terça-feira, 21 de setembro de 2021

Do pensamento sistêmico à síntese unitária (parte 1)

O pensamento sistêmico é algo inteiramente novo em nossa civilização. Novo em termos de compreensão. Novíssimo em termos de vivência. Mas uma característica instintiva antiga, muito antiga. Algo que desde os primórdios de nossa espécie já era executado de modo inconsciente - e que hoje está sendo sistematizado, organizado e estruturado de tal forma a abordar os problemas que despontam de forma eficaz e eficiente. Trata-se de uma das principais características do Homo Sapiens. Uma qualidade que nos permitiu chegar ao domínio do planeta e, pela primeira vez, traçar nosso próprio destino de destruição ou ascensão.

Fig. 1: Razão e Sentimento; Lógica precisa e Inspiração criativa; Ciência e Arte; Análise e SínteseComo tudo no Universo, o cérebro também apresenta dualidade. Mas os opostos devem colaborar entre si para se auto-reforçarem. Assim o cientista se torna inspirado e expressivo - e o artista se torna científico e lógico.  Figura: https://idosos.com.br/remedios-para-tratar-a-depressao/

Há seres que são usinas de ideias, potência de expressão, caldeirão de criatividade e elevação de sentimento. São os gênios de todos os campos e tipos: artistas, cientistas, inventores, chefes, líderes, místicos, pensadores, heróis. Esses expoentes construíram o seu próprio destino, com exercícios de maturação e experimentação ousada que perpassam os milênios. 

Uma existência não basta. Uma experiência pessoal não é suficiente. Um ponto de vista, insuficiente. É preciso ir além. E para rasgar o véu que estabelece os limites da coragem e da criatividade, imperativo é fazer o melhor uso daquilo que foi dado à nossa espécie - e daquilo que foi árduamente conquistado pelo esforço individual. 

Desde a nossa origem (aprox. 150 mil anos a.C.) até o início da Revolução Agrícola (10.000 a.C.), passamos de um pequeno aglomerados de criaturas fracas e indefesas, sem nenhuma característica que nos permitisse nos afirmar no mundo, na África Central, até uma comunidade espalhada pelos quatro cantos do planeta, dominando as intempéries e as espécies - e destruindo toda forma de vida que ameaçasse diretamente nossa existência. Tamanha eficiência em propagar nossa espécie se deve a algo mais do que o domínio do fogo, de um caminhar erecto ou de processos digestivos mais aptos a fornecerem mais energia ao sistema nervoso - que pôde se desenvolver mais.

Segundo o historiador israelense Yuval N. Harari [1], há 70 mil anos começamos a fazer coisas que nos destacaram muito de nossos semelhantes (do gênero Homo, os Neanderthais e Erectus): inventamos coisas inimagináveis até então que permitiram o início do domínio do planeta. Esse domínio via difusão geográfica seria o primeiro passo para o domínio total (e perigoso) que exercemos nos tempos atuais.

Fig. 2: A expansão do Homo Sapiens pelo globo foi rápida e definitiva. 
O que causou essa proliferação? O que consolidou nossa espécie?
Fonte: [1]

Diz Harari que, entre 70 mil e 30 mil anos atrás, testemunhamos a invenção de lâmpadas a óleo, barcos, flechas, agulhas e diversos aparatos. Os primeiro objetos dignos de serem rotulados de arte surgem nesse período; a estratificação social surge (divisão de classes); o comércio desponta (economia rudimentar); o senso de continuidade da existência após a morte, de um criador, de um poder central, se traduz nos túmulos, nos rituais fúnebres e nas religiões. Estavam sendo fincadas as bases para o surgimento de civilizações. 

A maioria dos pesquisadores explica esses avanços devido ao aumento das habilidades cognitivas. Um aumento que teria sido uma verdadeira revolução: a Revolução Cognitiva, nas palavras de Harari. 

Não se sabe ao certo o que causou essa revolução. Os fatores determinantes continuam um mistério. A antropologia e biologia apontam para um acaso. No entanto, num universo regido por um princípio único que se manifesta através de várias leis, sabemos que o acaso é apenas uma interpretação que damos devido à nossa incapacidade de abarcar um fenômeno em todos seus momentos - da gênese até o desfecho. Logo, existe uma causa. E essa causa reside nos princípios do psiquismo, que rege a evolução das formas.

Em A Grande Síntese é construída a linha de continuidade que estabelece uma íntima relação causal entre psiquismo, função é órgão:

"Também no campo psíquico, a função cria o órgão, que, neste caso, é constituído pelos hábitos e qualidades. Com o constante exercício, surge imperceptivelmente a nova característica, que afinal se estabiliza com nitidez." 

AGS, Cap. LXI 

Então podemos casar o trabalho do historiador israelense (efeitos) com a revelação de Sua Voz, captada por Ubaldi (causa), consolidando o princípio de uma verdadeira Teoria Unificada e Aplicada

"Assim vão sendo gradualmente fixadas as conquistas realizadas pela evolução, que, desenvolvendo seus princípios, distinguindo-os e multiplicando os por diferenciação, opera no mundo dos efeitos uma verdadeira criação. Mas é sempre o absoluto que se manifesta no relativo; a causa única que se multiplica em seus efeitos. Nascerão então órgãos e instintos, novas funções e novas capacidades." 

AGS, Cap. LXI  (grifos meus)

Todo esse princípio que cria funções novas, que se plasmam em órgãos capazes de executá-las, tem uma finalidade. Qual seria ela?

Sabe-se que o homem é um animal social. Essa característica reside em seu âmago, de modo que só podemos buscar explicação para esse fato mergulhando em sua essência. Oras, se naturalmente nos socializamos (de um modo ou de outro, mesmo vivendo isoladamente), isso significa que existe uma necessidade...um ganho com essa associação, em que múltiplos elementos diferenciados criam algo diferente, que traz vantagens gerais para o grupo - e vantagens particulares para cada pessoa. 

Exemplo: pagar impostos. 

Custo: pagar uma quantia de seus rendimentos a uma entidade (Estado) .

Benefícios: financiar serviços de interesse universal (mesmo que alguns não reconheçam); garantir a todos acesso a eles, e com um mínimo de qualidade, de tal modo que a pessoa possa dedicar mais tempo, energia e criatividade em questões mais específicas, potenciando sua qualidade de vida e produtividade no trabalho.

A questão que cada um pode fazer a si mesmo é: Uma sociedade que se pretende desenvolvida pode funcionar sem um sistema de coleta e distribuição ordenada de recursos? Procure exemplos disso na História e ficará claro que se trata de um progresso.

A questão das quantias coletadas de cada segmento, do tipo de distribuição, dos setores a serem priorizados, das variações momentâneas (ex.:época de emergências), é um tópico importante, mas secundário. O ponto aqui é a importância capital da tributação. 

Então nossa sociabilidade permite chegar à criação de um sistema tributário, por exemplo. Que potencia as capacidades do corpo coletivo, primeiramente; e aumenta a qualidade de vida das famílias, posteriormente. A primeira finalidade desse sistema foi financiar guerras; depois, se tornou em possuir domínio econômico e tecnológico; e logo adiante, também controlar setores e a informação. Em meio a esse progredir de astúcia, nasce o senso moral, inicialmente de superfície, de justiça social. A vida do povo começa a ser digna de ser vivida. O século XX, em meio a tantas catástrofes, trouxe em seu seio o os princípios de uma nova civilização. Em pouco tempo a criação dos gênios começa a ser canalizada de forma a trazer mais benefícios coletivos. E assim a humanidade caminha, tornando os caminhos menos árduos, sem sabê-lo.

Voltemos a Harari.

A cooperação é essencial para o crescimento do grupo (quantidade dos membros e qualidade das relações). Mas além disso (e mais importante, segundo Harari), o que nos distingue de todas outras espécies é criarmos histórias de coisas que não existem:

"Muito provavelmente, tanto a teoria da fofoca quanto a teoria do leão perto do rio são válidas. Mas a característica verdadeiramente única da nossa linguagem não é sua capacidade de transmitir informações sobre homens e leões. É a capacidade de transmitir informações sobre coisas que não existem. Até onde sabemos, só os sapiens podem falar sobre tipos e mais tipos de entidades que nunca viram, tocaram ou cheiraram." 

Sapiens: uma breve história da humanidade. Parte 1, Cap. 2. (grifos meus)

 Aqui uma ressalva:

"...que nunca viram, tocaram ou cheiraram" no relativo. No Anti-Sistema. Mas que, do ponto de vista do Absoluto (Sistema), já 'viram', 'tocaram' e 'cheiraram'. E é justamente por essa memória longínqua de um universo ideal, em que todos possuíam uma perfeição (uma perfeição perdida), que nós podemos falar sobre coisas 'inexistentes'.

Nada que não esteja no ser em estado latente (potencial) pode ser realizado (transformado e formado). (ver primeira referência com grifos).

É o ideal que nos move. Sempre foi e sempre será assim. E o ideal é ficção até o momento de realização completa. Por isso é preciso insistir. Mas ideal não é uma fantasia. É uma realidade que está soterrada no âmago do espírito. A fantasia, por outro lado, é um interesse egoísta calcado em sensações transitórias que tende a causar males (câncer, desentendimentos, guerras, crimes, fome, etc.). 

A construção da intersubjetividade é um passo na conquista da dimensão consciência. Todo esse processo de conquista é um lento desenrolar. É uma trajetória de potência crescente, de massas, que arrasta povos e funde-os - inicialmente via guerras e abusos, posteriormente via astúcias econômicas e propagandísticas, até um intercâmbio de conhecimento, com troca de experiências e interação de afetos. É com o homem que desponta a razão que permite interpretar a realidade de um modo completamente diferente, que vai além do mundo sensório, criando ideias no plano extra-físico. E com isso surge a necessidade do uso de símbolos que apontem para essas ideias. É preciso comunicá-las, reordená-las, associá-las, numa linguagem apropriada ao conceito que se capturou, para que haja um dinamismo intenso na interação. Esse oscilar causado por intercâmbios constrói a grande escada ascensional, que nas fases primitivas se dá através de sangue e suor, mas que no futuro se dará através de uma alegre colaboração.

O pensamento sistêmico é, portanto, algo muito antigo. Mas a compreensão dele - sua sistematização e classificação dos diversos aspectos, sua aplicação nos diversos ramos do saber - é algo muito recente: é no século XX que Ludwig von Bertalanffy criou a Teoria Geral de Sistemas. Esse indivíduo começou a perceber a importância de estruturarmos nosso mundo do trabalho e estudos e pesquisa de um modo completamente novo, pautado por uma visão sistêmica das coisas:

"Bertalanffy fez os seus estudos em biologia e interessou-se desde cedo pelos organismos e pelos problemas do crescimento.

Os seus trabalhos iniciais datam dos anos 20 e são sobre a abordagem orgânica. Com efeito, Bertalanffy não concordava com a visão cartesiana do universo. Colocou então uma abordagem orgânica da biologia e tentou fazer aceitar a ideia de que o organismo é um todo maior que a soma das suas partes.

Criticou a visão de que o mundo é dividido em diferentes áreas, como física, química, biologia, psicologia, etc. Ao contrário, sugeria que se deve estudar sistemas globalmente, de forma a envolver todas as suas interdependências, pois cada um dos elementos, ao serem reunidos para constituir uma unidade funcional maior, desenvolvem qualidades que não se encontram em seus componentes isolados."

Fonte: [3] (grifos meus)

A partir desse impulso foram surgindo vários ramos da ciência de sistemas. Esses ramos aplicam, cada um a seu modo, com sua linguagem, metodologia e objetivo, os princípios sistêmicos em seu campo de pesquisa. 

Cada área do conhecimento já possuía em si as evidências que apontavam para os princípios contidos na Teoria Geral de Sistemas. As ferramentas eram adaptáveis a esse contexto maior; os métodos, em sua maioria, poderiam ser aproveitados; o conhecimento de cada especialista, ganhar novo significado. Bastava uma orientação geral, mais vasta, capaz de compreender o fenômeno em seu âmago e a partir de causas profundas extrair uma linha de continuidade até os efeitos. Isso dá ao grupo uma visão mais profunda do que significa o fenômeno que é objeto de pesquisa. Os experimentos passam a ser organizados mais coerentemente. E desperdícios (antes vistos como atos importantíssimos) passam a ser reduzidos - se não eliminados. 

Existe uma classificação dos sistemas que irei abordar, apenas a título de revelar o quão abrangente é o campo:

  • Biológico
  • Anatômico
  • Ecológico
  • Sistemas vivos
  • Sistemas conceptuais
  • Acoplamento humano-ambiente
  • Econômico
  • Energético
  • Informacional
  • Legal
  • Multi-agente
  • Não-linear
  • Operacional
  • Planetário
  • Político
  • Social
  • Etc.

Cada campo possui uma abordagem. Mas todos se norteiam por um princípio. Esse princípio é universal. Ele é portanto de interesse de todos, a todo momento.

O vídeo abaixo, do canal Kurzgesagt – In a Nutshell dá uma ideia central em ciência de sistemas, que é justamente o conceito de emergência - que no título foi muito bem exemplificado como o modo como coisas estúpidas acabam por se tornarem inteligentes se jungidas de uma maneira específica. Trata-se de relação entre as partes.


Compreendido esse tipo de ciência nova podemos facilmente chegar à visão unitária do ser humano e do Universo. 

Basta desenvolver o conceito até suas últimas consequências.

Referências

[1] HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. L&PM Pocket. 2018. 

[2] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese. 1937.

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_von_Bertalanffy

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Dos Mitos da Criação à Visão Unitária do Universo [PALESTRA]

Palestra realizada em 16.09.2021 de forma remota.

Objetivo: apresentar de forma audiovisual a odisséia humana em busca da unificação dos conceitos, das teorias, dos povos, baseado em referências renomadas, tendo por norte o monismo de Pietro Ubaldi.

Essa palestra é apenas o início de um projeto de grande envergadura que tenho em mente. À medida que esse ousado plano for tomando forma, 



sábado, 11 de setembro de 2021

Economia do colapso

Nosso sistema econômico fracassou. Basta ter olhos para ver: os resultados são evidentes. 

Fig.1: Forças imponderáveis dirigem a História. Na superfície julgamos ter o controle das coisas. 
Mas quem crê nisso se ilude. No final das contas, apenas quem percebe a Lei é capaz de conduzir sua vida da melhor maneira. Esse ser obedece ao único Patrão de verdade: Deus.

Nossa civilização é incapaz de lidar com um vírus. Por quê? Simplesmente pelo fato de não termos desenvolvido as estruturas adequadas para enfrentar as ameaças - criadas pelo nosso próprio modo de existir como espécie. 

Que estruturas (ou lógicas sistêmicas) seriam essas?

Tudo aquilo que garante a todo ser humano um fluxo contínuo de bens e serviços essenciais à vida e ao desenvolvimento psíquico:

  • Saúde universal de qualidade;
  • Creches e cuidado infantil;
  • Aposentadoria;
  • Pensão;
  • Renda universal;
  • Mobilidade urbana multimodal;
  • Matriz energética predominantemente renovável;
  • Saneamento básico;
  • Agricultura orgânica;
  • Moradias decentes para todos;
  • Centros de pesquisa;
  • Segurança alimentar;
  • Acesso à cultura;
  • Democratização dos meios de comunicação;
  • Etc.
Eu poderia continuar. Mas já é possível ver o quadro. Nós não temos uma nação no planeta que seja capaz de atender a todas essas necessidades sem de alguma maneira (direta / indireta) levar vantagem sobre algum ponto do planeta, sugando seus recursos - sejam eles materiais, energéticos, biológicos, financeiros, humanos ou culturais.

Claro: alguns países se saíram mais ou menos bem nessa busca por um modelo mais humano, mais decente. A Noruega, por exemplo. Ou a Dinamarca. Ou a Islândia. Ou algum país nessa linha. Mas se trata de um modelo particular, incompleto, que apesar de tudo depende do mundo e sofre os efeitos da economia global - mesmo que isso reflita de modo mais amortecido e lento. 

É incompleto porque não fornece os serviços essenciais públicos em toda sua plenitude, por melhor que sejam. Basta viver um certo tempo num dos países citados como menos ruins e perceber-se-á (tendo um certo grau de consciência de profundidade) que não foi atingido o ponto máximo de organização humana. Digo mais: a questão da interconexão geopolítica, climática e ecológica se faz tão evidente nos dias atuais que o fracasso da média planetária significa uma queda no abismo de todos os povos e suas economias - alguns antes, outros depois; uns de forma mais dolorosa, outros menos...mas a queda é geral e dura.

Nos acostumamos com a ideia de que qualquer um (especialmente aquele que não faz parte de nosso grupo, ideologia, raça, nação e coisas do tipo), para sobreviver, isto é, ter acesso às necessidades básicas da vida, deve doar todo seu tempo, energia e criatividade para satisfazer o interesse de quem domina. Domínio ontem exercido pela força, e hoje pela astúcia. E a narrativa para justificar toda essa extração desmedida é simples: deve-se merecer para obter.

Está tudo muito bem costurado. Qualquer um numa posição de domínio, por menor que seja, tende a apelar para as grandes afirmações das Escrituras Sagradas, chispas, de luz de Iluminados encravadas no papel. Verdades profundas inabaláveis que se propagam pela esteira do tempo, como uma onda empolgante, que inspira e arrasta. O problema é que as afirmações contém apenas a Grande Verdade - mas não os caminhos que relacionem o Absoluto com o mais concreto relativo. E nesse caminho relacional (Absoluto-relativo), a criatura escolhe aquele de maior interesse para ele. 

É preciso ter em mente que sempre foram feitas muitas coisas maléficas a partir da bandeira de verdades universais e admiradas. E muitos males se sustentam por anos, décadas e séculos (até milênios) porque o ser humano não é capaz de compreender à fundo a fenomenologia universal. Assim o mal se perpetua e ninguém consegue explicar os porquês. Não sabendo os porquês, os métodos de solução se perdem no labirinto do intelecto e do individualismo, e por conseguinte não resolvem. 

Fig.2: Adquirir um pensamento sistêmico seria o primeiro passo para as pessoas a se integrarem. 
Mas isso por si só não basta: é preciso sentir o aspecto sistêmico do universo.
 E finalmente, o aspecto unitário (monismo), que se traduz em perceber o telefinalismo do ser.
Fonte: [2]

Umair Haque é um escritor e economista que me interessa muito. Ele enxerga muito bem a falência de nossa forma mental no campo coletivo. Um de seus últimos artigos trata justamente da questão do colapso [1]. Em suma, a própria Ciência Econômica explica porque nossa civilização irá entrar em colapso - se não agirmos pra valer nessa década. 

Vou trazer aqui alguns conceitos elementares de economia para dar uma ideia da insanidade da mentalidade do tipo-médio.

Segundo Umair, existem três pontos vitais na condução de uma economia:

1º) A relação Consumo-Investimento;

2º) O tipo de investimento: se para utilidades ou inutilidades;

3º) O tipo de distribuição: se equitativa ou desigual.

Uma civilização que consuma mais do que investe não terá futuro. Além disso, à medida que ela se aproxima de seu término o convívio entre seus elementos ficará cada vez mais tenso, doloroso e mortal. É possível perceber isso hoje em dia com a ascensão do fascismo em vários pontos do globo; com a desintegração das famílias; com as altas taxas de suicídio; com o elogio à imbecilidade; com a superficialidade nas relações; com a incapacidade de síntese. 

A economia global é 75% consumo e 25% investimento. Isto é, consumimos três vezes mais do que investimos. Para ser sustentável, essa relação deveria ser 1:1. E a nação com a maior economia do globo, mais influente (devido ao baixo grau de consciência coletivo), puxa a média para baixo: os EUA são 80% consumo, 20% investimento. E com isso fica coroado a falência do modelo econômico hodierno. 

Consumir é importante e necessário, sim. No entanto, ele deve estar pareado com a capacidade de investir. E investir significa tudo que dará frutos no futuro, seja ele próximo ou distante. É a possibilidade de continuar o desenvolvimento humano. De abrir brechas para tentarmos coisas novas, que nos elevem para um patamar de vida mais digno, com maiores realizações em todos campos: arte, ciência, religião, filosofia, administração, afeto,...Ou seja, investir e consumir são dois lados de uma mesma moeda - que aponta para evolução. Elas precisam estar em equilíbrio.

Podemos até ter um nível de investimento maior do que o de consumo (ex.: China, com proporção 70:30). Mas isso pode ser prejudicial para a sociedade, que poderia ter melhores condições básicas de vida. A Europa, no geral, tem um equilíbrio (50:50), e isso se reflete no grau de qualidade de vida que as famílias possuem. Pergunte a qualquer pessoa sã onde ela prefere viver, trabalhar e criar uma família: nos EUA, na Europa ou na China? (estou falando em motivos concretos, de estruturas sistêmicas, e não em termos de afinidades amorosas ou culturais)

Fig.3: Três aspectos para avaliar a sustentabilidade e eficiência de uma economia. Em balões rosa as percentagens
ideais das quantias a serem direcionadas.
Fonte: Produção do autor. Baseado em: [1]

No entanto, essa não é a solução completa (proporção C-I saudável). É preciso que o investimento seja em coisas úteis, isto é, que gerem riqueza.

Riqueza é tudo aquilo que é útil no presente - ou poderá sê-lo no futuro. Frutas, grãos, escolas, laboratórios, hospitais, teorias, livros, filmes (bons!), músicas (decentes!), artigos, projetos, máquinas (construtivas!), etc. 

Aplicativos que alienam e segregam não são úteis; tampouco livros permeados de ódio e mal escritos, músicas que afloram os instintos, mísseis, tanques, armas; ideias emborcadas; e tudo nessa linha. 

Falo de utilidade em seu sentido mais amplo, universal, extrapolando os limites do utilitarismo econômico. Afirmo um utilitarismo vital, que perpassa o nível do concreto, adentrando no campo do intelecto, do sentimento e - mais alto - do espírito, situado no abstrato. 

Nesse quesito até a rica e idosa Europa decai. Quantas pessoas não são reféns de acessórios que mais travam a inspiração do que a liberam? Quantos não podem ir além por estarem ofuscados por obrigações e métodos que aprenderam a buscar e segurar? Nesse campo o mundo todo cai ainda mais um pouco...se aproximando do fundo do poço...

Mas ainda não acabaram as análises econômicas: resta a questão da distribuição. Nesse quesito algumas nações se recuperam um pouco. Mas como já foi dito, o que interessa - para a sobrevivência de todos como civilização minimamente decente - é a média global. E com isso antevê-se a ruína. 

O nível de desigualdade no mundo cresce. O acesso aos meios básicos de vida exigem peripécias infindáveis e inumeráveis de todos. Uma humilhação perpétua para poder comer, beber, deitar...Sempre sob a alegação de que devemos dar duro antes de merecermos algo. E os fatos saltam aos olhos: há algo de errado, apesar das grandes narrativas da mídia. Há algo que a humanidade (ainda) não foi capaz de captar. Algo de essencial...para sua sobrevivência como civilização...

E ainda eu colocaria um quarto fator: o arranjo sistêmico.

Podemos fazer mais para todos (em termos de qualidade e quantidade) simplesmente com uma organização sistêmica que gere sinergia. É uma questão de relação mais do que de técnica. De como usar o que se tem - e não criar novos elementos para solucionar desarranjos funcionais. 

Eu falo sobre essa questão em meus cursos. Naqueles mais técnicos, de modo mais indireto. Nos mais sistêmicos e filosóficos, de modo mais direto. Tudo adaptado ao contexto, claro. Mas a transmissão ocorre a todo momento, em todo lugar, de forma cada vez mais majestosa, segura e criativa. 

O arranjo sistêmico trata justamente de procurar meios de nos organizarmos de modo mais inteligente com o que já temos - em termos de conhecimento, tecnologia, habilidades e cultura. Mas para isso ocorrer é necessário estarmos de acordo em pontos fundamentais. 

Que pontos seriam esses?

Precisamos partir das mesmas premissas (princípios norteadores) e desejar os mesmos fins (meta suprema). Devemos ser sinceros quando afirmamos algo. Não podemos mais falar em ecologia e igualdade e progresso e etc. da boca para fora e na prática nos colocarmos à serviço de uma lógica que vai contra tudo isso (mesmo que disfarçadamente, de forma muito elegante). É preciso começar a pensar, a refletir; a não ter medo de sentir e conviver com a dor.

Não há uma fórmula mágica. Nem uma receita complexa, acessível a poucos. É só uma questão de maturação interior.

Percebendo isso começamos a caminhar de verdade.

É isso.

Referências:

[1] https://eand.co/why-economics-says-our-civilization-is-going-to-collapse-b3bc6fc8973e

[2] https://gestaosistemica.files.wordpress.com/2011/02/roda-do-pensamento-sistemico1.jpg

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

A cultura que melhor representa o Anti-Sistema

Nosso planeta é sem dúvida um mundo de expiação e provas. Os fatos dizem isso em alto e bom tom. Basta olharmos à nossa volta e percebermos as coisas: as instituições são ineficientes; as religiões se fecharam em práticas engessadas e engessantes, negando a diversidade que o mundo apresenta e as outras crenças; a ciência teima em reproduzir seus métodos, remastigar velhos conceitos na esperança de que brote, por um acaso, uma nova descoberta que irá resolver todos os problemas; as filosofias se fecharam em bolhas de eruditismo frio, com pensadores que sofisticam sem intenção de aprofundar; a arte (a verdadeira) está afogada num oceano de interesses comerciais, se manifestando e surtindo efeito em poucas almas; o paradigma econômico sufoca o planeta e corrói as relações sociais - e com isso o sistema político desmorona, incapaz de gerar um modelo. 

Fig.1: A desintegração do modo de vida atual já começou. Há povos que, por estarem demasiadamente 
seduzidos pelo materialismo e pelo individualismo (ou um falso coletivismo), irão embarcar até o fim nessa empreitada. 
Não cabe aos pequenos seguir os reis do mundo - mas criar novas formas de vida. Novos conceitos. Novos valores...
Fonte: Image Credit Wallpapers Wide

O roteiro para sair desse lodaçal já foi dado: o Evangelho. No entanto, a mente moderna se tornou assaz astuta para perceber verdades que o inocente benévolo era incapaz de assimilar. Há claras vantagens em argumentar, ter boa capacidade comunicativa, possuir raciocínio lógico desenvolvido, de sistematizar, de aplicar o método científico. Isso não se questiona. No entanto, esse conjunto de habilidades, por si só, são impotentes diante do desafio que emerge: unificar a humanidade para que esta siga a senda evolutiva. Mas convencer o homem moderno a ter bom senso, - isto é, seguir os ensinamentos do Cristo - se tornou necessário mostrar a ele, usando a linguagem moderna, mostrar no detalhe, fazendo uso de lógica e ciência. Eis que surge A Grande Síntese.

Em relação aquilo que o mundo valoriza, estamos nos antípodas. 

É preciso que a humanidade saia desse lodaçal em que se colocou. E para isso não basta ter uma obra completa que sintetize não apenas todo conhecimento humano, mas toda a fenomenologia universal: é imperativo que as pessoas façam a sua parte - ou seja, corram atrás do conhecimento.

Quanto tempo é perdido com inutilidades porque não se possui orientação para as grandes questões da vida! Os trabalhos deste mundo se tornam improfícuos à medida que um tende a anular o outro. Interesses contraditórios, premissa desagregadora...Só aquele que enxerga a essência das coisas percebe. E com isso a dor não cessa, sempre assumindo novas formas. E o ser imaturo, perdido e com medo, incerto e raivoso, repete velhos métodos, reage, goza e sofre sem jamais imaginar a grande Lei que tudo arrasta e coordena. 

Nesse mundo de expiações e provas há povos distintos. Cada nação possui seu sistema político (mais ou menos democrático), seu sistema econômico (mais ou menos igualitário), sua cultura (cada qual representando um átimo da cultura humana), sua história e suas metas; seus conflitos e seus anseios; seu poder e sua impotência. E pode-se dizer que uma está ligeiramente mais avançada do que a outra em vários termos - apesar das mais evoluídas ainda estarem distantes de uma organização realmente digna de uma nova civilização. 

O que possuímos em nosso mundo são ilhas de desenvolvimento humano. Ilhas que apesar disso estão incompletas em suas formulações. Poderíamos elencar países que atingiram alto grau de desenvolvimento humano (IDH), muita igualdade (baixo índice de Gini) e tem um povo sintonizado com um modo de vida mais sustentável, ditado por relações mais leves, pensamento mais claro e condições para desenvolver o espírito. São poucos. E apesar de vacâncias (ex.: uma falta de visão do esquema geral, de Deus e sua Lei, sentimento mais caloroso), possuem muitos elementos que servem de base para pensarmos em como seria uma nova civilização. Esses são países do AS que estão querendo sair do AS, buscando inconscientemente formas de organização mais inteligentes.

Por outro lado existem países que estão no AS e amplificam a essência do AS. Essas nações pecam por possuir muita riqueza, muitas condições, e ainda assim não são capazes de dar um mínimo de qualidade de vida a seus cidadãos. São ágeis porém são carentes de reflexão; negociam mas não sabem viver; são práticos mas sua superficialidade enoja e enjoa. Há um país que capitaneia o aprofundamento no AS. Esse país é os EUA.

Não venho aqui desprezar as imensas contribuições de uma nação, que o nosso mundo deve abraçar. Houveram muitas contribuições do modelo estadunidense que o mundo abraçou em alguma medida. No entanto seus valores se perderam. 

Vejamos a sensação de Pietro Ubaldi ao viajar durante seis meses nessa grande nação, em explosiva expansão na época

"Logo após ser diplomado, demorou-se alguns meses nos Estados Unidos da América, o qual percorreu até à Califórnia, visitando todas as suas belezas naturais, realmente grandiosas. Nada mais viu além disso. Achou as cidades monótonas. A linguagem, os costumes, a maneira de vestir, tudo era estandardizado de um oceano a outro. Um mundo rico de recursos, de espaço e de dólares. Mas, do ponto de vista intelectual, era um mundo pueril diante da Europa."

História de Um Homem, Cap. VII (grifos meus)

Isso porque a Europa, de acordo com as descrições do autor em toda sua obra, está longe de ser um paraíso.

Trata-se de uma nação em que o significado mais profundo, minimamente reconhecido em outros povos, é eliminado das relações sociais e familiares. Uma cultura centrada no consumo, na rapidez e na grandeza espacial. Que devido a essas características acaba forjando sistemas adequados a esse estado vibratório. 

Uma economia cujas relações (80% delas) sejam de consumo é uma economia centrada no 'comprar cada vez mais, a qualquer custo', no 'se endividar'. Na Europa esse índice é 50%. Na China, 30% [1]

Não é preciso fazer muito esforço para nos darmos conta do quão desagregador é o modus operandi estadunidense. Basta coletarmos dados e estabelecermos comparações entre o que se deseja e o que se obtém. Creio que a questão central aqui é o de bem público

Bens públicos representam o maior avanço em toda história de nossa espécie. E ele se deu nos últimos cem anos. 

"Bens públicos são todos os bens móveis ou imóveis pertencentes às pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações públicas)."

Fonte: [2]

Bens públicos estão para algo o que chamo de sociedade socialista, em que várias questões que são ramificações de eixos centrais (ex.: matriz energética, estradas, portos, hospitais, universidades) pode ou não ser dirigido / coordenado pelo Estado - e sim pela população. O que impera é a sociedade. As comunidades. Os grupos comunitários. Os conselhos das comunidades são deliberativos, isto é, eles decidem o que será feito. É lei. O Estado é central como organismo genético dos processos e sustentador dos princípios - mas não é objeto de uso para fins particulares de grandes conglomerados. Para mais detalhes, ler capítulos 97 e 98 de A Grande Síntese.

Para haver uma nação estruturada de tal forma, é imperativo um povo com grau de consciência capaz de forjar relações construtivas que apontem para uma organização inteligente. Isso significa superar paradigmas incessantemente, nas conversas, nos conflitos, no ato de realizar os trabalhos (e criá-los), nos modos de perceber e sentir. 

Vamos voltar à nação que melhor representa o AS aqui na Terra. 

Fazendo uma pesquisa na internet é muito evidente o baixo nível dos indicadores estadunidenses [3, 4]. Com gráficos fica mais evidente [5]. Podemos continuar, mas creio que partindo desse ponto serão encontrados dados que reforcem os argumentos expostos.

O aspecto mais gritante é a desigualdade. A partir dela se desdobram mazelas que reflete em todos setores:

  • Sistema de saúde
  • Gastos militares
  • Legislação trabalhista
  • Previdência
  • Distribuição de renda
  • Educação
  • Violência
  • Concentração de patrimônio
  • Etc..
Lembrem-se: igualdade não é nivelar todos num mesmo patamar - mas garantir que os tipos evolutivamente mais adiantados, dispostos a desenvolver seu potencial e transbordar suas obras para a a sociedade, tenham condições para isso.

Igualdade é:
diferenciar as subjetividades na vertical evolutiva, valorizando as criações inspiradas pelo espírito - e equalizar as condições indispensáveis à vida digna, conforme as condições produtivas permitam.

Outra questão aqui é o escapismos aos quais nos acostumamos. E aqui não podemos colocar a culpa num único país, mas em toda nossa espécie. 

"People brush off the climate crisis to justify their comfortable lifestyles. We are guided by a merciless economic system that preaches the virtues of materialism and individualism. We are far too narcissistic and accommodated to accept that we are provoking our own extinction."

Fonte: [6]

"Pessoas correm da crise climática para justificar seus modos de vida confortáveis. Somos guiados por um sistema econômico desapiedado que prega que as virtudes do materialismo e do individualismo. Nós somos muito narcisistas e acomodados para aceitar que estamos causando nossa própria extinção." 

Tradução do autor

Uma atitude de liderança exemplar seria encabeçar o processo de (tentativa de) frenagem e preparação para o que está por vir. Nesse aspecto os EUA tem a maior parcela de culpa. 

Quem mais consome e exalta a cultura do consumo deve ser mais responsável. A Lei de Deus é diferenciada na hora do julgamento definitivo, além do alcance de nossa compreensão. Ela diferencia na substância para que a justiça seja feita.

E coroando esse ensaio, podemos mostrar o quão insano é uma sociedade através de suas reações a mudanças profundas que se aproximam: trata-se da turma que se prepara para o fim do mundo [7]. As ideias são tão absurdamente limitadas, incoerentes e egoístas que a utilidade de tantos planejamentos (ex.: bunkers artificiais, treino com armas, como lidar com um inimigo, etc.) é mais revelar a forma mental de uma sociedade doente em sua maioria.

Se a reação às catástrofes vêm dessa forma, de nada adianta o esforço em implementar os planos de salvação. Salvação sempre individual e às custas dos outros. Salvação que ignora (não reconhece) o mal que a forma mental hodierna fez e faz às outras formas de vida. Salvação que não é salvação, mas perdição. 

Estamos no AS e não devemos admirar a nação que melhor a representa, mas orar por ela e tratá-la como um enfermo muito debilitado. 

A salvação não virá de quem é mais famoso, rico, forte, ágil ou astuto.

Ela virá de quem se sintonizar com a intimidade do fenômeno evolutivo, alinhando suas vibrações com a vibração de um plano superior.

Referências:

[1] https://eand.co/the-age-of-cheap-stuff-is-over-36d2ae9101c8

[2] https://www.institutoformula.com.br/direito-administrativo-classificacao-dos-bens-publicos/#:~:text=Bens%20p%C3%BAblicos%20s%C3%A3o%20todos%20os,respectivas%20autarquias%20e%20funda%C3%A7%C3%B5es%20p%C3%BAblicas)

[3] https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42076223

[4] https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53562958

[5] https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2020/10/eua-contradicoes-da-maior-economia-do-mundo-em-5-graficos.html

[6] https://medium.com/bigger-picture/are-humans-going-extinct-e634750bc80f

[7] https://jessicalexicus.medium.com/a-few-things-ive-learned-from-watching-doomsday-preppers-a8008da53583