quarta-feira, 19 de maio de 2021

Sobre calma, pressa e não-linearidade

Imagine que a gente vá construir algo. Queremos que esse algo seja belo. Ordem e simetria devem ser imperantes. Mas essa construção levará tempo. E esforço. Então, sentindo essa dificuldade e não querendo o desânimo diário pairando sobre nossas mentes e corações, optamos pelo seguinte: ao invés de formar uma ideia geral bela, e a partir daí ir construindo tendo por orientação esse panorama geral, começa por se construir beleza em cada parte, em cada detalhe. Tudo deve ficar ordenado nas menores escalas. Em todos pontos devem ser satisfeitos os sentidos e a mente. Deixamos os encaixes para o final. Tudo deve dar certo - pois se cada termo minúsculo é belo, porque a junção de todos não seria? Montamos alegremente esse belo mosaico. E quando terminamos e fazemos essa conjugação, obtemos um monstro (faça a experiência).

Fig.1: O quebra-cabeças da vida é algo muito mais difícil de ser resolvido do que o convencional,
 composto por peças simples, inanimadas.

A soma de coisas relativamente ordenadas, perfeitas do ponto de vista de quem observa de perto, deveria resultar num conjunto belo e ordenado - assim como suas partes constituintes. Esse é um raciocínio linear, sequencial, que vê a soma das partes como um mero amontoado de elementos. Se a média dos elementos for positiva, o resultado deve ser um positivo grande - se negativo, um negativo grande. Mas esse tipo de pensamento não leva em consideração algo muito importante: as relações entre os elementos.

Quando se fala em relação o que vêm à mente?

Interconexões, comunicação, canal, interferência, sinergia e coisas do tipo. Tudo isso é resultado de relações entre partes de um todo. Por exemplo, o corpo humano é um sistema hierarquicamente ordenado, com cada subsistema, órgão, tecido e célula cumprindo seu papel específico. Os glóbulos vermelhos são perfeitos para cumprir sua função de distribuir oxigênio para todas células do corpo, capturando o  gás carbônico liberado delas e enviando para os pulmões. Estes, por sua vez, realizam a troca desses gases com a atmosfera, estabelecendo um ciclo que gera equilíbrio do corpo. Os neurônios cumprem função diretora, transmitindo ordens do cérebro (nossa parte consciente) às partes: assim temos movimento, fala e todas atividades realizadas conscientemente. Há ainda as atividades inconscientes, que são específicas das partes, para a qual nosso corpo pensa por si só, sem necessidade da coordenação do sistema nervoso. 

Se uma parte não cumpre sua função, todo o conjunto começa a se desordenar. Basta que uma célula invada a função de outra (deixando de cumprir a sua) para que comece a surgir um desequilíbrio. De modo que percebemos o seguinte: um sistema perfeito deve ter partes diferenciadas que se comunicam entre si e respeitem os limites e fronteiras de cada parte.

Vamos voltar ao quebra-cabeças.

Imagine que cada peça seja uma célula - ou tecido ou órgão. Ela representa parte de algo maior. Ela não pensa em si, mas no todo. Não deposita sua salvação da aparência do presente, mas no florescer de algo no futuro. É claro: para cumprir sua função, deve estar no lugar que lhe compete. 

No caso de uma célula, podemos dizer que sua maior 'felicidade' é poder fazer aquilo para o qual 'nasceu': células nervosas enviam, recebem e interpretam sinais do corpo; células epiteliais revestem órgãos, protegendo-os; células musculares regulam capacidade de construção dos órgãos e 'geram' movimento; células do tecido sanguíneo cuidam da circulação de sangue e funções correlatas (imunológica, transporte e coagulação); células ósseas cuidam do tecido ósseo, da secreção de substâncias e da síntese de componentes orgânicos. Cada uma possui função específica.

O mundo infra-humano atingiu sua perfeição, em que cada elemento sabe exatamente sua função, e nada lhe falta para cumpri-la. Fica assim explicada a perfeição do corpo humano e de todos outros corpos na natureza, seja planta, fungo ou animal. Fica explicado a perfeição da sociedade de abelhas e formigas - sendo coletivo. 

O mundo humano é muito mais complexo. Nele desperta o espírito. Uma consciência muito mais profunda que tem muito a se desenvolver em vários campos. No humano a perfeição ainda está distante. A sociedade ainda não sabe se organizar. Carecemos de uma gramática comum. Não possuímos uma visão de sistema jus à nossa potencialidade como espíritos imortais. Isso explica o caos no campo político e econômico. 

Os desentendimentos culturais são grandes a ponto de gerarem conflitos intensos. Não se percebe o transformismo que se faz presente em tudo. A forma muda, se moldando com as experiências. A forma é um envoltório que expressa um princípio. É uma ferramenta de evolução. É algo a se melhorar. 

Não percebendo a necessidade de construir relações, nossos sistemas desmoronam. Essas relações são interconexões complexas. Profundas em todos níveis. Há as conexões entre casais; entre pais e filhos; entre colegas de trabalho; entre institutos; entre produtores; entre pensadores; entre nações; entre épocas e gerações; entre sentimentos e emoções; entre religiões; entre ciências; entre filosofias; entre formas de expressão. 

Fig.2: Paciência...última virtude a ser conquistada por aquele que já adquiriu uma visão geral do Universo. 
O desafio de aceitar o ritmo dos outros. De compreender que os outros lhe golpeiam porque não compreendem o que fazem. 
De ir mais devagar, se aprimorando na arte de comunicar, se acalmar, sentir à medida que vive a experiência da vida terrena

Não basta somar um amontoados de positivos. Pior: amontoar positivos exatamente iguais não trará nenhuma novidade. Nada que valha a pena é construído com a massificação de elementos (pessoas), idealizados para vencerem no curto prazo, na escala do imediato, do superficial, das sensações momentâneas. As verdadeiras construções se erguem graças à fé destemida de uma comunidade que saiba vibrar e sofrer. É um edifício belo que, quando terminado, alberga tudo e todos. Um edifício que protege e nutre de acordo com o mérito e as funções de cada parte. Assim a gente obtêm o quebra-cabeças.

Mas nós, humanos, somos 'peças' vivas, móveis, complexas. Entidades que sentem e compreendem. Que lutam e sofrem. Que vencem e caem. Que concebem e realizam. Os encaixes ficam mais difíceis - mas nem por isso menos necessários. Estamos montando o maior quebra-cabeças jamais feito: a construção da personalidade e, com isso, a geração de uma coletividade que opere perfeitamente, sem misérias materiais nem carências afetivas; sem segundas intenções ou interpretações errôneas. Para isso é imperativo enxergar o quadro geral a ser construído (ideal)..

Deus escreve por linhas tortas, diz o ditado. 

Traduzindo: os fenômenos do Universo ocorrem de modo relativamente livres, a depender do nível de consciência (infra-humano, humano ou super-humano). Mas esse livre-arbítrio é circunscrito por um benévolo determinismo que impede a destruição completa de um povo. A liberdade de escolher geralmente implica em liberdade de errar (e muito!). Mas todas consequências estão sob controle divino: nada será destruído. A forma apenas se transforma - de modo mais bruto ou mais refinado...sutil. A substância é indestrutível. Nosso espírito reflete essa substância divina. Ele se renova. Ele adquire a perfeição perdida, pouco a pouco, através da odisseia da evolução. Evolução que se dá em todos os momentos, continuamente. 

Então, na construção desse quebra-cabeças formidável que é a Nova Civilização do Terceiro Milênio, precisamos estar cientes da técnica de construção. É necessário caminhar e não receber o que o ego espera (glórias, reconhecimento, riqueza e prazeres), tendo como foco o porvir. A expansão da consciência, é a única coisa que interessa no mundo - esteja você no plano físico (encarnado, sofrendo muito) ou extra-físico (desencarnado, mais à vontade). A diferença está no grau de perturbação: no plano físico a vida é muito mais árdua; o tempo se arrasta e as obrigações sugam energia vital; há mais violência e menos compreensão. No plano extra-físico é possível fazer a reflexão, ter relações transparentes e não brigar por futilidades. Num ocorre a ação de elevação - no outro, o planejamento da futura vida e a assimilação da passada. 


Fig. 3: Não acumuleis coisas. Adquiram experiência...

Assim como tudo no Universo, a vida também é bipolar. Esse gingar do espírito entre um pólo e outro (plano material / plano astral) dá o dinamismo que permite a ascensão. A vida, que era Una no Sistema, se partiu em incontáveis existências no Anti-Sistema, com o dualismo dando o tom de reorganização do edifício desmoronado. Surge o nascimento e a morte. Mas à medida que evoluímos, percebemos que nascer não é tão bom nem morrer é tão ruim - pois o ser na verdade está crescendo, e o que julga fim e decadência na verdade é expansão e oportunidade, enquanto o que considera alegre e vivo é no fundo ilusão e perigoso. 

Para construirmos algo efetivo e eterno, precisamos abraçar a dor e transformá-la em oportunidade de ascensão. As marteladas do meio devem servir para ganharmos mais visão; mais sensibilidade ao escutar; mais capacidade de comunicar; mais inteligência ao estudar; mais precaução ao caminhar; mais prazer com a simplicidade. E quem foca nesses aspectos não está preocupado com o que o mundo tem a lhe dizer. Está centrado na grande construção sendo feita. Um imenso edifício que não se manifesta para a grande maioria, insensível, que ainda não atingiu a maturação necessária para ouvir os sinos de um reino muito mais próximo do paraíso. Um paraíso de todos, para todos e por todos. 

Dessa forma, a não-linearidade entra em cena quando estamos lidando com um sistema. 

Num sistema as relações não são lineares: podem assumir uma multiplicidade de faces que torna-se dificílimo estabelecer uma equação, uma regra. No entanto tudo parte de um esquema simples. Um padrão singelo, repetido em todas escalas, se torna uma multiplicidade de fenômenos. Assim funciona o Universo: um Uno (princípio) que se manifesta (versa) de todas formas imagináveis e inimagináveis. 

Então, nas construções que fazemos na vida pessoal ou profissional, não podemos medir os ganhos a cada momento, ajustando tudo para que sempre hajam resultados desejáveis todo dia. Porque o que importa é o conjunto, o resultado final. Ou melhor: o que está sendo construído interiormente, no silêncio. Assim um belíssimo quadro tem em cada parte algo aparentemente sem sentido. Feio até. Mas o que importa é o produto final, eterno e uno.

Para finalizar, podemos trazer o exemplo do mercado financeiro. 

Fig. 4: A oscilação da renda variável traz risco no curto e médio prazo. 
Mas a tendência no longo prazo é vencer a segurança da renda fixa, que sempre cresce, mas nem tanto.
Fonte: [1]

Na figura percebemos que a tendência do fundo de renda variável (em azul), mais sofisticado, é de superar o de renda fixa (em preto). Mas o preço disso é uma oscilação a cada momento, de modo que a cada dia, semana, ou mesmo mês, poderão haver perdas (e grandes) em relação ao fundo mais seguro, de renda fixa. Isso é observável em todo mercado financeiro. Há exceções, mas elas escapam da tendência geral. Isso significa que qualquer campo humano e mesmo da natureza segue os mesmos princípios. Esses princípios são a base da evolução. Aí reside o poder do monismo de Pietro Ubaldi: o de ter compreendido o esquema geral de funcionamento do universo - entre outras coisas.

Então, se quisermos construir na eternidade, devemos abraçar esse saber sistêmico que aponta para uma vida mais vasta, cheia de possibilidades e com poder se superar os impasses do presente..

2 comentários:

  1. SENTI PENA DE VER UM LEITOR DE UBALDI POSTANDO VIDEO DE HADDAD. SOCIALISMO É A SEGUNDA MAIOR PRAGA DO MUNDO, A PRIMEIRA É O PT DO SEU CANDIDATO HADDAD. NENHUM SOCIALISTA IRA TENTAR ABSORVER ALGUM CONCEITO DA OBRA DE PEDRO PORQUE TODOS SAO ATEUS E PSEUDO INTELECTUAIS.

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  2. Bom dia Anônimo.
    É uma pena você não ter compreendido a mensagem à fundo amigo...

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