quarta-feira, 27 de março de 2019

Teotropismo

Assim como as plantas sentem uma irresistível atração pela luz, maximizando sua exposição ao nosso Sol, o ser humano sente, em seu imo, uma irresistível atração para Deus. Em outras palavras, podemos dizer: as plantas sofrem de um heliotropismo - nós padecemos de teotropismo. Mas essa tendência - que alguns julgam ser deletéria - não é algo a ser obliterado, mas sim adequadamente elaborado. 

Todos os povos primitivos já tinham em suas práticas culturais essa noção de que existe um criador que se situa além. Esse além foi encarado - por muito tempo - como um distanciamento espacial, com sua correspondente envergadura temporal, sem fim para o ontem e o amanhã. 

A criação dos mitos cosmogônicos é marca dos povos e muito serviu para explicar o porquê de certos fenômenos ocorrerem. Mesmo que essas explicações carecessem de um embasamento lógico, elas davam um certo conforto e permitiram às pessoas desenvolver sua vida pessoal e em grupo, enfrentando dificuldades e desafios na longa esteira do tempo. Mas com o advento da civilização, esses mitos foram ganhando forma mais elaborada e preparando o terreno para uma evolução conceitual que temos da divindade. Eis que Índia e China, além de outros povos, elaboraram seus mitos cosmogônicos e serviram de berços às revelações mais sublimes: a Gita e o Tao. Desde aí a humanidade já possui as diretrizes do monismo. No entanto o ser humano necessitou reduzi-lo a crenças politeístas para assimilar tamanha vastidão de princípios e visões. Após isso, ascendemos ao monoteísmo. Mas com um Deus ainda antropomórfico - isto é, semelhante a nós, com a maximização de nossas virtudes e forças. Depois, com o advento do evolucionismo espiritualista, esse Deus passa a se deixar de ter forma, conforme o espiritismo bem demonstra:

1. Que é Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

O que é - e não quem é.

Mas ainda assim, permanecemos no dualismo: somos (segundo a doutrina espírita), "centelhas de Deus". Ou seja, tem-se uma ideia de que somos apartados do Criador, apesar de sua imaterialidade e grandeza ter se expandido enormemente com a terceira revelação. Mas é preciso tomar cuidado e ler em profundidade o Livro dos Espíritos para perceber que, apesar de não satisfazer o anseio das almas mais adiantadas, já profundamente imersas no oceano monista, a compilação Allan Kardec deixa a questão da evolução em aberto, apontando que "infinito" não é um acúmulo incontável de finitos (seja de tempo, espaço ou conhecimento racional), e sim um quid cuja apropriação se encontra no íntimo do ser - quando superarmos evolutivamente a barreira espaço-tempo-racionalidade.

2. Que se deve entender por infinito?
“O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito.”

O mau espírita estaciona no que a institucionalização de sua doutrina lhe diz ser verdade absoluta.
O bom espírita percebe que "nem toda verdade foi revelada", sendo a doutrina evolucionista - e portanto passível de reorientações e adições.

O século XX traz profundas transformações no campo da ciência - que acaba por trazer repercussões mais profundas na filosofia do que na técnica. A Física quântica desmaterializa a matéria, mostrando-a como mero campo de probabilidades. A onda pode se comportar como partícula - e vice-versa. A não-localidade aponta para um outro universo (o Sistema de Ubaldi) do qual o nosso se originou. Um universo que não será encontrado nos confins do espaço nem nas vastidões do tempo...Um universo que não se "toca" através da mente racional, segregadora, classificadora, sistematizadora, calculista e fria. Um universo que Cristo nos revelou através de seu exemplo. 

O girassol aponta para a luz física.
O humano aponta para a luz metafísica.
Ambos apontam para o Alto -
cada qual à seu modo...
A relatividade "transforma" o que era absoluto em relativo. E mais: relaciona-os. Percebemos que nas fronteiras de nosso saber, cai por terra a nossa capacidade de assimilação: a mente analítica é impotente; as ferramentas são insuficientes; as medidas são inúteis. O ser clama por uma transformação. 

Os avanços da biologia retomam o vitalismo. O DNA é decifrado, mas percebe-se que ele não é causa e sim mero coordenador dos princípios genéticos da vida orgânica. Elaborar as bases nitrogenadas, replicando-as, não constituiu inteligência genética mas sim reprodução ordenada e precisa. Há algo que é responsável por esse mecanismo. O princípio diretor manifestado em toda forma de vida, compatível com o potencial de cada uma, é o grande mistério.

Com tais avanços da Ciência, a Religião não pode permanecer com a mentalidade dualista. O neocriacionismo científico clama por uma correspondente arquitetura espiritual avançada, capaz de absorver integralmente as novas descobertas e - mais! - orientá-la rumo ao infinito. 

Eis que surge Pietro Ubaldi...

Uma vida cuja trajetória seria comum a qualquer outra - de quem nasce no conforto e no poder - espanta o mundo, causando reações das mais variadas. Cada julgamento diz mais sobre quem julga do que sobre aquele que está na cadeira dos réus. Assim, ao longo de oitenta anos de vida consciente, vemos um homem que era tudo (para o mundo) anular seu ego, reduzindo-se a um mero professor ginasial, sem posses, com parco rendimentos, desprezado pela sociedade, incompreendido pela família, condenado pela Igreja, ignorado pelos poderes e usado por aqueles que se acreditavam estar mais avançados na prática do "ama o teu próximo como a si mesmo". Um homem que passou quarenta anos sofrendo a incompreensão do mundo, maturando seu íntimo, progressivamente e orientadamente, até chegar a uma explosão conceitual: daí saem os 24 volumes, escritos ao longo de outros quarenta anos. Escritos captados inicialmente por alta inspiração - e posteriormente embalados pela mesma. Escritos que são a tradução de uma vivência profunda - e não um mero verniz cultural ou ardor cerebral. Escritos sublimes e científicos. Precisos e coerentes. Poético e lógico. Materializa-se a arquitetura monista.

Com a Obra do apóstolo da Umbria a humanidade está começando a se voltar novamente para Deus. Estamos passando a admitir a realidade do pós-vida, da reencarnação, de um Deus imanente e transcendente,...O sincretismo criacionista-evolucionista possibilita a irmanação daqueles que se consideram inimigos (cristianismo e espiritualismo) e a complementação entre ciência e religião. 

Iremos passar por uma profunda transformação...

"Devo definir desde logo meu pensamento, para não ser mal interpretado e posto na mira dos ansiosos de destruição e agressividade humana. Não venho para combater nenhuma religião, mas para coordená-las todas, como diferentes aproximações da verdade, UNA, e não múltipla como quereríeis. No entanto coloco no mais alto posto da Terra a revelação e a religião de Cristo, porque é a mais completa e perfeita dentre todas. Esclarecido este conceito, prossigo e verifico o fato inegável de que nenhuma de vossas crenças hoje levanta, abala e verdadeiramente arrasta as massas."
A Grande Sìntese, Cap. V.

terça-feira, 26 de março de 2019

domingo, 24 de março de 2019

Visão dos antigos: Taoísmo

Introdução

Interpretação de um poema (1)

Interpretação de um poema (2)

Interpretação de um poema (3)

Visão dos antigos

Prosseguimos com

Parte I: Visão dos antigos


Arquitetura Cósmica: Introdução

Dentre as muitas atividades executadas no período de férias, a mais importante de todas foi - sem sombra de dúvida - a leitura em profundidade do livro Arquitetura Cósmica, de Gilson Freire.

Inspirada na arquitetura monista de Pietro Ubaldi, o médico (e também professor) Gilson nos brinda com uma obra de monumental importância, estabelecendo um sincretismo* entre criacionismo judaico-cristão, evolucionismo espiritualista, e as últimas descobertas da ciência (o neocriacionismo quântico). 

A obra será explicada brevemente em uma série de apresentações audiovisuais que elaborei para que o público fique a par do significado do livro. Trata-se de uma reconstituição histórica fenomenal, no qual o leitor fará uma viagem no tempo, no espaço e na consciência, culminando nos limites dessa última, revelando haver uma dimensionalidade que supera todas as outras conhecidas - e que é a chave para atingirmos a perfeição e nos libertarmos de todos os males, definitivamente, adentrando no reino do absoluto.

Para aqueles já prontos a adentrar na obra ubaldiana, recomenda-se a leitura desse volume. Ele faz uma belíssima reconstituição histórica da humanidade, destacando as grandes descobertas científicas e os principais sistemas de crenças e valores, revelando o devenir do pensamento humano, com seus avanços e recuos de superfície - que no fundo estão enquadrados dentro de um progredir incessante.

O tamanho pode assustar (a 2ª edição possui quase 900 páginas). Mas é muito interessante. Uma verdadeira jornada evolutiva das concepções humanas, com suas dores e conquistas. Nele percebemos o processo de construção-destruição, gerando novos conceitos através de visões; e retomando ideias antigas por meio de sistematizações elaboradas, tornando-as mais aptas à mentalidade da época.






Referências:
[1] Giordano Bruno. https://www.bbc.com/portuguese/geral-43081130
[2] Cartesianismo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartesianismo
[3] Mecanicismo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mecanicismo_(filosofia)
[4] Ciência do espírito. https://www.youtube.com/watch?v=iAO5kYpNPx0
[5] http://wlademirlacerda.blogspot.com/2013/04/o-que-e-evolucao-parte-ii.html

Glossário:
* Sincretismo: fusão harmônica de teorias aparentemente contraditórias entre si.

terça-feira, 19 de março de 2019

Validação das Intuições do Místico da Umbria

O livro Ascese Mística é dedicado à descrição do fenômeno paranormal vivenciado por Ubaldi, em especial quando transcreveu A Grande Síntese. Essa última, apresentando a visão mais unitária de Deus e do Universo até o momento, ordenando harmoniosamente todo o conhecimento humano num volume de 100 capítulos, escrito em quatro verões sucessivos, de 1932 a 1935, é um verdadeiro tratado da fenomenologia cósmica - inigualável apenas por uma alma espiritual fora do plano humano.

O humilde professor de Gubio levou duas vidas em paralelo - desde que iniciou a construir a Obra. A primeira delas, para o sustento da família, de si mesmo e, quando possível, dos pobres; a segunda, para a edificação do espírito, isto é, a maturação evolutiva através da dedicação integral em transcrever: mensagens sublimes; tratados filosófico-teológicos; sínteses científicas; experiências vívidas e vividas; trajetórias sublimes e sangrentas; profecias. 

Diagrama da evolução espiritual.
Ascese Mística (1939).
Ao longo de quarenta anos (do Natal de 1931 ao Natal de 1971), foram escritos 24 volumes que constituem a base para a fundação da Nova Civilização do Terceiro Milênio. Através do martírio de seu autor, finca-se em terreno humano as diretrizes para seres em sua imensa maioria involuídos (nós) iniciarem a ter contato com os aspectos mais profundos do Evangelho. Tem-se aí, através da vida sincera, honesta e solitária de um homem, uma prova definitiva de que todos os escritos sagrados - em especial da Bhagavad Gita de Krishna, do Tao Te Ching de Lao Tsé, e do Evangelho de Cristo - são aplicáveis na vida cotidiana. E de que viver de acordo com o Evangelho representa a maior utilidade, trazendo ganhos indescritíveis para quem o aplica integralmente. Somente quem já sofreu e encarou as suas misérias frente à frente poderá compreender. E ser tocado pela obra de Ubaldi, que traça o início de uma Arquitetura Monista sem igual, resolvendo inúmeros paradoxos do catolicismo, do espiritismo e da ciência. Mas o caminho não termina aí.

É verdade que existem questões não resolvidas (sempre há). Mas o salto que a concepção monista de Deus, da vida, do universo e da evolução nos dá irá permitir que seja construída a base de uma verdadeira civilização, restando-nos apenas analisar, sistematizar e implementar as diretrizes desse novo mundo. É preciso antes de tudo ser tocado por essas palavras, esses conceitos. Por essa sublime poesia científica, fé raciocinada, ciência sensível. Nas palavras da Obra sente-se a fusão completa de todos termos antagônicos, de forma harmônica, dando uma nova orientação ao ser humano - criatura tão perdida e carente no estágio atual...

Á medida que as notícias vêm à tona, tudo vai se tornando mais claro. A física quântica confirma que a objetividade dos fatos não se aplica ao mundo quântico [1]. Num nível profundo, aquém e além de nossas dimensões, instrumentos e capacidade de conceber, os fatos deixam de ter sua característica de universalidade homogênea para se revelarem universalmente diferenciados, assumindo determinada forma em função do sujeito que o observa e assimila. A subjetividade jaz na profundidade dos acontecimentos! Isso já foi destacado em 1939, no volume Ascese Mística [2]:

"O método da intuição não é aceito pela ciência positiva moderna, porque é antiobjetivo. Ele é rejeitado porque, enquanto o mundo fenomênico, segundo o método da observação e da experimentação, é aproximadamente igual para todos e suscetível de ser entendido e construído, o método intuitivo, sendo extremamente pessoal e subjetivo, não possui força para subir e elevar-se a uma altura maior do que a de uma interpretação pessoal." (grifos meus)
(Cap. V, p. 15)

Em nosso mundo predomina o número. A verdade se faz com a quantidade e a força - mas isso não significa que ela represente a realidade mais profunda que coordena os fenômenos.

Alessandro Fedrizzi, da Universidade Heriot-Watt,
na Escócia, encabeçou a pesquisa responsável por
demonstrar o o predomínio da subjetividade
da profundidade quântica.
"Existe aí uma ideia preconcebida, que, baseando-se na quantidade, admite como garantia da verdade a simples extensão numérica do juízo. Dá-me isto a ideia de cegos que se dão a mão, para guiarem-se reciprocamente. Ora, o resultado da observação exterior é, se não total, pelo menos parcialmente igual para todos, porque, sendo exterior, está conjugado apenas à forma mais simples de percepção sensória, a qual, por ser a mais rudimentar, é também a mais difusa e fundamental no mundo biológico. O valor da objetividade apoia-se, portanto, somente na extensão de uma identidade de juízo, que é, por sua vez, filha de uma identidade de construção fisiológica, nervosa e psíquica. A objetividade, então, revela-se tanto mais evidente, quanto mais primitiva é a estruturação sensória da qual ela depende, como se dá primeiramente com o tato (e sabemos quão ilusória é esta indiscutível realidade sensória em face da constituição cinética da matéria), depois a vista, o ouvido etc. Pode-se dizer então que ela é função direta da inferioridade do nível evolutivo, pois o ser, necessariamente, quanto mais evolve, tanto mais penetra, graças à lei de diferenciação, no subjetivismo.(grifos meus)
(Cap. V, p. 16)

A subjetividade - capacidade de sentir através da alma fatos não-perceptíveis aos instrumentos modernos e sensíveis ao senso comum - é, de fato, uma característica que destaca a evolução do ser. Ela se relaciona diretamente com a diferenciação do ser em relação a massa humana, que vive apoiada em rituais e quantidades. O objetivismo destaca e disseca. O subjetivismo visa unificar sujeito e objeto através do amor

Operar nas fronteiras do pensamento racional significa estimular a dilatação dos horizontes através de atitudes de sintonia e perseverança (fé). O que convencionou-se chamar de barreira intransponível possui uma plasticidade sutil, que nos momentos que clamam por superações titânicas não se desfazem por simples extensão de linhas de pensamentos num plano - mas pela ascensão a outro plano (paradigma), iniciando-se construções novas, que superem definitivamente os estágios primitivos. O fluxo da história demonstra essa plasticidade. Vendo de longe parece banal. Quem viveu os momentos críticos e percebeu seu significado na vastidão dos tempos e nas concepções futuras, fez história!

Essas conexões psíquicas devem conduzir às outras conexões - entre saberes, pessoas, nações, igrejas, partidos, sistemas, etc. O ápice é a fusão de almas, verdadeira unificação atingida através das ascensões da consciências.

Referências:
[1] https://www.bbc.com/portuguese/geral-47529442
[2] http://www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/ubaldi_04.pdf

quinta-feira, 14 de março de 2019

Silenzio, Solitudine e Lavoro

A pirâmide de conhecimento e vivência sendo edificada ao longo desses anos vem sendo documentada neste espaço. Ter-se-à, com o progredir de vida do autor, um edifício conceptual capaz de resolver uma grande quantidade dos problemas da existência. Quem desejar "desfrutar" dessa construção imaterial deve antes de tudo aplicar o que estuda e lê - atitude sem a qual de nada irá adiantar.

Dominar a própria dimensão só se consegue conquistando
a dimensão subsequente. Assim Cristo superou a morte.
Seu nível de consciência superou por completo o espaço-tempo.
O Evangelho é altamente científico...
Verniz cultural e agilidade intelectual é o que não falta neste mundo. Adquiri-los é tarefa simples, hoje acessível a um amplo público. Já a completa transformação do indivíduo é outra questão. O modelo mental de cada um - visão de mundo - conduz à construção (conceitual) de certos sistemas de crenças e valores. Essas estruturas são a base na qual nós operamos as nossas vidas. Tudo que ocorre a nós - seja doença, dissabores, olhares, conversas, promoções, rejeições, ganhos, perdas, etc. - terá uma resposta condizente com a nossa estrutura interna (estado de consciência). Essa estrutura pode mudar com o tempo, mas leva décadas ou vidas. E várias marteladas na bigorna da dor.

Em termos de natureza humana (subconsciente) o processo de mudança é lento. Muitos o consideram estático. Ou seja, que a nossa natureza é imutável, e portanto teremos de conviver com ela, com alguns exemplares ora controlando-a incansavelmente, e outros deixando-a fluir mais livremente - mas disfarçando na medida do necessário. Tudo dependerá de sua posição social, sua constituição física, mental e emocional e o ambiente em que vive.

Eis que o autor busca incessantemente a verdade - e por isso vive num constante turbilhão de pensamentos orientados, reflexões profundas, contemplações idílicas, dores dantescas, questionamentos abstratos. Vive-se a multiplicidade num átimo. Percebe-se o porquê das coisas sofrendo de tempos em tempos. Vigia-se constantemente a própria atitude e atos! O nosso protagonista quer compreender. Deseja atingir uma verdade mais vasta, não-desmoronável frente aos argumentos pré-fabricados, às piadas prontas e às violências do mundo - sejam estas físicas, econômicas ou psíquicas. Por isso vai se apercebendo da limitação de muitos de seus semelhantes em tratar das questões que assolam o espírito. E a não ter raiva de reações que beiram a animalidade puramente reativa-instintiva, pois muitos não sabem o que fazem.

De tempos em tempos o biótipo terrestre solta um comentário ou adentra numa conversa. Do ponto de vista de quem entra, trata-se de participar - mas quando o mesmo ser se encontra num diálogo com outra pessoa, e um terceiro adentra, para participar, em muitos casos isso será visto como intromissão. Percebe-se daí que o julgamento das pessoas é relativo à satisfação de suas vontades.

E assim, seres em busca ardente da verdade, através de todos os meios, se lançando no turbilhão do pensamento puro e da paixão desinteressada, se veem num terreno lamacento, feito de ilusões e confortos que tendem ao luxo - que é um lixo. Um terreno de atuações e sociabilidade. Atuações que deslizam incessantemente no plano da horizontalidade dos bons costumes, sem jamais ascender para maiores níveis de vivência e compreensão. Sociabilidade que afoga a sensibilidade social num oceano de distrações - sem sentido algum para o iniciado. Evolver exige esforço sobrecomum e ousadia extremamente criativa. Isso se traduz em paciência.

Quanto mais se ascende na percepção da Realidade, mais difícil é manter a calma ao observar o mar de lama em que muitos irmãos se atém. Não se trata aqui de condenar, mas apenas constatar.


Todas edificações humanas devem apontar, com
sua arquitetura física ou mental, para o Alto.
Orientação.
A humanidade tem um vago instinto de melhoria de vida coletiva. Pois sente que aí reside a chave para a melhoria efetiva da própria vida individual. O princípio sistêmico pervade todos os campos. Evolução foi a palavra que fascinou o grande místico da Umbria. Visão sistêmica é o que inspirou o autor. Ambos conceitos se relacionam profundamente, uma vez que sistemas evoluem à medida que rearranjos são feitos, que por sua vez vêm do progresso individual de seus elementos constituintes. O objetivo - esboçado de forma mística por todos textos sagrados - agora ganha aspecto positivo, racional, experimentado. É o telefinalismo. A função da evolução. O porquê de se adquirir a visão sistêmica.

À medida que se vive fica-se cada vez mais contido, silencioso. Evita-se o contato desnecessário. Cria-se um campo magnético através de uma atitude sem igual, que não dá nenhum sinal de instinto agressivo, superioridade ou medo. Essas vibrações emanam do ser, que demonstra com cada gesto, tom de voz, orientação para temas e assuntos, intensidade no falar e contemplações solitárias, tratar-se de alguém que não mais suporta viver no plano animal-humano, em que os gozos são regra e o esforço evolutivo é apenas algo aceitável se o mesmo poderá ser útil para satisfazer algum vício ou mania. Assim chega-se a explicar o porque de certas criaturas, mesmo que orientadas para o bem, não serem capazes de manter concentração quando alguém está lhe dirigindo a palavra, com toda dedicação e amor: sabe-se que o ser, por ser bondoso, é mais passível de perdoar do que outros, que sobrevoam as adjacências e buscam adquirir o seu quinhão de atenção, via interrupção. Perdoa-se porque é a melhor maneira de continuar o rumo ascensional. Não se acumula toxinas e nem se perde tempo. O que há obviamente é uma "reação positiva", caracterizada por uma menor empolgação ao expor seus temas a determinadas pessoas - por não terem a coragem de se lançar rumo ao infinito. Está muito claro nessa questão quem perde (a oportunidade) e quem se catapulta adiante, através do perdão íntimo, fazendo paz consigo mesmo.

A partir do momento que se percebe a
Realidade, ilumina-se. Dá-se menos peso
às questões terrenas. Arranja-se tempo e
energia para o mundo do espírito.
É nos temas cotidianos que se teria uma oportunidade de iniciar a concatenar todo conhecimento e todas experiências com novas ideias. Para transformar definitivamente o mundo. No entanto o que o biótipo corrente prefere fazer com as notícias que ouve é comentá-las a um nível superficial, com medo - ou mesmo pavor - de adentrar nas causas daquilo. Se expondo a questionamentos, rearranjos de conceitos, diálogo. O evoluído não pode esperar que seu semelhante, dado o nível atual da humanidade, adentre nesse turbilhão de sentimentos e que exija uma atividade de pensamento que conduza a criatividade. Logo, fica-se solitário, restando apenas as suas criações textuais, divulgando sua experiência; criando sistematizações; criando e conduzindo cursos; assistindo filmes; sintonizando-se com o Alto através de músicas e contemplação da natureza; e estudando temas de forma profunda. As únicas almas que entram em ressonância com a sua são duas: sua esposa e seu pai. É aí que há alegria. Sente-se plenamente livre, sem medo de opinar, desenvolver assuntos, questionar e mostrar quem realmente é.

É muito importante nos associarmos com as pessoas que mais irão providenciar a nossa evolução - sejam elas conscientes ou não. Mas a experiência mostra que, para aqueles já adentrados em estágios de transição (involuído-evoluído), a melhor coisa a se ter na vida pessoal é pessoas próximas, bem próximas, capazes de receber seus anseios e dividir seus sonhos, criando um campo espiritual de vibrações diferenciadas, em que o redor é anulado momentaneamente para se adentrar no infinito dos sentimentos e na eternidade das construções verticais.

Por outro lado a lei recompensa, quase que de forma instantânea, o reto agir desses seres, que em seu imo compreendem o porquê de um evento ter ocorrido e não retém mágoas. Além de usarem esses acontecimentos para se projetarem em novos campos do mundo, forçando sua natureza a lidar com as questões do mundo - para assim, paradoxalmente, se lançarem de forma mais intensa no reino de Deus.

Quem antes estava distante se aproxima. Escuta além de ouvir. Cria-se diálogo. Vê-se que aquele antes ignorado, desprezado, não é quem se julgava ser. O evolvido (ou em vias de ser) se mostra aberto e apaixonado pelos temas. Se não se deseja conservar de questões do imponderável, tudo bem. Se não se deseja tratar de temas humanos, não há problemas. Uma hora todo mundo deverá lidar com essas realidades se desejarem não se afogar na perdição. Assim o autor adentra no terreno concreto, de seu trabalho, demonstrando ter um conhecimento a ser associado aos outros, restando apenas outras ferramentas do mundo perceberem o ganho que elas mesmo - e o seu coletivo restrito, valorizado - terão com essas associações. Associações que apontam para troca de ideias, construção de projetos, crescimento profissional, desenvolvimento mental, comunicação e mobilização.

Alguns estão na Terra, mas desejam criar asas.
E por causa disso, sofrem e perdoam. Trabalham e arriscam.
Ousam inteligentemente para ascender. 
Assim ascende-se na longa estrada evolutiva, cheia de armadilhas mas ao mesmo tempo cheia de oportunidades. O lema é silêncio (para cuidar das reais questões), solidão (para contemplar as maravilhas da vida, em seu sentido mais lato) e trabalho (para espiritualizar a matéria).

O contato com o mundo deve ser restrito ao específico.

Quem está em planos superiores deve compreender quem ainda não chegou ao seu plano - mas aqueles que se situam abaixo não são ainda capazes de compreender as coisas de planos acima de seu concebível. Logo, tudo concorre para a regra:

"O ser mais sensibilizado tem o dever de desenvolver sua paciência e a necessidade de perdoar. Mas ao mesmo tempo, criar o seu núcleo para que possa cuidar da suprema tarefa de progredir."

Uma vida distante de Deus passa a ser insuportável a partir de determinado nível de consciência.

É um caminho sem volta...

Do Anti-Sistema ao Sistema.
Absorvendo a ignorância com a sabedoria e o amor.

Esse é o método de Deus - a ser adotado por todos.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Os pardais não acompanham as águias

Não há possibilidade de acompanhar alguém (na vida) quando a natureza dos seres são muito diversas. Isso é uma impossibilidade que não é capaz de ser disfarçada por muito tempo. Cedo ou tarde a essência dos personagens vêm à tona e demonstra a realidade dos mesmos. O consciente percebe essa diferença - e o porquê dela - antes dos outros.

A águia voa sozinha. Lá não se pode contar com ajuda dos
outros. Lá é possível vivenciar e contemplar. O preço é
evidente e claro. As conquistas devem ser descobertas...
Quando a diferenciação evolutiva é tremenda, o convívio só se dá em condições muito raras, relacionadas à questões materiais, do mundo, que envolvem burocracias infindáveis e rituais insossos. Para o evoluído isso é tremendamente doloroso. Porque ele sente em sua alma um ardor. Esse queimar só é arrefecido com uma estratégia efetiva que o leve a uma região de tranquilidade, na qual possa se dedicar de corpo e alma à sua criação. Mesmo que isso implique em dificuldades materiais, emocionais e intelectuais momentâneas. Porque ele sente que existe algo mais valioso, nos recônditos de sua alma. Em seu imo cintilam pensamentos abstratos. Velozes e virtuosos, vindos da intuição. E ao seu lado, sentimentos sublimes, difíceis de exprimir pela linguagem comum, seja ela oral, escrita, visual, gestual ou até mesmo musical. Assim o ser se vê diante de um dilema: não quer o que o mundo lhe apresenta e valoriza, rejeitando categoricamente; e ansiando por algo tido como inexistente, no campo da utopia - ao qual ninguém se dedica em buscar. 

O mundo abandona aqueles que estão empenhados em superações evolutivas. Nos mais diversos graus, percebe-se que as forças da horizontalidade telúrica vazam à medida que se empenha no decolar vertical das supremas conquistas interiores, adentrando-se no campo místico das sensações sublimes. 

O pardal é bonzinho. Ele é simples mas não anseia
ir além de sua faixa - mesmo que as dificuldades
lhe ameacem.
O canto dos pássaros e o desabrochar das flores passam a ser fonte de inspirações musicais, literárias, científicas e de atitudes - novas. Os movimentos dos astros e dos elementos próximos passam a ser laboratórios de estudos. Estudo de outra ordem. Intuitivos e sintéticos. Estudos que transcendem o que conhecemos como tal, ocupando o tempo livre e gerando uma sensação de repouso e energia. A concentração é máxima. A divergência, mínima. A mente apaga as preocupações automaticamente, sem esforço e com elegância ímpar. Todos pensamentos referentes ao mundo se esvaem no oceano infinito das possibilidades do espírito, que engloba as pequenezas da vida dos sentidos e do intelecto, diluindo-os num turbilhão ascensional vulcânico. O passado ganha um novo tom e é visto como dinâmico. Ganha-se a capacidade de projetar-se no futuro. Percebe-se mais, apesar de - segundo o mundo e o 'bom-senso' - as circunstâncias serem desfavoráveis. 

É importante que as pessoas comecem a perceber como se dá o funcionamento de nosso universo. Estamos diante de um cosmos orgânico, que após as últimas descobertas da ciência (1ª metade do séc. XX), é não apenas exterior, mas interior. 

A Física quântica nos apontou para a imaterialidade governando a materialidade. E que esta última é apenas uma sensação capturada pelos nossos sentidos e instrumentos, causada por um movimento incessante (energia) que em condições muito específicas se encapsula numa trajetória fechada e se apresenta como algo tangível (matéria), seja em estado sólido, líquido ou gasoso. A não-localidade é um 'espaço' que está nos interstícios do espaço. É uma malha que engloba tudo e todos, não-passível de individualização. 

Niels Bohr disse que se alguém afirmar que entendeu Física quântica então de fato essa pessoa não a entendeu. Traduzindo: se você atesta que, com sua inteligência racional, consegue compreender na integridade um fenômeno cuja natureza demanda a mobilização de uma inteligência além daquela que conhecemos (intuição), estás se iludindo. 

Não é possível compreender um fenômeno que não opera na malha relativa espaço-tempo usando uma mente que se apóia nessa mesma malha. Um raciocínio sequencial e comparativo não é capaz de abarcar um desenvolvimento que rompe os limites estabelecidos pela ciência experimental. O comunicar instantâneo (quântico) das partículas, deixa a luz, com sua estupenda velocidade, na pré-história. Trata-se de humildade. Mas o que fazer quando o que temos à disposição para compreender não é suficiente?

Observar a história com uma visão unitária nos dá ideia das ondas evolutivas. Sempre que surge um avanço num sentido, logo após brota um outro, apontando noutra direção. Ambos parecem se contradizer, mas não se tratam de vetores opostos - e sim com leve diferenciação angular que, se combinados corretamente, geram uma nova seta que aponta de forma mais orientada para o nosso destino. Essa seta é de maior magnitude. Sendo assim, é capaz de incorporar mais contradições, o que implica na capacidade de lidar com fenômenos mais complexos e situações (humanas) mais 'inexplicáveis'. Assim cresce-se por dentro. Começa-se a adentrar no terreno da transubstanciação, tão bem descrito por Pietro Ubaldi em sua obra Ascese Mística.

Esse não é um ensaio com vistas a consolar. Com esse escopo já temos uma vasta doutrina, com corpo formidável de médiuns (espiritismo). O fundamento aqui é evolutivo: chegar a uma compreensão mais madura dos acontecimentos da vida, em seus fatos e comportamentos, para percebermos à fundo a estrutura de nossos sistemas (de valores, de crenças e coletivos) e a mentalidade que os perpetua (modelo mental). Isso é o escopo no monismo. Trata-se de um novo grau de consciência, subsequente ao monoteísmo dualista, do qual o evolucionismo espiritualista é a plataforma que dá condições para atingi-lo. 

Gilson Teixeira Freire apresenta a Arquitetura Monista de
forma magistral. Ele demonstra de forma cristalina o rumo
natural a ser adotado pela humanidade.
Gilson Freire nos descreveu de maneira fantástica a marcha evolutiva do espírito - que atualmente, aqui, habita corpos humanos - em sua obra Arquitetura Cósmica. Ao final ele nos apresenta um diagrama que sintetiza a visão tão bem sistematizada e vivida por Ubaldi - mas igualmente concebida por outros pensadores da antiguidade, como Orígenes: um sincretismo criacionista-evolucionista, combinando os evolucionismos darwinista e espiritualista ao criacionismo judaico-cristão. Tem-se assim a visão mais avançada (até o momento): (i) da nossa origem; (ii) do processo evolutivo (extra-físico e físico); (iii) e do nosso destino final. É imprescindível que a humanidade comece a entrar em contato com esses conceitos e vivê-los em seu íntimo. Como já foi dito alhures, a ciência está a um passo de atestar a realidade do espírito - e de colocar DEUS como premissa definitiva e central em todas as suas pesquisas. Muitos apenas não desejam usar as palavras exatas - apesar de suas descrições estarem 100% alinhadas com a certeza de haver um princípio único, fora do campo espaço-tempo-intelecto, que gerou tudo. 

Aqueles que estão imersos nesse oceano infinito não se contentam mais com as coisas deste mundo. Na melhor das hipóteses farão uso de tudo (tudo!) para chegarem um pouco mais próximos da sensação de Deus. Todas pesquisas, estudos, trabalhos em grupo, conversas, alimentação, escrita, palestras, aulas, atos de amor, observações, etc. passam a ser meios para se atingir um maior grau de consciência. Porque passa-se a perceber que aí reside o segredo da imortalidade. O mistério já revelado outrora, por grandes iluminados e sagazes pensadores; por apaixonados artistas e incisivos estadistas. Essas são as águias, que voam um voo estratosférico e ilimitado. Os pardais os abandonam e rejeitam. Seu número é grande e portanto eles ditam a verdade. O voo da águia é solitário e árduo. Logo, quem está nessa atmosfera rarefeita deve se sintonizar mais com o destino (forças do Alto) do que com seus companheiros próximos (mundo, pardais), pois de baixo não se pode obter a ajuda-mor para a ascensão. Fé passa a ser uma imposição íntima, atingida por livre convicção. Aí começa a verdadeira aventura...
"Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á;
mas quem perder a sua vida por minha causa e
pelo Evangelho salva-la-á!" (Marcos, 8:35).
Eu já fiz a minha escolha. Faça você a sua...
O medo de transcender o casulo da (pequena) segurança e inércia nos deixa em constante desespero, meros joguetes nas mãos da Lei. Ao passo que compreendendo-a em sua infinitude e eternidade, passamos a abandonar as pequenas preocupações e nos lançar, orientadamente, nos abismos do mistério - que tanta vertigem causam aos mundanos. 

A escolha do caminho é essa: ou optamos por permanecer na segurança e contar com a sociabilidade - ou nos lançamos ao desconhecido, ficando cada vez mais solitários, mas ao mesmo tempo tendo conquistas cada vez mais efetivas...

Isso é mostrado filme Matrix, quando Morpheus dá a Neo a opção de tomar a pílula vermelha ou a pílula azul.

Como se vê, todas as obras humanas falam de Deus, apontam para Deus, desejam Deus...

É só uma questão de sensibilidade...