segunda-feira, 31 de maio de 2021

'Timing' perfeito

O ritmo dos acontecimentos de uma vida são ditados pelo pulsar do espírito que a conduz. Há existências em que o tempo de fazer a coisa certa e a ação do ser jamais se encontram: a pessoa nunca faz o que deve ser feito para o seu bem - a médio e longo prazo. Em outras situações, esse agir está mais próximo do momento ideal - mas não adianta, pois o tempo de ação foi depois de um limite. Há outros que julgam fazer o correto logo de cara, acreditando que sua atitude é a que lhe levará a uma vida melhor - mas esses só pensam superficialmente, considerando o curto prazo, os prazeres mundanos, as aparências perante os falsos amigos e coisas do tipo. 

Aqui não irei falar sobre nenhum dos tipos mencionados. O nosso mundo abunda de casos assim. Cada um com seu tipo peculiar, seja local geográfico, cultura, forma de agir, tendências, planos, classe social e valores. Já sabe-se bem qual o destino dos tipos que encabeçam essas inúmeras situações de vida. E por mais maquinações, astúcias e forças que as pessoas imprimam em suas trajetórias sinuosas, o resultado final sempre vêm à tona (ação da Lei). Cada um colherá o fruto conforme tenha semeado (vivido, sentido, pensado e agido). E o fruto será seu, só seu.

Fig.1: O tempo mede o ritmo da vida, das ideias, da evolução. O ritmo deve ser compreendido, depois sentido. 
Sentindo o ritmo, devemos agir em função dele. Agindo em função dele, nos elevamos. Com isso construímos
um glorioso destino - com sofrimentos sim, mas de resultado final efetivo.
Fonte: Jordan Benton.

Aqui iremos tratar do caso que representa uma novidade. O tipo que encabeça esse exemplo é de outra natureza. Vive conforme outras diretrizes. Seus sentidos ultrafisicos, apesar de ainda não desenvolvidos, estão à espretia. Sua sensibilidade é aflorada: preza muito pela sensibilidade social - e lamenta a triste sociabilidade vazia. Não é o mais inteligente, mas preenche seu intelecto de significado; não é o mais forte, mas aplica seus energias da maneira certa, no momento adequado; não é o mais ágil, mas sempre desvia das grandes armadilhas do mundo; não é o mais rico, mas usa bem o que possui, dando significado para cada recurso, fluxo e ato. É um ser que, por efeito do destino, já enxergou o esquema do Universo e vive de forma mais plena, compreendendo melhor o significado de tudo. A coletividade formada por tipos assim está nascendo nesse planeta já faz um tempo. O tipo se espalha por diversas classes sociais, faixas etárias, raças, gêneros, formações, localidades, culturas, estados de saúde. Não há tipos escolhidos conforme aspectos superficiais - apenas seres que atingiram maturidade a partir de vivências históricas multifacetadas.

Aqui o aspecto tratado é universal. As histórias são substanciais. As trajetórias, espirituais. Não interessa o que se diz, mas como se diz. Não interessa o resultado de uma ou duas batalhas, mas o produto final de uma guerra. Guerra entre as forças do AS - prestes a perderem a predominância - e as do S - em ponto de atingirem a maioria. É um novo modo de ver o mundo. Perceber as coisas com outra lente - uma lente mais potente, adaptável conforme os casos. Uma lente capaz de ver várias cores, em várias escalas - e relacionar tudo isso. 

Vamos aqui falar de ritmo. E dentro dessas ondas rítmicas, de timing.

Fig.2: Definição de ritmo.

Ritmo se relaciona ao tempo. Ele dá a ideia de tempo. Os contrastes ocorrem e são percebidos através do tempo. A evolução em nosso universo trifásico (espírito, energia, matéria) se dá através do tempo, num ritmo todo peculiar ao transformismo evolutivo. Ele é uma sucessão entre forte e fraco, longo e curto, agudo e grave; é um compasso que permite perceber mudança. Que estimula o movimento. A vida possui um ritmo todo seu, próprio de seu dinamismo; a matéria e a energia também; o desenvolvimento das forças que envolvem um ser humano, igualmente; assim como o progredir da história coletiva dos povos, das nações, da humanidade, e das humanidades de humanidades - e além.

Fig.3: Definição de timing.

Timing, termo anglo-saxônico, é uma cronologia (isto é, estudo dos acontecimentos ordenados no tempo) de um fenômeno ou conjunto de fenômenos. Um timing perfeito ocorre quando a ação de um indivíduo é feita de maneira a trazer os resultados mais favoráveis (substancialmente) para ele a partir daquele momento. É um alinhar de forças perfeito (agir do ser = fluxo da Lei). É algo que não é sentido de imediato, mas percebido à medida que a vida transcorre. O momento em que esse alinhamento pode se dar deve ser percebido através de outros sentidos (sensibilidade, clarividência, clariaudiência, mediunidade, etc.). Isso se traduz numa intuição já razoavelmente desenvolvida. Somente assim é possível agir da maneira correta, de modo a evitar dores infindáveis durante várias existências.

O autor do texto, num relampejo, enquanto estava caminhando na rua, teve uma sensação de que em sua vida tudo sempre ocorreu na última hora. Isto é, o instante em que as portas de determinadas oportunidades (muito importantes) estariam prestes a se fechar por um longo tempo foi o momento em que se agiu. Impulsionado por forças mais poderosas do que ele - que lhe diziam 'faça isso' - aquele que aqui escreve foi construindo sua vida, tijolo por tijolo. 

Passados mais de dez anos desde que começaram a haver fortes abalos na vida pessoal, percebe-se a grandiosidade de um esquema ainda desconhecido em suas linhas gerais. É interessante notar que não houve um planejamento para nada do que ocorreu - as coisas simplesmente foram acontecendo, a pessoa foi vivendo sua vida de forma orientada e sincera, e com isso foram sido tomadas as escolhas. 

Muitas decisões exigiram coragem além do limite. Mas sempre se seguiu o caminho mais sincero - mesmo que às custas de algumas coisas momentâneas. É assim que funcionam as coisas: para conseguir agir de modo inovador é necessário possuir algo já em si desperto, capaz de acionar um ato inesperado - e sustentá-lo por um tempo, venha o choque que vier. Quem ainda não maturou esse algo dentro de si não será capaz de responder à vida do modo mais adequado, perdendo com isso grandes oportunidades.

O autor viu durante sua trajetória outros se lamentarem de suas posições e nada fazerem para alterar isso. Nem um ínfimo gesto substancial, de coragem e criatividade, para tentar sair do lodo. Um lodo sentido, percebido, compreendido - e no entanto, aceito passivamente. E com isso o autor, se lançando no turbilhão evolutivo das forças da Lei, sempre subiu em conhecimento, em habilidades, em vivência, em sensibilidade e em coragem.

Sempre pôde aprender mais com suas escolhas, reforçando seus conhecimentos teóricos de sua profissão e de temas de interesse;

Sempre adquiriu novas habilidades, aceitando tentar novas coisas, pouco a pouco, através de ensaios e erros;

Sempre aceitou ter atitudes condizentes com seu íntimo, adquirindo uma vivência mais profunda e com isso construindo uma personalidade respeitada - apesar de incompreendida. Sua presença, sua voz, seu olhar transmitem algo diferente, que as pessoas não conseguem explicar. Sentem apenas um senso de mistério e a partir das vibrações emanadas (e do seu próprio grau evolutivo) irão odiar, reprimir, amar, seguir ou ignorar o que se apresenta diante deles. A reação do outro é reflexo do que o outro é - mais do que o que o autor vem se tornando;

Sempre imprimiu em sua fala sensibilidade. Com isso e lançou a desafios no qual a capacidade de sentir se tornou mais intensa, e com isso pôde compreender um pouco melhor o drama das grandes almas que passaram por este mundo;

E com todas essas coisas implementadas, a coragem aumenta em razão direta à diminuição do medo. Pois sabe-se que toda forma será destruída para que uma nova forma, mais bela, poderosa e cristalina, possa tomar seu lugar. O essencial é a substância, que nunca morre. O autor vêm aprendendo a se prender a ela (substância), eterna e infinita, senhora do transformismo, mestra da vida.

Fig.4: Com o esforço do verdadeiro trabalho, feito de orientação profunda, previdência com função, 
intenções boas e vontade de crescer, é fatal que desfrutemos de uma vida harmoniosa. 
Essas condições abençoadas devem ser usadas para ascendermos mais ainda - 
e com isso, transbordar todas essas benesses para as adjacências.
Teremos uma vida tranquila quando merecermos ela - e soubermos usá-la.
Fonte: Canvas.

E assim foi compreendido que devemos ser pacíficos mas também muito astutos e incisivos - ao mesmo tempo. Porque a bondade por si só não nos dará a proteção nem os meios de espiritualizar a matéria. É imperativo perceber os esquemas do mundo no seu nível mais abissal (astúcia) e desmontar elegantemente, por palavras, raciocínio, lógica e práticas, esses esquemas. A bondade então, preenchendo a astúcia (intelecto) e nossos atos firmes (ação na vida concreta), forma uma combinação formidável. Fazendo uma analogia com o mundo financeiro, é um mix de fundos de renda fixa, multimercado, cambial, exterior, de ações e etc., em que os elementos (fundos) são os mais promissores, e suas proporções lhe garantam a máxima resiliência com o melhor rendimento.

Nossa resignação perante as dores da vida deve ser ativa, não passiva.

Sempre que o autor agiu de forma inteligentemente ousada, sentiu algum retorno de interessante - quase sempre no longo prazo. Por isso é preciso ter . Para agir em prol do infinito, no infinito e com o infinito, se faz necessário ir além do mero cálculo e esquemas. Medir vantagens está restrito ao plano da mente. A consciência racional nunca verá vantagem em certas atitudes e atos, explicando apenas o porquê de sua insensatez. Mas ela só percebe as coisas numa escala menor. Não vê as riquezas formadas na profundidade, mas apenas os efeitos barulhentos da superfície dos fatos. É apenas com a intuição que é possível ouvir o canto da vida, sentindo o turbilhão para assim se jogar nele no momento certo. 

Momentos críticos, em que o autor por um momento julgava ter chegado ao fim da linha, revelaram a potência desse agir firme e sincero. 

Assim se superaram as perdas; se conseguiu criar um ambiente criativo, saudável, dinâmico e equilibrado no lar; assim se adquiriu títulos outrora inatingíveis; assim se adquiriu fontes de renda certas e mais do que suficientes; assim se iniciou um trabalho de construção de um sistema de ideias relacionadas entre si, que já dura oito anos e produziu mais de 500 textos; assim se aprendeu vários detalhes da vida; assim se adquiriu bens que no presente estão cada vez mais inacessíveis; assim se adquiriu diversas habilidades manuais; assim se criou um ambiente favorável. E assim se está forjando um destino.

No último instante, quando as portas estavam prestes a se fechar, chega a salvação. Esse é o exemplo-mor de timing perfeito. Um timing profundo, em que o tempo de Deus é percebido por alguns seres - que acabam por aproveitar a oportunidade para se lançar numa corrente evolutiva que a´penas deseja o bem da criatura. 

É maravilhoso perceber isso.

E quem percebe acaba agindo de modo cada vez mais eficaz.

sábado, 29 de maio de 2021

Evolução do Trabalho

Os símbolos (representações), assim como os simbolizados (real), devem evoluir com o tempo. É uma marcha firme, ordenada, destemida, em que ambos entes (forma e essência) devem estar em paralelo, sem grandes desvios. Isso significa que a forma deve expressar da melhor maneira possível o grau do ser - e que o ser deva trabalhar arduamente para dar à forma condições de melhor representá-lo no mundo externo. 

A matéria evolui, assim como as formas dinâmicas (energia), as formas orgânicas (vida), as ideias (pensamento) e além. Ideias dizem respeito ao conceito que cada um de nós tem a respeito de algo. São as definições que temos de cada símbolo (seja palavra, desenho, equação, som, etc.), somadas às nossas experiências, com traumas e potencialidades, que plasmam a forma mental que gera ideias. É importante portanto, atentar para esse significado - uma vez que é através dele que a gente recebe as ideias dos outros.

Fig.1: Mais do do tornar as condições justas, deve-se inserir o sopro divino no ato do trabalho.

Somos substância, mas atuamos e vivemos através das formas. Enquanto não regressarmos ao S, devemos compreender muito bem como funciona o transformismo no AS. Em particular, o transformismo no nível humano (em que nos situamos).

Somos criaturas posicionadas entre dois extremos (plenitude do Sistema e plenitude do Anti-Sistema). As forças do S se igualam àquelas do AS. Logo, a luta é mais difícil. Há muita coisa nebulosa. Um jogo de forças astuto se camufla de algo belo - e este fica com dificuldade maior em atuar no campo concreto. Mas apesar de tudo, a vitória final é do bem, pois a preponderância das forças do Alto é evidente se olharmos com profundidade a trajetória do Universo, da vida, e das civilizações. Para quem deseja saber mais a respeito dessa situação (momentânea porém muito intensa e aparentemente eterna e desesperadora), recomendo um ensaio do ano passado [1].

O trabalho sempre existiu. A matéria trabalha arduamente, à seu modo, pela coesão dos elementos; a energia igualmente, só que pela transformação das formas físicas; a vida também, através da busca incessante por expressar cada vez melhor formas que sentem e pensam; o pensamento, pela construção de ideias, pela expressão cada vez mais elegante e precisa; o espírito, pela dedicação à Deus e ao Universo, da forma mais criativa. É uma hierarquia bela e harmoniosa na qual o ser humano começa a aprender qual o seu papel nessa pirâmide que está além da própria palavra. 

No gênero Homo, ou melhor, na espécie Homo Sapiens, o trabalho passa a ter significado econômico. De repente surge o significado, a definição e a palavra. Com isso vêm o estudo acerca do fenômeno 'trabalho' à nível de sociedade - temos como exemplo o Prof. Ricardo Antunes da Unicamp. Surge concomitantemente os institutos e as profissões que defendem aqueles que mais produzem - temos como belo exemplo a (bela) juíza Drª. Valdete Souto Severo. Percebe-se que existe uma evolução da ideia à medida que ela é representada, implementada, sentida e percebida pelas pessoas - antes de forma prática, depois pensada e modelada, depois adaptada e reimplementada, e assim por diante. É um avanço em espiral. E há retrocessos e avanços na jornada. Mas os avanços sempre superam os retrocessos (graças a Deus...literalmente).

O vídeo abaixo é uma palestra da Drª. Valdete. Ela protege os mecanismos que podem direcionar o trabalho para metas mais altas - e as pessoas para um despertar íntimo. 

O trabalho é algo visto como fardo no mundo atual. Parte dessa mentalidade é realimentada pelo mau uso do trabalho: as jornadas são incompatíveis com o nível tecnológico, de conhecimento, e de potencialidades de muitos seres. O que deveria haver é um programa ordenado a nível global, contínuo, de reorientação das atividades humanas. Uma redução de jornada criaria uma sobra de disposição humana para abraçar atividades úteis socialmente. É uma questão de apostar no melhor dentro do ser humano - e não em suas tendências instintivas atávicas, repletas de vícios ainda não superados. É uma atração para o alto ao invés de uma estabilização no lodo do passado.

O trabalho é visto como obrigação que alimenta um espírito ainda incapaz de fazer uso de condições mais humanas - e até mesmo, mais divinas. Por isso muitos abraçam funções repetitivas, adentram em comissões inumeráveis, e sustentam burocracias intermináveis. Tudo em nome do bom funcionamento da instituição (repetições); da ocupação da mente (comissões); e da garantia de segurança legal e imagem profissional (burocracias). O motivo orbita sempre em torno de ocupar o que não se sabe preencher e parecer que se está construindo algo efetivamente em prol da humanidade. Em suma: deixar ecoar livremente os instintos atávicos na forma de um tipo moderno, com palavras rebuscadas, raciocínios sofisticados e motivos nobres. Mas quem viu (e sentiu) fenômenos mais profundos que governam cada átimo da vida individual e coletiva; quem num relampejo teve a visão das origens e do destino, este não mais vê sentido nessas atividades humanas - a não ser cumprir o mínimo indispensável para que não tenha suas condições de trabalhar no quem realmente importa travadas.

Ubaldi discorre sobre a função do trabalho em toda sua obra. Ele fala em trabalho-expiação, trabalho-funçãotrabalho-missão, dentre outras espécies. Mas de modo geral, podemos perceber que o modo de encarar as obrigações está mais focado numa tarefa que não dá verdadeira alegria. Algo que não inspira, não faz a pessoa crescer interiormente (nem materialmente, especialmente para os que mais precisam disso). Algo que carece de estofo significativo. 

Fig.2: As abelhas já aprenderam a se organizar de forma perfeita - considerando seu nível. 
Nós ainda não. Ainda fomos incapazes de formar uma sociedade orgânica.

O modo como encaramos o trabalho se relaciona profundamente com a maneira que o executamos

Percebendo-o como algo que só pode ser cansativo, criamos os empregos socialmente inúteis ; e outros, se úteis, mal remunerados, de tal forma que mal dá para garantir a subsistência com seus rendimentos. Há ainda aqueles trabalhos que oferecem oportunidades de progresso em seu campo - mas eles são restritos a gerarem frutos para o trabalhador e para um seleto grupo. Pior: esse tipo de pessoa (que possui esse trabalho) geralmente está num vórtice social-midiático-ideológico que o coloca em contraste com o restante da população. Não se trata de contraste direto, evidente. Trata-se de um contraste indireto, via ideias que em sua essência geram efeitos de desagregação.

Um outro problema está no mau uso da tecnologia. 

Um economista inglês muito famoso, John Maynard Keynes, deu uma palestra em Madrid em 1930 intitulada 'Possibilidades Econômicas para Nossos Netos' [2]. Nessa palestra Keynes esclarece o quão grande foi o salto em termos de riqueza per capita produzida pela humanidade desde o início da Idade Moderna (Séc. XV) até o início do Século XX (~1930). Se for criado um sistema de distribuição que viabilize uma igualdade social do tipo de uma Europa Ocidental para todo o globo, com certeza seria possível atingir-se um nível de vida bom para todo ser humano deste planeta, com todos vivendo uma vida sem desespero, com os recursos básicos.

O que são recursos básicos?

Água, alimento, moradia, vestimenta, saneamento, energia, serviços médicos, escolas, universidades, hospitais, renda, aposentadoria, segurança, transporte, lazer, cultura e etc. Essas coisas não são luxo. São fundamentais. No entanto, para muitos elas são um sonho. Luta-se décadas e gerações para se conseguir colocar a família num plano de saúde (mafioso); os filhos numa escola particular (que se aproveita da ausência ou ineficiência da educação pública); adquirir de um carro (que é uma ineficiência energética, desagregador social e estimulante da inveja); fazer parte de um clube seleto (do qual o resta não tem acesso); conquistar um título (para exibi-lo e enriquecer ainda mais); e por aí vai. Percebe? Não só batalhamos agressivamente para conseguir suprir as necessidades da vida, mas o fazemos da pior forma. E uma vez adquiridos, fazemos mau uso delas.

Fig.3: Nossas necessidades vão muito além do físico. Nosso trabalho deve suprir todas as necessidades humanas. 
Ele deve dar os meios de vida física, deve viabilizar relações saudáveis, deve reforçar a auto-estima, deve promover a transformação (evolução do pensamento), deve gerar coesão conceitual no ser (integração sistêmica), deve dar um impulso efetivo no todo (ser um diferencial) e deve (acima de tudo) servir ao movimento de salvação do AS.

A pior forma é aceitar as coisas oferecidas pelo mercado (a preços cada vez mais insanos) ao invés de perceber que somente coletivamente, numa sociedade orgânica, com um Estado monista e o ideal da coisa pública garantida é possível construir uma verdadeira civilização.

E o trabalho com tudo isso?

O trabalho se insere nessa ciranda através da distorção de seu real significado.

As pessoas, gastando de 80% a 90% de seu tempo em atividades em condições ruins, e sem possibilidade de refletir, questionar, interagir (à fundo) com seu semelhante, alinhar suas vibrações com a natureza infra-humana (já estabilizada e fonte de vida), se esquecem completamente de questões como Deus, universo, evolução, amizade, afeto, criatividade e etc. Mas não é só isso: a energia despendida não é proporcional ao tempo (despendido) nos trabalhos. Se 80% do seu tempo (12~13h de 16h desperto) foi para o emprego - incluindo almoço, banheiro, transporte e coisas do tipo - 98% da energia (=disposição) foi embora. Em suma: não sobra nada, pois é preciso tempo e disposição para dedicar-se a algo na vida.

O que as pessoas fazem saindo do trabalho e chegando em casa?

Elas começam outra rotina desagregadora da alma. A rotina para aliviar o stress (consumo conspícuo via gula, luxúria, shopping, etc.); para se enganar, se mantendo em sua bolha consciencial (mídia, fofoca). Alguns ficam maquinando esquemas para melhorarem suas vidas em termos de posição na pirâmide social. Mas a pirâmide é toda defeituosa. Uma estrutura apodrecida que mostra suas fissuradas a cada ano e década que passa. Subir socialmente se torna então apenas um meio de exercer o egoísmo de modo mais amplo; de se enganar de mofo mais efetivo; de se afastar de algo que está dentro de você. Ou seja: de se enganar ainda mais. Mas com um problema adicional: a responsabilidade cresce exponencialmente!

Trabalho não é emprego. Ambos deveriam estar muito próximos - mas infelizmente não estão.

Trabalho é realizar algo socialmente útil e espiritualmente revigorador.

Emprego é ser remunerado por fazer algo para alguém.

Vamos analisar nosso mundo a partir das definições:

A) Temos muita gente empregada SEM trabalho.

B) Há alguns que trabalham E estão desempregados. 

C) A responsabilidade pela salvação da civilização está naqueles que trabalham E estão empregados.

    C.1.) Dentre estes, muitos são mal remunerados e estão em empregos com pouca liberdade.

    C.2) Dos que restam, uma parte não tem consciência do funcionamento do universo, da vida e das ideias.

      C.3) A outra parte, que possui essa visão, é a ponta de lança que deve se unir e começar a criar as bases de uma nova civilização.

Vocês percebem que não podemos exigir algo transformador de quem está com as mãos atadas - seja pela ilusão do sentido da vida, seja pela restrição material-social.

É preciso antes identificarmos em que grupo estamos e - se estivermos em C.3 - a partir daí começar a unificar nossas ideias. Interagir é a palavra-chave. Nossa força está em nossa união. União feita através de diálogo, compreensão, vivência e amor. Dessa forma formaremos uma massa crítica que pode se alastrar pela sociedade, queimando o terreno humano com o calor da vivência sincera e a luz da unidade espiritual. 

É preciso implementar desde já o que acreditamos de forma conscientemente intuitiva. Não podemos esperar a conjuntura estar adequada. Àqueles de bom coração digo: a hora chegou! É preciso se munir de ousadia inteligente [3]. Ter a iniciativa e enfrentar o mundo que morre, gerando os conceitos, os gestos, os atos, as ideias e as filosofias que moverão o mundo futuro. Um mundo possível apenas com a maturação. Mundo centrado 

Quem vê e tem as condições (C.3), ouça: somos os catalisadores da mudança!

Irmanemos o mundo em torno de um ideal tão lógico, tão atraente, tão fascinante, tão dinâmico, tão intenso e vasto, que todos os outros se sintam tentados a abandonar suas práticas viciantes que prendem seus destinos e dilaceram suas vidas, dia a dia. 

Lógico pela concatenação perfeita de tudo e todos;

Atraente por fazer qualquer um querer saber mais, ver mais, ouvir mais e comentar mais;

Fascinante por deixar a pessoa paralisada, por confrontar o inconfrontável;

Dinâmico por ser veloz na adaptação aos novos tempos;

Intenso por atingir na alma, como um raio, sem precisar de elucubrações acadêmicas densas;

Vasto por englobar todas teorias, filosofias e sentimentos, simultaneamente e sempre, numa dança apaixonante. Por abraçar tudo e todos a todo momento, de todas formas.

Isso é monismo.

O trabalho deve evoluir dentro de nós. O conceito deve ser revisto, pois tudo evolui conforme o ser cresce. Devemos sentir a dor mais profunda que martela sempre.  Por quê fugimos? Por quê nos afogamos em shoppings, consumo, fofoca, violência, álcool, relações físicas brutas, palavras sem sentido. Por quê nos prendemos a coisas que não nos acrescentam valor? 

Fig. 4: Vou até o fim e além. Porque essa é minha vida. Vida de construção de um destino.

Aqui irei mostrar o belo de uma vida simples, com a vivência de cada momento singelo.

Aqui irei revelar o trabalho de uma vida aparentemente desocupada e sem méritos sociais.

Aqui irei tornar atraente o que todos aprenderam a ter vergonha de possuir: coragem de pronunciar o impornunciável, ímpeto criativo capaz de gerar coisas originais e humildade geradora de força para marchar sempre - cada vez mais certeiro, mais ágil, mais envolvente.

Isso é trabalho

Trabalho é gerar algo de útil para a sociedade - mesmo que o grosso desta não o perceba. 

Trabalho é preparar terreno para futuras criações.

Trabalho é estudar, é pesquisar, é refletir.

Trabalho é produzir um texto que brota da alma sem esperar nada em troca.

Trabalho é criar melodias e sinfonias, sentindo a recompensa no ato de ouvir as vibrações divinas.

Trabalho é se envolver e alucinar em torno de novidades construtivas.

Trabalho é o meio de se chegar à capacidade de amar.

E amar é criar!

Quantos neste planeta realmente trabalham? Precisamos de um tipo de trabalho completamente novo, verdadeiramente transformador - não de burocracia engessante, formalismos excessivos e medrosos ou repetições de rituais.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Do déficit ao superávit ambiental

A importância da ecologia é algo muito recente em termos de compreensão na civilização humana. O respeito pela natureza já foi muito comentado por sábios. Algumas comunidades praticavam um modo de vida em total equilíbrio com a saúde do corpo, da mente e do ambiente à sua volta  - os essênios são um belo exemplo. Em nossa atualidade, o Reino do Butão é exemplo de um povo que consegue gerar uma qualidade de vida razoável sem prejudicar o entorno: é o único país em que existe um superávit muito grande na pegada ecológica. Isto é, o país muito mais dá (fortalece e expande) as florestas, a biodiversidade, a atmosfera, o solo, os recursos minerais do que extrai. 

Não precisamos tornar o planeta num imenso Butão para resolvermos o problema ambiental. Mas devemos extrair desse pequeno país os elementos que permitem o convívio harmonioso com a natureza. Observar o que está sendo feito lá, com as limitações econômicas, tecnológicas e geográficas, e replicá-las em outras partes do mundo - considerando a geografia e o nível de desenvolvimento humano de cada localidade. As culturas devem ser respeitadas, exceto a cultura de consumo, que nada mais é do que o membro podre que a humanidade deve a amputar para ser salva de um futuro bárbaro. 


Fig.1: O Reino do Butão tem um modelo muito interessante. Poderíamos aprender com eles.

O convívio harmonioso aponta para um dos predicados do monismo: proporção. Vou relembrar aqui:

"A proporção garante o equilíbrio no desenvolvimento de cada um; que ele seja compatível com sua posição: quanto mais evoluído, mais eficaz serão os atos. E todos vão evoluindo;"

O equilíbrio é essencial ao desenvolvimento humano - aliás, qualquer desenvolvimento, seja físico, dinâmico ou moral. Sem esse balanço é impossível progredir de forma saudável. Por isso a incorporação do dualismo é importante. Os pólos devem interagir (=debate, convívio, diálogo, disputa saudável, intercâmbio, afeto, etc.) com o intuito de se reforçarem cada vez mais, e com isso gerar uma dança em que o transformismo se dê de forma mais suave, com a menor quantidade de atrito para que a ascensão se dê da melhor forma. Assim, estarão cada vez mais integrados. Integrando-se, formarão uma outra metade que se integrará a uma outra, formando um todo ainda maior. E assim sucessivamente. Esse é a Lei da Dualidade - que se cumpre através da Lei do Equilíbrio. Forma-se uma hierarquia que transparece cada vez melhor o seu aspecto divino.

Gostaria de falar um pouco sobre curto prazo e longo prazo. Sobre global e local.

Veja bem: quando observamos uma bela pintura, temos uma sensação boa. É algo muito gratificante. Mas dando um zoom em qualquer parte dessa pintura, começamos a perder o senso de beleza, de ordem, de significado. Fica tudo perdido. E quanto menor essa região, maior o caos. É como um quebra-cabeça de mil peças: cada peça (ou mesmo conjunto de encaixes) não tem significado algum. Porém, no conjunto, o quadro geral é maravilhoso. É gratificante passar por horas montando algo grande, sendo que inicialmente não se vê sentido algum nisso. No caso do quebra-cabeças, sabe-se que o destino (a figura a ser obtida) é bonito e desejável - e por isso persistimos. Mas na vida ocorre o mesmo, só que com uma pequena diferença: não sabemos o resultado final. Já falei sobre tudo isso num ensaio passado. Trata-se de um fenômeno para lá de interessante. 

À medida que vamos vivendo, criando projetos, participando de trabalhos, aprendendo e estudando, ensinando e pesquisando, nos divertindo e executando tarefas, temos pouco tempo para perceber o que está sendo construído com nossos atos externos. E dentro de nós, então, não fazemos a menor ideia do que está sendo construído com essas experiências. O que está sendo construído é a personalidade. E esse projeto leva tempo, muito tempo - tanto tempo que extrapola uma existência corporal. E por isso temos dificuldade em compreender fenômenos mais profundos: a maioria das pessoas ainda não vê como uma realidade concreta (algo lógico, evidente) a teoria da reencarnação - e por consequência nem o fenômeno. Com isso diversos acontecimentos ficam sem explicação. Muitas coisas não se encaixam. Tudo parece injusto. Mas não é...

Fig. 2: Quando estamos estressados vamos ao mato e voltamos melhores. Isso ocorre porque trocamos 
energias com a natureza. Trocamos energias com uma fonte que já está em equilíbrio, que não tem vícios. 
Que está próxima à fonte da vida. Devemos preservar ela, portanto.

A questão ecológica passa por essa visão de longo prazo. 

A dinâmica da geosfera é distinta daquela da biosfera, que por sua vez é diferente daquela da noosfera (em formação). Mas todas elas estão integradas num estreito monismo: a geosfera propicia as condições para a formação da vida (temperatura, pressão, quais elementos e proporção de moléculas químicas, umidade, etc.); a biosfera permite que a vida se manifeste, e com isso evolua para formas cada vez mais desenvolvidas, dando alimento às plantas, que por sua vez alimentam os animais, que se alimentam de outros animais até chegar ao homem, que depende de toda essa teia de relações entre espécies para obter sua riqueza. Em suma, o planeta e a vida dão condições para o desenvolvimento da cultura, do pensamento, do abstrato.

Apesar de sermos capazes de gerar produtos mais elaborados do que a natureza - como sinfonias, cinema, geladeiras, chuveiros elétricos, livros e muito mais - somos dependentes dela. A complexidade emerge de um substrato bem elaborado que dá as bases para desenvolvimentos posteriores. Não compreendemos isso. Porque operamos com base no dualismo puro - e não num dualismo contido num esquema monista.

O que quero dizer com isso?

O dualismo existe (é fato). Porém, esse dualismo tem um significado. Somos mais do que a natureza em termos de possibilidades imateriais, mas ao mesmo tempo somos menos do que ela em termos de independência material. Como vivemos num universo trifásico (alfa, beta, gama = espírito, energia, matéria), o pensamento humano, para se concretizar em maravilhas (ou terrores..) depende do dinamismo energético e da forma material. Percebe? A natureza e o ser humano são uma coisa só, sendo que o humano é a ponta de lança da natureza, que alça patamares mais elevados de expressão. Devem portanto ser integrados em nossa mentalidade - porque na realidade objetiva já estão.

Não à toa o senso de gratidão é muito importante. Os orientais (seus ensinamentos multimilenares) viram isso melhor do que os ocidentais. Ser grato é reconhecer a importância dessas pequenas coisinhas que nem nos damos conta. Coisinhas que nos fazem estar vivos, com saúde; que nos fazem ter energia para pensar e executar tarefas; que nos alimentam; que regulam nossa atmosfera; que dão beleza às nossas vistas e inspiram os artistas e cientistas (cada um sob um aspecto). E ela nos ensina: apenas o essencial. 

Não há nada supérfluo na natureza. Não existem criações que gerem lixo sem estar conectadas a outro receptor que processa esse lixo. O sistema Terra é aberto energéticamente, mas fechado materialmente. Isto é, nós absorvemos parte da radiação solar e o restante é refletido de volta para o espaço. E todo lixo que geramos fica conosco - graças ao campo gravitacional, que nos prende aos nossos produtos. Portanto, precisamos ficar atentos ao modelo econômico que adotamos.

A palestra de Hugo Penteado dá uma ideia muito clara de como funcionam essas coisas de modo geral:

"O nosso materialismo cresce seis vezes mais rápido do que nosso crescimento econômico." 

Hugo Penteado

O que isso significa?

Significa que a degradação que fazemos no meio não reflete o desenvolvimento econômico (não social). Isso significa que nosso modelo não leva em conta o estrago que fazemos na natureza - seja degradação do solo, das águas, da biodiversidade, da atmosfera, dos ciclos, etc. 

O planeta comportaria apenas 200 milhões de pessoas se todas elas tivessem o modo de vida de um estadunidense. É uma cultura que encabeça a cultura de consumo mundial. E muitos a seguem, crendo ser esse o caminho para a felicidade. Isso é um ser involuído, que não enxerga ainda com clareza os objetivos da vida (profundidade geral) e de sua vida (vivência pessoal).

três vetores a serem alterados parta que a humanidade se enquadre na ordem cósmica:

  1. Estabilização demográfica;
  2. Reformulação da matriz energética;
  3. Transformação da cultura.

O primeiro diz respeito ao número de pessoas que vivem aqui. Há evidentemente um limite que não pode ser ultrapassado. Pois mesmo com uma geração enorme de riqueza, ela ainda terá uma assíntota intransponível. E não podemos nos multiplicar exponencialmente (isso só existe na matemática pura, sem relação com o mundo físico).

O segundo diz respeito ao clima e à sustentabilidade: depender de combustíveis fósseis gera uma grande quantidade de resíduos, que por sua vez tem prazo de validade. Espera-se que até o final do século o petróleo e o gás natural cheguem ao fim - considerando as atuais projeções. É imperativo olhar para fontes renováveis e gerar uma civilização solar - ou seja, baseada no sol. A questão é que se trata de uma energia de pouca densidade (=pequena potência), que não pode alimentar o modelo industrial que vigora (dependente de alta potência). Ou seja, além dessa mudança de matriz energética, é mandatório transformar a nossa cultura - o que nos leva ao terceiro vetor.

O terceiro trata da cultura. Sabe-se que ela é multifacetada. No entanto, o tom reinante nas últimas décadas foi o crescimento econômico às custas dos equilíbrios do meio natural - e de valores de posse. Valores levados até o último grau. 

Estamos nos habituando a enxergar tudo como algo a ser possuído. Todas formas de vida (inclusive a humana) estão sendo monetizadas. Conhecimentos e invenções são patenteados, colocando assim uma barreira entre muitos e os meios de viver uma vida melhor. É a expressão mais forte do egoísmo. Expressão sofisticada, usando justificativas baseadas em vocábulos refinados e discursos precisos, intelectuais e cheios de dados e formas. Mas é apenas isso mesmo: forma e dados; aparências e fala. Nada de valor real. 

Possui algo se tornou sinônimo de felicidade. Sermos aceitos por alguém, um grupo; sermos considerados para participar de algo; sermos levados em consideração. Tudo isso depende do quanto temos, do que temos, e do que fazemos com isso que temos. Geralmente valoriza-se muito de coisas fúteis, abusadas até o grau de gozo máximo. Eis o sonho escondido da maioria dos seres humanos atualmente. Isso deve mudar antes que a Lei atue.

Exemplos não faltam: carros caríssimos, casas luxuosas, jantares caríssimos, roupas de marca, shoppings, eletrôncos todo semestre, cassinos, exibicionismo (até intelectual), iates, propriedades, gozos sem fim e etc. Esse desejo (=demanda do consumidor) que deve ser respeitado por todos que desejem que seu negócio prospere, é o motor da destruição das formas de vida e dos valores humanos. A culpa não é (apenas) de um governo péssimo, de um político, de um empresário, de um grupo, de uma religião, de um povo: é de toda humanidade, numa escala de débitos proporcional aàs possibilidades de cada um. 

Luiz Marques, da Unicamp, escreveu uma obra excelente que trata da questão ambiental. Se chama "Capitalismo e Colapso Ambiental". Na entrevista abaixo ele dá uma visão panorâmica da situação:

Trata-se de um trabalho sério, baseado em dados de fontes renomadas, que aborda a questão sob todos aspectos (demográfico, econômico, tecnológico, energético, ecológico e cultural), sem cair em armadilhas de formas mentais que apontam para soluções fictícias. 

Quanto à urgência energética, temos uma tabela (abaixo), elaborada a partir do estudo do livro de Nicolas Georgescu-Roegen:

Tab. 1: Vantagens e desvantagens da energia solar e terrestre.

Os pontos vermelhos apontam para uma desvantagem e os verdes para vantagens- considerando o nosso paradigma de desenvolvimento atual. 

A energia terrestre é de estoque e a solar de fluxo. Isso significa que a primeira é obtida através de depósitos formados ao longo de milhões de anos (estocado), ao passo que a segunda vem diretamente do Sol em doses pequenas (comparadas àquelas do primeiro tipo), de forma pouco concentrada. 

Conforme dito e comprovado pelas últimas projeções, a terrestre não durará por mais de algumas décadas (50~100 anos). Já a solar tem um prazo muito maior: cerca de 2 a 5 bilhões de anos - tempo em que o nosso Sol irá continuar se consumindo e irradiando como efeito disso (ele se consome por nós...).

1 ponto para a solar.

O paradigma de desenvolvimento industrial-consumista demanda potência (= energia / tempo). A energia terrestre é altamente concentrada por ter grande quantidade de energia latente conversível em outras armazenadas em pequenas quantidades de material. A solar não possui essa vantagem, pois o fluxo é constante e de baixa intensidade. É de longo prazo, mas não satisfaz nosso modelo de desenvolvimento atual.

1 ponto para a terrestre.

Por outro lado, o uso (e sobretudo abuso) de energia terrestre gera uma quantidade de gases estufa e tóxicos (dióxido de carbono, metano, monóxido de carbono, amônia, gás cloro, sulfeto de hidrogênio, etc.) que estão começando a inviabilizar a vida de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. A solar não traz essa desvantagem diretamente - nem em grau tão alto indiretamente*.

1 (terrestre) x 2 (solar)

Pelo placar, a solar ganha. Mas por que não mudamos então?

Nosso paradigma é algo enraizado em nossa cultura. O ser humano se acostumou a pensar de um modo, e acredita que sem certas coisas a vida (a sua vida) chega ao fim. É a máxima expressão de justificativa do gozo através dos discurso da sobrevivência. Mas a verdade é que não precisamos de tanto para viver bem.

A partir de um ponto, adquirir mais coisas deixa de ter sentido. Como bens e serviços estão fortemente relacionados a renda no capitalismo, é natural que dinheiro só pode trazer felicidade até certo ponto - além do qual ele se torna inútil, e até prejudicial. Veja o gráfico abaixo:

Fig. 3: A partir de uma renda, a felicidade satura. 
Para subir mais alto, há de se abraçar outro tipo de riqueza...

Trata-se de um estudo publicado pela Folha de S. Paulo - mas já realizado antes, de outras maneiras. Os resultados não divergem muito. Há claro alguns desvios nos patamares de renda (saturação) e inclinação das curvas (leves desvios). Isso depende das particularidades de cada nação e momentos. Mas a tendência geral é haver uma saturação a partir de um patamar que é razoável.

Só para dar uma ideia, segundo o economista Ladisalu Dowbor, $11 mil dólares per capita é a média de riqueza produzido pelo mundo. Aplicado para cada quatro pessoas, isso dá cerca de $11 mil reais mensais. Uma família composta geralmente de: pai, mãe e dois filhos. Como o Brasil está na média mundial de renda per capita (país de renda média), seria $11 mil reais/mês por família. Isso significa que há meios de se dar condições para todos atingirem a máxima felicidade dentro desse paradigma - o que evidentemente não é feito. Pois o Brasil se situa justamente na média mundial de renda per capita.

Fig. 4: É evidente que o problema do mundo não é a geração insuficiente de riqueza. Isso poderia
ser uma verdade em meados do séc. XIX, quando o mundo ainda produzia pouca riqueza. 
Mas hoje as coisas mudaram - e muito. 

Mas mesmo com uma igualdade maior, permanecer no mesmo modelo econômico é um beco sem saída. É necessário mudar completamente a maneira como nos relacionamos com os objetos e com nós mesmos. Por isso a mudança deve ser profunda (na cultura). E essa mudança depende de um despertar de consciência. Depende de cada um perceber a estrutura do Universo, nossa origem, nosso destino, os fenômenos em seu aspecto mais substancial. 

Estão começando a entender porque Deus, no fundo, tem a ver com tudo e com todos, a todo momento, em todos lugares e em todas épocas?

Mas como relacionar Deus e Universo com as questões quotidianas? Como inserir a espiritualidade na ecologia e na economia? Como encaixar as virtudes franciscanas com um modo de vida moderno?

Fig. 4: Passando os dizeres sagrados à aplicação adaptada aos tempos modernos

Resumindo: 

A pobreza é perceber a assíntota (Fig. 3) e se lançar para crescimento em outros planos. Buscar a evolução interior mais que a exterior - que passa  ser mera coadjuvante;

A obediência é conhecer a sua natureza, o seu papel, a sua personalidade, sua essência divina, e com isso conhecer sua função neste mundo, se enquadrando na Lei (de Deus) para estar alinhado ao fluxo de forças da Lei, que irão ajudá-lo a ascender;

A castidade é direcionar a energia, a criatividade, o tempo excedentes, não se lançando ao gozo excessivo, mas controlando-o porque se sente atração por realizar atividades mais elevadas, mais belas, mais saudáveis e que integrem você com o Universo.

E assim deixo mais uma visão profunda à disposição de quem desejar se lançar numa espiral de ascensão incrível.

Observações:

* É importante atentar para o fato de que a construção, manutenção e mesmo operação e descarte sistemas de fontes renováveis dependem das fontes não-renováveis. Logo, existe uma relação entre essas fontes. Ou seja, uma dependência mais ou menos forte (a depender do modelo de desenvolvimento e dos avanços tecnológicos) das fontes 'limpas' com as 'sujas'.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Compreensão exige maturação

É interessante observar que, à medida que vamos descendo da grande visão (síntese) às particularidades de nosso mundo (análise), divergências começam a surgir. Parece que, quando a pessoa faz um esforço de relacionar as questões mais substanciais à vida quotidiana, seja ela lógica econômica, pedagogia, política, sociedade, psicologia, entre muitas outras, fica mais difícil obter concordância. Não é à toa que muitos que possuem grandes visões optam por ficar longe do campo dos exemplos e aplicações mais concretas: há uma ferocidade (=inconsciência) muito grande nesse nível. Mas é - ainda - o degrau em que a média da humanidade se encontra.

Fig.1: Compreensão exige sensibilidade. Sensibilidade depende do grau de maturação.

Fonte: [1]

Já falei alhures sobre o problema da comunicação. Não temos uma gramática comum - o que já dificulta muito a comunicação entre duas pessoas ou grupos. A mesma palavra tem significados distintos para cada indivíduo, grupo, cultura ou nação. Como resultado, jamais seremos capazes - com os meios de comunicação atuais, via voz ou texto ou coisas relacionadas aos sentidos - de passar exatamente o que desejamos. Isso torna a comunicação profunda muito difícil (se não impossível para alguns casos). Somada a essa barreira verbal, há ainda o problema da constituição dos indivíduos, que por ser muito particular, traz uma diversificação ainda maior.

Como sabemos através da obra de Pietro Ubaldi, somos produto de quatro fatores: o meio (geográfico e cultural); os genes (pai e mãe) e o nosso passado (espírito, subconsciente, atavismos, vícios e virtudes adquiridas). Se a diversidade de vivências já é grande considerando apenas um deles, ao fazermos uma análise combinacional de cada possibilidade em cada dimensão, iremos obter uma diversidade atordoante de personalidades. Com isso a compreensão entre dois ou mais indivíduos se torna um verdadeiro desafio. 

Mas há ainda mais um fator: o número.

Vivemos um momento especial em nossa civilização. Um momento de transição planetária. É preciso mudar tudo: como nos relacionamos com a natureza, dieta, rotina de trabalho, conceito do que é trabalho, cidades, transporte, energia, escolas, universidades, papel do Estado, limites dos mercados, etc. É algo tão grave, tão urgente e tão fundamental, que se não tomarmos a decisão certa, coletivamente, logo, iremos acabar com o pouco que construímos de civilização. 

Para realizar essa mudança, é preciso que o corpo coletivo aja como um só. Ou ao menos surja uma massa crítica, em todos níveis hierárquicos, com potência suficiente para dar um impulso contínuo e vigoroso, que não permita a reversão do que se iniciaria. Logo, a questão de uma transição suave (=menos dolorosa possível para tudo e todos) passa pelo campo da política, da economia e da cultura - acima de tudo esta última. Ai é que entra o número.

O número é a quantidade de indivíduos alinhados em termos de premissas, objetivos e valores comuns;

O número é o que dá força para o sonho interno do espírito se materializar na forma e nas realizações, mudando o externo.

Por quê?

Porque isso é monismo: todos por um e um por todos; o todo em você e você no todo.

Vocês percebem? 

Não dá para ter vergonha ou medo ou preguiça no momento de expressar a sua opinião. O único porém é que essa opinião deve ser sincera, englobar a visão mais vasta e ser sustentável.

Surge um equívoco na mente de muitas pessoas - inclusive bem intencionadas, mas pouco aprofundadas na raíz dos movimentos históricos - que consiste em julgar pelas palavras e pela forma, pinçando 'palavras proibidas', 'personagens proibidos' e 'ideologias proibidas'. A questão é que ninguém é perfeito, e cada parcela, seja religião, teoria científica, movimento artístico, obra literária, corrente filosófica, pessoa, forma de amar, possui um aspecto da verdade e outros de equívocos. 

Em geral, no meio acadêmico, quem acredita em Deus é tido como imbecil;

Em geral, nas igrejas, quem pertence a outra crença é considerado errado e não tem jeito;

Em geral, nos partidos, quem pertence a um acha que só o seu deve estar no poder e vencer;

Em geral, nas filosofias, quem vive todas (filosofias) é visto como paradoxal;

Em geral, na vida, quem se cristalizou numa uma forma mental acha que aquele que evolui a sua está errado.

Nós dificilmente nos abrimos para além daquilo que estamos preparados.

A expansão da consciência é justamente isso: abarcar cada vez mais perspectivas, formando uma forma mental orgânica, complexa e toda ordenada (hierarquizado) que consegue marchar com mais ímpeto e agilidade.

Fig.2: Um dos últimos livros de Ubaldi. Nele, experiências profundas e verdades incríveis. 
Unificação e amor. Tudo fica claro. Quem sente, ama e se regozija. 

Por exemplo, vamos ver o que Pietro Ubaldi fala sobre o 'comunismo':

"Se os cristãos tivessem sido verdadeiramente cristãos, como o foram nos primeiros séculos, o comunismo não lhes poderia ter roubado a ideologia da justiça social – a sua maior força – e não teria, portanto, as massas ao seu lado" Um Destino Seguindo Cristo, Cap. II

"Se o cristianismo tivesse realizado o programa evangélico, teria havido um comunismo com base no amor, e não no ódio de classes, um comunismo de paz, e não de guerra."  Um Destino Seguindo Cristo, Idem

É inegável que existam dois comunismos: um de amor, outro de ódio. Como o mundo não atingiu o comunismo através da paz e do amor - isto é, através do diálogo, da reflexão, do bom senso de que deve haver uma organização saudável para que não hajam atritos - ele surge à força, através de povos que absorvem apenas a bandeira de justiça social mas usam da força, do arsenal bélico e da astúcia para imprimir o princípio da justiça social - ainda de forma deficiente e incompleta. A culpa seria mais da Igreja e do Capitalismo nascente do que do próprio comunismo do século XX.

O que impressiona é que dos poucos - pouquíssimos - leitores da obra ubaldiana, uma boa parcela realmente não se atentou (ou não quis se atentar) para certos trechos de suas palavras, por demais evidentes. São ideias brilhantemente escritas, que de per si são cristalinas. O fato de não se atentar implica que ainda estamos presos a formas mentais que impedem conhecer a obra em sua plenitude. 

No ensaio 'Socialismo: sonho ou destino?' citei um vídeo final para exemplificar uma possível aproximação para um mundo socialista. Melhor dizendo, através de ideias exibidas seria possível ao leitor compreender elementos germinais que, se desenvolvidos de forma ordenada e relacionada, permitiriam ao mundo chegar a um patamar mais desenvolvido. Claro: haveria necessidade de outras verdades como a questão ecológica (não foi tratada) e a espiritual (também não). Mas requerer uma síntese tão grande de pessoas ligadas a igrejas, política, economia, correntes filosóficas ou grupos de pesquisa seria pedir de mais. Isso no entanto não significa que existam pessoas de bom senso e boa intenção nos grupos.

No vídeo (para quem realmente assistir e absorver) é possível perceber que um dos valores fundamentais para o entrevistado é a liberdade (que ele define como sagrada, bem no final). O hibridismo é muito bem vindo (ex.: mercados e Estado; público e privado). Infelizmente, quando um 'inimigo' nosso profere verdades difusas, mas profundas (expressando a visão monista, mesmo sem sabê-lo), não aceitamos de jeito nenhum. Eu pergunto: quem perde com esse jogo de relativismos?

Este é um espaço que exige maturação. É um esforço titânico, de esclarecimento através de sistematizações (gráficos, lógica, teorias), de poesia, de leitura histórica, de ciência, de filosofias diversas e de vivência íntima. É um laboratório de experimentos que visa esboçar novas possibilidades de sentir, de pensar, de andar. É uma mescla da vida profunda do autor com os conceitos mais altos do monismo. É um incessante relacionamento, repensar, ressurgir, chorar, sorrir. É um oásis para quem está disposto a se despir de todos preconceitos e refletir sobre o que o outro está apresentando.

Voltando mais um pouco à questão: por que surgiu o comunismo em sua forma violenta?

"Em primeiro lugar Cristo não era contra o uso de bens, mas contra o abuso que deles se costuma fazer. Também nós, quando vemos alguém fazer mau uso de uma coisa, somos levados, para remediar o problema, a destruí-la e até a eliminar quem de tal modo a usa. É por essa razão que, com o comunismo, parte da humanidade queria abolir o instituto da propriedade em todo o mundo e, onde pôde, eliminou os ricos." 

Um Destino Seguindo Cristo, Cap. III (grifos meus)

Percebam: um extremo acaba gerando outro. Oscilação. Vibrações...Alguma coincidência com a TTMF? (Trajetória Típica dos Movimentos Fenomênicos)

Fig.3: Tudo oscila. É necessário a polaridade (dualismo) para criar esse jingar (dança) de ascensão.
Uma dança conduzida pela unidade do Todo. Uma dança que deve ser feita de forma saudável.

Para compreender é preciso ter evoluído interiormente. A maturação é a maior sabedoria. Mais do que saber, é preciso ver o significado do que se sabe. Seu progredir na esteira do tempo. 

Democracia e comunismo podem ser implementados em grau máximo pela humanidade, pois são duas faces da mesma moeda. Me chame de louco, mas chamem o autor desse trecho de louco também.

"Independentemente de qualquer programa político, a tendência ao coletivismo é hoje fenômeno universal. Esta nova posição da humanidade em forma de sociedade orgânica não é problema de democracia ou comunismo, mas sim uma questão biológica, que corresponde a uma fase de amadurecimento evolutivo, a qual está sendo atravessada por toda a sociedade humana, em todos os pontos do globo. A cisão entre o que parece ser dois opostos, democracia e comunismo, é devida apenas ao fato de representarem eles os dois extremos do mesmo problema, tal como os dois pólos do mesmo planeta.

Um Destino Seguindo Cristo, Cap. VII (grifos meus)

Inteligência não é mera racionalidade. É pensar em longo prazo. É perceber o transformismo das coisas. É afirmar, não negar. É se abrir para o outro, para o desconhecido.

Inteligência é, em última instância, capacidade de compreender - e isso exige maturação. 

O monismo não se difunde no mundo com a rapidez desejada porque a compreensão é muito baixa. Assim, tudo se torna um grande desafio. Logo, avançar um passo é um grande triunfo. Mas de conquista em conquista, iremos preencher o mundo de compreensão, base do amor, essência de Deus.

Esse espaço é para todos, de todos, e por todos. Tudo se aceita, exceto ódio que divide e desgasta.

E...para aqueles que detestam algo ou alguém, uma mensagem de amor:

Fig.4: Tudo tem um significado na vida. Se algo nos incomoda, o melhor a fazer é compreender 
à fundo aquilo. Esse é o método da absorção do mal(=segregação) pelo bem (=unificação).

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Sobre calma, pressa e não-linearidade

Imagine que a gente vá construir algo. Queremos que esse algo seja belo. Ordem e simetria devem ser imperantes. Mas essa construção levará tempo. E esforço. Então, sentindo essa dificuldade e não querendo o desânimo diário pairando sobre nossas mentes e corações, optamos pelo seguinte: ao invés de formar uma ideia geral bela, e a partir daí ir construindo tendo por orientação esse panorama geral, começa por se construir beleza em cada parte, em cada detalhe. Tudo deve ficar ordenado nas menores escalas. Em todos pontos devem ser satisfeitos os sentidos e a mente. Deixamos os encaixes para o final. Tudo deve dar certo - pois se cada termo minúsculo é belo, porque a junção de todos não seria? Montamos alegremente esse belo mosaico. E quando terminamos e fazemos essa conjugação, obtemos um monstro (faça a experiência).

Fig.1: O quebra-cabeças da vida é algo muito mais difícil de ser resolvido do que o convencional,
 composto por peças simples, inanimadas.

A soma de coisas relativamente ordenadas, perfeitas do ponto de vista de quem observa de perto, deveria resultar num conjunto belo e ordenado - assim como suas partes constituintes. Esse é um raciocínio linear, sequencial, que vê a soma das partes como um mero amontoado de elementos. Se a média dos elementos for positiva, o resultado deve ser um positivo grande - se negativo, um negativo grande. Mas esse tipo de pensamento não leva em consideração algo muito importante: as relações entre os elementos.

Quando se fala em relação o que vêm à mente?

Interconexões, comunicação, canal, interferência, sinergia e coisas do tipo. Tudo isso é resultado de relações entre partes de um todo. Por exemplo, o corpo humano é um sistema hierarquicamente ordenado, com cada subsistema, órgão, tecido e célula cumprindo seu papel específico. Os glóbulos vermelhos são perfeitos para cumprir sua função de distribuir oxigênio para todas células do corpo, capturando o  gás carbônico liberado delas e enviando para os pulmões. Estes, por sua vez, realizam a troca desses gases com a atmosfera, estabelecendo um ciclo que gera equilíbrio do corpo. Os neurônios cumprem função diretora, transmitindo ordens do cérebro (nossa parte consciente) às partes: assim temos movimento, fala e todas atividades realizadas conscientemente. Há ainda as atividades inconscientes, que são específicas das partes, para a qual nosso corpo pensa por si só, sem necessidade da coordenação do sistema nervoso. 

Se uma parte não cumpre sua função, todo o conjunto começa a se desordenar. Basta que uma célula invada a função de outra (deixando de cumprir a sua) para que comece a surgir um desequilíbrio. De modo que percebemos o seguinte: um sistema perfeito deve ter partes diferenciadas que se comunicam entre si e respeitem os limites e fronteiras de cada parte.

Vamos voltar ao quebra-cabeças.

Imagine que cada peça seja uma célula - ou tecido ou órgão. Ela representa parte de algo maior. Ela não pensa em si, mas no todo. Não deposita sua salvação da aparência do presente, mas no florescer de algo no futuro. É claro: para cumprir sua função, deve estar no lugar que lhe compete. 

No caso de uma célula, podemos dizer que sua maior 'felicidade' é poder fazer aquilo para o qual 'nasceu': células nervosas enviam, recebem e interpretam sinais do corpo; células epiteliais revestem órgãos, protegendo-os; células musculares regulam capacidade de construção dos órgãos e 'geram' movimento; células do tecido sanguíneo cuidam da circulação de sangue e funções correlatas (imunológica, transporte e coagulação); células ósseas cuidam do tecido ósseo, da secreção de substâncias e da síntese de componentes orgânicos. Cada uma possui função específica.

O mundo infra-humano atingiu sua perfeição, em que cada elemento sabe exatamente sua função, e nada lhe falta para cumpri-la. Fica assim explicada a perfeição do corpo humano e de todos outros corpos na natureza, seja planta, fungo ou animal. Fica explicado a perfeição da sociedade de abelhas e formigas - sendo coletivo. 

O mundo humano é muito mais complexo. Nele desperta o espírito. Uma consciência muito mais profunda que tem muito a se desenvolver em vários campos. No humano a perfeição ainda está distante. A sociedade ainda não sabe se organizar. Carecemos de uma gramática comum. Não possuímos uma visão de sistema jus à nossa potencialidade como espíritos imortais. Isso explica o caos no campo político e econômico. 

Os desentendimentos culturais são grandes a ponto de gerarem conflitos intensos. Não se percebe o transformismo que se faz presente em tudo. A forma muda, se moldando com as experiências. A forma é um envoltório que expressa um princípio. É uma ferramenta de evolução. É algo a se melhorar. 

Não percebendo a necessidade de construir relações, nossos sistemas desmoronam. Essas relações são interconexões complexas. Profundas em todos níveis. Há as conexões entre casais; entre pais e filhos; entre colegas de trabalho; entre institutos; entre produtores; entre pensadores; entre nações; entre épocas e gerações; entre sentimentos e emoções; entre religiões; entre ciências; entre filosofias; entre formas de expressão. 

Fig.2: Paciência...última virtude a ser conquistada por aquele que já adquiriu uma visão geral do Universo. 
O desafio de aceitar o ritmo dos outros. De compreender que os outros lhe golpeiam porque não compreendem o que fazem. 
De ir mais devagar, se aprimorando na arte de comunicar, se acalmar, sentir à medida que vive a experiência da vida terrena

Não basta somar um amontoados de positivos. Pior: amontoar positivos exatamente iguais não trará nenhuma novidade. Nada que valha a pena é construído com a massificação de elementos (pessoas), idealizados para vencerem no curto prazo, na escala do imediato, do superficial, das sensações momentâneas. As verdadeiras construções se erguem graças à fé destemida de uma comunidade que saiba vibrar e sofrer. É um edifício belo que, quando terminado, alberga tudo e todos. Um edifício que protege e nutre de acordo com o mérito e as funções de cada parte. Assim a gente obtêm o quebra-cabeças.

Mas nós, humanos, somos 'peças' vivas, móveis, complexas. Entidades que sentem e compreendem. Que lutam e sofrem. Que vencem e caem. Que concebem e realizam. Os encaixes ficam mais difíceis - mas nem por isso menos necessários. Estamos montando o maior quebra-cabeças jamais feito: a construção da personalidade e, com isso, a geração de uma coletividade que opere perfeitamente, sem misérias materiais nem carências afetivas; sem segundas intenções ou interpretações errôneas. Para isso é imperativo enxergar o quadro geral a ser construído (ideal)..

Deus escreve por linhas tortas, diz o ditado. 

Traduzindo: os fenômenos do Universo ocorrem de modo relativamente livres, a depender do nível de consciência (infra-humano, humano ou super-humano). Mas esse livre-arbítrio é circunscrito por um benévolo determinismo que impede a destruição completa de um povo. A liberdade de escolher geralmente implica em liberdade de errar (e muito!). Mas todas consequências estão sob controle divino: nada será destruído. A forma apenas se transforma - de modo mais bruto ou mais refinado...sutil. A substância é indestrutível. Nosso espírito reflete essa substância divina. Ele se renova. Ele adquire a perfeição perdida, pouco a pouco, através da odisseia da evolução. Evolução que se dá em todos os momentos, continuamente. 

Então, na construção desse quebra-cabeças formidável que é a Nova Civilização do Terceiro Milênio, precisamos estar cientes da técnica de construção. É necessário caminhar e não receber o que o ego espera (glórias, reconhecimento, riqueza e prazeres), tendo como foco o porvir. A expansão da consciência, é a única coisa que interessa no mundo - esteja você no plano físico (encarnado, sofrendo muito) ou extra-físico (desencarnado, mais à vontade). A diferença está no grau de perturbação: no plano físico a vida é muito mais árdua; o tempo se arrasta e as obrigações sugam energia vital; há mais violência e menos compreensão. No plano extra-físico é possível fazer a reflexão, ter relações transparentes e não brigar por futilidades. Num ocorre a ação de elevação - no outro, o planejamento da futura vida e a assimilação da passada. 


Fig. 3: Não acumuleis coisas. Adquiram experiência...

Assim como tudo no Universo, a vida também é bipolar. Esse gingar do espírito entre um pólo e outro (plano material / plano astral) dá o dinamismo que permite a ascensão. A vida, que era Una no Sistema, se partiu em incontáveis existências no Anti-Sistema, com o dualismo dando o tom de reorganização do edifício desmoronado. Surge o nascimento e a morte. Mas à medida que evoluímos, percebemos que nascer não é tão bom nem morrer é tão ruim - pois o ser na verdade está crescendo, e o que julga fim e decadência na verdade é expansão e oportunidade, enquanto o que considera alegre e vivo é no fundo ilusão e perigoso. 

Para construirmos algo efetivo e eterno, precisamos abraçar a dor e transformá-la em oportunidade de ascensão. As marteladas do meio devem servir para ganharmos mais visão; mais sensibilidade ao escutar; mais capacidade de comunicar; mais inteligência ao estudar; mais precaução ao caminhar; mais prazer com a simplicidade. E quem foca nesses aspectos não está preocupado com o que o mundo tem a lhe dizer. Está centrado na grande construção sendo feita. Um imenso edifício que não se manifesta para a grande maioria, insensível, que ainda não atingiu a maturação necessária para ouvir os sinos de um reino muito mais próximo do paraíso. Um paraíso de todos, para todos e por todos. 

Dessa forma, a não-linearidade entra em cena quando estamos lidando com um sistema. 

Num sistema as relações não são lineares: podem assumir uma multiplicidade de faces que torna-se dificílimo estabelecer uma equação, uma regra. No entanto tudo parte de um esquema simples. Um padrão singelo, repetido em todas escalas, se torna uma multiplicidade de fenômenos. Assim funciona o Universo: um Uno (princípio) que se manifesta (versa) de todas formas imagináveis e inimagináveis. 

Então, nas construções que fazemos na vida pessoal ou profissional, não podemos medir os ganhos a cada momento, ajustando tudo para que sempre hajam resultados desejáveis todo dia. Porque o que importa é o conjunto, o resultado final. Ou melhor: o que está sendo construído interiormente, no silêncio. Assim um belíssimo quadro tem em cada parte algo aparentemente sem sentido. Feio até. Mas o que importa é o produto final, eterno e uno.

Para finalizar, podemos trazer o exemplo do mercado financeiro. 

Fig. 4: A oscilação da renda variável traz risco no curto e médio prazo. 
Mas a tendência no longo prazo é vencer a segurança da renda fixa, que sempre cresce, mas nem tanto.
Fonte: [1]

Na figura percebemos que a tendência do fundo de renda variável (em azul), mais sofisticado, é de superar o de renda fixa (em preto). Mas o preço disso é uma oscilação a cada momento, de modo que a cada dia, semana, ou mesmo mês, poderão haver perdas (e grandes) em relação ao fundo mais seguro, de renda fixa. Isso é observável em todo mercado financeiro. Há exceções, mas elas escapam da tendência geral. Isso significa que qualquer campo humano e mesmo da natureza segue os mesmos princípios. Esses princípios são a base da evolução. Aí reside o poder do monismo de Pietro Ubaldi: o de ter compreendido o esquema geral de funcionamento do universo - entre outras coisas.

Então, se quisermos construir na eternidade, devemos abraçar esse saber sistêmico que aponta para uma vida mais vasta, cheia de possibilidades e com poder se superar os impasses do presente..