quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Queda do Espírito e Gravidade Quântica em Loop

"O preço conceitual pago para entender a Teoria da Gravidade Quântica em Loop é a renúncia à ideia do espaço e tempo como estruturas gerais para enquadrar o mundo." 

Fonte: [2].

"Vosso conceito de um espaço e de um tempo absolutos, universais, sempre iguais a si mesmos, corresponde a uma orientação puramente metafísica, que, inconscientemente, matemáticos e físicos introduziram em suas equações. Esse ponto de partida, totalmente arbitrário, vos levou a conclusões erradas, colocando-vos diante de fenômenos que se transformam em enigmas, impondo-vos contradições sem saída; lançando-vos em conflitos insanáveis; cercando-vos de todos os lados com o mistério. Na realidade, somente encontrais, como vos disse, um tempo e um espaço relativos, cujo valor não ultrapassa o sistema a que dizem respeito."

AGS, Cap. 35: A evolução das dimensões e a lei dos limites dimensionais

Fig.1: Uma ilustração da teoria. Aqui tentarei compreender (sim, eu mesmo) junto com o leito leigo (como eu)
toda essa ciência. Mas sob uma orientação monista, orientando o que está sendo descoberto a afirmado. Fonte: [4].

A Física Teórica é uma ramo muito jovem na História da Ciência. E mais ainda, na da humanidade. Ela surge justamente a partir do ponto em que a nossa capacidade de investigação do mundo à nossa volta supera a capacidade dos métodos e ferramentas usados para essa investigação. Chegamos ao ponto em que o método indutivo se revela insuficiente para descrever a essência de nossa realidade

Toda ciência até o fim do século passado se apoiou, de certo modo, na ideia de espaço e de tempo para descrever a realidade. Mesmo a Teoria da Relatividade Geral, de Einstein, se firma nisso. Sim: ele tirou o espaço e o tempo como dimensões absolutas e fixas, jungindo-as e distorcendo-as em favor de outra entidade absoluta - a velocidade da luz. No entanto, os parâmetros de análise permaneceram o espaço-tempo. 

A Mecânica Quântica adentrou no seio do átomo e descobriu fenômenos que iam contra o bom senso dos cientistas. A indeterminação de Heisenberg derrubou até a tentativa de criar uma lei para o mundo subatômico - o que deixou Schrödinger um tanto decepcionado. A dualidade onda-partícula igualou matéria e energia, destacando que ambas são manifestações, materializações, percepções (etc.) de algo situado num campo fora do espaço-tempo. Fora do universo local (UL), o nosso. Este domínio seria um universo não-local (UNL), cuja Função de Onda (abaixo) procura explicar em termos analíticos. 

Fig.2: Função de Onda é uma tentativa (verdadeiro Tour de Force) para explicar o inexplicável. 
Fonte: [3]

Uma constante multiplicada pela variação espacial da função de onda somada ao produto do potencial que age sobre uma partícula pela função de onda da mesma deve ser igual a uma constante vezes a taxa de variação dessa função de onda no tempo.

Numa forma mais simples podemos escrevê-la como:

Fig.3: Equação de Schrödinger (ou função de onda). Fonte: STEWART, Ian. Equações que Mudaram o Mundo.

A matéria é modelada não como partícula, mas como onda. Mas não em termos dinâmicos, de manifestação de energia, mas como uma nuvem de probabilidade de estados possíveis, 'situado' no campo não-local, que colapsa como partícula (matéria) ou forma dinâmica (energia), no campo local

Dito de uma forma mais ampla (e profunda), podemos dizer que: 

Enquanto nada está definido tudo é possível.

Vamos voltar à GQL. 
Mas antes, algumas definições - que podem ajudar.

Loop quantum gravity (LQG) is a theory of quantum gravity, which aims to merge quantum mechanics and general relativity, incorporating matter of the Standard Model into the framework established for the pure quantum gravity case. It is an attempt to develop a quantum theory of gravity based directly on Einstein's geometric formulation rather than the treatment of gravity as a force. As a theory LQG postulates that the structure of space and time is composed of finite loops woven into an extremely fine fabric or network. These networks of loops are called spin networks. The evolution of a spin network, or spin foam, has a scale above the order of a Planck length, approximately 10−35 meters, and smaller scales are meaningless. Consequently, not just matter, but space itself, prefers an atomic structure.

Fonte: Wikipedia. (grifos meus)

Apesar de leigos, podemos destacar alguns pontos importantes:

Primeiro: trata-se de uma teoria que visa fundir mecânica quântica e relatividade geral;

Segundo: de acordo com a teoria, a estrutura do espaço-tempo seria composta de loops finitos, cuja menor dimensão é a escala de Planck;

Terceiro: uma conclusão (não definitiva) é a de que a matéria e o espaço (sua dimensão característica) se manifestam (ou preferem) uma estrutura atômica. 

Para realizar essa fusão (1º ponto) é preciso demolir os conceitos de espaço e tempo que temos. Ou seja, espaço e tempo não seriam mais dimensões basilares sobre as quais poderíamos construir tudo que descreve a nossa realidade tangível. 

Segundo o físico italiano Carlo Rovelli, a teoria da gravidade quântica em loop reconhece que nós precisamos mudar nossa noção de tempo e espaço para entender a física dos primórdios do Universo e de dentro dos buracos negros. Ou seja, os conceitos de tempo e espaço simplesmente não existem para esta teoria. E é por isso que ela é uma das ideias mais interessantes da física.

Fonte: [5]  (grifos meus)

E com isso podemos nos recordar das palavras de Sua Voz:

Assim como são infinitas as fases evolutivas, também são infinitas as respectivas dimensões. Eis como nosso olhar pode superar o tempo e o espaço, que são apenas duas dimensões contíguas dentre as infinitas dimensões sucessivas. Falaremos a respeito das mais próximas ao vosso concebível, correspondentes às várias fases de evolução, a fim de chegar à conclusão, antecipada aqui por mim, de que também o devenir das dimensões é cíclico, seguindo a lei do desenvolvimento expressa pela trajetória típica dos movimentos fenomênicos e pela lei das unidades coletivas, ou seja, de que cada dimensão é um período que se reagrupa em períodos trifásicos maiores, os quais se reagrupam em períodos ainda maiores, até ao infinito. A dimensão infinita, que compreende todas as menores, é precisamente a evolução.

AGS, Cap. 36: Gênese do espaço e de tempo  (grifos meus)

Está sendo afirmado que o número de dimensões é infinito. Isso foge ao nosso concebível. Pois se já estamos nos digladiando (conosco e com outros) para compreender a consciência - 2ª dimensão na tríade conceptual, ou 5ª dimensão considerando uma progressão direta linha (1ª), superfície (2ª), volume (3ª) e tempo (4ª) - imagine então se deparar com uma entidade que nos afirma que toda realidade seria composta de um número incontável de dimensões. 

Mais: essas dimensões também estão sujeitas ao devenir, isto é, a um transformismo evolutivo. Então elas estariam sujeitas a leis superiores. Porque elas se transformam...Compreende?

Tudo que muda está sujeita a uma lei que impõe essa mudança. E a lei é adequada a cada  nível. 

Então não podemos ancorar mais nossas teorias (acerca da realidade) em entidades que estão se alterando nesse transformismo universal. Porque isso passa a distorcer a nossa visão de mundo. É preciso captar o aspecto mecânico que rege esse dinamismo. Ou seja, o tempo não pode ser referência para compreender o tempo. Nem o espaço referência para compreender o espaço. Porque senão a gente cairia num ciclo sem fim que se auto reforça. 

É como se meu ego avaliasse a conduta dele própria. Não recebo avaliações de uma entidade que já passou pelo meu estágio - e que portanto poderia orientar e dar conselhos sábios. E assim, sem orientação de uma pessoa mais sábia (raríssima) ou do meu Eu Superior (raríssimo também, pois inacessível a muitos), fico preso numa lógica que não me faz progredir de forma livre - e portanto, menos sofrida. A evolução do ser fica nas mãos de uma autoridade sábia e benévola (=determinismo da Lei).

Nós não conseguimos avaliar um plano (ou nível) a partir desse próprio plano. É necessário estar num plano superior para compreender. 

Ponto (germe da tríade espacial), linha e superfície completamente desenvolvidos, formam o espaço.

Espaço (germe da tríade conceptual), tempo e consciência completamente desenvolvidos formam a intuição.

E esse movimento de formação-reagrupamento é a evolução - que seria a dimensão do infinito.

Muito bem. Na entrevista de Rovelli [6] temos outras observações muito interessantes também que ajudam a nos ambientar nessa visão de reagrupamentos de coisas (teorias, ideias, modos de vida, etc.) aparentemente inconciliáveis:

No livro, Rovelli cita uma antiga piada: “A natureza está se comportando conosco como aquele rabino idoso consultado por dois homens para resolver uma disputa. Depois de ouvir o primeiro, o rabino disse: ‘Você tem razão’. O segundo insistiu para ser ouvido. O rabino escutou e lhe disse: ‘Você também tem razão’. Então a mulher do rabino, que escutava a conversa de outra sala, gritou: ‘Mas os dois não podem ter razão ao mesmo tempo’. O rabino pensou um pouco, concordou e concluiu: ‘Você também está certa’.

Fonte: [5

Qualquer coisa que você diga estará certo. Mas o estará apenas a partir da sua própria concepção da realidade. 

O que podemos concluir disso é simples e profundo: 

Uma verdade fechada, restrita à própria dimensão, e que se alimenta apenas dela é estática e com o tempo tende a se extinguir.

Uma verdade aberta para o universo, que se destrói-reconstrói, ou seja, admite a existência de dimensões superiores (e planos de vida mais elevados) é dinâmica, se auto-organizando sempre. Logo, tende a se tornar mais bela e envolvente com o tempo. 

Continuemos nosso desenvolvimento. 

Para tentar conciliar as teorias (Mecânica Quântica e Relatividade Geral) surgiu a Teoria das Cordas. Mas ela está apoiada no tecido espaço-tempo. Por outro lado, a GQL não se apoia nesse tecido para descrever o mesmo.

Mas, enquanto os teóricos das cordas acreditam que o mundo quântico é formado por minúsculos filamentos de energia (as cordas), os cientistas que defendem a ideia da gravidade quântica em loop sequer acreditam que haja um mundo infinitamente pequeno que comporte estas cordas.

Fonte: [5]  (grifos meus) 

Podemos concatenar esse raciocínio da ciência com a visão exposta por Sua Voz:

Disse que os elétrons giram ao redor do núcleo. Ora, nem mesmo o núcleo é o último termo; em breve aprendereis a decompô-lo. Porém, por mais que procureis o último termo, jamais o encontrareis, porque ele não existe. Nesta pesquisa, dirigida para o âmago da matéria, acompanhais o caminho descendente que ω percorreu de α→β→γ, portanto tereis de encontrar β, isto é, a energia da qual nasceu a matéria e à qual veremos esta regressar em seu caminho ascensional, que a reconduz a β.

AGS, Cap. 36: Gênese do espaço e de tempo  (grifos meus)

Então percebemos que jamais a ciência irá encontrar um último termo tangível que descreva a natureza da matéria. É aqui que a coisa fica interessante, pois julgávamos que caminhando na dimensão espacial (e do tempo) nas maiores e menores escalas encontraríamos as repostas para todo nosso mundo (e consequentemente, nossos problemas). Mas o que a ciência está percebendo é justamente que esse caminhar se deve dar em outra direção

Indo mais à fundo na entrevista com o renomado físico italiano, encontramos falas que apontam para o monismo substancial de Pietro Ubaldi:

Esta tensão entre os dois tipos de física não existe na teoria da gravidade quântica em loop porque, no fim, as duas conversam entre si. Rovelli explica: “A gravidade quântica em loop combina relatividade geral e mecânica quântica com muito cuidado, porque não utiliza nenhuma outra hipótese a não ser essas duas teorias, oportunamente reescritas para se tornarem compatíveis. Mas suas consequências são radicais”.

Fonte: [5]  (grifos meus) 

O ponto é este: combinar com muito cuidado. Relações, associações e interconexões são princípios sistêmicos. São imperativos evolutivos. No entanto, não basta combinar indiscriminadamente. Existem inúmeras combinações sem sentido ou mesmo negativas. É necessário combinar de modo harmônico, extraindo o melhor de cada parte e potencializando o todo (e as partes). Em outras palavras, é preciso criar sinergia - e não interferência destrutiva. Isso é o que Ubaldi fez ao longo de sua vida e obra. Estabelecer conexões sutis, inéditas, dando um framework para a humanidade se apoiar e se desenvolver nos futuros milênios. 

Pausa aqui. 

"O que é "Framework"? Na linguagem de programação, o framework é aquilo que está na base de um sistema, funcionando como um suporte. Ele permite compartilhar um conjunto de códigos entre aplicações e oferece algum tipo de funcionalidade. Assim, essa ferramenta torna o processo de codificação mais rápido." Fonte: [7]. 

Continuando.

Inventar algo completamente novo dá margem a devaneios inúteis que levam a um vazio. É preciso interpretar o que temos, sonhar positivamente e ousarmos nos projetar para o futuro com fé destemida e competência criativa. Essa é a essência do universo e do ser. É o espírito das eras que atualmente deseja se revelar. 

Vamos continuar na entrevista.

Com a relatividade geral, aprendemos que o espaço não é mais uma caixa rígida e inerte, como um recipiente em que você joga suas coisas. Ele é mais parecido com o campo eletromagnético (por onde se propagam coisas como as ondas de rádio ou a luz que chega aos nosso olhos, que também é onda): um imenso molusco imóvel em que estamos imersos, um molusco que se comprime e se retorce, como escreveu Rovelli.

Fonte: [5 (grifos meus) 

Esse 'molusco' imóvel que se comprime e se retorce (nem tão imóvel então). Isso me lembra os motos fenomênicos. Então se trata de um espaço dinâmico - conceito que Ubaldi, sem usar exatamente essa palavra,  introduz no livro Problemas do Futuro. E desenvolve uma visão de 'espaço' que vai muito além do que nos é ensinado:

No sentido objetivo, um espaço vazio não teria dimensões nem medida, constituindo um indefinido e um indefinível, em que nada se pode distinguir enquanto aí não se gere alguma coisa. Um espaço vazio é somente uma possibilidade em potência, em que nada está ainda realizado. Aí, o ser ainda não tomou forma no plano material, mas é somente um germe no regaço da ideia geradora. O espaço real, existente em sentido objetivo, é dado pela matéria e nasce com ela por concentração dinâmica. 

PF, Cap. 19: Espaço curvo e sua expansão (grifos meus)

Por isso matéria e espaço estão fortemente jungidos na 'teoria' de Ubaldi.

Mais adiante, no mesmo livro:

Disto decorre que, quanto mais concentração de matéria se gera, tanto mais o espaço se centraliza e se acentua, isto é, se torna restrito. Eis como ele se pode contrair ou expandir, e isto conforme a matéria, que forma naquele espaço sua dimensão, se concentra ou se rarefaz, condensando-se (matéria) em determinados pontos ou se expandindo (energia) ao precipitar-se distante deles. 

Idem (grifos meus)

Isso explica a compressão-expansão desse 'molusco'. E esse escrito já antecipa a existência da matéria escura (responsável pela contração do espaço) e a energia escura (responsável pela expansão do universo). É como se houvesse um movimento vibratório universal, em que o ritmo que gera a oscilação é um bipólo (matéria e energia escuras), e a consequência é a elasticidade do Universo (rigidez do sistema), e cujo movimento de expansão-contração vai se desgastando, extinguindo lentamente a matéria (Lei da Conservação de Massa) e, posteriormente, a energia (2ª Lei da Termodinâmica) 'dissipando' o que é tangível - e assim restaurando a consciência, ou espírito, entidade intrínseca, não-vibracional. 

O brilhantismo do Apóstolo de Gúbio é verdadeiramente invulgar. A humanidade foi brindada com algo que transcende os confins da lógica acadêmica e cotidiana. Resta às pessoas despertarem para tal realidade. Realidade de profundidade oceânica, fantástica sob qualquer aspecto - e inspiradora...dando combustível espiritual aos desesperados em meios ao caos do presente. 

E assim podemos dizer plenamente conscientes:

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! 

Jesus Cristo

Acompanhemos o pensamento de Carlo Rovelli mais um pouco.

Já a mecânica quântica nos ensina que campos como este são feitos de “quanta”. Isso quer dizer que o espaço seria formado por pequenos pacotinhos, como os fótons que formam a luz – a isso damos o nome de estrutura granular. A diferença entre os fótons e os pacotinhos de espaço, ou “quanta de espaço” (para dar um nome chique), é que, enquanto os fótons vivem no espaço, os pacotinhos de espaço são eles próprios o espaço. Doido, né?

Fonte: [5]  (grifos meus) 

Ou seja, o limite do espaço seria a escala de Planck (10E-35 m). Para o tempo seria igual (10E-43 s). Para aquém disso, inexiste espaço-tempo. O que haveria então? 

Não pode ser espaço ou tempo...

(Me sinto tentado a falar sobre a imanência divina)

Ou como Rovelli explica no livro: “O espaço como recipiente amorfo das coisas desaparece da física com a gravidade quântica. As coisas (os quanta) não habitam o espaço, habitam uma os arredores da outra, e o espaço é o tecido de suas relações de vizinhança.“

Assim, entende-se que, em uma escala muito, muito pequena, o espaço não é mais algo contínuo, ele tem um limite, que é o limite dos pacotinhos que o formam. E essa é um dos pilares da teoria da gravidade quântica em loop.

Fonte: [5]  (grifos meus)  

A descontinuidade é uma característica do Anti-Sistema. Sob todos os aspectos. Porque sempre que interrompemos algo (um fluxo de pensamento, um estado de relaxamento, o ato sexual, um papo bom com um amigo ou desconhecido, um projeto de vida, uma produção musical, conceitual, filosófica, textual, artística, etc.), sentimos uma queda. Uma interrupção do ato criativo. Em terminologia sexual, a gente brocha. Aquele voo nos altiplanos de nosso íntimo é abortado. Desmoronamos. Caímos para a realidade restrita (e cada vez mais imbecil) do mundo.

Logo, a continuidade é um atributo do Sistema. Sob todos os aspectos. Porque sempre que estamos caminhando com total segurança não sentimos descontinuidade. É o estado de fluxo das pessoas que estão imersas num eterno presente. É aí que se produz o máximo. É aí que se expressa de forma mais cristalina a vontade do espírito - seu Eu Superior, sua Consciência Crística, seu Deus imanente, seu aspecto Divino. 

Terminamos mostrando a imagem construída por Gilson Freire - inspirada na obra de Ubaldi - que está no seu último livro, A Física do Espírito, do que poderá se tornar uma teoria sobre a origem e formação de nosso universo.

Referências:

[1]  https://en.wikipedia.org/wiki/Loop_quantum_gravity

[2]  https://www.youtube.com/watch?v=LTXpkEtf0Eg

[3]  http://simetriadegauge.blogspot.com/2013/08/o-gato-zumbi-de-schrodinger-e-o-colapso.html

[4]  https://scitechdaily.com/loop-quantum-cosmology-theory-cosmic-tango-between-the-very-small-and-the-very-large/

[5] https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/04/gravidade-quantica-em-loop.html

[6] https://en.wikipedia.org/wiki/Flow_(psychology)

domingo, 23 de outubro de 2022

Uma memória que se reconstrói evoluindo - ou que evolui se reconstruindo

Por sugestão e insistência de minha esposa, acabamos começando a assistir uma série italiana. No começo eu resisti. Estávamos sem saber que novo ciclo cinematográfico começar. E ela intuitivamente sugeriu uma série chamada DOC: Nelle tue mani (ou, em português, DOC: Uma nova vida). Parecia ser algo mais estadunidense. Depois percebi que era uma produção italiana. A história, a profundidade dos personagens, os atores que davam vida a estes, o ritmo de desenvolvimento (dinâmico mas sintético), a construção, a trilha sonora, a ambientação,...tudo começou a me envolver. A ela também. Percebi que se tratava de algo especial. Um seriado muito bem construído que revela a genialidade e humanismo do povo italiano. Mas não apenas isso.

A série possui uma temática de apelo universal. E com a trama ocorrendo num hospital de Milão ( província da Lombardia, norte da Itália) com toda a ambientação adequada, essa temática fica mais vívida, mais palatável, mais atraente e mesmo inteligente. Os italianos possuem uma habilidade muito especial em materializar questões abstratas, profundas. Eu até diria um dom em dinamizar algo que ocorreu no passado e ocorre de forma isolada - mas que tem significado substantivo para todas pessoas.  

Vamos falar um pouco da trama.

Imagine perder doze anos de sua memória num acidente (ou melhor, num incidente). Algo causado por uma irresponsabilidade da instituição, de uma pessoa, mas que acaba sendo cobrada daquele que estava mais evidente - visto como o chefe e portanto principal responsável. Um tiro na cabeça que não mata nem causou problemas motores ou sensoriais. Mas que destruiu memórias importantíssimas de um médico num momento ascensional de sua carreira. Uma pessoa que passou por grandes dores e que estava reconstruindo sua vida, de modo radicalmente diferente. 

O que assistimos no episódio 1 é um personagem (o principal), Dr. Andrea Fanti (Luca Argentero), frio e competente no campo da medicina tradicional. Uma pessoa séria porém rígida. Um homem que não considera o sofrimento alheio e crê que escutar o paciente (ou sofrer com ele, para compreender a causa de sua doença) é perda de tempo que pode distorcer diagnósticos ou retardar o processo de melhora. Uma melhora apenas do ponto de vista exterior. 

Fica evidente que ele está numa relação com uma das médicas, a Dra. Giulia Girodano (Matilde Gioli), e que ele é divorciado há dez anos. E que sua ex-esposa é agora diretora da unidade, a Dra. Agnese Tiberi (Sara Lazzaro), que decide seguir carreira mais na linha de gestão por (segunda a mesma) não possuir o mesmo talento que Andrea. Isso irá ficando mais claro à medida que a trama se desenvolve.

Fig.1: Giulia, Andrea e Agnese (da esquerda para a direita). Pessoas que apoiam o Dr. de formas distintas.
E ele, com sua 'nova personalidade', acaba reestruturando a psique de ambas. 

Mas a questão é que o espectador não sabe à princípio as causas que levaram à separação. Não se sabe muita coisa sobre cada um dos personagens. O Dr. Fanti é um mistério. Um enigma. A história, antes do grande evento (tentativa de assassinato), correria de modo insosso, sem vida, numa progressão sem sentido para Andrea - mas igualmente para todos os personagens, ouso dizer. 

A amnésia causa impacto na vida daquele que a adquiriu, mas também na de todos os outros que trabalham com ele. Porque se trata de um ser que ocupava posição de destaque e, mais importante, que sempre foi comprometido com o que estava fazendo (e faz) - seja na vida pessoal ou profissional. 

À primeira vista esse acidente parece ser uma tragédia. Com o passar dos meses e semanas, também. Parece que o que ocorreu é desvantagem sob qualquer prisma. Doze anos jogados fora: toda uma experiência, um conhecimento, atualizações imprescindíveis num mundo em vertiginosa transformação, uma relação fragmentada e uma tragédia que desencadeou uma mudança radical no modo de ser - e consequentemente, de atuar. Porém...à medida que assistimos aos episódios, começamos a compreender tudo que ocorreu. E percebemos conquistas e derrotas se intercalando. Ascensões e quedas. Progressões e regressões. Mas quanto mais se assiste, mais se desenvolve um destino (e vários outros), que parece ser uma continuação de algo ocorrido em 2008 (ano para o qual a memória de Andrea regrediu).

Uma queda de 2020 a 2008. Um regresso. Porém, podemos afirmar com segurança: uma perda completa?

A vida vivida não se apaga na memória dos outros. Há um retorno para um período que antecede uma mudança radical de comportamento. Algo foi perdido naquela trajetória. E agora, dada a situação, parece ter surgido uma oportunidade de recuperar um modo de ser que jamais deveria ter sido abandonado.

No primeiro episódio um Dr. Fanti frio e ágil. Calculista e eficiente. Aparentemente sem sentimentos. Pouco antes de tomar um tiro na cabeça que lhe destrói doze anos de memória percebemos como a sua vida estava caminhando. Sua relação com a Dra. Giordano se firmava. E, do lado profissional, acabara de descobrir um erro médico do qual participou junto com um colega seu, Marco Sardoni (Raffaele Esposito), que não possui o mesmo dom de Andrea de lidar com as pessoas - tanto no aspecto pessoal quanto profissional. Erro que pode colocar o hospital e a carreira de ambos em sério risco. E é aí que ocorre o (quase) fatal acidente. 

Cada episódio vai trazendo revelações - tanto do personagem principal quanto de todos médicos próximos a ele. É uma progressão no tempo com acontecimentos típicos da vida (o dito 'acaso'), que ora ressaltam um ou outro personagem. Ficamos conhecendo cada vez mais à fundo a personalidade de cada um deles. Através dos diálogos e comportamentos; dos incidentes e acidentes; da vida pessoal e profissional; do comportamento conduzido pela razão, pela intuição, pela sensação e pelo sentimento. 

Há de tudo: abandono do(a) companheiro(a) por perda de algo; motivações de ter adentrado na carreira médica; conflito entre seguir regras e usar a razão versus deixar-se conduzir pela intuição; cotidiano de um hospital; responsabilidades; retorno do 'passado' para 'assombrar' pessoas com questões não resolvidas; inveja; construções e desfazimento de relacionamentos; dúvidas sobre os caminhos da vida; etc. 

Fig.2: Ricardo e Andrea - uma amizade inesperada. A história de um bom rapaz. Um acontecimento trágico 
que altera rotas. A construção de um destino através de uma tragédia (física e moral).

Através de um ambiente profissional específico vamos nos dando conta de como o ser humano 'funciona'. O que nos move? Por quê? As coisas devem ser sempre do mesmo jeito? Qual o papel dos afetos, da percepção extra-sensorial, no tratamento de pessoas? Aliás, Andrea se revela muito sábio quando lembra seus colegas se eles estão lá para tratar doenças ou indivíduos. Ele erra mais que os outros em momentos iniciais de diagnóstico. Seus caminhos parecem turvos e sem sentido. Mas nas conclusões percebemos que ele sempre acerta. É assim que trabalha o ser intuitivo: é preciso ousar, adentrando no imo do ser; esgotando todas as possibilidades e se envolvendo num grau de profundidade com o paciente que demanda um conhecimento de sua história, seus hábitos, suas inclinações e traumas. Mais do que analisar um corpo físico semi-funcional, ele disseca uma alma viva que agoniza numa existência vazia. Esse é seu drama cotidiano e sua glória definitiva. É o que o torna único, substancialmente diferenciado do seu entorno. É aquilo que atrai a Dra. Giordano desde o primeiro momento que o vê, em 2010. 

Apesar das transformações dos personagens, o espectador atento perceberá que certas coisas não mudam: o amor de Giulia por Andrea; um certo vínculo sentimental entre Agnese e Andrea; o ímpeto de Andrea em ousar criativamente ao tratar os casos; a busca incessante por um sentido na vida, em cada personagem...mesmo nos que tem o demônio mais forte que o anjo. É aí que reside a essência. E isso se percebe ao longo do tempo, assistindo os episódios e compreendendo os personagens. Assim o espectador vai formando um mosaico. Mosaico dinâmico, que no conjunto traz uma mensagem muito bela e poderosa.

Para saber mais, só assistindo. Pois um simples texto é incapaz de transmitir a profundidade de uma série bem construída, com direção, argumento, edição, trilha sonora, figurino e personagens fantásticos - animados por excelentes atores. 

Fica a dica.

Links:

https://observatoriodocinema.uol.com.br/series-e-tv/2021/11/medico-de-doc-uma-nova-vida-existe-e-e-revelado-o-que-aconteceu-com-ele

https://www.panorama.it/lifestyle/Televisione/doc-2-seconda-puntata-saurino

https://www.imdb.com/title/tt11876490/

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Visionários do caminho, parte 1: O Legado de Enéas

Sempre há um preço a ser pago por se antecipar em algo. Estar na vanguarda em alguma ação significa que se está exprimindo algo que já foi conquistado interiormente. Que se tornou uma antecipação biológica. Se não integralmente em toda sua essência, ao menos em sua percepção e em formas mentais cruciais. É uma conquista definitiva, que nada pode tirar do ser. Nem sequer a morte pode apagar um degrau espiritual conquistado através de sofrimentos e um esforço árduo e orientado.

Quem vê mais longe se destaca das massas. Naturalmente. Sem esforço ou desejo disso. E quando se sente uma realidade mais profunda - a única que pode definitivamente resolver todos problemas das facticidades sensórias e mentais - é mais intensa a vontade de dialogar, mostrar e participar do processo coletivo. No entanto, a resistência é tanto maior quanto mais o ser desse tipo atua no mundo. Porque as pessoas simplesmente não atingiram o nível de sensibilidade psíquico-nervosa necessária para compreender a mensagem. 

Prestem atenção: o que foi dito anteriormente é crucial. De nada adianta argumentar, demonstrar, dialogar, esquematizar e etc. se aquele que está do outro lado, com sua mente racional e vida (racionalidade, interesses, história) não está no mesmo nível evolutivo (sensibilidade, intuição, conscientização). Um é horizontalidade relativa sem diferenciação substancial. O outro é verticalidade evolutiva com profundas diferenças íntimas. Existe relatividade nas duas dimensões (material e espiritual). Porém, o que realmente é importante é trabalhar individualmente para ascender a planos mais de vida mais elevados. 

Não estamos interessados aqui em diferenças de forma. Não estamos interessados como a pessoa ou o grupo se auto classificam: se de direita ou esquerda; se branco ou negro; se erudito ou não estudado; se rico ou pobre; se brasileiro ou estrangeiro; se religioso ou ateu; se científico ou artístico; etc. Estamos interessados em sua capacidade de relacionar os fenômenos. Estamos interessados naquilo que cada um é capaz de fazer com suas habilidades, saberes, posição social e atributos biológicos (genéticos) e culturais (meio) para unificar as relatividades que se transformam. Estamos interessados na capacidade do ser abandonar crenças velhas porque passa a saber (sapiência) de fato certas verdades, criando assim crenças mais profundas, mais interessantes, mais nobilitantes. Estamos interessados na capacidade da pessoa filtrar as diversas opiniões, perspectivas, modos de vida e informações, construindo um corpo de conhecimento sólido e em contínua marcha evolutiva. Estamos interessados em criaturas que possuem intenção pura e inteligência desperta e dinâmica.

Esse blog é para pouquíssimos. Sempre foi, sempre será.

Sempre? Sim, porque se coloca sempre à frente.

Os admiradores estão distantes no espaço (localidades geográficas) e no tempo (quando acessam). Leem e pensam sobre os temas num ritmo particular, todo seu. Um ritmo que é modulado pela sua capacidade em assimilar as visões e as sistematizações sendo expostas continuamente ao longo da esteira do tempo. Mas o importante é que estão antenados com questões que farão parte de uma nova humanidade - que viverá e operará uma nova civilização: a do espírito. São pessoas que estão quietas em seus ambientes de trabalho e pouco falam com seus amigos sobre coisas que sentem ser interessantíssimas e fecundas. Porque o mundo ridiculariza (inicialmente) e pune (num 2° instante) aqueles que ousam sair do senso comum. Porque o mundo teme a ascensão. Porque essa ascensão demanda se despir de todos os preconceitos e agir no sentido de se transformar, adotando um novo modo de ser - que se traduzirá num novo modo de vida. 

É preciso dizer tudo isso antes de começar uma série de ensaios centrados em torno de um tema central de nossos (e de todos os ) tempos: o ser diferenciado positivamente, ou super-homem.

É preciso que o leitor compreenda à fundo tudo isso, para não incorrer em interpretações superficiais, e assim não captar a mensagem. Isso exige ter atingido um certo grau. Grau que poucos possuem. Quem não está sintonizado com os escritos daqui, que abandone a leitura agora, neste ponto. Quem não compreende tudo que foi dito, largue o texto e vá fazer outra coisa. De nada adianta expor algo se o receptor não está no grau de maturação que o habilite a assimilar - e consequentemente fazer as críticas construtivas, que propõem ir além e fazer o autor refinar suas construções conceptuais e de vivência. 

Agora podemos começar a nos ambientar ao tema, que é o ser diferenciado - criatura que enxerga mais longe do que a imensa maioria.

Pretendo tratar de alguns exemplos. Escolhi como primeiro uma pessoa que foi médico, matemático, físico, professor, escritor e (num último momento de vida) político. Alguém que passou fome e vários tipos de necessidades, mas nem por isso se tornou um frustrado ou rancoroso. Uma pessoa que sempre buscou excelência e sempre se sacrificou em prol do ideal, da visão que tinha. Uma pessoa à frente do seu tempo que fez um esforço fora do comum (tour de force) para tentar imprimir um pouco de dinamismo ao processo evolutivo humano, no campo das coletividades, da política e economia. Enfim, uma pessoa com discurso ágil, visão cósmica, capacidade de síntese e palavras penetrantes.

Essa pessoa é o Dr. Enéas Carneiro (1938 - 2007).

Fig.1: Um homem que virou um ícone. Muitos o viram como louco. Outros como de direita e autoritário.
Outros ainda como um cômico. Outros como um perigo. Mas pouquíssimos compreenderam sua mensagem. 

Como um blog sobre monismo substancial (orientado pela vida e obra de Pietro Ubaldi) vem trazer como eixo central um político excêntrico, em todas suas dimensões, taxado como agressivo, de direita, com ideias malucas? Um ser que foi muito mais usado pelas mais disparatadas personalidades e grupos do que realmente absorvido e vivenciado pelas pessoas, diga-se de passagem. 

Simplesmente porque se tratam de interpretações de involuídos - e que portanto de nada valem. Uma interpretação de uma sociedade atrasada, cujo expoente no campo de comunicação de massa é uma mídia pútrida que é nojenta em sua lógica de operação. 

Simplesmente porque se trata de alguém que era (e é) profundamente monista. Isso é o que irei demonstrar ao longo do meu desenvolvimento. E terei sucesso (pois sei que estou correto*). 

Trata-se de um homem que nasceu em família pobre, paupérrima. Nem sequer pôde ser registrado no nascimento devido à falta de recursos. Passou parte da infância com uma dieta à base de farinha e água. Quando seu pai morreu precisou trabalhar para o sustento próprio e da família. No entanto, sempre consegui obter notas altas na escola. Seu desempenho sempre foi notável. Se destacou em tudo que fez ao longo da vida: nas faculdades, na pós-graduação, no mestrado, na escrita de livros, nas notas. Mesmo nos casamentos (que findaram em divórcio), podemos perceber um certo fracasso elevado.

Diz o Enéas, em entrevista concedida ao Jô Soares em 2002, que sua última esposa o abandonou porque não era capaz de suportar o ritmo das coisas. Ele era simplesmente muito dedicado ao seu ideal. Ele vivia pelo ideal. Possuía uma febre de ascensão que dificultava o convívio. Dificultava uma vida normal (palavras todas minhas). Percebam então que não se tratava de cisão pelos motivos corriqueiros, de baixo nível, característico da imensa maioria dos casais (traição, doença, desentendimentos, surtos, etc.), e sim de uma questão de incompatibilidade de ímpeto ascensional. Enéas mesmo diz (na mesma entrevista) que não culpa sua ex-esposa pela separação, pois compreendia seus motivos. 

Trata-se de um homem que tinha um destino a cumprir (e o cumpriu). Um destino forjado ao longo da vida - e quem sabe em existências pretéritas. Uma mensagem a ser passada para os poucos ouvidos capazes de captá-la. Uma mensagem para os mais adiantados terem mais um elemento concreto para comprovar a veracidade dos escritos mais profundos. 

Na política, sempre se considerou fora da bipolaridade esquerda-direita. Era confundido ora com uma ora com outra, apesar de ser taxado com mais frequência de extrema-direita (talvez pelo seu discurso incisivo e suas constantes falas de valorização da pátria). Mas vê-se que ele captava os elementos de ambos os lados, só que de uma maneira muito mais profunda, desenvolvida. E isso o colocava fora do espectro de compreensão dos homens comuns. 

“[…] PSDB e PT e qualquer “P”, sempre estiveram juntos. É falsa a briga entre eles. Agora, se o senhor não aguenta mais ver “menor” abandonado na rua, tóxico, crime, tudo que não presta aumentando e o senhor quer expulsar pra sempre esses patifes do poder, só existe uma opção: 56. O senhor nunca me viu junto de nenhum deles. E comigo, o senhor vai ficar livre de todos eles. […] A decisão é sua. Meu nome é Enéas, 56.” (Enéas Carneiro). 
Fonte: [1] (grifos meus)

É sabido que PT e PSDB sempre foram opostos por muito tempo na política nacional. No entanto, o primeiro esteve sempre mais orientado ao progresso e o segundo à conservação de um modo de existir e reproduzir o funcionamento sistêmico. Percebam que nesse jogo a diferença é grande se vista de um prisma meramente humano, político, preso aos nossos tempos e à nossa concepção de política. Porém, se torna pequena - apesar de muito sutil - se se adota uma visão monista. 

Com o advento do bolsonarismo no Brasil percebeu-se uma aproximação entre esses opostos. Grupos que se digladiavam tão fervorosamente agora unidos em prol de uma causa. Uma aliança superficial, diga-se de passagem. Porém ela revela uma coisa: que o jogo de aparências, que a marcha lenta e todas fraquezas dos sistemas humanos...tudo isso, com seus extremos, não gostam de alguém que é mais radical (no sentido positivo ou negativo). E portanto se aliam para fazer frente ao fascismo. No entanto, aquilo que combatem foi aquilo que criaram ao longo de anos e décadas: um deles oferecendo a base (PSDB) e o outro, jamais prevenindo o mal que sempre esteve à espera (PT). 

É fato que a esquerda, encabeçada pelo PT, partido de massas, é mais positiva que a direita, encabeçada agora por outros (antes pelo PSDB). Filtrando todas as contradições típicas de grupos humanos cheguei a uma síntese ao longo da vida. Uma síntese que me permite afirmar com segurança férrea.

A questão porém não é essa. O problema de nossos tempos é que a esquerda que ocupa o poder - ou que possui alguma influência ou poder para atuar e mudar a realidade objetiva - não consegue fazer isso com o atual grau de consciência dos líderes que ocupam suas cadeiras. E da sociedade como um todo, povo que deve ser liderado em suas potencialidades divinas, e não gerenciado em seus instintos baixos e más tendências. 

É aí que entra os "tipos-Enéas" em cena. 

Enéas inconscientemente captava tudo isso que foi dito anteriormente. Ele intuía essas verdades profundas e por isso percebia a exaustão das politicas hodiernas (presentes). 
 
Ele era contra o comunismo de forma mas a favor deum comunismo mais profundo, dito substancial - porém não o percebia, apesar de senti-lo e transmitir essa vontade de realização através de seu exemplo.

"O único comunismo substancial, existente de fato, é aquele que une todos os fenômenos, vincula todas as ações e irmana a todos, arrastando tudo dentro da mesma lei, na mesma correnteza, sem possibilidade de isolamento. Trata-se de uma comunidade substancial de deveres, de trabalho e de responsabilidades, apesar das inevitáveis diferenças de nível, que exprimem a diversidade de tipos e de valores."

AGS, Cap. 93: A Distribuição da Riqueza 

O comunismo defendido nesse blog é exatamente esse. E por isso pode-se criticar e até combater o comunismo de forma, de massificação coletiva baseado numa existência baixa - e também o capitalismo individualista, baseado num dinamismo de superfície e insustentável, além de desagregador. 

O Dr. Enéas percebia essas coisas. Só que não podia falar num nível tão profundo quanto Ubaldi, pois nesse caso se decolaria completamente de seu (já diminuto) público. 

A força do discurso, em tom profético, é outra característica que esse grande homem trouxe à tona. Ele foi capaz de mostrar que é possível conciliar questões aparentemente díspares, como respeito, direitos humanos, família, religião e ciência (todos valores e práticas intrínsecas à humanidade). Que é possível - e necessário - que o mais progressista adote um discurso forte e direto. Nossos tempos demandam isso. 

"Confunde-se muito uma pessoa que tem convicções precisas. Que fala com segurança, com firmeza, e que acredita no que diz e que tem entusiasmo. Confunde-se isso muito com o autoritarismo. Será que, para ser democrata tem que se falar sempre mansinho devagarinho, dando-se impressão de que não se tem convicção sobre coisa alguma?"

Enéas Carneiro [em entrevista com Jô Soares, 2002] 

As pessoas confundem um discurso forte cheio de inteligência, síntese e paixão, com os discursos de lunáticos que desejam chamar atenção e confundir. Apenas quem vê as coisas muito superficialmente chega nessa equalização. 

Fig.2: Quem não possui maturidade não compreende nada. Às vezes quem profere a mensagem se decepciona 
com a incapacidade de assimilação mínima das pessoas. Isso é normal e apenas quem está adiante sente a dor dos grandes. 

O fato de Bolsonaro se dizer admirador de Enéas não torna este último um anti-exemplo. Ou o primeiro numa pessoa orientada ao ideal. O que as pessoas falam não tem o menor valor. O que é dito não revela nada - a não ser a capacidade de usar a forma para agradas as circunstâncias e ao ego. O que vale é a atitude, os atos, as lentas construções subterrâneas de seres que são incompreendidos pela imensa maioria. 

Uma humanidade mais evoluída, saída se sua infância, irá ver tudo isso (Enéas, esses textos, outros gênios e desconhecidos formidáveis por aí) como algo a ser escutado. Haverá um destaque do ser diferenciado que vê mais longe e age de acordo com a Lei. O modo de agir na vida será diverso. Uma análise clara e óbvia das coisas como elas são. A essência captada diretamente pelo olhar perspicaz da alma. 

Mas enquanto as pessoas não despertam - e muito sofrem com isso, sobretudo por não saberem que estão num lodaçal - eu insisto e persisto aqui e nas aulas e nos meus cursos e no meu modo de ser e etc. Uma hora tudo irá surtir efeito. Para o bem de tudo e de todos. 

Voltando ao homem.

A pobreza extrema; a vontade de estudar; o senso de ordem; o estudo dedicado em vários campos; a publicação de livros; a comunicabilidade e abertura para o debate; o uso dos poucos recursos; o sacrifício da vida pessoal em prol de um ideal; a visão de síntese e a ousadia inteligente. Tudo isso está impresso num único ser. Um mosaico constituído de uma multiplicidade de peças aparentemente contraditórias, mas cuja grandeza e harmonia pode ser vista quando percebido o quadro geral. Esse é Enéas Carneiro, um ser que implementou a capacidade de síntese em seus discursos. 

Sustentado por uma convicção fora do comum, avançou destemidamente e (quase) sozinho. Convicção que apenas quem tocou a essência das coisas possui. Convicção que agiliza a fala e afia a mente. Que deixa os sentimentos aflorados e a paixão vulcânica. Que dá energia continuamente - apesar de todas dificuldades. Que torna a pessoa criativa, fazendo muito uso do pouco que lhe é dado pelo Anti-Sistema. 

Para compreender Enéas é preciso ver a substância e não a aparência. É preciso escutá-lo integralmente, ouvindo suas justificativas. É imperativo estar sintonizado com o modo de atuação de grandes profetas (pois ele possui muito deles, e pode até ser considerado um deles...um Profeta Moderno). Caso contrário estaremos subaproveitando tudo que ele trouxe. Resumindo um ser a uma caricatura barbuda e careca; uma pessoa que fala sobre a bomba atômica; um louco que falava nada com nada. Mas no fundo, quem assim o julga, está julgando a si mesmo, pois demonstra que só soube captar o que estava no seu nível de percepção - e compreensão. 

Podemos assistir seu discurso de 1997 na Convenção do PRONA e concatenar muitas coisas com a obra de Ubaldi.


"Vamos acordar para as questões substantivas!" (Enéas)

"A minha mensagem é para o homem....é para o cidadão pleno. Que tem dentro de si, no cerne, no âmago, na região mais recôndita, mais abscôndita de seu ser, a vontade de acertar." (Enéas)

Há muitas chispas de intuição permeando esse discurso. É uma breve fala de 25 min. Uma fala de síntese. De força. De visão e vivência sistêmica. De ardente desejo de ascensão.

"Já é tempo que surja uma política realmente voltada para a sociedade - e não dela desligada." (Enéas)

Numa vã tentativa de rebaixar grandes mensagens de um homem muito à frente de seu tempo, a humanidade se rebaixa perante a eternidade.

"Enquanto a mediocridade, com sua inércia, permanece estacionária na sua própria fase, em perfeito equilíbrio, todos os assaltos das forças biológicas levantam-se contra quem tenta novos caminhos. A vida põe asperamente à prova as antecipações e as criações, usando o misoneísmo como impulso de nivelamento, para garantia de estabilidade. Quando o gênio passa pela Terra como um turbilhão, a massa se agarra a ele, para mantê-lo embaixo."

AGS, Cap. 84 - Gênio e Neurose  (grifos meus)

Um pouco mais à frente, mais confirmações:

"Porém o gênio não pode descer; sente seu eu gritar e não pode calar. Ele não é, como os outros, apenas um corpo; é, acima de tudo, uma alma. O espírito, que dormita em tantos e ainda deve nascer, aparece nele evidente, trovejando e se impondo como um gigante. Quem poderá compreender suas lutas titânicas? A humanidade caminha lentamente, debaixo do esforço da própria evolução, enquanto ele, por estar à frente, carrega toda a responsabilidade, arrastando o peso de todos."

 AGS, Cap. 84 - Gênio e Neurose  (grifos meus)

Para perceber basta ter atingido o grau de maturação necessário. Aqueles que anseiam pelo bem mas são incapazes de mergulhar à fundo na sua própria personalidade, integrando toda sua existência ao universo à sua volta, irão se assustar com estes escritos - e com o indivíduo nos holofotes do ensaio. 

Aqueles mais abaixo, que usam grandes mensagens e se apoiam em meias verdades, irão tentar fazer uso particular dos escritos. Para estes a exposição só tem valor enquanto é possível dela tirar algum proveito particular, para sua pessoa, seu grupo, sua ideologia. 

Meu amigo...estamos diante de verdades profundas que só podem ser encaradas como revelação para os (ainda) imaturos. Aqueles que anseiam fervorosamente a verdade mas (ainda) não tem a coragem de vivê-la em sua plenitude. 

Bondade, inteligência e coragem: tríade que cria o super-homem. Enéas, pelo que parece, foi capaz de conjugá-las num grau razoavelmente bom, antecipando caminhos que todos iremos seguir.

Para quem deseja compreender melhor a visão e as ideias desse homem, sugiro a entrevista concedida ao Jô Soares em 2002 (assista abaixo).


A entrevista é boa porque traz esclarecimentos. Concentração é vital. Pureza de intenção, ainda mais. Quem deseja se aproximar um pouco mais da Verdade compreenderá tudo. Quem não amadureceu nada verá e muito irá julgar - fofocando ou ignorando. 

Defender o óbvio é a tarefa mais difícil, mais titânica, mais árdua e sofrida. Exige uma criatividade fora do comum porque está sintonizada com algo que a humanidade dá pouca atenção. As pessoas optam sempre pelos caminhos complicados. Possuem vício pela sofisticação supérflua que não leva a lugar algum. Dizem criar coisas, mas na verdade fazem arranjos cada vez mais inúteis e criam contextos e justificativas para esses arranjos serem admirados. 

Fig.3: Cientistas, filósofos, religiosos e artistas sempre trouxeram aspectos da Verdade Universal. Não é preciso ficar só em Ubaldi: basta vê-lo em tudo, pois foi o Apóstolo de Gúbio que (até o momento) construiu um edifício conceitual e uma vida capaz de albergar a legiões de anjos que vieram trazer luz ao mundo.

Ciência materialista e dogmática travestida de belas palavras e soluções restritas. Tecnologia presa ao turbilhão das sensações e aos imperativos sistêmicos de uma economia caduca e um paradigma morto. E semanas que glorificam a ciência e a tecnologia - mas que se esquecem do verdadeiro significado de ambas. 

O que as anima? Como elas se desenvolvem ao longo da esteira do tempo? Como a subjetividade humana dá tom e ritmo e vetoriza os saltos do progresso no campo da concretude valorizada pelas massas populares e de intelectuais? Para que serve tudo isso? Para 'onde' aponta? Estará tudo isso desvinculado das altas visões do espírito? Da consciência? Dos afetos? Do amor?

Conclui-se que tivemos em nossa história, na nossa política, um homem que que realmente apontava para as estrelas. Um homem cuja história merece ser contada à fundo, em seu aspecto espiritual, ou seja, substancial, tal qual Ubaldi escreveu sobre sua biografia em História de Um Homem (1942).

Eu espero com esse ensaio ter lançado nesse vasto lodaçal informacional global uma centelha de luz que vá reverberar pelo oceano do tempo, adentrando em mentes e corações já despertos para a visão unitária do cosmos. E assim iniciar o movimento que trará a verdadeira essência de um homem que veio a este mundo, a este Brasil (Berço da Nova Civilização do 3º Milênio) para anunciar novos tempos com seu exemplo. Exemplo feito de atos e sacrifício perpétuos, num trabalho que jamais cessa e sempre se transforma.

Amém.

Referências: 

Notas:
* eu costumo falar para meus alunos que eu sou arrogante mesmo. mas minha arrogância é diferente de todas que eles jamais virão. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Superando os limites

Há momentos em que você se vê diante de uma espécie de vazio. Não há reações enfáticas do mundo. Apenas indiferença - causada por uma aguda incompreensão. Incompreensão de quê? De seu modo de ser. E isso se percebe de forma muito clara à medida que a pessoa deseja resolver os problemas fundamentais da espécie.

Fig.1: Carl Jung já percebeu a necessidade de tocar o mais demoníaco 
para atingirmos o mais angelical. Em nós mesmos.  

Superar os paradoxos, explicando-os e aplicando as ideias na própria vida é algo que ofende aqueles que ainda não atingiram a maturidade interior para compreender o fenômeno evolutivo. Fenômeno comum a tudo neste universo, que opera de modo muito intenso e criativo em épocas críticas (como a nossa).

Ás vezes, depois de você exibir algo muito profundo (pode ser música, filme, ideia, aula, pensamento ou sentimento), pode ser que até uma pessoa se acerque e procure saber mais ou compartilhar algo de sua vida contigo. Algo que jamais foi compartilhado por ninguém por ausência de ouvidos receptivos e mente capacitada à assimilação da visão. Mas após certo tempo, a chama se extingue. Porque vivemos num mundo em que se escravizar é um imperativo para a sobrevivência. E sem nenhum meio de vida e totalmente excluído socialmente, é impossível o espírito se manifestar na matéria, espiritualizando-a.

As pessoas ainda tem um medo - eu diria até pavor - com certas palavras. E também modos de ser que se propõem a ser verdadeiramente originais. Elas foram 'ensinadas' a 'pensar' de modo a excluir toda e qualquer possibilidade de reinterpretação de coisas fascinantes. Elas foram 'instruídas' a não ressignificar o conhecimento, e sim apenas fazer arranjos interpretativos frouxos. Arranjos calcados numa extensa bibliografia de pessoas 'especialistas' em temas diversos. Mas essas especialidades jamais são confrontadas entre si. Muito menos, vividas pelos teóricos.

Fig.2: Observar a Verdade exige absorver a realidade essencial. O que conseguimos captar do campo não-local
denota nossa capacidade em assimilar valores do Absoluto. 

Quando começamos a adentrar no nível da implementação de ideais, através de ideias originais, nossas, nos vemos diante do abandono por parte de todos. Até mesmo aqueles que se propunham caminhar junto, nos ajudando a cada passo, se afastam, dando mil e uma desculpas para não continuar nessa empreitada. A maior decepção vêm daqueles que tiveram acesso a conhecimentos profundos e muito afirmam - mas que não são capazes de se desculpar por fazer uso inadequado de uma pessoa. São pessoas que querem viver num plano mais alto de vida, mas não conseguem porque estão presos a mil hábitos viciantes. Viciantes o sentido de repetitivos, sem apontar para um progressão. Pessoas no casulo, que se deixaram influenciar pelas narrativas. O gosto por filmes é pobre; por música é insuficiente; a visão política é distorcida. E a vontade de concatenação dos altiplanos celestiais das escrituras sagradas com o quotidiano árduo (porém necessário) é muito pequena. Quase inexistente. E nós, que estamos numa busca infindável nesse mundo finito, devemos perceber o mais rápido possível gente desse tipo. 

É possível se dar conta de uma personalidade em pouco tempo. O autor percebe isso de forma cada vez mais cristalina. Talvez tenham sido feitas tantas tentativas, tantas insistências, tantas oportunidades dadas, apenas para se ganhar uma visão profunda e inabalável sobre a humanidade atual. E isso choca profundamente quem tanto se doa para a ascensão de si e de seu entorno. Mas, ao mesmo, tempo, não podemos deixar de registrar aqui os frutos disso tudo.

Sente-se movimentos pequenos, porém profundos e insistentes, nas placas tectônicas da noosfera. Movimento que traduz uma insatisfação que ainda não sabe nem atuar eficientemente ou se dirigir sabiamente. A psique humana possui uma inércia muito grande. Inércia que é consequência do baixo grau de consciência, que se apoia nas aparências do mundo sensório. Que se apoia numa relatividade que não percebe a presença do Absoluto operante. Que se firma na quantidade de pessoas (próximas) que fazem ou não algo - e não na convicção íntima que pulsa no recôndito se sua alma. Porque seguir a voz interior o exclui do restante. Te carimba como um anátema. Perante a economia, a academia, a sociedade, a família. E todas essas atitudes (exclusivas) são feitas sem base sólida. São uma reação linear e superficial de uma coletividade incapaz de seguir o rumo evolutivo que os tempos demandam. No entanto, essas barreiras podem ser a mensagem de que estamos no caminho certo.

Se se deseja desqualificar de modo correto uma ideia, um método, um modo de ser, é necessário antes de tudo compreender à fundo em que se apoia (essa ideia, método e modo de ser). É necessário interagir, dialogando e buscando entender o que está sendo feito e por quê está sendo feito. Para isso as pessoas que estão (teoricamente) na chefia devem compreender o fenômeno evolutivo - para que assim possam canalizar as coisas úteis à coletividade, num trabalho de longo prazo que demanda ação contínua e liberdade. 

O ser que cria vive se transformando. Podemos dizer que transformar-se tem como consequência criar. E que a criação estimula a transformação - do indivíduo, por experiências íntimas e intensas, e do mundo, por transbordamento do modo de ser da pessoa, original, ousado e criativo simultaneamente. Isso aponta para uma nova forma de inteligência: a intuição.

Fig.3: Informação e conhecimento não nos libertam da caixinha. Experiência e intuição sim.
Apesar de que, através da informação e do conhecimento, podemos chegar à experiência e intuição.
Mas para isso é preciso viver destemidamente e sair das imposições do meio. Somente os fortes conseguem.
Fortes no sentido interior. Fontehttps://br.pinterest.com/pin/521854675570383189/

Informação é ver a multiplicidade fenomênica. Conhecimento é relacionar essa multiplicidade, criando teorias e textos e arte e sistematizações e pensamentos. Experiência é, através dos conhecimentos, transcender o que está aí (tido como única realidade possível), criando um novo modo de ser - que leva a um novo método. E intuir é, sem esforço exterior, ser capaz de atingir a essência das coisas através de pouca informação. 

O que é dito aqui uma criança de seis anos consegue compreender. A questão é que, à medida que se cresce, o mundo vai despejando uma série de verdades hiper-restritas (e restritivas) à criança. E esta vai aceitando passivamente, sem questionar. Porque vive-se uma ditadura da quantidade neste mundo. Uma ditadura muito bem disfarçada. Porque o modo de impor é muito sutil. É imperceptível a quem não está habituado em operar e perceber em profundidade, indo ao significado dos atos - e não aos atos em si.

Numa linguagem simples, podemos dizer:

A imensa maioria da humanidade está buscando bolinhas e amontoando elas aos montes, como colecionadores viciados em armazenar coisas em baús mentais. 

Alguns buscam ligar uma com outra, fazendo brincadeiras intelectuais e 'criando' coisas pelas quais depois querem ser reconhecidos (dinheiro, títulos, fama, sexo, consumo diversos e coisas do tipo). Mas esses não querem sair da grande bolha em que estão inseridos, pois isso requer saber pensar-por-si-mesmo e caminhar no desconhecido, destemidamente.

Poucos, pouquíssimos, saem dessa maneira de operar, usando o conhecimento apenas para se libertar e atingir um modo de vida mais amplo, que seja capaz de ascender verdadeiramente - e inspirar os outros. 

Dentro desta última categoria temos os que experimentam e os que intuem. Os primeiros atuam no mundo e querem construir uma ponte. Os segundos, com pouco, já atingem a visão da essência das coisas e superam a dimensão na qual estão inseridos.  

O objetivo dessa 'brincadeira' (vamos por ora denominar assim) é sair da caixa. Uma caixa que está nos sufocando cada vez mais. Uma panela de pressão que está prestes a estourar se insistirmos e continuar barrando as coisas mais fantásticas e cheias de vida. Coisas em prol da evolução da civilização rumo ao seu destino. 

Talvez esse aumento de pressão se deva às descobertas (ou 'criações' desnecessárias) excessivas, que aumentam o número de bolinhas num ambiente com capacidade de assimilação limitada. As conexões são úteis, mas se servirem apenas para satisfazer egos estaremos criando uma teia de aranha na qual nos perdemos em infindáveis gozos (materiais e intelectuais). 

Está na hora de sairmos da caixa que nos mata lentamente.

Quer se libertar de verdade?

Então tenha a coragem e a criatividade de sair da caixa.