda transformação. Os limites planetários chegaram ou foram ultrapassados devido à insaciabilidade humana. Não há nem haverá paz num mundo que colocou no pedestal a necessidade da comunicação permanente. Da sociabilidade destituída de sinceridade e seriedade. Da competência em função da aparência. Do gerenciamento da miséria. A fonte dos males está longe de ser percebida. E quem se lança a essas descobertas e propõe novos métodos se vê anatemizado perante a sociedade das aparências e dos confortos. 

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Excessos e carências... Por quê? Para quê?
Quem deseja ser tratado de forma séria deve sê-lo antes de tudo. Mas de nada adianta sê-lo se as questões a serem manuseadas seriamente forem exigir muito do biótipo predominante. Ele então, em  manada, ignorará o problema de todas as formas possíveis - sempre em nome da aparência e sociabilidade

Apenas aquelas pessoas que já possuem em seu imo uma centelha de consciência já realizada irão responder a um chamado de seriedade à altura da fonte emissora. 

Esse espaço virtual não nasceu com o intuito de entregar belas palavras e esperanças cosméticas para agradar a um público que está no conforto do lar em busca de belas palavras para admirar e sonhar. Ele nasce por orientação divina, com a tarefa de levantar com sangue, suor e tensão, um periscópio imponente num oceano de receios, incertezas e falta de verdadeiras iniciativas. A pobre criatura que escreve é uma ferramenta que se sente na obrigação de emitir belos gritos de dor quando o mundo a martela sem sabê-lo. Sim, sem saber. Porque a insensibilidade do conjunto de indivíduos forma uma massa inerte que resiste a qualquer manifestação de introspecção e transformação substancial. 

Você, que lê tudo e sente no íntimo a profundeza das palavras, arregalando os olhos da alma e se enchendo de esperança ao saber de um universo muito "maior" do que este que a ciência nos apresenta. Dê um passo adiante e faça os primeiros ensaios. Em pequenas doses. Na medida do possível.

O autor nunca recomenda algo que jamais praticou. Isso seria se eximir do trabalho evolutivo que arrasta a todos - por bem ou por mal. Já esteve diante de vários precipícios que se revelaram minúsculos buracos. Por quê? Simplesmente porque, quem possui a segurança de ter feito um bom trabalho, seriamente e de forma transparente, se dedicando de corpo e alma ao mesmo, tem sua consciência limpa e sabe que aconteça o que acontecer, está nas mãos de Deus conduzir o processo subsequente. E quando alguém se abre para a Lei de Deus, esta entra em operação de maneira espetacular. Tão espetacular, que apenas quem já percebeu seu caráter real e natureza profundamente lógica (superlógica diante de nossa racionalidade), pode admirá-la na medida que esta merece. Assim que as névoas da incerteza desaparecem, a potência do imponderável atua em prol daquele que está servindo a princípios superiores. 

Se tudo que foi escrito até hoje (mais de 400 ensaios) tem alguma vírgula de aparência ou de interesse pessoal, que a ferramenta seja aniquilada e jogada às trevas! Aqui só se imprime sensações da alma e projeções da intuição. Esboços de novos processos e possibilidades para uma verdadeira civilização.

Ser sério perante questões do sentimento cândido é estar conectado a Deus. Mesmo que se sofra horrivelmente com a falta de inciativa do semelhante - criatura que infelizmente não adquiriu a sensibilidade necessária nem a vontade de agir inesperadamente. 

Falar com o outro até a exaustão da chama finita dos argumentos da mente para, a partir daí, extrair a essência divina que pode renovar as intenções humanas, é uma das construções mais fantásticas que as pessoas podem realizar hoje em dia. A única (e imponente) barreira a isso é o medo e o egoísmo, que estão relacionados e engessam o ser em sua criatividade. São características engessadas no subconsciente que engessam os atos e paralisam a mente na vertical evolutiva. Pensa-se muito, mas apenas em superfície. Andar um passo na profundidade vale mais do que deslizar mil passos na superficialidade que nada resolve. 

Einstein (muito sabiamente) já dizia: "Nós não podemos resolver um problema com o mesmo estado mental que o criou". O que se pode é manipulá-lo, transformando-o num tipo de problema mais sofisticado, apto às novas capacidades das pessoas e dos sistemas que operam a civilização. Mas quando se atinge um limite, em que os artifícios humanos da mente e as capacidades industriais se mostram incapazes, é hora de pensar em novas formas de ser. De ser, de agir, de se relacionar...

A cada acontecimento percebe-se mais claramente como é de fato o mundo. Pancadas incessantes vão convencendo o ser de que existe uma força imensa paralisando as pessoas - e cabe a elas, por si mesmas, acessar esse reino de inércia e transformá-lo num reinado de vida e consciência.

Deve-se respeitar o mundo. Deixá-lo com seus rituais. Isso é respeito. Mesmo que seja equivalente a jogar o outro a misérias que poderiam se resolver de forma mais rápida. 

Huberto Rohden dizia (e diz) algo que parece cada vez mais próximo de ser uma lei universal:

"Nada se pode esperar do homem que algo espera do mundo -
Tudo se pode esperar do homem que nada espera do mundo."

Como as pessoas sempre esperam algo do mundo, nada se pode esperar delas. 

Quanto mais o aspirante a superação avança na senda da intuição, mais solitário se sente. A "barreira do som espiritual" está um pouco mais próxima - a turbulência grita cada vez mais, abalando sua estrutura psíquico nervosa a tal grau que viver em sociedade passa a ser insuportável. Momentos sem sentidos por não se poder ser o que se é. Por não ser permitido avançar em certos pontos. Não há colaboração quando se trata de avanços que se situam em regiões imponderáveis. 

O que fazer então, quando se necessita de um mínimo de colaboração? Onde buscá-la?

No único "lugar" possível...dentro de si!

Deus se fez imanente quando optamos por não seguir sua Lei. É graças a isso que tudo evolui. Que a vida brota em meio à destruição. Que as ideias nascem e se renovam constantemente. Que o mundo arde e sofre, mas assimila às escondidas aquilo que outrora crucificou. 

No aspecto transcendente Deus é potência infinita que opera os milagres.
No aspecto imanente Deus é ímpeto interior que viabiliza a ressurreição.

Se alguém realmente está ciente da realidade de todas essas coisas, irá tratá-las de modo sério e tentar permear as facticidade humanas com um mínimo dessa substância. 

Porque todo o resto irá perecer - por mais numeroso que seja...

sábado, 17 de agosto de 2019

Equilíbrio dinâmico orientado

Equilíbrio se relaciona à estabilidade ou concretude.
Dinamismo se relaciona a movimento ou vir-a-ser.
Princípio se relaciona à lei ou conceito.

É preciso ter uma vida equilibrada para dela emanar atitudes equilibradas. Mas isso apenas não basta. É necessário progredir nesse equilíbrio que nos dá estabilidade para caminhar rumo à libertação (física, mental, espiritual). É imprescindível ascender, tornando nossa essência mais visível, capaz de influenciar as formas que assumimos temporariamente nesse caminhar evolutivo ditado pela esteira do tempo e limitado pelas leis da matéria e energia. 

A gênese da matéria-energia (ou estequiogênese).
O dinamismo nos dá o impulso necessário para novos rumos. Ele nos conclama a mudar, forçando o ser a assumir posições que ele teme. A dizer coisas que ele sente serem verdadeiras e necessárias - mas que as convenções sociais inibem. A rever seus pontos de vista a respeito da vida, do trabalho, da ética, do amor. É um movimento psíquico, que plasma o pensamento, influenciando ao longo do tempo os processos cognitivos, inserindo características muitos sutis na organização nervosa cerebral. 

A lei que rege o Universo permeia cada átimo do mesmo. Ela é única, mas se manifesta de variadas formas. No nível subatômico ela é percebida pela mente racional como probabilística e deixa de ter uma concretude. As definições formais não definem. A mente fica inquieta e atordoada. O coração vê isso e se sente atraído pelo mistério. As conclusões remetem aos conceitos místicos e nos fazem pensar em colocar a divindade, o eterno e o infinito como premissa e finalidade.

No mundo astronômico nos perdemos nas vastidões do tempo e do espaço. Dimensões que, extrapoladas, parecem ser infinitas. Mas a extensão num dado nível não nos fornece a explicação necessária para superarmos os problemas (desse nível). É imperioso conquistar uma nova visão. Visão que só pode vir a partir de uma nova perspectiva. Perspectiva que nasce de um novo ser. Renascer. Ressurreição...

Das dimensões baixas nos elevamos para as manifestações mais rudes do espírito. Chega-se à vida, que nada mais é do que o meio inicial para a manifestação e desenvolvimento do psiquismo. 

A gênese da vida - ou biogênese.
A combinação de elementos moleculares específicos, com pesos atômicos e configurações que lhes dão propriedades capazes de construir blocos aptos a assimilarem matéria inorgânica e transformá-la em mateŕia orgânica, - usando não apenas a radiação mas igualmente outros elementos químicos* - fazem brotar diante de nossos olhos as condições para a vida. Adentramos no mundo orgânico, que a biologia e suas ramificações (ecologia, citologia, botânica, anatomia, genética, etc.) observam e cujos mistérios tentam desvendar. 

A vida leva a grau mais sofisticado o que a energia - cuja dimensão que lhe permite existir é o tempo - vinha ensaiando. A Grande Síntese nos dá uma ideia muito clara a respeito disso, confirmando o que a ciência afirma:

"Nas formas de vida, à medida que a Substância atinge graus de evolução e diferenciação mais elevados, o princípio de individuação se torna cada vez mais evidente. Na energia, as formas já conquistam uma existência própria independente de sua fonte originária. A luz, uma vez lançada, destaca-se e existe por si mesma, progredindo no espaço."
AGS (Cap. XLIX, Da Matéria à Vida)
(grifos meus)

A gênese da matéria é um princípio bruto que fascina os físicos e dá o substrato ao processo evolutivo, criando a forma e o devenir. Ela estabelece as bases de desenvolvimento do universo físico-dinâmico-psíquico. É a inserção dos princípios ternários do Sistema (S) no Anti-Sistema (AS). 

O cérebro deve ser usado em sua integridade.
A gênese da vida é a elevação da matéria, que se transforma localmente, em múltiplos pontos, de várias formas particulares, para iniciar o processo evolutivo de forma minimamente liberta e consciente. A partir desse ponto a progressão dar-se-á de forma acelerada, sendo o tom da mesma ditada cada vez mais pela criatura. Criatura com íntimo divino, cuja reconquista de sua consciência lhe dá a capacidade de forjar meios cada vez mais adequados para a reabsorção do erro que a mesma cometeu ao abraçar o egoísmo. Dessa forma, a vida se traduz num hino de louvor ao processo de redenção. O ser inicia sua majestosa ascensão rumo ao seio de Deus.

"Nosso caminho, alcançando a vida, atinge regiões cada vez mais elevadas. Desta exposição irrompe um hino de louvor ao Criador. Minha voz se funde no imenso canto de toda a criação. Diante do mistério que se realiza no momento supremo da gênese, a ciência torna-se mística expansão; a exposição árida, permeada pelo hálito do sublime, incendeia-se; o senso do divino sopra através da crua fenomenologia científica. Diante das coisas supremas, dos fenômenos decisivos, que somente aparecem nas grandes curvas da evolução, os princípios racionais da ciência e os princípios éticos das religiões se fundem no mesmo lampejo de luz, numa única verdade. Por que deveria a verdade racionalmente descoberta por vós ser diferente da verdade que vos foi revelada?"
AGS (Cap. L, Nas Fontes da Vida) 
(grifos meus) 

No momento atual a evolução humana atinge seu ápice orgânico. O mundo social e os novos conceitos econômicos, culturais e científicos apontam para a importância do pensamento e todas suas implicações. As relações passam a ter mais peso do que os elementos. A colaboração dita mais do que a competição. O tom da evolução passa a incorporar um senso colaborativo. 

A soma que outrora era vista apenas como quantitativa se torna qualitativa. Nesse novo mundo a soma das partes pode ser mais do que a soma do todo. 

Pode porque deve
Deve porque (no íntimo) quer.

A complexidade exige o sacrifício das quantidades. Ela é produto da emergência de novas formas de existir, com modos completamente diferentes de se reproduzir e pensar. O caminho é cada vez mais orientado. Os ensinamentos de Buda são revisitados como possuidores de verdades imensas e portanto essenciais. Voltamos aos princípios para permear nossas criações com o halo divino.

Estamos na fase em que o desenvolvimento do egoísmo nos levará a conclusões que irão de encontro com o Evangelho.

"Assim como, no direito, a força evolui para a justiça, o egoísmo também evolui para o altruísmo. À proporção que eleva os indivíduos para mais altas especializações, a vida os reorganiza, pelo princípio das unidades coletivas, em unidades sociais cada vez mais complexas e compactas."
AGS (Cap. LXXXIX, Evolução do Egoísmo) 
(grifos meus)

Ele teve sua função no passado. Agora deve progredir em seu devenir, assumindo uma forma sofisticada que o distancia cada vez mais de sua origem rudimentar.

"Na evolução social, o egoísmo tem de sofrer profundas modificações. Como todos os impulsos da evolução, ele domina apenas enquanto o progresso assim exige, sendo superado depois, para se transformar diante de um novo progresso."
AGS (idem)

Agora é momento de olharmos para dentro de nós, fazendo tentativas de perceber os dramas vizinhos e distantes. Dramas que se fundem de forma cada vez mais evidente, criando um liame que irmana as criaturas.

É hora de admitirmos nossas misérias humanas para que possamos divinizá-las. É hora de assumir compromissos e seguir planos não reconhecidos plenamente pelas instituições e formalismos racionais. Planos ousados. Mas ousados de forma inteligente. A questão é adquirir a fé que anima - e abandonar a crença que engessa.


Observações:

* A quimiossíntesse é realizada por bactérias autótrofas e não necessita de luz para produzir matéria orgânica, alimento direto, em 1º nível, para muitos seres vivos. Link: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/quimiossintese.htm>

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Uma progressão do princípio 'do ut des'

A luz do Sol banha tudo ao seu alcance. Aproveitá-la depende
da capacidade receptiva de cada criatura.O heliotropismo do
girassol é o teotropismo do ser humano. Só que este ainda
não tem pleno conhecimento disso. 
No mundo vigora a lei do ut des (dou para que tu me dês) em sua forma mais grosseira. Ela pode ser enunciada de forma mais precisa da seguinte forma: "Eu te dou apenas com o intuito de receber algo em troca, na mesma proporção, de ti." Todas as relações humanas se baseiam nesse princípio. O mundo econômico - que estabelece as relações de troca de bens e serviços, e a atribuição de valores monetários entre as pessoas - apoia todas suas teorias nesse axioma. Parte-se do pressuposto que a intenção humana é governada por essa lógica. Essa é a regra. Regra que não muda e não admite exceções.

Um olhar mais minucioso nos permite ver que a lei pode ser expandida. Conforme nos revelou Pietro Ubaldi em seu volume Ascensões Humanas:

"A nossa economia moderna se baseia inteiramente sobre o “do ut des”. Mas a lei do dar e receber é mais ampla na economia da vida e não se limita apenas a recompensar quem nos deu e na medida em que nos deu. Na divina atmosfera alimentadora de tudo, as trocas são vastas e infinitas, e não nos devemos preocupar se não recebemos de quem foi por nós beneficiado e na proporção do benefício. Dá e te será dado. A compensação não se sabe de quem, nem como nem quando virá, mas virá. É necessário compreender que a divina economia do universo é vasta, sempre comunicante, automática e inevitavelmente compensadora. O benefício realizado por nós a um anônimo, que não se verá mais depois, tanto circulará pelas vias da vida, que deverá voltar a nós. Se nós, contudo, não nos enriquecermos com tais créditos, mas, pelo contrário, acumularmos débitos em face aos equilíbrios da lei de Deus, o que então pretenderemos obter de retorno?"  (Grifos meus)

A lei de compensação transcende os limites do nosso concebível. Ela não está interessada num equilíbrio compensador entre dois indivíduos, de modo bidirecional, com uma equivalência na forma do produto ou serviço que se intercambia. Ela se dá numa malha aberta, que se estende ao infinito em termos de possibilidades, albergando toda forma de bem ou mal, em vários níveis, ritmos, intensidades e modos. Ela é uma cadeia entre indivíduos humanos, desenvolvimentos coletivos (que pipocam numa série de eventos elegantemente ordenados) e ritmo sublime que dá tom a cada acontecimento, potenciando-lhe ou diminuindo-lhe em potência, conforme os desígnios da lei divina. Estamos diante de uma nova ciência, cuja essência se relaciona com o fenômeno da mecânica do milagre. Por isso a imensa maioria da humanidade não crê em Deus e (como consequência) no fenômeno do milagre. 

Nosso conhecimento atual é incapaz de estabelecer relações compreensíveis entre uma série de acontecimentos banais (mas sinceros) e explosões fantásticas de eventos, que elevam um ser de um lodaçal, alçando-o a regiões seguras onde ele possa trabalhar em paz; ou enchem esse ser inerme de couraças, desbaratando ataques jurídicos, financeiros ou psicológicos vindos do mundo. Quem não usa os métodos do mundo E possui uma alma ardente e sincera, que trabalha sem cessar e busca sempre se superar, destruindo-se sem medo para construir novas formas de vida, com sentimentos sublimados e pensamento orientado, está inconscientemente acionando engrenagens de uma grande máquina. Máquina divina, que opera de forma orgânica e com precisão fora do comum, para garantir que aquele obediente que executa a obra de Deus tenha sempre a seu dispor o mínimo necessário para cumprir sua função. 

O bom trabalhador será sempre recompensado por seu mestre, que jamais lhe deixará ser destruído. Pois essa criatura está construindo a verdadeira obra, mesmo sem sabê-lo, que culminará num dos pontos de apoio para uma nova civilização. 

Os alicerces deste mundo estão ruindo juntamente com bilhões de personalidades. Pessoas que se apoiam num modo de operar falido devem se desprender de um paradigma superado - que somente causa mais dor à medida que se expande em sua horizontalidade racional. Se livrar dessa forma mental é o desafio dos tempos modernos. A fórmula reside em cada um de nós. Alguns grandes sábios podem dar as orientações. 

As grandes escrituras sagradas do passado trouxeram as grandes revelações. Verdades universais, imutáveis devido ao seu contato com o Absoluto. Mas a distância entre o modelo (a linguagem alegórica) e a realidade dos fatos foi incrementando à medida que o progresso científico-tecnológico se deu. Somado à transformação no modo de organização coletiva, cujo marco é a Revolução Francesa, e ao advento da Informatização, da Inteligência Artificial e da Automação, temos diante de nós uma sociedade global que ensaia de modo muito pueril a criação de uma noosfera

Temos um senso ainda fraco de cooperação e operação sistêmica. Deixamos de captar o sentido imprescindível que determinadas instituições devem possuir numa civilização. Perdemos seu significado substancial em vistas de algumas experiências históricas relativamente trágicas, em que certos sujeitos - com interesses egoístas - elaboraram uma teoria em que grandes conquistas da civilização moderna são no fundo um problema, e que o papel das mesmas é (no fundo) servir à liberdade econômica, sendo o mercado a criatura a ser alimentada às custas de todo resto (leia-se saúde, cultura, educação, espiritualidade, previdência, direitos, igualdade, tributação justa, ciência, tecnologia, natureza, etc.). Assim relações de superfície (fáceis de serem assimiladas pela mentalidade hodierna) são despejadas a todo momento, de toda forma. Filmes, livros, correntes de pensamento e fatos são apresentados de forma convenientemente fragmentada. Às vezes bem construídos. Mas com interior carcomido devido a insustentabilidade substancial, com ideias belas por fora mas intenções diabólicas por dentro. Assim, aquele que faz perquirições e experimentações descobre um monstro conceitual. Um demônio permeado de ideias contraditórias que estão assim dispostas com o único fim de satisfazer o multimilenar subconsciente do homem.

Possuímos inúmeras camadas (como as marioshkas russas).
Devemos descascá-las  para revelar nosso núcleo central.
Lá está a consciência universal que nos anima...
O Diabo existe e possui seus métodos. Ele joga em todos os campos. Em mim, em ti, nos outros, nas instituições, sejam elas quais forem. A diferença reside no fato de que algumas pessoas (e grupos) tem uma maior ciência desse fenômeno, e às vezes optam por tentar superar esse problema, fazendo o que é certo mesmo sabendo que haverão outros que irão se aproveitar de sua exposição para fincar sua lança e destruí-lo. Mas essa aparente derrota - por vezes dolorosa - abre as portas para uma libertação futura, que inicialmente virá para alguns, depois para outras. E à medida que o tempo passa e os acontecimentos bailam ao redor de um eixo central diretor, que dá tom à dança, surgem atores à altura que sabem dar os passos elegantes desse bailado coletivo. E assim o bumerangue dá um giro virtuoso, abalando os alicerces da podre civilização moderna - prestes a ruir. 

Podemos nos aproximar da Lei de Deus através do estudo de sistemas complexos. Esse estudo constitui uma nova visão da realidade. Não dá resposta - apresenta questões intrigantes que fascinam e assombram. Usa novos métodos para trabalhar. Aquele que mergulha em seus detalhes pode se ver diante de dez vezes mais perguntas, com uma proporção menor de geração de respostas. Mas no fundo, o seu conhecimento a respeito do universo, se reforça, ao passo que alguma parte deste se transmuda em sabedoria, dando à criatura paz em meio a tempestade e criatividade ímpar - às vezes jamais esperada pelos outros. O aumento de dúvidas de converte em gênese e potenciação de consciência. 

Desse modo o princípio 'do ut des' se revela como a manifestação superficial de uma lei muito mais profunda. 

Fazer o bem aos outros desinteressadamente é a melhor forma de garantir crédito no banco de Deus. A forma pode ser destruída - mas a substância progride. O ser, progredindo, renasce numa nova forma, mais bela e potente, capaz de lidar com maior número de contradições e munida de coragem ímpar, tornando a personalidade frouxa que outrora se arrastava na esteira do tempo um indivíduo que volita em torno de uma espiral ascensional.

Referências
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Noosfera