terça-feira, 25 de maio de 2021

Do déficit ao superávit ambiental

A importância da ecologia é algo muito recente em termos de compreensão na civilização humana. O respeito pela natureza já foi muito comentado por sábios. Algumas comunidades praticavam um modo de vida em total equilíbrio com a saúde do corpo, da mente e do ambiente à sua volta  - os essênios são um belo exemplo. Em nossa atualidade, o Reino do Butão é exemplo de um povo que consegue gerar uma qualidade de vida razoável sem prejudicar o entorno: é o único país em que existe um superávit muito grande na pegada ecológica. Isto é, o país muito mais dá (fortalece e expande) as florestas, a biodiversidade, a atmosfera, o solo, os recursos minerais do que extrai. 

Não precisamos tornar o planeta num imenso Butão para resolvermos o problema ambiental. Mas devemos extrair desse pequeno país os elementos que permitem o convívio harmonioso com a natureza. Observar o que está sendo feito lá, com as limitações econômicas, tecnológicas e geográficas, e replicá-las em outras partes do mundo - considerando a geografia e o nível de desenvolvimento humano de cada localidade. As culturas devem ser respeitadas, exceto a cultura de consumo, que nada mais é do que o membro podre que a humanidade deve a amputar para ser salva de um futuro bárbaro. 


Fig.1: O Reino do Butão tem um modelo muito interessante. Poderíamos aprender com eles.

O convívio harmonioso aponta para um dos predicados do monismo: proporção. Vou relembrar aqui:

"A proporção garante o equilíbrio no desenvolvimento de cada um; que ele seja compatível com sua posição: quanto mais evoluído, mais eficaz serão os atos. E todos vão evoluindo;"

O equilíbrio é essencial ao desenvolvimento humano - aliás, qualquer desenvolvimento, seja físico, dinâmico ou moral. Sem esse balanço é impossível progredir de forma saudável. Por isso a incorporação do dualismo é importante. Os pólos devem interagir (=debate, convívio, diálogo, disputa saudável, intercâmbio, afeto, etc.) com o intuito de se reforçarem cada vez mais, e com isso gerar uma dança em que o transformismo se dê de forma mais suave, com a menor quantidade de atrito para que a ascensão se dê da melhor forma. Assim, estarão cada vez mais integrados. Integrando-se, formarão uma outra metade que se integrará a uma outra, formando um todo ainda maior. E assim sucessivamente. Esse é a Lei da Dualidade - que se cumpre através da Lei do Equilíbrio. Forma-se uma hierarquia que transparece cada vez melhor o seu aspecto divino.

Gostaria de falar um pouco sobre curto prazo e longo prazo. Sobre global e local.

Veja bem: quando observamos uma bela pintura, temos uma sensação boa. É algo muito gratificante. Mas dando um zoom em qualquer parte dessa pintura, começamos a perder o senso de beleza, de ordem, de significado. Fica tudo perdido. E quanto menor essa região, maior o caos. É como um quebra-cabeça de mil peças: cada peça (ou mesmo conjunto de encaixes) não tem significado algum. Porém, no conjunto, o quadro geral é maravilhoso. É gratificante passar por horas montando algo grande, sendo que inicialmente não se vê sentido algum nisso. No caso do quebra-cabeças, sabe-se que o destino (a figura a ser obtida) é bonito e desejável - e por isso persistimos. Mas na vida ocorre o mesmo, só que com uma pequena diferença: não sabemos o resultado final. Já falei sobre tudo isso num ensaio passado. Trata-se de um fenômeno para lá de interessante. 

À medida que vamos vivendo, criando projetos, participando de trabalhos, aprendendo e estudando, ensinando e pesquisando, nos divertindo e executando tarefas, temos pouco tempo para perceber o que está sendo construído com nossos atos externos. E dentro de nós, então, não fazemos a menor ideia do que está sendo construído com essas experiências. O que está sendo construído é a personalidade. E esse projeto leva tempo, muito tempo - tanto tempo que extrapola uma existência corporal. E por isso temos dificuldade em compreender fenômenos mais profundos: a maioria das pessoas ainda não vê como uma realidade concreta (algo lógico, evidente) a teoria da reencarnação - e por consequência nem o fenômeno. Com isso diversos acontecimentos ficam sem explicação. Muitas coisas não se encaixam. Tudo parece injusto. Mas não é...

Fig. 2: Quando estamos estressados vamos ao mato e voltamos melhores. Isso ocorre porque trocamos 
energias com a natureza. Trocamos energias com uma fonte que já está em equilíbrio, que não tem vícios. 
Que está próxima à fonte da vida. Devemos preservar ela, portanto.

A questão ecológica passa por essa visão de longo prazo. 

A dinâmica da geosfera é distinta daquela da biosfera, que por sua vez é diferente daquela da noosfera (em formação). Mas todas elas estão integradas num estreito monismo: a geosfera propicia as condições para a formação da vida (temperatura, pressão, quais elementos e proporção de moléculas químicas, umidade, etc.); a biosfera permite que a vida se manifeste, e com isso evolua para formas cada vez mais desenvolvidas, dando alimento às plantas, que por sua vez alimentam os animais, que se alimentam de outros animais até chegar ao homem, que depende de toda essa teia de relações entre espécies para obter sua riqueza. Em suma, o planeta e a vida dão condições para o desenvolvimento da cultura, do pensamento, do abstrato.

Apesar de sermos capazes de gerar produtos mais elaborados do que a natureza - como sinfonias, cinema, geladeiras, chuveiros elétricos, livros e muito mais - somos dependentes dela. A complexidade emerge de um substrato bem elaborado que dá as bases para desenvolvimentos posteriores. Não compreendemos isso. Porque operamos com base no dualismo puro - e não num dualismo contido num esquema monista.

O que quero dizer com isso?

O dualismo existe (é fato). Porém, esse dualismo tem um significado. Somos mais do que a natureza em termos de possibilidades imateriais, mas ao mesmo tempo somos menos do que ela em termos de independência material. Como vivemos num universo trifásico (alfa, beta, gama = espírito, energia, matéria), o pensamento humano, para se concretizar em maravilhas (ou terrores..) depende do dinamismo energético e da forma material. Percebe? A natureza e o ser humano são uma coisa só, sendo que o humano é a ponta de lança da natureza, que alça patamares mais elevados de expressão. Devem portanto ser integrados em nossa mentalidade - porque na realidade objetiva já estão.

Não à toa o senso de gratidão é muito importante. Os orientais (seus ensinamentos multimilenares) viram isso melhor do que os ocidentais. Ser grato é reconhecer a importância dessas pequenas coisinhas que nem nos damos conta. Coisinhas que nos fazem estar vivos, com saúde; que nos fazem ter energia para pensar e executar tarefas; que nos alimentam; que regulam nossa atmosfera; que dão beleza às nossas vistas e inspiram os artistas e cientistas (cada um sob um aspecto). E ela nos ensina: apenas o essencial. 

Não há nada supérfluo na natureza. Não existem criações que gerem lixo sem estar conectadas a outro receptor que processa esse lixo. O sistema Terra é aberto energéticamente, mas fechado materialmente. Isto é, nós absorvemos parte da radiação solar e o restante é refletido de volta para o espaço. E todo lixo que geramos fica conosco - graças ao campo gravitacional, que nos prende aos nossos produtos. Portanto, precisamos ficar atentos ao modelo econômico que adotamos.

A palestra de Hugo Penteado dá uma ideia muito clara de como funcionam essas coisas de modo geral:

"O nosso materialismo cresce seis vezes mais rápido do que nosso crescimento econômico." 

Hugo Penteado

O que isso significa?

Significa que a degradação que fazemos no meio não reflete o desenvolvimento econômico (não social). Isso significa que nosso modelo não leva em conta o estrago que fazemos na natureza - seja degradação do solo, das águas, da biodiversidade, da atmosfera, dos ciclos, etc. 

O planeta comportaria apenas 200 milhões de pessoas se todas elas tivessem o modo de vida de um estadunidense. É uma cultura que encabeça a cultura de consumo mundial. E muitos a seguem, crendo ser esse o caminho para a felicidade. Isso é um ser involuído, que não enxerga ainda com clareza os objetivos da vida (profundidade geral) e de sua vida (vivência pessoal).

três vetores a serem alterados parta que a humanidade se enquadre na ordem cósmica:

  1. Estabilização demográfica;
  2. Reformulação da matriz energética;
  3. Transformação da cultura.

O primeiro diz respeito ao número de pessoas que vivem aqui. Há evidentemente um limite que não pode ser ultrapassado. Pois mesmo com uma geração enorme de riqueza, ela ainda terá uma assíntota intransponível. E não podemos nos multiplicar exponencialmente (isso só existe na matemática pura, sem relação com o mundo físico).

O segundo diz respeito ao clima e à sustentabilidade: depender de combustíveis fósseis gera uma grande quantidade de resíduos, que por sua vez tem prazo de validade. Espera-se que até o final do século o petróleo e o gás natural cheguem ao fim - considerando as atuais projeções. É imperativo olhar para fontes renováveis e gerar uma civilização solar - ou seja, baseada no sol. A questão é que se trata de uma energia de pouca densidade (=pequena potência), que não pode alimentar o modelo industrial que vigora (dependente de alta potência). Ou seja, além dessa mudança de matriz energética, é mandatório transformar a nossa cultura - o que nos leva ao terceiro vetor.

O terceiro trata da cultura. Sabe-se que ela é multifacetada. No entanto, o tom reinante nas últimas décadas foi o crescimento econômico às custas dos equilíbrios do meio natural - e de valores de posse. Valores levados até o último grau. 

Estamos nos habituando a enxergar tudo como algo a ser possuído. Todas formas de vida (inclusive a humana) estão sendo monetizadas. Conhecimentos e invenções são patenteados, colocando assim uma barreira entre muitos e os meios de viver uma vida melhor. É a expressão mais forte do egoísmo. Expressão sofisticada, usando justificativas baseadas em vocábulos refinados e discursos precisos, intelectuais e cheios de dados e formas. Mas é apenas isso mesmo: forma e dados; aparências e fala. Nada de valor real. 

Possui algo se tornou sinônimo de felicidade. Sermos aceitos por alguém, um grupo; sermos considerados para participar de algo; sermos levados em consideração. Tudo isso depende do quanto temos, do que temos, e do que fazemos com isso que temos. Geralmente valoriza-se muito de coisas fúteis, abusadas até o grau de gozo máximo. Eis o sonho escondido da maioria dos seres humanos atualmente. Isso deve mudar antes que a Lei atue.

Exemplos não faltam: carros caríssimos, casas luxuosas, jantares caríssimos, roupas de marca, shoppings, eletrôncos todo semestre, cassinos, exibicionismo (até intelectual), iates, propriedades, gozos sem fim e etc. Esse desejo (=demanda do consumidor) que deve ser respeitado por todos que desejem que seu negócio prospere, é o motor da destruição das formas de vida e dos valores humanos. A culpa não é (apenas) de um governo péssimo, de um político, de um empresário, de um grupo, de uma religião, de um povo: é de toda humanidade, numa escala de débitos proporcional aàs possibilidades de cada um. 

Luiz Marques, da Unicamp, escreveu uma obra excelente que trata da questão ambiental. Se chama "Capitalismo e Colapso Ambiental". Na entrevista abaixo ele dá uma visão panorâmica da situação:

Trata-se de um trabalho sério, baseado em dados de fontes renomadas, que aborda a questão sob todos aspectos (demográfico, econômico, tecnológico, energético, ecológico e cultural), sem cair em armadilhas de formas mentais que apontam para soluções fictícias. 

Quanto à urgência energética, temos uma tabela (abaixo), elaborada a partir do estudo do livro de Nicolas Georgescu-Roegen:

Tab. 1: Vantagens e desvantagens da energia solar e terrestre.

Os pontos vermelhos apontam para uma desvantagem e os verdes para vantagens- considerando o nosso paradigma de desenvolvimento atual. 

A energia terrestre é de estoque e a solar de fluxo. Isso significa que a primeira é obtida através de depósitos formados ao longo de milhões de anos (estocado), ao passo que a segunda vem diretamente do Sol em doses pequenas (comparadas àquelas do primeiro tipo), de forma pouco concentrada. 

Conforme dito e comprovado pelas últimas projeções, a terrestre não durará por mais de algumas décadas (50~100 anos). Já a solar tem um prazo muito maior: cerca de 2 a 5 bilhões de anos - tempo em que o nosso Sol irá continuar se consumindo e irradiando como efeito disso (ele se consome por nós...).

1 ponto para a solar.

O paradigma de desenvolvimento industrial-consumista demanda potência (= energia / tempo). A energia terrestre é altamente concentrada por ter grande quantidade de energia latente conversível em outras armazenadas em pequenas quantidades de material. A solar não possui essa vantagem, pois o fluxo é constante e de baixa intensidade. É de longo prazo, mas não satisfaz nosso modelo de desenvolvimento atual.

1 ponto para a terrestre.

Por outro lado, o uso (e sobretudo abuso) de energia terrestre gera uma quantidade de gases estufa e tóxicos (dióxido de carbono, metano, monóxido de carbono, amônia, gás cloro, sulfeto de hidrogênio, etc.) que estão começando a inviabilizar a vida de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. A solar não traz essa desvantagem diretamente - nem em grau tão alto indiretamente*.

1 (terrestre) x 2 (solar)

Pelo placar, a solar ganha. Mas por que não mudamos então?

Nosso paradigma é algo enraizado em nossa cultura. O ser humano se acostumou a pensar de um modo, e acredita que sem certas coisas a vida (a sua vida) chega ao fim. É a máxima expressão de justificativa do gozo através dos discurso da sobrevivência. Mas a verdade é que não precisamos de tanto para viver bem.

A partir de um ponto, adquirir mais coisas deixa de ter sentido. Como bens e serviços estão fortemente relacionados a renda no capitalismo, é natural que dinheiro só pode trazer felicidade até certo ponto - além do qual ele se torna inútil, e até prejudicial. Veja o gráfico abaixo:

Fig. 3: A partir de uma renda, a felicidade satura. 
Para subir mais alto, há de se abraçar outro tipo de riqueza...

Trata-se de um estudo publicado pela Folha de S. Paulo - mas já realizado antes, de outras maneiras. Os resultados não divergem muito. Há claro alguns desvios nos patamares de renda (saturação) e inclinação das curvas (leves desvios). Isso depende das particularidades de cada nação e momentos. Mas a tendência geral é haver uma saturação a partir de um patamar que é razoável.

Só para dar uma ideia, segundo o economista Ladisalu Dowbor, $11 mil dólares per capita é a média de riqueza produzido pelo mundo. Aplicado para cada quatro pessoas, isso dá cerca de $11 mil reais mensais. Uma família composta geralmente de: pai, mãe e dois filhos. Como o Brasil está na média mundial de renda per capita (país de renda média), seria $11 mil reais/mês por família. Isso significa que há meios de se dar condições para todos atingirem a máxima felicidade dentro desse paradigma - o que evidentemente não é feito. Pois o Brasil se situa justamente na média mundial de renda per capita.

Fig. 4: É evidente que o problema do mundo não é a geração insuficiente de riqueza. Isso poderia
ser uma verdade em meados do séc. XIX, quando o mundo ainda produzia pouca riqueza. 
Mas hoje as coisas mudaram - e muito. 

Mas mesmo com uma igualdade maior, permanecer no mesmo modelo econômico é um beco sem saída. É necessário mudar completamente a maneira como nos relacionamos com os objetos e com nós mesmos. Por isso a mudança deve ser profunda (na cultura). E essa mudança depende de um despertar de consciência. Depende de cada um perceber a estrutura do Universo, nossa origem, nosso destino, os fenômenos em seu aspecto mais substancial. 

Estão começando a entender porque Deus, no fundo, tem a ver com tudo e com todos, a todo momento, em todos lugares e em todas épocas?

Mas como relacionar Deus e Universo com as questões quotidianas? Como inserir a espiritualidade na ecologia e na economia? Como encaixar as virtudes franciscanas com um modo de vida moderno?

Fig. 4: Passando os dizeres sagrados à aplicação adaptada aos tempos modernos

Resumindo: 

A pobreza é perceber a assíntota (Fig. 3) e se lançar para crescimento em outros planos. Buscar a evolução interior mais que a exterior - que passa  ser mera coadjuvante;

A obediência é conhecer a sua natureza, o seu papel, a sua personalidade, sua essência divina, e com isso conhecer sua função neste mundo, se enquadrando na Lei (de Deus) para estar alinhado ao fluxo de forças da Lei, que irão ajudá-lo a ascender;

A castidade é direcionar a energia, a criatividade, o tempo excedentes, não se lançando ao gozo excessivo, mas controlando-o porque se sente atração por realizar atividades mais elevadas, mais belas, mais saudáveis e que integrem você com o Universo.

E assim deixo mais uma visão profunda à disposição de quem desejar se lançar numa espiral de ascensão incrível.

Observações:

* É importante atentar para o fato de que a construção, manutenção e mesmo operação e descarte sistemas de fontes renováveis dependem das fontes não-renováveis. Logo, existe uma relação entre essas fontes. Ou seja, uma dependência mais ou menos forte (a depender do modelo de desenvolvimento e dos avanços tecnológicos) das fontes 'limpas' com as 'sujas'.

14 comentários:

  1. Também me preocupo muito com a questão ambiental. Após assistir Plastic Ocean , fiquei horrorizado com a questão do plástico no planeta. Confesso que, até hoje, sempre que vejo algo de plástico lembro do documentário. Contudo, após refletir sobre essa situação , cheguei a conclusão que as solucões desses problemas ambientais escapavam à minha parca compreensão. Que sabemos nós do dia do amanhã? A ciência e a sociedade não poderiam, no futuro, com um árduo trabalho comecar a solucionar os problemas descritos no seu artigo ? O problema ambiental é tanto do comunismo liberal da China quanto do capitalismo democrático americano. A China - berço do covid-19 (ao que tudo indica) - foi responsável pela producao e circulação de milhões de vacinas e mascaras, que contém materiais plasticos ou biodegradáveis. Eles são um dos maiores produtores de tecidos com subprodutos degradantes aos oceanos - poliéster - ao invés de usarem algodão puro, uma vez que economizam. Enfim, é um assunto de dificílima compreensão e abordagem, principalmente para nós espiritualistas, que temos mais responsabilidade ainda com o nosso planeta e com Deus, por conhecermos as leis cósmicas.

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    1. Bom dia Anônimo.

      Sim. Concrodo com isso. Mas há algumas armadilhas aí que exigem um mergulho (=integração) de tudo, o que é justamente a proposta de meu blog.
      Vamos por partes.

      "A ciência e a sociedade não poderiam, no futuro, com um árduo trabalho começar a solucionar os problemas descritos no seu artigo?"

      A questão é que o problema não está nas técnicas e métodos da ciência e tecnologia, mas na lógica da estrutura sistêmica: as diretrizes são crescimento econômico a qualqur custo. Nós já teríamos condições de eliminar a fome, reduzir as jornadas de trabalho, muitas doenças e etc., mas isso não ocorre por outros motivos.

      Muitas 'soluções verdes' apresentadas por aí são mera falácia para dar uma aparência de estarmos resolvendo o problema - mas não estamos. Por exemplo, o carro elétrico não irá resolver nem a questão da mobilidade, nem do meio ambiente, nem da desigualdade. Porque muitos itens do carro são derivados do petróleo; as baterias descartadas são um sério problema; poucas pessoas teriam acesso a esses veículos; e, acima de tudo, o transporte permaneceria ineficiente, com vias lotadas (a solução estaria mais para o transporte coletivo de massa, multimodalidades, reestruturação do meio urbano, jornadas de trabalho reduzidas, etc.). É o que Ubaldi fala de mudanças na forma, mas nenhuma na substância..

      Entenda: vivemos num mundo pautado pelo paradigma do crescimento ilimitado (à qualquer custo). Esse paradigma é fundamentalmente do sistema capitalista.

      Quero explicar melhor ainda a questão do socialismo e comunismo.

      A China não é efetivamente comunista. Se observarmos na definição formal, comunismo seria a ausência de Estado por completa. Desde o advento do Estado moderno (séc. XVII-XVIII) não há nenhuma nação que não possua um Estado que coordene (mais ou menos adequadamente o funcionamento da nação). 'Sua Voz' inclusive deixa claríssimo o papel crístico do Estado no desenvolvimento da sociedade futura (ver caps. finais).
      Por isso vejo que a transição seria antes capitalismo -> socialismo.

      Depois socialismo -> comunismo.

      Se você acompanhar todo meu histórico de artigos, verá que eu delineio muito bem o fenômeno da 'descida dos ideais' no campo coletivo.

      Esclareço que, quando uma ideia nova surge (ex.: um novo sistema político-econômico) suas primeiras implementações são muito rudimentares, dando uma falsa ideia do que ele é em sua essência.

      Vou te dar um exemplo prático para ficar mais fácil:
      Dê um software de simulação nas mãos de uma criança de 10 anos. Ela não saberá usá-lo (nem sequer acioná-lo provavelmente). E provavelmente dirá que aquilo é inútil, não serve para nada - e até lhe fez perder tempo. Agora um profissional qualificado, experiente, que já tenha domínio da ferramenta, da teoria, dos métodos, conhecendo a função e potencialidades do software, irá fazer uso maravilhoso da ferramenta, gerando resultados ótimos.
      Troque software por sistema socialista; criança por humanidade involuída; resultados ruins por experiências do séc.XX; resultados maravilhosos por resultados futuros.

      (continua...)

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    2. Acredito que o difícil de compreender na minha visão seja isso:
      a forma mental involuída plasma uma lógica sistêmica que se concretiza numa estrutura que acaba por criar instituições alinhadas com essa forma mental, trazendo todas formas de misérias que não será resolvidas mexendo na forma.
      Logo, o sistema econômico atual é produto da forma mental ainda baixa da humanidade.

      Ninguém em sã consciência iria querer retornar ao feudalismo (sistema anterior ao capitalismo). Porque o capitalismo é uma evolução enorme em relação ao feudalismo. Mas como Ubaldi afirma, o Universo é transformismo incessante. Assim como a matéria, a energia, a vida, o pensamento, os sistemas coletivos vão nascendo e morrendo. O melhor de um é deixado para o próximo iniciar seu novo ciclo. Por isso falo em 'superação' do capitalismo - e não 'subsituição'.

      O que o capitalismo tem de bom já é o germe de um mundo socialista - mas este será muito mais evoluído.
      Acredito que a propaganda deixou na cabeça das pessoas uma aversão a certas palavras. Mas creio que esse medo deva terminar. Porque com medo não se avança. Perceba: eu defino as palavras sem medo. Afirmo o que cada parte tem de bom - e rejeito aquilo que possui de ruim.

      O problema da transformação social é muito mais complexo do que se pode imaginar.

      Conforme você disse muito corretamente,

      "Enfim, é um assunto de dificílima compreensão e abordagem, principalmente para nós espiritualistas, que temos mais responsabilidade ainda com o nosso planeta e com Deus, por conhecermos as leis cósmicas."

      Mas não podemos chegar no campo político e ficarmos reféns do que nos foi apresentado durante a vida. Senão ocorre aquele problema que Ubaldi fala (mais ou menos assim): os saberes não se conversam, as religiões não se entendem, a ciência cria teorias parciais.

      O intuito do blog é esboçar uma teoria completa. Isso inclui filtrar cada relativo, capturando o bom e eliminando o ruim.
      Só mais um pensamento para ficar ainda mais claro:
      Lá pelo Séc. XV quando o capitalismo nascia e o feudalismo findava, ninguém diria que capitalismo e feudalismo seriam dois lados da mesma moeda. O capitalismo definitivamente foi uma evolução do feudalismo. Mas seu desenvolvimento poderia ter se dado de forma mais humana e - mais importante - ele precisa aceitar seu fim para que a espécie continue sua evolução numa nova forma (=sistema coletivo).

      A questão de capitalismo e feudalismo é semelhante. Estamos diante de uma nova transição.

      Não tem nada a ver com ditadura de partidos; nem com materialismo; nem com subjugar uma classe em função de outra; nem com falta de liberdade (aliás, socialismo de verdade é ampliação da democracia, valorizando todo tipo de trabalhador); nem com compartilhar sua casa ou escova de dentes e etc. Tem a ver com uma organização mais eficiente, mais democrática, mais sustentável.

      Tanto que se fala muito em eco-socialismo hoje em dia. Para mim é muito óbvio que socialismo deva englobar a questão ecológica. Aliás, qualquer sistema político-econômico precisa fazer isso - caso contrário seria o nosso fim.

      Enfim...nossa luta deve ser por integração (=unificação) de tudo.

      Creio que desentendimentos ocorrem porque não somos capazes de ver à fundo o fenômeno histórico.

      Novamente, a proposta do blog é essa: iluminar questões muito faladas com um olhar monista. =)

      Espero que esteja ficando mais claro o meu pensamento e missão neste mundo amigo.

      Eu afirmo tudo que você diz - mas pretendo afirmar mais ainda, o que pode dar uma ideia de oposição. Mas creia irmão...não é =)

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  2. Desculpe, a questão do 'capitalismo e feudalismo' seria 'capitalismo e socialismo'

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  3. A transformacão desse ultrapassado modelo economico capitalista encontra óbice na forma mental involuida. Ou seja: o mundo precisa se espiritualizar urgentemente passando a aceitar mais teorias como a da reencarnacao, do monismo, etc ? Correto? Ou considerando que a maioria é ateu ou acreditam em um Deus fantasioso, haveriamos de evoluir pela percepção de estarmos somente integrados e relacionados com a natureza ?


    E aí que entram os números. Quantos sao espíritas no mundo hoje? Bem pouco. O Brasil, maior país espírita do mundo, salvo engano tem 3% da pop. espírita. Muits pessoas acreditam em Deus, mas estao presas a formas mentais involuidas. Muitas pessoas tem repulsa instantanea a obra de Pedro, justamente por essa questao de forma mental involuida também. Só a pessoa que realmente busca a verdade, que a necessita ardentemente, pode se aproximar da obra de Pedro, não é para qualquer um. De modo que, assim como há aquele que sente repulsa por ser involuido, há o que se sente atraído pelo pensamento por ter ja qualidades de evoluido.

    A ciencia irá chegar a Deus uma hora, ha grandes evidencias disso. E depois desse momento magico, muita coisa irá mudar nesse campo do meio ambiente e sistema economico sem duvidas.

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    1. Olá Anônimo. Bom dia.

      Você: "A transformacão desse ultrapassado modelo economico capitalista encontra óbice na forma mental involuida."

      Eu: Sim Anônimo. Perfeito! É exatamente o que digo e quero dizer. As causas são íntimas - mas a compreensão interior nos levará a um sistema (externo) mais humano. Porque o espírito, desperto, deve espiritualizar a matéria (=transformação coletiva). É o monismo.

      Você: "Ou seja: o mundo precisa se espiritualizar urgentemente passando a aceitar mais teorias como a da reencarnação, do monismo, etc.? Correto?"

      Eu: Correto. Ou melhor...corretíssimo.

      Você: "Ou considerando que a maioria é ateu ou acreditam em um Deus fantasioso, haveriamos de evoluir pela percepção de estarmos somente integrados e relacionados com a natureza ?"

      Eu: Exatamente. Integrados em todos níveis, formas, momentos e circunstâncias.

      Você: "E aí que entram os números. Quantos são espíritas no mundo hoje? Bem pouco. O Brasil, maior país espírita do mundo, salvo engano tem 3% da pop. espírita. Muitas pessoas acreditam em Deus, mas estão presas a formas mentais involuídas. Muitas pessoas tem repulsa instantânea a obra de Pedro, justamente por essa questão de forma mental involuída também. Só a pessoa que realmente busca a verdade, que a necessita ardentemente, pode se aproximar da obra de Pedro, não é para qualquer um."

      Eu: É verdade. São poucos os espíritas no mundo hoje no Brasil: creio que chegam a 3,5% ou 4% se não me engano - mas é pouco de qualquer forma. A repulsão é ruim, mas ainda é algo bom, porque tem gente que passa os olhos e é completamente indiferente. Não sente nada, vendo apenas um palavreado prolixo e vazio. É triste isso. Quem reprime pelo menos quer testar a verdade...a pessoa ouve as palavras de Ubaldi e se sente (inconscientemente) desafiada. Querendo ascender, de modo baixo, primeiro ataca para testar. É uma forma de relação ainda pouco evoluída. Mas, enfim...é verdade tudo isso Anônimo (infelizmente).

      Você: "De modo que, assim como há aquele que sente repulsa por ser involuído, há o que se sente atraído pelo pensamento por ter já qualidades de evoluído."

      Eu: Perfeito!

      Você: "A ciência irá chegar a Deus uma hora, há grandes evidencias disso. E depois desse momento magico, muita coisa irá mudar nesse campo do meio ambiente e sistema econômico sem duvidas."

      Eu: Sim! É isso o que quero dizer com meu trabalho aqui amigo =)

      Quando o transformar íntimo se der numa massa crítica, isso começará a transbordar para além das fronteiras do pensamento, concretizando-se em atitudes, gestos, atos, organizações, rodas de conversa, planos de vida, projetos, movimentos orientados,..até chegar à transformação do modelo econômico e do sistema político.

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  4. A obra de Pedro é de dificil compreensão, vejo que voce traduz muito bem os conceitos dele. As vezes tenho a impressao que voce capta correntes de pensamento (noures) das quais ele falava que existiam. Eu nunca pude me aprofundar em alguns livros de Pedro. contudo me surgiu a duvida se essas noures seriam o que os espíritas chamam de espirito ? estou correto ? parece um tanto obvio, mas me surgiu essa indagacao que pode parecer infantil para voce que está sempre imerso nesses pensamentos superiores.


    Outra coisa que gostaria de compartilhar com voce e que me surgiu e que me atordoou foi ter compreendido que Pedro teve uma queda involutiva entre o séc. XVI e XVIII .. Você entendeu isso na obra Um Destino Seguindo Cristo ou Historia de um homem , salvo nao me engano? É algo surreal. Não sei se voce captou o que Pedro quis dizer, provavelmente nao, pois isso só pode ser objeto de especulacao ao ler pietro ubaldi & nazarius. Pedro reconheceu-se também como Luis XV, aquele que fez a acertada profecia de ˜depois de mim , o diluvio˜. Creio ser verdade, pois em Pietro Ubaldi & Nazarius, seu biografo Jose Amaral fala que ele se reconheceu numa celebre personagem francesa, e disse quem fosse interessado poderia pesquisar nos livros. Pesquisando eu nao achei nada de literal, pois claro Pedro sendo modesto e tendo todos os problemas do seu destino e do universo para resolver, ele não podia chamar a atencao com esse tipo de pensamento. Mas ele diz que olhou com interesse para os vestes quixotescos de Luis XV, depois fala que o Palacio de Versalhes parecia familiar, algo assim. Também chama Luis XVI de insignificante. Em verdade, pude assimilar outras coisas que "confirmariam" essa tese. Luis XV herdou o trono frances com apenas 5 anos. A maturacao intelectual de Pietro Ubaldi comeca também muito cedo. Além disso, seria um evidente caso que atesta a TTMF, correto? O próprio predo involuiu, e evoluiu, evoluindo em espiral. De uma encarnacao fortemente material, que ele chamou de ˜morte do espirito˜ em Destino seguindo cristo ou historia de um homem.

    Tudo fazia todo sentido para mim, então obtive a confirmacao dessa tese por pessoa de grande respeito, que tinha forte ligacao com Pietro por intermédio de familiar que foi tradutor da obra ubaldiana para portugues, familiar esse ainda tendo sido decisivo para vinda do mestre para o Brasil.

    Não se trata de saber quem foi quem, mas de entender a história fortemente humana que existe por tras desse espirito iluminado. Entender por que se vestiu de amarras tao grandes de pobreza e de dor. Entender muitas coisas.

    Que Deus te abencoe.

    Boa noite Leo!

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  5. Eu fico agradecido pela simpatia Anônimo. Mas não me vejo como alguém capaz de captar correntes de pensamento tão elevadas. Por exemplo...tudo que produzi na vida e aqui são palha comparado à vida e obra de Ubaldi - que nada mais fez expressar da forma mais alta o pensamento de Deus. Mas é o que eu em minha pequenez posso fazer de bom (para mim e para a sociedade).

    A gente nunca se aprofunda o suficiente quando se trata de assuntos elevados, que visem atingir o ápice em termos de integração - e por consequência orientação. Eu também estou me aprofundando nessa compreensão do que é o monismo de fato. Mesmo nós, pessoas já sensibilizadas e alinhadas com essas grandes questões, estamos aprimorando nossas vidas pessoais, nosso agir e compreender. Tudo é transformismo.

    Pelo que entendo, as noúres seriam na verdade uma fusão de pensamentos de espíritos elevados. Acontece que à medida que o ser evolui, seu campo de compreensão expande muito, se fundindo com outros campos da consciência elevados como o dele. Assim, começa a haver total identificação de pensamento, sentimento, atitudes e vivência entre espíritos elevados (elevadíssimos), de modo que seus pensamentos se tornam um só, formando uma grande corrente (noúres).

    Sim Anônimo. Eu percebi também essa queda evolutiva de Pedro. É difícil compreender como alguém como Ubaldi teve uma reencarnação passada (recente) do tipo. Ainda mais se considerarmos que ele foi o apóstolo Pedro. Fica muito difícil aceitar isso né? Eu tento pensar nas TTMF para tentar abordar a questão.

    Se o ser muito evoluído oscila muito em relação ao tipo médio (estabilizado), provavelmente essas quedas seriam consequência natural para obter impulsos fantásticos(para o positivo) adiante. Eu ainda não tenho ideia 100% formada sobre isso também. Mas a questão parece que pode ser resolvida por essa perspectiva (TTMF) - talvez quando na vida eu sentir mais forte a explicação desse fenômeno eu escreva sobre isso aqui...um tema interessantíssimo.

    "Mas ele diz que olhou com interesse para os vestes quixotescos de Luis XV, depois fala que o Palacio de Versalhes parecia familiar, algo assim. Também chama Luis XVI de insignificante."

    É. O subconsciente de cada um de nós é profundíssimo. Existem coisas nesse baú que nem imaginamos. Mas as tendências (gestos, olhares, vícios, virtudes, hábitos, modo de expressar, pensar, etc.) trazem pistas das experiências passadas. Quando emitimos opinião estamos expressando uma tara nossa (tara no sentido de atração acima da média por algo do relativo).

    "Em verdade, pude assimilar outras coisas que "confirmariam" essa tese. Luís XV herdou o trono francês com apenas 5 anos. A maturação intelectual de Pietro Ubaldi começa também muito cedo. Além disso, seria um evidente caso que atesta a TTMF, correto?"

    Muito interessante essa relação feita por ti.
    Sim, provavelmente atesta a TTMF. É uma retomada de consciência.

    "O próprio Pedro involuiu, e evoluiu, evoluindo em espiral. De uma encarnção fortemente material, que ele chamou de ˜morte do espírito˜ em Um Destino Seguindo Cristo ou História de um Homem."

    É isso mesmo. Isso que é impressionante na obra de Ubaldi. A sua vida íntima, nos mínimos detalhes, reflete (e reforça) as teorias mais sintéticas que produziu na obra, por inspiração. Por isso o grande apóstolo de Cristo fala (no livro História de um Homem) o seguinte:

    "As almas ardentes, feitas de tempestade, embora possam ter os grandes vícios e as grandes fraquezas, têm também os grandes recursos. Se elas são capazes de muito pecar, são capazes também de muito amar e muito subir." P.Ubaldi

    "Não se trata de saber quem foi quem, mas de entender a história fortemente humana que existe por tras desse espirito iluminado. Entender por que se vestiu de amarras tao grandes de pobreza e de dor. Entender muitas coisas."

    Concordo. Substância e não forma.

    Abraços fraternos caro amigo.

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  6. Grande Leo, boa noite! Tudo em ordem? Nunca mais tinha visitado o blog. Que bom que está bem movimentado! Muitos comentários anônimos muito bons.
    Tenho grandessíssimo interesse na Obra e na Vida de Ubaldi. Aquele intelecto é um verdadeiro fenômeno extraordinário da natureza. Não consigo para de lê-lo. Volta e meia, abro um dos livros, em um capítulo qualquer, e sempre fico satisfeito com a qualidade do conteúdo. Grande Homem, grande mente!

    Abraço, caro Léo. Fique com Deus! Tens um excelente conteúdo! Não pare.

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  7. Olá querido Fred! Tudo bem.
    Seu grande interesse pela vida e obra de Ubaldi é muito bom. Também nunca vi nada tão formidável em todos aspectos.

    Sem dúvida (jamais parar). A evolução não cessa nunca.

    Abraços fraternos.

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  8. O que é a "TTMF" (mencionado nos comentários acima)?

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    1. Olá Fred.
      TTMF é sigla para Trajetória Típica dos Movimentos Fenomênicos.

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