quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Desconstruindo mitos

Vocábulos como "meritocracia", "empreendedorismo", "crescimento econômico", "produto verde", entre outros se tornaram um mantra. A sociedade acabou naturalizando e admirando essas palavras de tanto ouvi-las. Não sabemos exatamente o que é cada uma dessas coisas. Se alguém nos interrogar à fundo, dando exemplos e contraexemplos, e pedir para que expliquemos o motivo de um processo ser meritocrático ou empreendedor, não sabemos de fato o que algo é.

Devemos retornar às origens para nos corrigirmos.
Hoje em dia no Brasil (mas no mundo também), em todos circuitos sociais, empreender significa progresso financeiro, de vida, de saúde, de tudo. Políticos se elegem com esse slogan - afirmando que irão estimular o empreendedorismo. Para isso deixam a máquina pública menos atuante. Aos poucos, a influência do setor público na vida das pessoas diminui. Ano após ano. Década após década. Com longos períodos, as diferenças começam a ficar visíveis.

As informações revelam que manter um padrão de vida mínimo (moradia, alimentação, acesso a água, transporte, saúde básica, vestimenta) é cada vez mais desafiador [1,2]. É preciso cada vez mais aceitar a realidade como é para talvez (talvez) garantir o seu não-extermínio (psicológico, social, físico, cultural). Ou seja, não dormir, danificar o organismo, optar entre ter uma cama ou se alimentar; entre se alimentar bem ou não ter condições de manter o filho na escola; optar por pagar uma fortuna ou duas por um serviço que realmente não seria necessário.

O vídeo abaixo revela para onde caminha nosso sistema global. Mantê-lo é garantia certa de extermínio - nem que a espécie sobreviva por mais milhares de anos. De nada adianta sobreviver se isso representa se perpetuar de uma forma pré-histórica.


A diversidade de opiniões, ao contrário de ser indício de liberdade de expressão, é uma autorização para que todas as pessoas, em larga medida desesperadas, liberem visões de mundo plenas de ideias preconcebidas e fatos que satisfaçam seus instintos (e de seu grupo). Não há orientação. A lei da novidade é a que conta. A originalidade da mentira prevalece sobre a repetibilidade da verdade. Porque esta (a verdade) é uma só, sempre. Não pode ser original pelo simples fato de que ela se liga à essência una - e não a existências múltiplas .O que se pode fazer é renová-la de tempos em tempos. Essa é a missão dos gênios, seja no campo da arte, da ciência, da administração, da liderança, da invenção ou do pensamento. Nesse aspecto a Vida e Obra de Pietro Ubaldi tem a possibilidade de trazer um impulso impressionante à humanidade. Mas é preciso que as pessoas despertem para o porquê da importância disso tudo.

Através de uma leitura profunda dos acontecimentos é cada vez mais natural irmos em direção ao questionamento. Observamos que o que é moda de fato é loucura. Isso se aplica ao empreendedorismo.

Em sua acepção radical (de raíz, fundamental), empreender é:

verbo
  1. 1.
    transitivo direto
    decidir realizar (tarefa difícil e trabalhosa); tentar.
    "e. uma travessia arriscada"
  2. 2.
    transitivo direto
    pôr em execução; realizar.
    "e. pesquisas"
É uma empreitada titânica. De grande esforço. Que exige muitas de nossas habilidades e capacidades, energia e uma criatividade. E um pouco a mais, se quisermos ter sucesso - o diferencial. Mas não sabemos exatamente como desenvolver esse plus. Nem qual a receita para fazê-lo. Há portanto riscos em atividades desse tipo.

Lao Tsé. Monista. Empreendedor de verdade.
Agora, reparem que empreender não se relaciona a atividade econômica - muito menos financeira - exclusivamente. É a mentalidade hodierna que se acostumou a estabelecer essa identificação. E o sistema (a lógica que preenche a "atmosfera mental") faz questão de reforçar isso através de suas propagandas e narrativas, presentes em seus produtos, serviços, filmes, músicas, sistemas educacionais e arquitetura social.

Homens poderosos dizem que o empreendedorismo é o futuro. Ele nos tornará independentes do Estado. Não serão necessários direitos. A coisa pública (dizem ou pensam) é um dinossauro que deve ser diminuído gradativamente - exceto para garantir o controle sobre a população e a extração de recursos da mesma. Criaram se narrativas para justificar essa visão. Uma série de notícias são apresentadas. Histórias contadas. Pessoas elevadas (ou silenciadas). Com a função de tornar cada vez mais aceitável essa visão de mundo. Mas as coisas simplesmente não encaixam...

Uma série de empreendedores ficaram riquíssimos com inutilidades [3]. Esses exemplos são muitos.

Por que isso ocorre?

Porque o sistema (isto é, a lógica predominante coletiva, a qual as instituições servem de variadas formas numa grande rede) recompensa esse tipo de empreendimento. Assim vemos bilhões (se não trilhões) de dólares anualmente direcionados para os bolsos daqueles que não melhoram o estado das coisas no mundo, sob nenhum ponto de vista (social, econômico, cultural, espiritual, educacional, científico, ambiental, atmosférico, filosófico, etc.).

Mas mesmo se observarmos os empreendedores relativamente úteis, como Bill Gates, fundador da Microsoft, nada justifica sua fortuna. Isso se aplica a todos bilionários do mundo, cuja lista é facilmente acessível [4]. Não há motivos que justifiquem uma recompensa tão alta, tanto em termos monetários quanto em níveis de admiração global, a um indivíduo. E o uso que essas pessoas fazem dos recursos não é tão bom quanto aparenta (ver vídeo abaixo).


Investir em setores apontados como soluções para a sociedade e o ambiente não significa de fato que estes (setores) são a solução efetiva, viável, desejável ,sustentável, para o planeta (isso inclui nós, homo sapiens). Vandana Shiva [7] destaca essa questão na entrevista acima. Recomendo às pessoas investigarem melhor esse tema, pois o que aparentemente pode ser uma ação benéfica muitas vezes se revela uma arquitetura de destruição silenciosa e inocente. Da mesma forma, cultivar vegatais in-vitro e produzir carne artificial não me parece a solução da humanidade [5]. O simples fato de nos desconectarmos cada vez mais da natureza é bizarro. O divórcio entre natureza humana e infra-humana é prejudicial para quem está acima (nós), dependentes das bases (ciclos de carbono, água, nitrogênio, biodiversidade, etc.) e de seus significados (para a psique humana). É preocupante observar que pessoas que buscam um mundo melhor, como George Monbiot, não enxergam essa questão. Certamente um pouco de conhecimento e vivência de outras vertentes da vida trariam a pessoa de volta à si. Para isso é preciso permear as coisas do mundo com uma visão mística, transcendente, espiritual.

Mas voltemos à questão dos bilionários.

Concentrar renda elevadíssima na mão de pouquíssimos não significa geração de empregos e oportunidades. Os dados revelam o contrário - pelo menos a partir de certo ponto, que ao que parece foi ultrapassado há algumas décadas. Nunca a concentração de renda foi tão grande em nosso mundo, segundo o último relatório da Oxfam [1]. Por outro lado, o desemprego cresce. Ou, se diminui, se plasma num emprego cada vez mais instável, precário, do tipo "empreendedor".

O setor de serviços aumenta em relação ao industrial. E a informalidade cresce, ocupando o lugar que outrora era da formalidade. Dessa forma a tendência é clara: haverão cada vez mais empregos desvinculados do setor industrial e regulamentados. Ricardo Antunes explica a lógica do sistema moderno:

Não se trata de ideologia, e sim uma visão sociológica do mundo do trabalho. Parece ser comum - especialmente no Brasil - confundir cientistas sociais que descrevem a realidade e suas possíveis (e prováveis) consequências com revolucionários insanos sedentos por guerra e sangue, por regresso e desentendimentos. Somente uma coisa explica esse ódio àqueles que descrevem a realidade: incapacidade de lidar com a natureza de um sistema falido, prestes a implodir.

Sim. É duro ouvir isso. Mas precisamos acordar. Estamos (estivemos) sempre um ou dois passos atrás da marcha predominante. Vez ou outra o bom senso conseguiu ocupar um nicho na marcha da humanidade, garantindo mínimos direitos, regulação e condições de florescimento de ideias. Mas na fase atual estamos mergulhando num abismo.

"Claro", você vai dizer. "Mas sempre passamos por mergulhos em abismos. Até piores do que agora...Pense na Peste Negra, na Escravidão, na 1ª e 2ª Guerra,...". Sim. É verdade. Eu concordo. Mas a questão é: hoje, nosso poder de difusão de informação é imenso. O potencial de manipulação de corporações é global e intocável. O ritmo das mudanças é vertiginoso - tão alto que um simples piscar de olhos pode nos deixar à deriva nessa marcha insana rumo a competição e a ter sucesso nos negócios.

Nada (ou quase) está em sintonia com os ensinamentos de Buda, de Cristo, de Lao Tsé. Apesar disso, existem pessoas que já despertaram e começam a falar de forma muito clara a grande Verdade. Sob muitos pontos de vista: idealista e filosófico (Vladimir Safatle, Márcia Tiburi), jurídico e social (Alysson Mascaro), vivencial (Eduardo Marinho), financeiro (Eduardo Moreira), trabalhista (Ricardo Antunes), fiscal (Maria Fattorelli), social (Jessé de Souza), sistêmico e energético (Jacque Fresco, Luiz Marques), de saúde (Drauzio Varella), educacional (Daniel Cara), político (Marielle Franco, Jean Wyllys, Jandira Feghali, Luiza Erundina), científico (Sidarta Ribeiro), ecológico (Antônio Nobre e Carlos Nobre), monista (Gilson Freire, Maurício Crispim, João Attilio) entre muitos outros(as).

Não há sentido em recompensar tanto tão poucos. Mesmo se suas ideias foram relativamente (relativamente...) úteis. Mesmo porque quem define isso é o sistema - sustentado sempre pela inércia humana, que o torna tão poderoso justamente por esse imobilismo psíquico. Caso contrário Beethoven, Van Gogh, entre outros deveriam ser bilionários  ou trilionários. Ou seja, quem quantifica o valor das ideias e criações é o sistema. Assim, nos direcionamos sempre tendo por base essa lógica sistêmica.

Há três problemas (mortais) intrínsecos no capitalismo neoliberal:

1) Ele é incapaz de recompensar ideias verdadeiramente boas;
2) Ele exagera na recompensa de ideias;
3) Ele recompensa ideias ruins ou péssimas.

E uma consequência é:

4) O indivíduo deseja se perpetuar de acordo com a lógica que o alçou ao poder.

(1) ocorre porque ideias verdadeiramente boas levaria ao fim do (anti)sistema que temos. Elas integrariam, redistribuiriam, libertariam as pessoas da escravidão de uma vida inútil. Dariam um sentido à vida das pessoas. Fariam todos começarem a refletir. Ganharem coragem para ir além do senso comum, das aparências. Ganhariam coragem e se associariam de formas cada vez mais originais. Tenderiam a caminhar para o imaterial, o intangível, as causas, a unidade, a sustentabilidade, o equilíbrio, o pensamento com sentimento.

(2) é fruto da natureza do sistema. Ele preza diferenças porque opera com base na inveja e ciúmes dos indivíduos. Reforça a ilusão. É assim que ele consegue manter as engrenagens em movimento e as forças ativas. No nível evolutivo atual, é sempre necessário ter alguém de onde extrair o nosso prazer. Enquanto vivermos de acordo com essa lógica de escassez seremos sempre escravos uns dos outros - e servos da lógica dominante. 

(3) é quase que uma expansão de (1). Ideias boas de verdade não são aceitáveis porque levariam ao fim da exploração e sofrimento. Ideias com aparência de boas (úteis dentro do contexto triste que vivemos) são aceitas por agilizarem e darem significado ao sistema. Mas ideias ruins (como candy crush) são aceitas porque mantém as pessoas na inércia. Atividades e coisas e pensamentos que deixam as pessoas em ciclos infindáveis. Gastam energia, dinheiro, tempo, emoções e pensamentos com coisas que desagregam. Coisas que afastam da família, do cônjuge, dos amigos, das ideias verdadeiramente transformadoras...Assim nos distraímos. Nos afogamos num bem-estar degradante. Engordamos e nos divertimos. Mas Ubaldi já disse que as forças da vida querem a evolução. É melhor obter como produto final um magro evoluído do que um gordo involuído. 

Por "magro" entenda-se pobre de coisas do mundo: saúde, dinheiro, vestimenta, higiene, instrução ,etc.

Por "gordo" compreenda-se o contrário: alguém com os bens materiais necessários. 

Essa visão me aparece por profunda introspecção. Ela resolve os problemas fundamentais e delineia a estrutura que gerencia as sociedades.

Alan Turing. Empreendedor (de verdade também).
Não irei citar exemplos para embasar essa visão, mas garanto que futuras observações irão confirmá-las. Porque (ao menos para mim) é tudo muito autoexplicativo. Caso você discorde, dedique parte de seu tempo a investigar a vida de pessoas que trouxeram um progresso tremendo à humanidade mas foram tratadas de forma bizarra pela lógica global (pode começar por Alan Turing, [6]).

Ser recompensado por uma ideia verdadeiramente boa com (digamos) 2 ou 3 milhões de dólares irá torná-lo, na verdade, muito mais rico do que os atuais bilionários. E cada vez mais... Pois não se gerará miséria - às custas de sua riqueza exagerada. Não se ativará a cobiça. E, sendo verdadeiramente boa (a ideia), trará um mundo cada vez menos dependente de dinheiro para que o ser humano desfrute do verdadeiro paraíso na Terra.

O clímax desse princípio nos conduzirá a um mundo celestial, em que a pessoa gerará ideias para auxiliar o Todo, sendo conduzida pela sua consciência (sentimento de paz interior aliado a uma inteligência criativa e dinâmica). Sua recompensa será manifestar ao mundo a essência divina. Pois não haverá mais miséria - porque teremos erradicado o pensamento de escassez que alimenta o nosso sistema. Sistema que se tornará uma peça de museu, que nos revelará quão involuídos éramos - pensando estarmos no ápice da civilização...

Tudo isso é de uma lógica perfeita. E casa com os princípios do Cristo.

Referências:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=auoVnwEJZnI
[2] https://www.youtube.com/watch?v=uWSxzjyMNpU
[3]https://exame.abril.com.br/negocios/king-criadora-do-candy-crush-fatura-us-1-8-bilhao-em-2013/
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Listas_de_bilion%C3%A1rios
[5]https://outraspalavras.net/terraeantropoceno/fascinante-e-a-agroecologia-que-produz-comida-de-verdade/
[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Alan_Turing
[7] https://pt.wikipedia.org/wiki/Vandana_Shiva

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Agir sincero e intenso

O problema fundamental da humanidade atual é a falta de consciência. Mas isso não diz muita coisa quando o desejo de despertá-la (em si e, depois, nos outros) nasce. É preciso saber o que ocorre num nível mais profundo. Isso implica numa busca. Busca por experiências e por conhecimento. Geralmente há uma combinação de ambos: ao vivenciarmos uma situação (geralmente desagradável) temos a possibilidade de adquirir um conhecimento. Construímos pontes entre aquilo dito em livros ou aprendido na escola e a emoção que nos domina quando passamos por alguma experiência.É uma relação dinâmica.

Estar passando por algo tenso e manter o nível de consciência desperto é desafiador, mas possível. Em momentos críticos de minha vida pude aplicar esse (digamos) método. Como resultado sempre tive de retorno algo que vejo como miraculoso - ou quase. 

A fonte e o fluxo da vida. Foto de Nathan Anderson (Unsplash).
No momento em que você sente ter agido de forma completamente sincera, responsável e com dedicação completa no passado, fica mais fácil depositar a confiança nas edificações já concretizadas no campo da causa. E com isso surge uma segurança inabalável. De tal forma que, mesmo em momentos de alto risco, cheios de ameaças, inseguranças e caos, nada disso causa abalo ao Ser e as turbulências acabam perdendo a força que esperavam ter. Nenhum poder do mundo pode abalar aquilo que foi construído de forma transparente, dedicada e ardorosamente criativa. O autor vivenciou esse fenômeno pela última vez há mais de um ano [1], momento em que estava para concluir uma fase importante de sua vida.

Quando temos plena consciência de ter realizado um trabalho verdadeiramente independente, criativo, conduzido de forma honesta, não há nada a temer. Nenhum poder será capaz de desmontar uma obra edificada com intenção tão pura e dedicação tão fervorosa. Não se trata de valores mensuráveis, mas sim de qualidades intangíveis, que o imponderável defende nos momentos em que percebe os riscos. Vê que a criatura tem uma missão e garante que ela terá o necessário para o cumprimento da mesma. E o mais incrível, que venho constatando: é possível que benesses exteriores estejam alinhadas com progressos interiores. Ou seja, seremos beneficiados do ponto de vista do mundo SE o Alto percebe que a criatura que as recebe não as usará para se glorificar, mas para ser GRATO e dar cabo de seu DEVER. Nesse caso os ganhos se tornam combustível a ser usado até a exaustão para o Ser alcançar novos patamares - de consciência e conhecimento e sensibilização. Para que possa melhor se comunicar com o mundo e auxiliá-lo a seu modo. Tudo é uma preparação para atingir um estágio subsequente que pode ser inimaginável no momento presente.

A receita pode assumir várias formas. Mas em linhas gerais, o ponto central é sempre o mesmo: precisamos nos doar 100% aquilo que estamos construindo. Há prazos. Há dificuldades (inúmeras!). Devemos encará-las e não cessar a atividade. Nosso mundo passa a ser aquilo por um período. É preciso estar imerso naquela questão. Diminuir seu nível de energia para outras coisas para que uma tarefa seja cumprida. Ganha-se experiência até em construções muito pequenas. Experiência em coisas do mundo e em vivência. Mas a mais importante delas será a maturação interior.

Esse fenômeno vem sendo observado pelo autor desde o momento em que deu uma guinada em sua jornada - revelando assim que o destino pode ser melhorado com uma atuação fervorosa. Mas isso apenas é possível porque o Alto percebeu que colocar o Ser numa outra posição (ou dar a ele algo mundano) irá fazê-lo resplandecer de modo mais intenso a substância divina. Há sempre uma função associada a um ganho concreto. Se conscientizar disso é garantir que não sejamos vítimas das forças do Universo, jogando fora aquilo que nos foi dado.

Alguns são agraciados com várias coisas neste mundo. Podemos dizer que muitos são (agraciados), se considerarmos que existem muitas situações - por mais simples que sejam - que dão a possibilidade do indivíduo esculpir a sua personalidade de modo a libertar o espírito. Mas em geral as pessoas se tornam vítimas de suas bênçãos: focam no objeto em si, se esquecendo de que ele deve cumprir uma função mais elevada. Usamos nossa saúde, nosso corpo saudável, nossa genética vantajosa, nossa posição social, nossos títulos, nosso conhecimento, nossa cultura em prol de objetivos baixos, de curto prazo, do mundo. Alimentamos essas vantagens concebidas, visando mantê-las ou fortalecê-las com o tempo. O Ser cai numa armadilha que garantirá sua posição até o momento em que as forças se exaurem. Rompe-se o contato com o Alto. Ingratidão. Não há mais aliança. O Ser é abandonado e deve contar apenas com as próprias forças - já que não buscou trabalhar em prol da construção da eternidade e do infinito. 

Nesses momentos brota a possibilidade. Fonte: Leio McLaren
"Orai e vigiai" já dizia uma criatura há dois mil anos. Vigiai é estar atento às suas atitudes. Sendo positivas ou negativas, o importante é estar ciente de seu corpo físico, mental e emocional, para que sua consciência não se funda neles. A identificação com os corpos perecíveis é o que nos enfraquece.

Tenha sempre consciência disso: todos nosso atributos devem cumprir uma função superior. Podemos ter conforto, claro. Mas que ele seja breve e com a finalidade de nos energizar, despertar potencialidades e sensibilizar nosso Ser. É possível alinhar uma segurança no mundo com um despertar espiritual. Mas para que isso seja possível é necessário que a criatura já tenha adquirido um certo grau de consciência. 

Aquele que sentiu a Lei de Deus agir em sua vida já consegue se sensibilizar para essa questão central.

No ponto em que muitos se cansam, ele persiste. 
No ponto em que muitos gozam a situação, ele a usa para construir seu Ser.
No ponto em que muitos reclamam seus méritos, ele é preenchido por gratidão.

Reconhecer o Alto agindo em nossas vidas é um atestado de gratidão. 

Não somos nós que fazemos as coisas mais incríveis, mas sim forças do imponderável que atuam através de nossas ações. 

Isso deve ficar claro. Caso contrário estaremos presos numa armadilha que impossibilitará a nós, humanidade, sair desse estado atual, cheio de distúrbios, misérias (variadas) e cujo progresso é, no mínimo, arrastado. Ou seja, lentíssimo. Mas há um prazo e devemos considerá-lo.

A espiritualidade (ou conscientização) não é uma busca circunscrita a um horário, local e circunstância. Ela é uma busca integral. Devemos estar despertos em todos momentos. Em cada atividade devemos carregar o espírito de transcendência. Buscar centelhas do infinito nos finitos cotidianos. Ou, em outras palavras, ver significado profundo em tudo. Cada gesto, cada pensamento e atitude deve prestar contas ao Alto. Dessa forma estaremos nos habituando a criar uma nova forma de perceber o mundo.

Nós não devemos esperar o milagre e sim criá-lo! [2] 

Há muitos motivos para sabermos que somos naturalmente criaturas miraculosas [3] - e portanto capazes de efetivar milagres. Mas para isso é imperioso estabelecer uma relação (mesmo que inconsciente) com as forças do Alto - ou a Lei de Deus. Estar vibrando num frequência que se aproxime da Fonte é o que garante o canal entre o S e o AS.

Todo agir deve ser permeado de honestidade, ousadia e inteligência.

Referências:
[1] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/12/um-salto-de-fe.html
[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/07/miracolo-non-ci-aspetta-si-crea.html
[3] https://www.transformyourshit.com/9-scientifically-proven-reasons-you-are-a-miraculous-being/

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Em busca de um modelo - que triunfe

Nova civilização, nova mentalidade. Nova mentalidade, novos valores.
A cada ano que passa percebo estar assimilando de forma cada vez mais rápida uma série de verdades (relativas). É o poder da síntese atuando no subconsciente com a informação recebida pelos meios de comunicação. São diversas perspectivas sobre o mundo. Interpretações diferentes, mas cujo eixo comum é a vontade de se chegar a uma organização coletiva melhor que possibilite a manifestação do mais nobre de cada indivíduo. É preciso estar aberto a muitas visões. Mas (ao mesmo tempo) é preciso filtrar aquilo que não serve.

A busca é infinita - num mundo finito.
A vontade é maior que as derrotas.
Eu não tenho receio em dizer coisas que podem  soar muito fortes, dando uma ideia superficial negativa de minha pessoa. Pois há ideias que se chocam diretamente com meu "campo magnético espiritual". Elas ricocheteiam como pedras em tanques. Aprendi a identificar enrolações com o passar dos anos, de modo a me tornar muito eficiente em termos de não perder tempo com superficialidades. Não se trata de excluir o diferente, mas sim o que leva à involução. Há o diferente que unifica e o diferente que pulveriza. O primeiro purifica - o outro polui.

O que mais me interessa é ir direto ao ponto. A capacidade de trazer em seu discurso a síntese - sem abandonar detalhes cruciais - é o mérito das vozes que apontam para a evolução. Isso é o que busco quando falo.

No mundo da oralidade há mais pressões do que no mundo da escrita. Deve-se ser rápido, sintético, com variação do tom de voz de acordo com a importância do tema. Tudo isso não pode abandonar a essência da inteligência, cuja marca é manifestar um raciocínio lógico eficiente, uma comunicabilidade agradável e uma originalidade resolutiva.

Umair Haque. Economista, jornalista e consciente.
Umair Haque é um economista e jornalista norte-americano que escreve regularmente ensaios relacionados ao colapso civilizatório mundial, destacando a insanidade que se tornou o modelo de vida norte-americano. Num de seus últimos ensaios ele destaca a questão da armadilha da riqueza [1], já comentado aqui [2]. O cerne da questão, que muito nos toca, levantada por ele (e por mim) é: a renda e riqueza são diretamente proporcionais à felicidade APENAS até certo ponto. Claro...é preciso considerar alguns fatores além disso - como a pessoa viver num local que não esteja em guerra, que não haja crise de refugiados em seu país, que se viva num regime relativamente democrático, entre outros. Além desses fatores, é preciso lembrar que esse vínculo renda-felicidade e renda-riqueza só existe no atual paradigma de desenvolvimento. Essa questão é central para compreendermos como deve ser iniciada a transformação de nossa sociedade (e sistema), pois é a base que deve tornar viável a construção de uma civilização verdadeiramente inclusiva, eficiente e progressista.

Vou explicar o porquê.

Eduardo Moreira faz sempre uma analogia muito interessante a respeito da riqueza: ele a compara com areia num parquinho. Se existe um monte muito grande num local com certeza existe um buraco enorme em outro. Porque hoje em dia, em tempos de capitalismo das finanças, o capital - outrora útil para a economia e a sociedade - se tornou improdutivo [3]. Isso nos leva à questão de que a imensa maioria da riqueza monetária "produzida" no mundo não está apoiada na criação de verdadeira riqueza - isto é, as coisas que uma pessoa precisa para viver e sobreviver. Conclusão: areia não é criada no parquinho! Mas observa-se a formação de montes enormes: a lista de bilionários cresce assim como suas fortunas. De onde vem tanto dinheiro?

O vídeo abaixo explica os motivos de não admirarmos os bilionários e suas vidas (vazias e destrutivas). Devemos temer tal notícia. Porque ela revela a pseudo-geração de riqueza - ou seja, criação de dinheiro desvinculado da preservação dos biomas, da integração social, do progresso humano. Um encolhimento da economia. Um empobrecimento da sociedade, da ciência, da tecnologia e da cultura.


Moreira ainda aponta um fato importante: enquanto o brasileiro médio louva abertamente (ou admira intimamente) esse modo de vida bilionário, menospreza o funcionalismo público. Porque a grande mídia colocou isso em sua cabeça: de que o servidor público ganha absurdamente bem e deve ter sua carreira destroçada. Assim todos nos igualamos na pobreza. Nós...os 99%. Enquanto o 1% ou uma fração dessa elite permanece intocada não são incomodados.

Quem drena recursos da nação (e do mundo) não é o serviço público. Todo país desenvolvido depende do serviço público para avançar. Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), neurocientista, destaca que mesmo nos EUA - terra que mais cultua o capitalismo desenfreado - as universidades recebem forte apoio governamental (assista à entrevista abaixo).


A soma recebida pelos 12 milhões de funcionários púbicos do Brasil (municipal, estadual e federal) está na mesma ordem de grandeza da soma recebida pelos 200 bilionários brasileiros:

BILIONÁRIOS (aumento de patrimônio 2012-2019)

Ano                                              2012                          2019
Riqueza relativa                       7% do PIB               17% do PIB
Riqueza absoluta                     346 bilhões             1.205 bilhões

Aumento de patrimônio em 2018

                                                SERVIDORES PÚBLICOS        x              BILIONÁRIOS 
Quantidade                                             12.000.000                                          200
Aumento de patrimônio                      R$ 700 bilhões                                R$ 230 bilhões
Aumento p/pessoa                                 R$ 58.330                                  R$ 1.150.000.000

Dá para perceber o quão grande é o delírio do brasileiro médio? Cada bilionário (em média) aumentou seu patrimônio em 1,15 bilhão. Cada servidor público (em média) aumentou em algo como 60 mil reais. Esses bilionários são majoritariamente do setor financeiro e de bebidas. Suas atividades - se é que podemos chamar de tal - nada agregam à economia ou à sociedade - muito menos à cultura. Isso não é opinião - é fato. Basta observar e refletir sobre os processos da economia atual.

Os servidores públicos mantém as escolas, universidades, pesquisas, coleta de lixo, saneamento, fiscalização, assistência, serviços públicos, iluminação, etc e etc em todo país. Remova esses 12 milhões ou degrade suas carreiras e ver-se-à em pouco tempo o colapso do pouco que resta de digno neste país.

Qualquer crítica ao serviço público é bem vinda contanto que seja séria e contundente. Os problemas existem e não serão resolvidos à base de extermínio ou degradação das carreiras. A falta de recursos se deve ao péssimo sistema tributário, à ineficiência do modelo econômico e à falta de bom senso da grande mídia, em larga medida.

Para começar poderia-se pensar em taxar as fortunas daqueles bilionários (e outros um pouco abaixo) para que se fomente políticas públicas essenciais. Como pode um país não ter 100% de saneamento básico em 2020?

Pense bem: um professor universitário com mestrado, doutorado, pós-doc, que orienta e dá aulas e pesquisa e faz extensão; que participa de congressos e escreve artigos; que dirige institutos e revisa periódicos; que escreve livros; que dá palestras; que prepara cursos e aulas e suou muito para conseguir passar num concurso; que já informou e ajudou milhares de estudantes; cujas pesquisas podem impactar na vida de milhões; e cujas ideias podem evitar as dores de outros milhões. Esse sujeito, que recebe (digamos) 15 mil ou 20 mil por mês já na metade final da carreira, recebe demais? Enquanto um bilionário que especula e só investe naquilo que irá garantir uma próxima crise global (intermediação financeira), ganhando 1 bilhão (isso são 1.000 milhões) sem produzir NADA, é admirado ou deixado em paz...É hora do mundo - e especialmente do brasileiro - começar a pensar.

Pode-se melhorar a eficiência dos serviços com planejamento e informação. Com planos de carreira e criação de canais de comunicação entre sociedade e servidores. Há muitas alternativas para melhorar o desempenho, desde as senhoras que atendem no INSS até os altos funcionários públicos.

Servidores. O próprio nome já diz tudo: eles estão aí para servir o país. Acima do lucro, a garantia de que se forme cidadão. Eliminar o servidor é garantir que esse cidadão morra para dar lugar a um consumidor.

Problemas de eficiência no setor público devem ser resolvidos. Mas: 1) eles não implicam na destruição do Estado e seus funcionários, base de toda sociedade minimamente civilizada; 2) há imensas ineficiências nas empresas privadas (eu já fui empregado numa), que só não é tão difundido pelo autoritarismo silencioso (psicológico e financeiro) imposto de forma pervasiva.

Ninguém nunca parou para pensar que de nada adianta o meio privado ser mais eficiente se essa é restrita a uma eficiência econômica e tecnológica? É preciso ver a qualidade de vida das pessoas no local de trabalho (os índices de estresse, depressão e suicídio nunca foram tão altos devido à questão do mercado de trabalho [4]). É preciso considerar a utilidade e eficiência real dos produtos (um carro de 30 mil reais cumpre as funções essenciais de um carro de 100 mil ou mais). É preciso valorizar profissões que questionem o estado atual das coisas (o mundo sempre progrediu com esse confronto). É preciso considerar tudo de um ponto de vista integral e perceber as implicações a longo prazo do modo de vida atual. Isso está sendo feito?


Mas o escopo aqui não é entrar nos meandros dessas questões.

Retomemos às bases de uma nova civilização.

Na palestra proferida por mim na SNCT 2019 [5] eu destaquei dois tipos de alternativas para a atual civilização predatória: Ecovilas e o Projeto Vênus.

Observando em detalhe vejo vantagens em ambos modelos - que em muitos aspectos compartilham pontos comuns, como a sustentabilidade, inclusão social, entre outras coisas. O Projeto de Jacque Fresco tem a vantagem de oferecer uma base que permita um progresso científico, cultural, tecnológico e filosófico grande. As ecovilas não parecem oferecer uma proposta para continuarmos nossos desenvolvimento nas grandes linhas mestras da evolução.

Por outro lado, as ecovilas são um modelo simples e já implementado em muitas localidades, com custo baixo. O Projeto Vênus depende de um esforço coletivo enorme, e (para piorar) da vontade do poder econômico (a plutocracia que domina o globo). Nesse sentido torna-se muito difícil a implementação de um projeto desse.

As ecovilas, apesar de estarem em expansão, tem uma adesão irrisória comparado à população do planeta [6]. Quem vive nela pode ser considerado mais feliz do que a média da população. Mas quem pode são poucos: há limitação de vagas; há questões de entrosamento com o grupo; há restrições de serviços essenciais (como tratamento médico, cirurgias, como lidar com intempéries/imigrantes/etc., institutos de pesquisa, etc.).

Vamos ponto por ponto:

1) Questão da QUANTIDADE

Se existe um modelo que pode salvar a humanidade, ele deve englobar todos (ou inicialmente a imensa maioria das pessoas). As ecovilas não demonstram ser um modelo expansivo, coordenado e minimamente centralizado para fazer frente a esse desafio. O capital financeiro deixa-as em paz porque elas não ameaçam seu domínio. Aliás, se crescessem exponencialmente, logo se veriam (de alguma forma) capturadas pelo sistema vigente. Porque em seu imo fazem frente a ele: seu modo de vida é a antítese do atual, em termos de valores.

Pense bem: o mundo vai se salvar com 2 ou 3 milhões de pessoas em ecovilas e 7 ou 8 bilhões (3 mil vezes mais) imersos num modo de vida vinculado ao capitalismo financeiro? O modelo deveria se expandir exponencialmente, dada a gravidade da(s) crise(s) que se aproxima (financeira, ambiental, social). Ele é capaz disso? Acho difícil..


2) Questão da INDIVIDUALIDADE

Lembre-se: individualidade não é individualismo. O primeiro é a valorização de um modo de vida que caracteriza um ser e o deixa em posição de criação e evolução. É estar aberto às ideias diferentes mas com debates num terreno de alto nível. O segundo é uma maneira de acumular às custas do outro. De ser momentaneamente alegre às custas do entorno. De não querer dialogar.

As ecovilas parecem não estar preparadas para receber os variados tipos de biótipos evoluídos que emergem em nosso globo. Eu, por exemplo, gosto muito de cinema (alternativo), de ter uma padaria perto, de um banho no chuveiro elétrico (2 min.), de livrarias e sebos e bibliotecas, de SESCs (oficinas, piscina, cursos, música, teatro, etc.), de serviços essenciais (médicos, exames, pronto-socorro), entre outras coisas. Será que tudo isso não é compatível com uma civilização sustentável e inclusiva? Woody Allen, meu pai e outros cosmopolitas tem a mesma mentalidade: querem viver num meio que permita sua expressão criativa. As ecovilas parecem não estar adaptadas a esses tipos humanos. E se pensarmos melhor, nem a outros tipos que possam haver - e que são pessoas equilibradas, criativas, pensantes e interessantes. Será que isso não representa uma limitação do modelo?

Uma civilização socialmente justa, ambientalmente sustentável e intelectualmente eficiente implica em ter espaço para todos tipos humanos - contanto que estejam dentro das leis da vida. Um pode gostar de pintura, outro de teatro, outro de literatura, outro de inventar, outro de cultivar, outro de cantar, outro de criar programas computacionais, outro de fazer experimentos químicos, outro de esboçar pensamentos e debater, outro de assistir vários filmes e fazer palestras, outro de fazer pães e doces, outro de filosofar e etc e etc. Um sistema deve incorporar todos perfis, respeitando-os e sabendo coordená-los para finalidades superiores. Sinergia!


3) Questão dos SERVIÇOS ESSENCIAIS

Alguém já viu uma pessoa idosa numa ecovila? Com problemas de saúde? As pessoas, à medida que envelhecem (mesmo que bem) acabam tendo a necessidade de recorrer a médicos, exames, tratamentos e hospitalização. Um filme com o Viggo Mortensen, chamado Capitão Fantástico (2016), que aborda de forma realista as limitações de viver de forma simples e natural.


O que quero dizer com tudo isso é que não há salvação individual (felicidade) sem uma revolução sistêmica (novo sistema coletivo político, econômico e cultural) - tampouco há uma revolução sistêmica sem a construção da felicidade individual. Por revolução quero dizer uma alteração profunda no modo de concebermos as coisas, de produzirmos e de nos relacionarmos (conosco e com o meio). Trata-se sobretudo de uma questão de orientação.

Não adianta. Por mais difícil que seja. Por mais que pareça impossível. Eu insisto no ponto: ou cria-se um modo de vida que incorpore toda humanidade e dê um mínimo (mínimo) de decência à vida das pessoas, com sustentabilidade global; ou nos iludimos em idealizações que se realizam para poucos e que não levam em conta a complexidade do ser humano e a necessidade imperativa de prosseguir com determinadas linhas de desenvolvimento civilizacionais (leia-se: universidades, institutos de pesquisa, medicina, educação, centros de arte, fóruns, centros de convivência, seguridade social, etc.).

O modelo novo deve incorporar as maiores conquistas da civilização [7] e ser redistributiva por natureza, além de garantir as condições climáticas ideais para tudo e todos. Não tem jeito.

O modelo, pelo que parece, ainda não existe. Ou por incompletude interna de sua estrutura (ecovilas) ou por falta de vontade da elite econômica em viabilizá-lo (Projeto Vênus). O Green New Deal parece ser mais viável. Poderia até servir de pré-requisito para um Projeto como o de Jacque Fresco (quem sabe..). Mas é preciso uma empreitada internacional.

Alexandria Ocasio-Cortez (1989), congressista
socialista, falando sobre o Green New Deal.
A Renda Básica Universal (RBU) pode ser um elemento de rápida implementação para a transição de modelos econômicos. Poderá ser até parte constituinte do novo modelo a nascer. Mas não é o modelo em si (nem seu eixo diretor). O cerne da questão é alterar o sistema de crença e valores das pessoas - nem que num grau mínimo. Considerando o quão pouco deve ser feito (em comparação com o ideal que muitos sonham), acredito que seja viável. ninguém está pedindo para você abdicar de seu chuveiro elétrico ou ida a padaria ou roupas ou casa de 100 m2 ou conjunto de roupas. Apenas foque no realmente necessário e se liberte da ditadura social causada pela inconsciência. 

Nós vivemos de acordo com o que é imposto pela mídia em nosso subconsciente. As pessoas aceitam sem resistir. O resultado é este: chegamos numa era em que todos questionam e combatem muitas coisas, exceto o cerne da questão, que é o modelo econômico que produz bilionários cada vez mais ricos, com fortunas rumo à casa do trilhão - ao passo que bilhões são achatados em condições de miséria financeira, social, cultural, intelectual. Falta de tempo. Falta de conversas. Falta de (verdadeiros) amigos. Falta de vontade. Falta de vontade...

Pessoas sérias apontam para a gravidade da situação:

"Com exceção da extinção dos dinossauros, todas envolveram mudanças climáticas causadas por gases de efeito estufa (A Terra Inabitável, Uma História do Futuro, David Wallace-Wells)." [8]

"Pelas projeções das Nações Unidas, teremos 200 milhões de refugiados do clima até 2050. Outras estimativas são ainda mais pessimistas: 1 bilhão de pobres vulneráveis sem condições de sobrevivência. O Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, considerava que 2º C de aquecimento global era o limiar da catástrofe: cidades inundadas, secas destrutivas, ondas de calor, furacões e monções, enfim os antes chamados “desastres naturais” vão se tornar regras e não exceção. Em 2016, o Acordo de Paris estabeleceu o aumento de 2º C como meta global a ser evitada." [8]

"Outros cientistas afirmam que as previsões do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) são conservadoras. Mesmo cumprindo as metas de emissão fixadas no Acordo de Paris, poderemos chegar a 4º C de aquecimento, com florestas transformadas em savanas, trazendo riscos sérios à habitabilidade do planeta." [8] 

"Nada impede que essa tendência seja alterada, tudo depende das decisões políticas dos países, de seus governos e suas empresas. Mas se os próximos trinta anos forem iguais aos trinta anos passados, até o fim deste século regiões inteiras da Terra se tornarão inabitáveis, com perspectivas de devastação da espécie humana." [8]

(grifos meus)

É preciso destacar que o papel da sociedade é se conscientizar e mobilizar para colocar na parede os governos (servos do poder, com pontuais exceções de dentro) e as megacorporações e bancos (o poder). A sociedade, os lares, as famílias, as residências - vamos dizer, os 99% de baixo da pirâmide da riqueza, renda e poder - não tem o poder de mudar as coisas olhando para seu consumo próprio. Seu poder reside em tomar as rédeas do processo evolutivo. Isso só pode ser feito através da conscientização.

Rita Von Hunty, num brilhante vídeo, deixa claro essa questão: ela percebe que desenvolvimento sustentável é, em última instância, um oximoro - ou paradoxo (veja o vídeo, ela explica).



Especialistas corroboram:

"A conta pela demora em tomar as decisões corretas sobre o clima chegará para o mundo em 2030 no valor de 26 trilhões. A sociedade contemporânea é uma sociedade de desperdício de energia, de produção, de consumo. Só um país - os EUA – consomem 1/3 da energia de todo o mundo. O mundo não vai mais sobreviver sem a sustentabilidade ambiental. E isso é decisão de políticas públicas. As atitudes individuais de mudar o estilo de vida importam muito pouco. Vejamos, por exemplo, o consumo de água no Brasil. A agricultura consome cerca de 72%. A indústria, cerca de 9%. Mas as campanhas de economia de água visam apenas o consumidor urbano que representa só 8,6% do consumo total." [8]

As soluções não são individuais - são sistêmicas.
O ponto de partida pode ser (e é) individual, com a conscientização.

É muito importante distinguir esses dois aspectos: soluções (materialização) e gênese (princípios).

Claro que mudar um estilo de vida individual é salutar. Mesmo porque a extrapolação da faixa das necessidades verdadeiramente essenciais para o nível de capacidade dos indivíduos (elas podem variar ligeiramente...por isso falo em faixa e não ponto) é prejudicial aos mesmos.

Pense um pouco: um carro de 100 mil transporta a pessoa para o mesmo lugar que o meu carro de 30 mil (na verdade 28 mil). O IPVA é muito maior, o seguro provavelmente também, o consumo de combustível, a dificuldade de encontrar vaga nas garagens, a inveja, os falsos amigos, etc e etc. Aplique esse pensamento para todas esferas da vida e você verá o quanto as pessoas estão erguendo um culto à ineficiência em prol da aceitação social. Você pode vir e falar pra mim sobre conforto. Eu lhe digo: isso é confortite, e não conforto.

Se não estabelecermos um teto (razoável) para renda, riqueza, consumo - considerando as necessidades da vida e respeitando as particularidades individuais - jamais iremos edificar um novo modelo econômico que nos conduza a uma nova civilização. 

Comecemos por aí.

Referências:
[1] https://eand.co/why-do-americans-idolize-the-rich-cc7d64a05321
[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2019/10/tempo-nao-e-dinheiro-tempo-esta-dinheiro.html
[3]http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/a_era_do_capital_improdutivo_2_impress%C3%A3oV2.pdf
[4] https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-39694644
[5] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2019/10/economia-baseada-em-recursos-ebr.html
[6] https://mac.arq.br/mapeamento-de-ecovilas-e-comunidades-alternativas-no-brasil/
[7] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/01/a-maior-conquista-da-civilizacao.html
[8]https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Mae-Terra/Fronteiras-planetarias-colapso-da-civilizacao-/3/46176

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O canto da História

A disciplina de História sempre me interessou. Desde os primeiros anos do ginásio minha atenção para esse ramo era especial. Achava interessante saber sobre os acontecimentos. No princípio - e durante muito tempo - minha mente só se atinha aos eventos. Especialmente aqueles que chamavam atenção pelo estrondo causado. Um ruído de superfície. Com o passar dos anos, à medida que minha vida tropeçava pelas inseguranças, limitações e dores, fui percebendo o seguinte: aqueles eventos eram apenas efeitos que se concatenavam com outros (efeitos), paralelamente ou em sequência. E que existia um fio condutor situado em outro domínio (as leis, ou princípios) responsável por aqueles momentos. O motivo (porque), as lógicas (como) e os momentos (quando) começaram a ser investigados pela minha pessoa.

O filme já está feito. Seu desenrolar nos revela
o infinito. Infinito cindido, tornado finito.
Assimilando os inúmeros finitos começa-se
a vislumbrar o único infinito.
Observar o passado como algo vivo é vê-lo como realmente ele é: uma trajetória construída coletivamente (e inconscientemente, salvo raras exceções) cuja consolidação fornece a estrutura psíquica das sociedades de nossos dias. A História é tanto mais viva quanto mais percebemos que a interpretação da mesma alterna nossos comportamentos e atitudes presentes quanto a compreensão do passado, elaborando narrativas mais sofisticada e completas. As instituições, as tradições, os hábitos, as culturas, os medos, as esperanças, os conhecimentos e as tecnologias: toda essa miríade de conquistas humanas foram construídas através de objetivos menores. Dificilmente alguém vislumbrava o que estava sendo criado no momento inicial. Uma ideia que nasce. Uma forma de organização social. Um invento. Uma sinfonia. Um movimento. Nada é previsível para o intelecto - que opera em prol do poder. Tudo é visível à consciência. 

Eu diria que a verdadeira alquimia da História (ou seja, o cumprimento de sua missão) se dá quando a arquitetura milagrosa do passado é percebida, nos dando criatividade e ousadia para encarnarmos as impossibilidades do futuro. A filosofia da história é de uma magnanimidade impressionante. Através desse estudo, com outros olhos, nos damos conta de que deve haver um elemento misterioso coordenando os acontecimentos. E que alguns atores históricos que assumem a liderança momentânea podem ou no ter percepção de seu papel.
Existe uma alquimia misteriosa .
A vasta esteira do tempo encampa o período limitadíssimo de história humana. Em especial, da espécie sapiens (a nossa). São apenas 100 ou 150 mil anos aqui neste planeta. Face aos 3~4 milhões de anos da existência do gênero Homo, é pouquíssimo. Encarado do ponto de vista de formas de vida pluricelulares (centenas de milhões de anos) é insignificante. Se considerarmos a vida do ponto de vista biológico, com os primeiros seres (unicelulares), as cianobactérias, surgidas há 3,8 bilhões de anos, acabamos de surgir. No entanto, existem cursos inteiros destinados a estudar aspectos puramente humanos - ou derivados deles - nas universidades. Em 100 mil anos encampamos mais complexidade e criatividade do que qualquer outra coisa. Em especial, se formos abarcar apenas os últimos seis milênios de civilização, temos um repertório magnânimo e profundo - bárbaro e superficial também - de coisas a contar e estudar. Essa é a potência do Homo sapiens: transcender limites externos e a si mesmo.

O vídeo abaixo é a entrevista a Yuval Noah Harari. Ao longo da breve e interessante conversa sente-se a capacidade do historiador de vislumbrar cenários futuros com base em sua visão ampla do passado humano.


Ser capaz de construir cenários prováveis não é exclusividade de pessoas que se doutoraram - apesar de poderem fazer isso mais naturalmente e de forma mais sistematizada. Basta sentir a vida cantar de várias formas ao longo da esteira do tempo.

Repare: você não precisa fazer uma faculdade de História (ou Ciências Humanas) para ser capaz de olhar criticamente a sociedade. Basta ter um interesse pela vida e uma ânsia de busca pela verdade. O resto vem como consequência: a leitura dos livros, os filmes, os artigos, as conversas, a elaboração de textos, as interpretações, reflexões e os exercícios de imaginação. Sentir o pensamento diretor da vida se manifestar nos (e através dos) fenômenos históricos é uma experiência inesquecível. É belo perceber que todo nosso passado sintetiza uma série de experiências. Mais: ele aponta para uma tendência. A não-linearidade é regra do nosso Universo imperfeito, em que ímpetos milagrosos de perfeição emergem de oceanos locais de imperfeição.

O caos é veloz e voraz. Ele vence batalhas e esmaga seus oponentes.
A ordem é vagarosa e ponderada. Ela aceita perder batalhas.

Bifurcações: resultado do conflito S-AS.

Caos: voraz, vencedor, esmagador...
Ordem: ponderada, paciente, discreta...

Nada é isolado no Universo. Perceber as vidas adjacentes à sua trajetória pode dar uma melhor ideia das receitas a serem adotadas em sua jornada. Visualizar com clareza os estratos hierárquicos do mundo pode fornecer o roteiro para lidar com as imperfeições. Sentir as transformações locais com um senso de finalidade suprema global pode ser a chave para a paz interior e a potência criativa.

O passado pode ser visto de várias formas.

Podemos lê-lo como fatos desconexos.
Podemos estudá-lo como processos paralelos interligados.
Podemos senti-lo como uma força viva que muda paralelamente ao nosso ser.
Podemos vivê-lo na forma de um resgate de possibilidades a serem realizadas.

A fusão ocorre no momento em que a História se torna um quadro dinâmico que aponta para um destino.

Cabe a nós darmos o tom às coisas. O Ser potencializa as coisas através de sua criatividade infindável e sua ânsia em atingir o vértice da unidade com Deus e o Universo. 

V's virtuosos

Vim, vi e...vislumbrei.

Vislumbrei o vórtice voraz viciante - e o vínculo vitalício da verdade.

Velei o verbo virtuoso e vesti o verme voluptuoso para vivenciar a vertente do vitupério - vivenciar, não viver..
Verticalidade arquitetada.

Vertente volúvel, vinculada à verborragia. 
Vertente vassala, vazia de vida.
Vertente virgem, volátil e vagarosa.

Você viu a veste, mas validou a vulnerabilidade e o vômito.
Você vindicou o vácuo, versando vazios e vícios.
Você vive? Viverá? Versará?

Vergastado é o viver virtuoso que vivencia e vivifica os ventríloquos.
Ventríloquos vacilantes em vibração viciante. 
Ventríloquos visando o visível.
Ventríloquos vacilantes.
Ventríloquos vagarosos.
Ventríloquos vomitantes...

Vergastado é o valor - cuja vontade é a vendeta.
Vibrando no vale, cheio de viveiros, viaja pela via-crúcis.
Impetuosidade vulcanizada.
Vê-se na vanguarda do viver.
Vive o vértice no vazio.
Vibra no voo veloz.
Vence no vale do vácuo.

Vagarosamente verte valores. 
Vagarosamente vetoriza-se na vertical.
Vagarosamente viabiliza a vigência da verdade.

Vislumbra utopias viáveis.
Vomita vozes viciantes.
Varre vales vorazes.
Paz vivificante.
Ventila verdades virtuosas.

Vitimiza o viés vacilante.

Vulcaniza o vácuo.
Vence a veleidade.
Vê vividamente o vértice.

Vim, vi e...venci.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Milagres não tem preferidos - e sim uma função cósmica

Ocorrem certas coisas em nossas vidas que são inexplicáveis. Nenhuma teoria (sistematização de ideias), estatística (casos passados) ou força terrena contrária (poder) é capaz de impedir determinados acontecimentos. Após o fenômeno, o intelecto elege o acaso como "responsável" - ou seja, não há nenhuma lei ou princípio subjacente ao acontecimento. apenas mera sorte. 

Stephen Hawking (1942-2018). Uma busca
pela verdade absoluta. Negou conceitos
arcaicos de Deus - mas não chegou a
conhecer o Deus monista de Ubaldi para
admirá-lo.
É engraçado ver como estimativas tão seguras se desmancham como castelos de areia numa tempestade após eventos denominados milagrosos se tornarem perceptíveis aos sentidos de todos. Percebe-se que a ciência racional não tem a última palavra. Ela possui muitos trunfos e nos trouxe um belo legado. Mas não lida com todas as facetas da realidade. Caso contrário, o antes (certezas determinísticas) teria o depois (acontecimentos impossíveis) sob domínio, explicando-o com segurança. Isso não ocorre sempre. E nessa era de informação abundante e comunicação instantânea, os relatos (reais e coerentes) de experiências que desafiam o bom senso e o poder da ciência racional são crescentes e melhor explicados. Na verdade o que se vê é que o advento das tecnologias digitais e da internet estão viabilizando uma melhor compreensão das grandes ideias lançadas por pessoas de outras épocas. Compreenda que a genialidade central, as grandes ideias e iniciativas formadas e lançadas pelos santos, místicos, gênios da arte e da ciência, estadistas, pensadores, são nossas referências. São a base que nos dá sustento. Uma comprovação da potência do espírito revolucionário - em seu sentido mais profundo. No entanto, temos em nossos tempos criaturas fantásticas. Elas assimilaram em seu imo todas as conquistas de um campo e se propõem a ir além, de alguma forma.

Recentemente falei sobre uma Quarta Revolução, baseado no livro Sapiens: uma breve história da humanidade, do historiador israelense Yuval Harari. Após assistir a algumas palestras do professor da USP, Alysson Leandro Mascaro, me dei conta de que estamos em tempos que exigem uma coragem em ser revolucionário. Assumir o compromisso de falar diretamente e ressuscitar aquilo ansioso de renascer - numa forma completamente nova. Uma outra personalidade que me vem chamando a atenção é Stephen Hawking [1]. Nesse caso mais pela sua busca destemida pela unidade das teorias da Física. E sempre trazendo o conceito de Deus na conclusão de seus raciocínios. Isso ficou evidente para mim após saborear seu livro de maior sucesso, Uma breve história do tempo. Mesmo que o astrofísico inglês colocasse com frequência a Sua existência em dúvida, seus comentários não deixavam certezas sobre sua inexistência. Me parece que ignorá-Lo torna-se dificílimo após vivenciarmos certos acontecimentos na vida. Para Hawking, ao que me parece, sua própria vida, que se estendeu além de todas estatísticas e possibilidades da ciência médica, é um milagre que atesta um poder subjacente ao mundo sensível.  Esses eventos - fora do admissível à mente normal, ou seja, situados no imponderável - permitiram que ele continuasse sua busca pela unificação da física e pelas nossas origens, pelo significado da vida e pelo objetivo da evolução.

Deus não é grande nem pequeno.
Não é forte nem fraco.
Não é belo ou feio.Ele está além de tudo isso.
Ele supera as dimensões e os conceitos.
Se situa no infinito e no eterno.
Compreender isso é a chave para vencer
as limitações que este universo nos impõe.
Por isso tenho a visão de que o (fenômeno dos) milagre não elege pessoas que o reconhece ou não, mas se manifesta através daqueles que possuem  potencialidades para aproximar a consciência humana de Deus, alavancando as forças evolutivas. Ou seja, os milagres tem uma missão. Eles viabilizam o cumprimento de um destino. Isso, a meu ver, foi o fenômeno que ocorreu na vida de Stephen Hawking.

Antes de adentrar no eixo central deste ensaio irei satisfazer a curiosidade do leitor sobre a contribuição desse grande cosmologista para a ciência. De acordo com fontes, temos seis contribuições verdadeiramente significativas que podemos atribuir a ele [2]:

1) Determinou que o Universo começou com uma singularidade
Usando a Teoria da Relatividade Geral junto com um colega (Roger Penrose), deduziu que o Universo deveria ter começado com uma singularidade - ou seja, um ponto inicial que atesta uma gênese de todo espaço-tempo e suas derivações materiais-energéticas e manifestações orgânicas e psíquicas.

2) Aplicou a 2ª Lei da Termodinâmica aos buracos negros
Através de elucubrações teóricas, chegou à conclusão parcial de que os buracos negros aumentam de tamanho ou permanecem iguais - mas jamais ficarão menores. Isso é análogo à lei da entropia, que atesta que a desordem no universo (qualidade da energia total) só aumenta ou se mantém constante.

3)  Levantou a hipótese de que buracos negros podem se extinguir
Nega a hipótese anterior ao aplicar mecânica quântica aos buracos negros, admitindo que buracos negros criam e emitem partículas, o que implica que, se não ganharem massa com o tempo, deixarão de existir. Isso nunca foi visto porque o tempo necessário para um processo de tal natureza ocorrer deve ter duração maior do que a idade atual do Universo.

4) Teorizou como o Universo se expandiu e as galáxias se formaram
Uma contribuição teórica apoiada pelas ideias de Alan Guth (1980), cuja proposta era a de que o Universo se expandiu de forma similar a bolhas: várias surgem ao mesmo tempo. umas estouram imediatamente. outras se expandem antes de estourar. e outras ainda se expandem até ficarem estáveis. As irregularidades seriam geradas pela diferença de expansibilidade entre regiões, o que causaria o colapso (devido à força de atração gravitacional), dando gênese às galáxias, estrelas e sua corte de planetas - que podem até albergar criaturas engraçadas como nós.

5) Refletiu sobre o que havia antes do início de tudo (Big Bang)
Jim Hartle, da Universidade de Chicago, e Hawking, elaboraram uma proposta em 1983. Ela tenta argumentar o que havia antes do Big Bang.

Segundo Hawking, se fosse possível viajar no tempo para trás, até o início do Universo, chegaríamos num ponto em que o tempo não existia. Por que? Porque na singularidade, estado de infinita densidade e nula dimensionalidade, as leis da física não se aplicam.

Em linguajar ubaldiano teríamos:
as leis do Anti-Sistema (AS) influem apenas nele mesmo. Não são capazes de influenciar o Sistema (S). Não é possível compreender o Absoluto com mentalidade do relativo. Não é possível abraçar a eternidade com a mente sequencial. Não supera as distâncias e os períodos aqueles que se ancoram no tangível e compreensível. O paradoxo que aponta para a transcendência é a chave para a sutilização da consciência, que revela o terceiro elemento do Universo: o espírito.

Para Hawking, existia algo antes da singularidade. Quando ele fala que não existia nada antes do Big Bang, ele se refere em relação às coisas que concebemos. Nada para o concebível humano atual (a mente racional). Ele atestou isso em rede pública - o que está em perfeita ressonância com a Teoria Unificada de Ubaldi (o termo é de Gilson Freire).


Vejamos exatamente os detalhes:

"Segundo Hawking, se fosse possível viajar no tempo até o início do Universo, seria possível chegar a um ponto em que o tempo ainda não existia. Isso porque no ponto de altíssima densidade onde tudo começou, chamado singularidade, as leis da física ainda não se aplicavam. Portanto, a ideia de “tempo” não existia. Para nós, é difícil entender essa ausência de tempo, já que ele faz parte das nossas vidas e nós estamos acostumados a entender o Universo como algo que está envelhecendo. Nós nos acostumamos a pensar o Big Bang como um começo. Mas, para Hawking, já existia algo antes dele acontecer."

"A rigor, o que quer que tenha acontecido “antes” do Big Bang não pode ser medido (conforme já dito, porque as leis da física não existiam). Por isso, a ideia de um “começo” não se aplica para o Universo. Ele sempre esteve lá."
(Fonte: [2])  (grifos meus)

Tudo se encaixa perfeitamente na arquitetura monista de Ubaldi. Exceto - pelo que parece - o último termo: "a ideia de um 'começo não se aplica para o Universo". Resta decifrarmos isso.

Observe que logo em seguida (à frase) é dito: "Ele sempre esteve lá", se referindo ao Universo.

Claro...se ele sempre esteve 'lá' não pode ser falado em um começo - pois sempre teria existido. No entanto, no momento ou antes da singularidade geral (Big Bang) as leis físicas eram inválidas. Não havia espaço nem tempo. Consequentemente, tudo derivado dessas dimensões fundamentais (massa, energia, vida, consciência, etc.) era inviável. Então não podemos falar de uma existência igual. Hawking provavelmente está falando de um outro universo (o Sistema (S) de Ubaldi), perfeito e além de nossa compreensão. 

O que o brilhante físico inglês ainda não conseguiu vislumbrar foi que não houve uma transição S -> AS, e sim um emborcamento, em que parte do S se manifestou como Anti-Sistema (AS). Esse universo que Hawking define como 'nada' (no sentido de nossas leis físicas serem inválidas) é o universo original e perfeito - aquele que Cristo denominou 'Reino de Deus'.

Um vídeo do canal Fatos Desconhecidos, O que é o Multiverso? A última teoria de Stephen Hawking explicita a questão da origens. Preste atenção no último trecho do vídeo abaixo (7:00 a 7:20).


"O nosso Universo observável teria sido derivado de um Universo maior e inobservável." (Hawking e Thomas Hertog).

'derivado' significa o fenômeno da queda.
'Universo maior' seria o S.
'inobservável' implica que ele não está ao alcance dos métodos e ferramentas do AS.

O conceito de 'maior' na verdade não é adequado, pois trata-se de um Universo adimensional (além das nossas dimensões-base de espaço-tempo). Ou melhor, ele é super-dimensional, o que significa que as suas dimensões são superiores às nossas, o que aponta para a superação da nossa realidade. É como se as 'nossas' dimensões estivessem empacotadas num ponto insignificante (não manifestas) nesse outro universo. Presas. Encapsuladas. Presentes apenas como uma possibilidade - assim como o infinito e eterno nos parece uma vaga possibilidade em nossa realidade.

6) Propôs uma teoria para tudo
"Em 2006, Hawking e Thomas Hertog, integrante do Cern (o laboratório que construiu o maior acelerador de partículas do planeta, o LHC) publicaram um estudo com uma hipótese bem maluca, porém, segundo eles, possível de ser provada. Os dois disseram que o Universo teve vários começos paralelos. A maioria deles se desfez sem criar um efeito notável, mas alguns se mesclaram e formaram o Universo que conhecemos hoje."
(Fonte: [2])

Isso é o mais próximo que se chegou de uma teoria de tudo, que unisse física quântica com relatividade geral. Foi usado a Teoria das Cordas para explicar as hipóteses. Mas até o momento, ainda devem ser feitas mais especulações a respeito.

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Gostaria de voltar ao aspecto mais profundo da existência desse cientista inglês.

Nascido em 8 de janeiro de 1942 - 300 anos exatos após a morte de Galileu.
Morto em 14 de março de 2018 - 139 anos após o nascimento de Albert Einstein.

Nasce numa época em que as ideias lançadas por Galileu já se consolidaram fortemente no mundo: o público geral já absorve e aceita como incontestáveis as teorias desse gênio italiano, que teve a formalização completa de seus princípios feita por outro gênio, Isaac Newton.

Morre no século XXI, quando a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein ainda não permeia o senso comum - nem foi explorada até suas últimas consequências. O físico inglês tratou de construir muitas de suas teorias a partir daquilo deixado pelo gênio judeu-alemão.

A orientação pode estar aqui.
O que me deixa fascinado na vida e obra de Stephen Hawking é a construção feita a favor da unificação das ideias. Mesmo sem sabê-lo, suas investigações, em geral, revelaram uma aproximação entre o mundo da ciência e do espírito. Entre o criacionismo e o evolucionismo. Mais: suas colocações provocativas sobre (o conceito presente) de Deus força a pessoa consciente a buscar compreender Deus de uma forma cada vez mais elaborada. Transcendente e imanente. Poderoso mas simultaneamente obediente à sua pŕopria Lei - que emana de sua natureza. Pode parecer um paradoxo, mas não revela sabedoria infinita Aquele que cria uma Lei Perfeita e (logicamente) a obedece sempre.

Deus obedece a seus princípios porque Ele É DEUS. Isso não o torna fraco! Comprova Sua força e sabedoria. Compreender isso é ter iniciado o despertar da consciência.

Vejamos algumas frases proferidas por Hawking que, se lidas em profundidade, atestam essa busca e vontade de se integrar a esse não-local perfeito.

Afirmação 1:  “Considerando o que os buracos negros sugerem, Deus não apenas joga dados, ele às vezes nos confunde jogando-os onde ninguém consegue ver.”

Explicação 1: O AS é um reino de caos em que suas próprias forças resistem ao poder imanente de organização do S. Logo, de acordo com a Teoria Unificada de Ubaldi, é aceitável que exista um campo em que reine o estocástico [7].

Afirmação 2: "Eu não sou religioso no sentido normal. Eu acredito que o universo é governado pelas leis da ciência. As leis podem ter sido decretadas por Deus, mas Deus não intervém para quebrar as leis."

Explicação 2: No sentido normal (comum) é cada vez mais difícil ser religioso. Trata-se de uma concepção de Deus que está muito atrás de nossa mentalidade moderna. É preciso que o conceito de Deus se aprofunde para gerar adesão aos seus princípios. O volume Princípios de uma Nova Ética trata sobre essa questão logo no início (Deus - duas concepções).

Afirmação 3: “Apesar de eu não poder me movimentar e ter que falar através de um computador, em minha mente sou livre.”
 
Explicação 3: O imaterial independe do material. O intangível está lá mesmo que não possa ser manifestado de forma adequada. O espírito anima a matéria - e esta não pode travar o espírito que tem febre de evolução.

Afirmação 4: “Toda a história da Ciência tem sido a percepção gradual de que eventos não acontecem de uma maneira arbitrária, mas que refletem uma ordem básica, que pode ou não ser divinamente inspirada.”

Explicação 4: Ou seja, admite-se que existe um princípio nas coisas. Há uma ordem fundamental (básica). Poder ou não ser divinamente inspirada é uma questão que so existe para aqueles que ainda estão receosos de admitir Deus como Ordem suprema. 

De 1988, trata de suas desobertas.
Vejamos bem...se existe uma ordem básica, como ela poderia não ser divinamente inspirada? O próprio conceito de ordem - que tudo conduz - clama pela existência de um princípio transcendente que se manifesta na forma de leis. Pense bem: o que seria uma ordem básica sem inspiração divina? Seria lógico afirmar isso? Podemos até atribuí-lá ao diabo! Mas mesmo assim seria divinamente inspirada - pois Deus é tudo e além. Logo, tudo é divinamente inspirado. Mas perceber o aspecto que beira o transcendente nos faz sentir essa ordem.

Afirmação 5: "Em outras palavras, o contínuo de espaço-tempo é uma superfície fechada sem fim, como a superfície da Terra, sobre a qual podemos seguir caminhando eternamente sem cair dela."


Explicação 5: Isso bate exatamente com os conceitos revelados por Sua Voz em A Grande Síntese:

"Encontraremos um limite, mas no transformismo evolutivo, não no espaço."
AGS, Cap. XXXIII

Uma ameba que se move na superfície de uma esfera (2D) pode deslocar-se infinitamente numa direção sem jamais superar a o mundo 2D, seu universo. Ela sempre retornará ao mesmo ponto. Isso - para quem percebe o espaço (3D) - é visto como limitação, pois aquela dimensão se torna finita para quem observa a partir da dimensão subsequente. O mesmo se dá com o nosso Universo tangível.

Do ponto de vista da mente (nível de consciência racional), observamos o espaço (3D) e o tempo (1ª dimensão da tríade subsequente) como um espaço-tempo 4D. Os físicos usam isso para elaborar suas teorias. Mas o tempo em si não é uma 4ª dimensão, e sim a 1ª de outro sistema:

1ª tríade:
linha - superfície - volume

2ª tríade:
tempo - consciência - superconsciência

Para a mente racional a intuição sempre será inacessível. Apenas tornando-nos intuitivos chegaremos a compreender o nosso destino. Nem mesmo é possível perceber nossa própria mentalidade a partir dela mesma:

"Esforçai-vos em acompanhar-me. Se vosso universo é finito como vórtice sideral, o sistema de universos e o sistema de sistemas de universos é infinito. Se o espaço fosse um infinito, não teria limites em sua qualidade de espaço, no entanto ele os tem, porém não os encontrareis no espaço, em direção espacial, mas sim em direção evolutiva. Deste conceito, ao qual já acenamos, chegamos agora à novíssima concepção: os únicos limites do espaço são hiperespaciais, isto é, são no sentido do desenvolvimento da progressão evolutiva e exatamente na dimensão sucessiva. Ou melhor: se quiserdes um limite para o espaço, só o encontrareis nas dimensões que o su-cedem e o precedem."
AGS, Cap. XXXV (grifos meus)

"Existe, pois, uma lei, a que chamaremos de “lei dos limites dimensionais”, que pode ser assim enunciada: “Os limites de uma dimensão são dados pelos limites da fase de que ela é a unidade de medida; eles encontram-se no ponto em que, por evolução, passa-se de uma fase a outra, isto é, onde ocorre a transformação de uma fase e de sua dimensão na fase e dimensão sucessiva.
AGS, idem (grifos meus)

Com isso espero ter unificado um pouco mais ciência e espiritualidade. Deus e Universo. Transcendência e imanência. Infinito e finito. Eterno e temporal. Absoluto e relativo. Ordem e caos.

Lendo o espírito de Stephen Hawking à fundo, percebemos que ele admite Deus. Se tivesse conhecido a Obra de Pietro Ubaldi, talvez pudesse colocar uma harmonia fantástica em suas teorias. 

Assim constato cada vez mais melhor a grandiosidade do monismo de Pietro Ubaldi.
 
Referências:
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking
[2] https://super.abril.com.br/mundo-estranho/as-6-maiores-contribuicoes-de-stephen-hawking-a-ciencia/
[3] https://www.megacurioso.com.br/ciencia/91761-15-frases-de-stephen-hawking-que-farao-voce-ver-a-vida-de-outra-maneira.htm
[4] https://www.bbc.com/portuguese/geral-43332140
[5] https://medium.com/@felipehime/the-most-basic-mathematical-concepts-to-start-learning-the-theory-of-relativity-and-spacetime-3085bcbf218c
[6] https://www.youtube.com/watch?v=lIa_Qk6-9mg
[7] OLIVA, L.L. O Universo é determinístico ou estocástico? 27 mar. 2018. Disponível em: https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/03/o-universo-e-deterministico-ou.html
[8] UBALDI, P. O Sistema: gênese e estrutura do Universo. Disponível em: https://oespiritodafisica.files.wordpress.com/2011/02/14-o-sistema-pietro-ubaldi.pdf
[9] UBALDI, P. Princípios de uma nova ética. Disponível em: https://oespiritodafisica.files.wordpress.com/2011/02/20-princc3adpios-de-uma-nova-c3a9tica-pietro-ubaldi.pdf
[10] UBALDI, P. A Grande Sìntese: síntese e solução dos problemas da ciência e do espírito. 1935. Disponível em: https://oespiritodafisica.files.wordpress.com/2011/02/02-a-grande-sc3adntese-pietro-ubaldi.pdf