segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Superando os limites

Há momentos em que você se vê diante de uma espécie de vazio. Não há reações enfáticas do mundo. Apenas indiferença - causada por uma aguda incompreensão. Incompreensão de quê? De seu modo de ser. E isso se percebe de forma muito clara à medida que a pessoa deseja resolver os problemas fundamentais da espécie.

Fig.1: Carl Jung já percebeu a necessidade de tocar o mais demoníaco 
para atingirmos o mais angelical. Em nós mesmos.  

Superar os paradoxos, explicando-os e aplicando as ideias na própria vida é algo que ofende aqueles que ainda não atingiram a maturidade interior para compreender o fenômeno evolutivo. Fenômeno comum a tudo neste universo, que opera de modo muito intenso e criativo em épocas críticas (como a nossa).

Ás vezes, depois de você exibir algo muito profundo (pode ser música, filme, ideia, aula, pensamento ou sentimento), pode ser que até uma pessoa se acerque e procure saber mais ou compartilhar algo de sua vida contigo. Algo que jamais foi compartilhado por ninguém por ausência de ouvidos receptivos e mente capacitada à assimilação da visão. Mas após certo tempo, a chama se extingue. Porque vivemos num mundo em que se escravizar é um imperativo para a sobrevivência. E sem nenhum meio de vida e totalmente excluído socialmente, é impossível o espírito se manifestar na matéria, espiritualizando-a.

As pessoas ainda tem um medo - eu diria até pavor - com certas palavras. E também modos de ser que se propõem a ser verdadeiramente originais. Elas foram 'ensinadas' a 'pensar' de modo a excluir toda e qualquer possibilidade de reinterpretação de coisas fascinantes. Elas foram 'instruídas' a não ressignificar o conhecimento, e sim apenas fazer arranjos interpretativos frouxos. Arranjos calcados numa extensa bibliografia de pessoas 'especialistas' em temas diversos. Mas essas especialidades jamais são confrontadas entre si. Muito menos, vividas pelos teóricos.

Fig.2: Observar a Verdade exige absorver a realidade essencial. O que conseguimos captar do campo não-local
denota nossa capacidade em assimilar valores do Absoluto. 

Quando começamos a adentrar no nível da implementação de ideais, através de ideias originais, nossas, nos vemos diante do abandono por parte de todos. Até mesmo aqueles que se propunham caminhar junto, nos ajudando a cada passo, se afastam, dando mil e uma desculpas para não continuar nessa empreitada. A maior decepção vêm daqueles que tiveram acesso a conhecimentos profundos e muito afirmam - mas que não são capazes de se desculpar por fazer uso inadequado de uma pessoa. São pessoas que querem viver num plano mais alto de vida, mas não conseguem porque estão presos a mil hábitos viciantes. Viciantes o sentido de repetitivos, sem apontar para um progressão. Pessoas no casulo, que se deixaram influenciar pelas narrativas. O gosto por filmes é pobre; por música é insuficiente; a visão política é distorcida. E a vontade de concatenação dos altiplanos celestiais das escrituras sagradas com o quotidiano árduo (porém necessário) é muito pequena. Quase inexistente. E nós, que estamos numa busca infindável nesse mundo finito, devemos perceber o mais rápido possível gente desse tipo. 

É possível se dar conta de uma personalidade em pouco tempo. O autor percebe isso de forma cada vez mais cristalina. Talvez tenham sido feitas tantas tentativas, tantas insistências, tantas oportunidades dadas, apenas para se ganhar uma visão profunda e inabalável sobre a humanidade atual. E isso choca profundamente quem tanto se doa para a ascensão de si e de seu entorno. Mas, ao mesmo, tempo, não podemos deixar de registrar aqui os frutos disso tudo.

Sente-se movimentos pequenos, porém profundos e insistentes, nas placas tectônicas da noosfera. Movimento que traduz uma insatisfação que ainda não sabe nem atuar eficientemente ou se dirigir sabiamente. A psique humana possui uma inércia muito grande. Inércia que é consequência do baixo grau de consciência, que se apoia nas aparências do mundo sensório. Que se apoia numa relatividade que não percebe a presença do Absoluto operante. Que se firma na quantidade de pessoas (próximas) que fazem ou não algo - e não na convicção íntima que pulsa no recôndito se sua alma. Porque seguir a voz interior o exclui do restante. Te carimba como um anátema. Perante a economia, a academia, a sociedade, a família. E todas essas atitudes (exclusivas) são feitas sem base sólida. São uma reação linear e superficial de uma coletividade incapaz de seguir o rumo evolutivo que os tempos demandam. No entanto, essas barreiras podem ser a mensagem de que estamos no caminho certo.

Se se deseja desqualificar de modo correto uma ideia, um método, um modo de ser, é necessário antes de tudo compreender à fundo em que se apoia (essa ideia, método e modo de ser). É necessário interagir, dialogando e buscando entender o que está sendo feito e por quê está sendo feito. Para isso as pessoas que estão (teoricamente) na chefia devem compreender o fenômeno evolutivo - para que assim possam canalizar as coisas úteis à coletividade, num trabalho de longo prazo que demanda ação contínua e liberdade. 

O ser que cria vive se transformando. Podemos dizer que transformar-se tem como consequência criar. E que a criação estimula a transformação - do indivíduo, por experiências íntimas e intensas, e do mundo, por transbordamento do modo de ser da pessoa, original, ousado e criativo simultaneamente. Isso aponta para uma nova forma de inteligência: a intuição.

Fig.3: Informação e conhecimento não nos libertam da caixinha. Experiência e intuição sim.
Apesar de que, através da informação e do conhecimento, podemos chegar à experiência e intuição.
Mas para isso é preciso viver destemidamente e sair das imposições do meio. Somente os fortes conseguem.
Fortes no sentido interior. Fontehttps://br.pinterest.com/pin/521854675570383189/

Informação é ver a multiplicidade fenomênica. Conhecimento é relacionar essa multiplicidade, criando teorias e textos e arte e sistematizações e pensamentos. Experiência é, através dos conhecimentos, transcender o que está aí (tido como única realidade possível), criando um novo modo de ser - que leva a um novo método. E intuir é, sem esforço exterior, ser capaz de atingir a essência das coisas através de pouca informação. 

O que é dito aqui uma criança de seis anos consegue compreender. A questão é que, à medida que se cresce, o mundo vai despejando uma série de verdades hiper-restritas (e restritivas) à criança. E esta vai aceitando passivamente, sem questionar. Porque vive-se uma ditadura da quantidade neste mundo. Uma ditadura muito bem disfarçada. Porque o modo de impor é muito sutil. É imperceptível a quem não está habituado em operar e perceber em profundidade, indo ao significado dos atos - e não aos atos em si.

Numa linguagem simples, podemos dizer:

A imensa maioria da humanidade está buscando bolinhas e amontoando elas aos montes, como colecionadores viciados em armazenar coisas em baús mentais. 

Alguns buscam ligar uma com outra, fazendo brincadeiras intelectuais e 'criando' coisas pelas quais depois querem ser reconhecidos (dinheiro, títulos, fama, sexo, consumo diversos e coisas do tipo). Mas esses não querem sair da grande bolha em que estão inseridos, pois isso requer saber pensar-por-si-mesmo e caminhar no desconhecido, destemidamente.

Poucos, pouquíssimos, saem dessa maneira de operar, usando o conhecimento apenas para se libertar e atingir um modo de vida mais amplo, que seja capaz de ascender verdadeiramente - e inspirar os outros. 

Dentro desta última categoria temos os que experimentam e os que intuem. Os primeiros atuam no mundo e querem construir uma ponte. Os segundos, com pouco, já atingem a visão da essência das coisas e superam a dimensão na qual estão inseridos.  

O objetivo dessa 'brincadeira' (vamos por ora denominar assim) é sair da caixa. Uma caixa que está nos sufocando cada vez mais. Uma panela de pressão que está prestes a estourar se insistirmos e continuar barrando as coisas mais fantásticas e cheias de vida. Coisas em prol da evolução da civilização rumo ao seu destino. 

Talvez esse aumento de pressão se deva às descobertas (ou 'criações' desnecessárias) excessivas, que aumentam o número de bolinhas num ambiente com capacidade de assimilação limitada. As conexões são úteis, mas se servirem apenas para satisfazer egos estaremos criando uma teia de aranha na qual nos perdemos em infindáveis gozos (materiais e intelectuais). 

Está na hora de sairmos da caixa que nos mata lentamente.

Quer se libertar de verdade?

Então tenha a coragem e a criatividade de sair da caixa.


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