sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Positividade calcada na Realidade

Fala-se muito em ser positivo. De fato, é preciso que nosso agir esteja enraizado numa positividade. Apresentar alternativas ao modelo predominante. A práticas velhas, em desuso. A leis não mais adequadas. Etc. No entanto de pouco adianta uma postura positiva apoiada no terreno movediço das ilusões. É preciso antes uma negatividade áspera e incisiva, que negue o mundo mas o enxergue em sua profundidade instintiva. Em sua natureza mais verídica. É a partir desse abismo que pode-se falar em construção de positividade. Sustentável em seu aspecto de jornada; Equitativa em sua dinamicidade; Inclusiva em seu aspecto de universalidade. 

A onda só se propaga se há a queda da gota num ponto.
Ela dinamiza o entorno. Energia se propaga. A matéria
não se move. Qual seria o equivalente no campo do
pensamento?
Para chegar à luz é preciso antes ter atravessado um longo túnel de escuridão, cheio de monstros e dores que atormentam a alma. Não apenas atravessar, mas chegar ao fim de cabeça erguida, pronto para começar a construção de um novo homem - e assim, de um novo mundo. Isso é o que me revela a vida. Isso é o que os grandes iluminados vieram nos ensinar, de formas diversas. Cristo com sua vivência máxima; Buda com sua postura interior; Gandhi com seu misticismo político; Madre Teresa com sua fraternidade maternal; Vicente de Paulo com seu esforço enorme; Pascal com sua santidade genial e genialidade santa; Einstein com sua dedicação amorosamente científica e cientificamente amorosa; Schweitzer com seus senso de desprendimento e trabalho; Rohden com seu palavreado fantástico e sintetizante; Francisco de Assis com sua intensidade de paixão e integração, Da Vinci com sua multiplicidade criativa; Ubaldi com sua maturação e síntese suprema do conhecimento; e agora Gilson Freire, continuando o trabalho deste último, avançando na compreensão do monismo. Os exemplos abundam mas são ainda poucos. Há de se "criar" mais. O mundo necessita da difusão de uma corrente de pensamento que conduza a superações cada vez maiores na música, na escrita, nas pesquisas, nos trabalhos manuais, na dedicação, no amor e compreensão, na coragem,...

O mundo é muito vasto em sua extensão.
Muito misterioso em sua manifestação.
Muito inspirador em seu devenir...
Preciso escrever. Preciso falar. Preciso difundir conceitos e me expor ao fracasso. Para incorporá-lo e remodelar minha mente e meus sentimentos. Preciso estudar. Trabalhar. Aprender e apreender os aspectos mais cruciais da existência. Interiorizar a todo momento - exteriorizar construções elaboradas, sistematizadas, criativas. Não se pode parar. O trabalho não existe quando só há trabalho. Passa-se a integrar a dimensão crucial da evolução. Ampliá-la num sentido tão vasto, de envergadura capaz de formar, num um amplexo universal, o núcleo do que virá a ser o paraíso. Integração é a chave. A verdadeira alegria só virá quando o dever que odiamos passa a ser o prazer. Essa é a solução definitiva dos problemas externos humanos. A gênese de novos sistemas. O princípio condutor das políticas públicas. Das investigações científicas. Das tergiversações filosóficas. 

Não podemos partir de uma positividade de superfície crendo ser ela definitiva e sustentável. Um pequeno abalo da realidade será suficiente para isolá-la e enfraquecê-la. Já vi isso. Vejo isso. E continuarei vendo. É preciso ousar. Ousar inteligentemente. Como Lawrence (da Arábia), quando decidiu atacar Àqaba de supetão, em ponto e momento inesperados, de modo incisivo e direto - mas não irrefletido. Uma intuição lhe veio? Talvez...O feito foi fantástico, capaz de deixar todas as partes boquiabertas: turcos, britânicos e árabes. Os primeiros, por se apoiarem apenas na realidade histórica e na razão; os segundos, por senso de arrogância; os terceiros, por senso de inferioridade. Todos erram e fracassam quando se prendem a um conceito do mundo. Apenas quem tem fé pode elevar os feitos concretos, fazendo a humanidade avançar positivamente em terreno sólido. O Cinema - o cinema de verdade ! - revela isso. As Escrituras Sagradas. A vivência sincera. Tudo aponta para um princípio. 

Progredir dá trabalho e parece inútil. Mas somente conseguiremos transformar as pessoas - e nós mesmos - se realmente acreditarmos nas palavras e conceitos que propagamos. O relato é apenas um transbordamento de uma vivência fora do comum. É o seu aspecto implícito que irá ditar o poder explícito de seu palavreado. A harmonia das palavras; coerência de discurso; profundidade dos conceitos; e dedicação do autor.  

Momentos de tranquilidade bem vivenciados
são combustível para criações fantásticas.
Devemos focar no processo de crescimento -
jamais nos resultados. Estes virão a seu tempo.
Assim funciona a Lei,
Eu sou incisivo e intenso. Sincero e sério. Há um preço a se pagar. Deve-se portanto exceder as referências máximas nos diversos campos. É necessário ter uma comunicação mais elaborada. Estudar mais do que se estuda. Se dedicar mais do que o normal. Sustentar de forma mais compromissada. Se expor além da conta. E reagir de forma mais positiva a tudo. Criatividade nasce. Desperdício morre. 

"O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido", segundo Bertrand Russell. O próprio pai do racionalismo supremo aponta para aspectos da intuição e misticismo. 

Nos momentos de maior clareza expelimos as maiores chispas de luz. Isso é engraçado a princípio. Mas com as repetições das constatações, passa a ser um cimento de unificação utilíssimo para os fatos mais misteriosos da vida. Quanto maior a fascinação por um tema, menor a preocupação com as exterioridades transitórias e ilusórias. Mas para essa fascinação existir, há de se focar numa coisa que não se esgote. Temas do mundo não se sustentam. Carecem de potência de penetração. Poder de persuasão. A causa da dor é tema central no progresso humano.

A construção do positivo não pode ser efetuada em terreno vazio, árido de experiências, vazio de sentido, sem capacidade de lidar com a complexidade do ser humano e com os eventos do mundo moderno. Assim edifica-se um castelo de areia: bonito por fora, frágil em sua estrutura. Desmoronado, se reconstrói de forma dolorosa e esforçada. No curto e médio prazo se tranquiliza com a bela construção - no longo prazo e na eternidade se perde.

A consciência monista consolidar-se-á até
o final do terceiro milênio. Será o milênio
da maior conquista... 
É preciso sofrer e experimentar. É preciso insistir consigo mesmo e persistir apesar de tudo. É preciso viver o dia a dia, sem saber exatamente o que está sendo erguido. É mister se desprender de títulos e conquistas. Não falar o que se deveria estar fazendo e simplesmente fazer as coisas. É preciso não ter expectativas de reconhecimento. É essencial ser capaz de aceitar os eventos do mundo. É preciso aprender a lidar com as relatividades, e a partir da incorporação (aceitação) das mesmas, apresentar horizontes mais vastos, capaz de enquadrá-las numa ordem maior, de significado mais vasto. Que dê confiança e instigue todos a irem além do imaginado. 

O universo do inimaginável e belo não está na simples expansão quantitativa dos métodos da mente e dos processos tecnológicos, porém na sinceridade das relações e na fé inabalável. Está na qualidade das atitudes e no uso do que foi conquistado até o momento. Está no dinamismo que dá aceleração ao pensamento e aflora a sensibilidade. 

Deus é um conceito que nem sequer imaginamos. Nossa humanidade, até o momento, ensaia aproximações maiores. Faz uso de toda história de dores, de todas correntes de pensamento, de um amplo repertório de teorias consolidadas da ciência e de uma curiosidade que jamais cessa - para atingir uma compreensão um pouco mais completa do Divino. 

Força e Fé !

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Como o Mal se Manifesta - e como o Bem "Reage"

A grande dificuldade em superar o mal reside em sua forma de atuação: ela é sorrateira e direcionada única e exclusivamente a um indivíduo. Além do mais, o mal (em seu estágio mais sofisticado) já percebeu que a melhor forma de abalar seres de sensibilidade aguçada, que já puseram um pé na senda da libertação, é justamente não falando mal do mesmo aos outros, e sim desprezando-o até o último grau. A estratégia consiste em tornar o indivíduo enfraquecido e (quem sabe) induzi-lo a se manifestar, seja ao próprio agente que propaga o mal, seja às pessoas mais próximas. Não adiantará.

A primeira atitude é justamente o que se espera. Pode-se negar o que esteja ocorrendo. É aí que as forças do mundo irão fazer o que fazem de melhor: fingir. O grande teatro parece não ter fim. Um teatro de mil máscaras, na qual as reais intenções jamais são reveladas - e as confusões são espalhadas. Nada de olhar para a face, cumprimentar, responder. Jamais se dirigir à pessoa. Em suma, anular completamente a presença do indivíduo, e permanecer apoiado no número. 

V é um produto do mal que no entanto
elimina seu próprio criador, abrindo
espaço para a manifestação do bem.
Um novo mundo, de verdade, se abre.
Se se recorrer aos outros, dificilmente alguém irá tomar uma atitude. Não se trata de algo visível - muito menos sentido. Somos tão presos ao nosso umbigo que dificilmente notaremos como um outro, próximo a nós, está sendo tratado por determinado indivíduo ou grupo. Logo, as pessoas, ao ouvirem o grito de desespero, verão um ser que está delirando ou exagerando. O mal sabe disso muito bem - e por isso se apropria de algumas almas e exerce essa estratégia com rigor. 

O drama de um ser jamais é explicitado num mundo tão atordoado de sensações e preocupações de superfície. 

O mal se instala naqueles mais propícios a recebê-lo. Pessoas frustradas, que podem até ter o desejo de tornar o ambiente harmônico - mas que no entanto jamais tangenciam questões mais profundas e não se arriscam a ir além do lugar-comum. E assim podem passar a vida: vivendo alegremente sem perceber que a vida clama por ascensão.

Aqueles que não aceitam o diferente e tentam sempre torná-lo um "igual" - talvez por não saberem lidar com outro universo - muitas vezes acreditam estar fazendo um bem imenso. Fazem esforços direcionados a isso. Mas jamais adentram em questões de natureza diversa - a não ser que não vá causar incômodo e seja divertido. Conversar sobre o processo de conscientização, tudo bem. Vivê-lo, jamais. Porque é muito trabalhoso. Muito doloroso...

Essas pessoas, ao conviver com outros de natureza mais profunda, sensibilidade aguçada e sistema mental diverso em busca de ascensões sempre mais vertiginosas, não suportam uma atitude mais firme, sincera e orientada. Se ofendem com o diferente e - como não são capazes de eliminá-lo oficialmente, com ajuda dos outros - decidem fazê-lo do único modo que podem: anulando o ser. Não contam o motivo. Não dão sinais. Simplesmente esquecem de suas existência (qualquer semelhança com a ideologia que vêm ganhando força no país é mera coincidência...).

Mas o ser mais orientado também teria razões de se ofender cotidianamente. Dada a profundidade de visão, ele passou a perceber que cada gesto, cada ato, cada tempo desperdiçado, consiste em ofensa suprema à divindade. Cada rebaixamento de temas políticos, problemas econômicos, possibilidades tecnológicas, questões pessoais e diversos temas centrais consiste em crime. Ignorância gera revolta. Revolta gera erro. Erro gera dor. Dor (geralmente) consome o ser e torna-o mais preso a este mundo. Raramente a dor é usada de forma a construir formas superiores de existência. É preciso erguer um edifício conceptual nunca antes visto. Agir de forma inédita. Ousar sempre. Ousar de forma inteligente. 

Eis que o autor, após viver um (curto) período de sossego exterior, - porém tempestades interiores intensas - volta a se deparar com o ataque de forças externas, na forma de um indivíduo, se dirigindo contra ele da forma mais impiedosa e inexorável. Simplesmente porque ele manifesta sua natureza. O mal sabe exatamente como combater quem busca superar sua própria animalidade: agride no ponto mais fraco esperando que o ser sucumba ao desespero e à força. Que faça uso da mesma arma: o mal. Assim ele (o mal) já vence. O indivíduo que o pratica não é mal: ele foi dominado pelo mesmo. Porque o mal é algo não-material, que no entanto age baseado na matéria e em prol da matéria.

Há pessoas que somente conseguem "estar bem" na
imobilidade evolutiva completa. Procuram manter tudo
à sua volta imóvel. Algo perigoso em tempos que clamam
por mudanças profundas...
Como as pessoas que praticam ações de baixo nível (que ainda são muitos) geralmente não podem recorrer à força física - pois ficaria muito feio para sua imagem, além de demandar muitos recursos - nem à violência econômica, - pois não ocupam cargos altos - elegem o que lhes resta: a violência psicológica. 

Quem sucumbe ao mal é fraco. Seu sistema psíquico está abalado e a melhor coisa a se fazer é aliviar a tensão causada por aquele que "não o reconheceu", buscando sua destruição à nível psicológico. Sim...uma frustração alimentada ao longo de tempos cria um terreno fértil para a inserção da semente maligna. Esse "não-reconhecimento" é não atender a um modo padrão de comportamento após "tanta bondade oferecida". O que seria exatamente essa "bondade oferecida"? 

Vejamos mais à fundo.

Pessoas às vezes acham que estão agindo de forma ideal ao tentar (à todo custo) trazer os outros ao seu mundo - que é o da maioria. Mas se esquecem de que nem todos se interessam por esse mundo. Não por desprezo, mas por perceber que existem coisas mais profundas. E que não se dedicar a elas consiste em crime capital. 

Cada gesto de consentimento a uma visão de mundo é computado no banco de Deus. Ser agradável a todo momento pode ser receita de paz e sossego no mundo exterior - mas é dívida que se acumula no íntimo. Se o ser já percebe certas realidades, sentindo o drama do mundo com intensidade, não lhe é mais permitido ser agradável à todo custo. E isso tem um preço. A pessoa desperta deve se concentrar em seu dever. Dever que consiste em trabalhar. 

Mas o que é trabalho?

Ao contrário do que se pensa, trabalho é estar em processo de evolução. E isso pode ser feito em casa, num parque, numa cafeteria, ao se desenvolver um trabalho em grupo, dar uma aula, conversar com alguém, escrever um texto, ouvir uma música, fazer pesquisa, preparar cursos, entre muitas outras coisas. Ao ser atingido pela dor, há uma oportunidade tremenda de se trabalhar - essa dor. Eis o que me leva a redigir esse ensaio. 

Tentar estabelecer comunicação com pessoas pouco preparadas a realidades mais profundas é perigoso. As tentativas serão encaradas como ofensas. E como é fácil ofender o tipo médio, acostumado a falas suaves, sem intensidade no tom, sem veracidade no ritmo, sem harmonia na prosa. Não se pode aprofundar a questão política, econômica, filosófica, psicológica, social, científica, cultural. Não se pode apontar para horizontes mais vastos. Não se pode convidar a refletir sobre uma questão. Não se pode ir além de uma região delimitada. Não se trata aqui de cerebralismo, mas de sensibilidade e coragem. Coragem orientada. É fácil tachar como arrogante quem fala e busca o Absoluto. Difícil é compreendê-lo. Dialogar sinceramente com ele. Questionar face à face.

Nós não queremos evoluir. Não queremos nos expor aos riscos.
Não buscamos dialogar. Desejamos nos iludir...
O tipo médio age de forma simples e prática - e assim alivia sua dor: expele sua tensão através de uma tentativa firme de destruir psicologicamente o diferente . É compreensível: o grau de maturação interior não permite ao ser nesse nível lidar com essa tensão espiritual. Para ele é além da conta. Deve expeli-la a todo custo - caso contrário, perecerá.

Cabe desta forma a uma única pessoa lidar com o problema: o ser em busca da ascensão. Esse é o momento decisivo. A prova mortífera. O corredor polonês repleto de porretes, que irão desferir seus golpes dia após dia, sem piedade, insensíveis a qualquer fenômeno de ordem profunda. 

O drama de quem crê é o drama real. É a cruz dos pioneiros. É a tarefa verdadeiramente árdua. E com esse sofrimento cada vez mais intenso prepara-se o futuro do ser. Ser-lhe-á possível compreender mais profundamente os fenômenos humanos e naturais. A vida terá mais significado. As coisas serão mais claras. As tarefas menos árduas. A necessidades menos numerosas. 

Esse golpe surge em momento crítico, em que o autor se vê diante de diversas obrigações. Está prestes a defender sua tese de doutorado; cursa uma graduação em licenciatura; dá quatro disciplinas diferentes simultaneamente, para turmas heterogêneas e difíceis de se controlar; prepara e corrige provas; escuta reclamações e críticas de alunos; lida com o desprezo de alguns durante as aulas; paga as contas e mantem o lar em ordem; escreve textos e delineia conceitos; idealiza cursos de extensão. E agora, somado a esse caldo, surge a ofensiva de pessoa profissionalmente mais próxima. Os desafios não cessam. E no entanto, a alma avança no terreno espinhoso da incompreensão.

O mal que tomou conta de um ser vulnerável se esquece que seu alvo exterior não é alguém  frágil. Trata-se de um ser que já saboreou a dor em graus consideráveis, com perdas de diversos tipos e ameaças de várias formas. E não apenas sobreviveu ao processo, como se plasmou. Casou-se com a única pessoa adequada à sua personalidade; gerou textos nunca antes colocados na rede; conquistou títulos; deu palestras; passou em concurso público; superou o medo de falar em público; tornou sua fala cada vez mais eficaz, firme e coerente; criou cursos para espalhar sua visão; e começa a ser reconhecido por aqueles que vêem em suas aulas mais do que uma transmissão de conteúdo - e sim um imprimir de conceitos de vida.

Não se pode ter raiva de quem se deixou apossar do mal. Ao mesmo tempo de nada adianta abordá-lo via conversa. Ele está compactuado com as forças negativas. É ele quem deve se libertar dessa chaga. Ao ser sensível cabe usar essa incompreensão para intensificar sua vida - e aprender que o semelhante ainda não compreende certas realidades.

Mas os tempos são críticos e o mundo caminha para uma regressão dolorosa. Já que é difícil trabalhar de modo informal, o destino está estabelecido: criar-se-ão mais cursos extensivos, de vários temas, com variadas dinâmicas; ler-se-á mais profundamente; trabalhar-se-à com mais intensidade e dedicação; gerar-se-ão textos diversos, que toquem mais à fundo em aspectos centrais da vida. O tempo de convivência social será reduzido em prol da humanidade. Parece um paradoxo mas não é.

De nada adianta conviver com quem te agride psicologicamente. Não se tem ódio do mesmo, mas não se pode conviver no mesmo ambiente. Porque o trabalho nunca para. E é preciso não perder tempo com quem está em sono profundo. É preciso se irmanar com aqueles que já percebem o que está em jogo: a sobrevivência da espécie e a evolução planetária. Essa é a única coisa que interessa!

E esse golpe irrefletido é apenas um alerta para que o autor intensifique sua vivência e ideias.

Assim será.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Incomunicabilidade

A humanidade possui vários problemas. Mas na essência, podemos sintetizá-los num único: ignorância. E aí começam a vir as perguntas, persistentes e insistentes, numa avalanche:

O que é ignorância? 
É um baixo grau de consciência.

Como ela "surge"?
Ela é produto da queda*.

Como se dá (ou se deu) essa "queda"?
Pela revolta das criaturas (nós...).

Mas eu não sou revoltoso!
Nesse caso, porque estás a negar algo? Pois negar é se revoltar...

Tudo que excede nossa capacidade de compreensão é rechaçado. Poucos organismos estão adaptados a absorver algo que aponte para uma superação a nível de natureza (instintos). Para qualquer ameaça recorre-se ao número. Nulificação. Distrações. Ocultamento. Qualquer coisa para não lidar com o ser diferenciado, que resplandece mais intensamente um novo modo de vida com a dor. Quanto mais intensa essa, maior a faísca de luz que se propaga. A maceração física, psicológica e espiritual eleva todo o organismo, que opera essa dor sem expeli-lá. Não há rejeição. Não há negação. Apenas assimilação

Não podemos depender de nada externo a nós.
Nenhuma circunstância pode nos desapontar.
O espírito deve tudo suportar.
O que devemos potenciar é o mundo interior, das
qualidades invioláveis, dos princípios e dos valores.
Como lidar com uma situação na qual poucos compreendem e ninguém irá auxiliar ou resolver? Nesses momentos não há nada no mundo capaz de fornecer uma solução definitiva, viável e substancial. Na ausência da intuição, na negação do infinito, resta desespero e melancolia. É nesse ponto que o ser, caso ainda não tenha percebido uma realidade mais profunda, se vê convidado a adentrar num novo universo. Um "local" que é a iniciação para superar as barreiras de espaço-tempo.

Os livros são uma tecnologia das mais fantásticas. Eles permitem uma comunicação ao longo de vastos trechos espaciais e temporais. Podemos nos deliciar com uma obra de Victor Hugo em qualquer lugar e tempo; sentir o drama dos personagens de Dostoiévski; refletir sobre os conceitos de Platão, Thoureau, Spinoza; assimilar as ideias de Leonardo da Vinci; absorver as teorias de Newton, de Galileu; vivenciar as atitudes do grandes profetas bíblicos como Isaías, Elias e Daniel; entre muitos outros e outras. Trata-se de uma forma simples de superar as barreiras desse universo. 

Os espíritos evoluídos começam a se conectar através da leitura. Os Cinema veio trazer isso de forma mais sensorial (audiovisual). Mas em poucos casos é capaz de superar os escritos, porque estes, com suas palavras penetrantes, não fixam imagens ou sons. Deixam um vácuo material a ser preenchido com uma substância espiritual, cujo alicerce é o imaginário místico e a especulação filosófica. Estão mais próximos ao real - essencialmente abstrato. Porque a realidade última é sem forma. 

Um dos maiores problemas da nossa espécie no estágio presente é a incomunicabilidade - já tratada por alguns cineastas como Antonioni. É nossa falta de vontade de se comunicar com o outro. De permanecermos no terreno seguro das nossas certezas, sem querer fazer esforços para compreender porque certas coisas acontecem, como elas se desenvolvem e quais as tendências. É preciso ver o germe das manifestações para não se surpreender com o futuro. As coisas mudam, e rápido. Rearranjos inimagináveis se dão. E nem percebemos que fomos nós quem favorecemos o surgimento destes. Nos eximimos da culpa por completo. 

Acredite: não há nada a temer se a consciência está tranquila.
Nada pode ser motivo para nos desestabilizar. Nada.
Enfrentar o mundo face a face, olhando nos olhos.
A sinceridade é algo muito perigoso num mundo acostumado a usá-la como objeto de propaganda, para servir interesses particulares. Ela não pode ser exercida plenamente. É mal-interpretada. Persegue-se, anula-se, lesa-se a criatura que encarna de modo mais fiel o ideal de sinceridade. É uma reação de revolta - característica do Anti-Sistema. Para evitar que o mundo se eleve. Que seja iniciado um processo diverso de todos que se deram até então. Um processo cujos primeiros passos são muito dolorosos e amargos de serem implementados. Um processo pautado por diretrizes intocadas pelo modus operandi das psiques. Quem dá inicio a essa comunicação mais profunda sofre. A incompreensão é predominante. 

Uma simples colocação, palavra. Ou o modo de falar com intensidade, pode ser confundido com uma colocação que arma um combate (dualismo). Não se deseja perceber o que aquilo pode querer dizer - simplesmente interpreta-se o dito do modo mais simples, amplificando e distorcendo a essência da atitude e mensagem em função do grau de esgotamento do ser. 

Vivemos num mundo doente que clama por cura. O sistema-Terra e o sistema-Vida estão reagindo a perturbações - causadas pela nossa espécie. O sistema-Humanidade se digladia em ideias de superfície ainda. Mas alguns começam a mergulhar na essência, procurando chegar ao ponto comum, algo que una tudo e todos num projeto de futuro que ofereça uma possibilidade. É preciso usar a letra em função dos altos conceitos - e jamais se prender à letra para tentar chegar a esses. Por esse motivo acredito que chegamos num ponto de expansão máxima (do conhecimento). E no meio do caminho evolutivo, no qual a a consciência (sob a forma de moral) será a grande conquista da humanidade vindoura. 

Precisamos dar mais atenção à reforma íntima do que às soluções exteriores, reféns dos instintos e tendências multimilenares. Percebo isso ao observar o mundo. E fico mais atento a mim. Devo cuidar muito mais de tudo que faço. Cada átimo deve ser aproveitado para evoluir. Transmitir os conceitos, viver o ideal, sentir a universalidade dos fenômenos. Não há descanso. A Lei e Deus demanda ascensão. Parar é estagnar e preparar a queda.  

O horizonte jamais deve ser perdido. Não há avanço
sem um mínimo de intuição do que podemos ser.
Ou melhor: do que seremos. Acompanhar o devenir
fenomênico é tarefa que exige mente e coração trabalhando
conjuntamente, a todo momento - para garantir paz interior
em meio à guerra externa.
Quanto mais avançado se está na na senda da evolução, maior as responsabilidades e maiores as dores. O espírito deve cantar com os choques do mundo. Ele resplandece efetivamente no porvir porque se destrói temporariamente no presente, arena na qual se deve espiritualizar a matéria. 

Todo o comboio de persistências e projetos que venho sustentando nos últimos anos estão começando a se concretizar. E os conceitos, antes completamente isolados, começam a ser conhecidos por mentes e corações muito selecionadas, que buscam se aproximar de tudo sendo edificado de forma intensa e persistente - sem auxílio, interesse ou reconhecimento - ao longo de anos de ridicularização silenciosa. É nesse momento que os choques do mundo são mais fortes e parece que tudo pode ser esfacelado. E é justamente graças a isso que o impulso-mor pode ocorrer. Deve-se continuar, apesar de tudo. Continuar, se transformando sempre, a cada dia, mês e ano.

Avançar no terreno desconhecido (do espírito) e desfavorável (da matéria). Avançar apesar do medo. Mas avançar, enfrentando face a face o próprio medo. Enfrentado a própria ignorância, dizendo "eu não te temo porque te superei". Sem ódio ou contra-ataques. Apenas oferecendo sinceridade e suportando as dores. 

Com o desdobrar dos acontecimento as máscaras caem. E quem construiu na tempestade, evitando cair nas distrações (e tentações), escapa das consequências atrozes do dilúvio. Quem é pouco ouvido passa a ser voz central, valorizada e buscada. Quem buscou sempre ir à fundo e deixar todas intenções às claras, acaba sendo recompensado pelo milagre. Milagre possibilitado por essa atitude firme e convicta. 

domingo, 18 de novembro de 2018

Afastamento temporário

A Tese de Doutorado e o curso de Graduação em Licenciatura estão drenando muito do meu (precioso!) tempo ultimamente. Somado às provas múltiplas a serem elaboradas, aplicadas e corrigidas em tempo hábil; diários a serem preenchidos; aulas ministradas; dúvidas a serem esclarecidas; ouvir reclamações de alunos; dar sermões em turmas; e cuidar dos afazeres domésticos, resta pouquíssimo tempo para desenvolver conceitos profundos que venho amadurecendo. Somado a isso decidiram por me colocar numa comissão de inventário, na qual devo listar item por item em certas salas da escola. 

Sinto ter entrado num 2º ciclo de parada. As impiedosas e férreas obrigações do mundo forçam a parada completa das atividades textuais inspirativas. O tempo de leituras diminuiu também. Pouco convívio com os amigos próximos (poucos). As ideias para cursos de extensão fervilham. Vontade não falta. 

Há dias não saio do quarto pelas manhãs. Permaneço conectado ao computador, formatando e documentando meu trabalho de doutorado. E esse não é sequer o maior dos problemas: há alguns problemas sendo solucionados apenas agora, referentes às cadeias de processo (de desenvolvimento) que venho criando e testando nos últimos meses. De forma que apenas nesse quesito (desenvolvimento de tese) me encontro em duas frentes: documentar e resolver problemas. O tempo é curto para quem pretende adquirir o título em breve. A depender de minha pessoa, comemorarei o Natal como Doutor. 

Uma pessoa que tem firme convicção a algo levará um projeto de vida até as últimas consequências. Fará proveito das condições. Mas nesses últimos momentos de 2018 o ímpeto por derramar conceitos e lançar ideias teve de ser desviado inteiramente para questões do mundo. Não é necessariamente ruim - mas é sempre triste não poder cantar o canto do espírito ardente. 

Às vezes o mundo exige e o dever pelas coisas terrenas fala mais alto. Nesse momento o espírito deve (infelizmente) ser deixado em segundo plano - e as obrigações do mundo, que se acumulam, devem ser resolvidas. Toda essa avalanche não impede o espírito de continuar seu trabalho. O registro de experiências é contínuo e intenso. A tensão se converte em outras coisas. Ideias brotam e conversam entre si.  Se chocam e buscam encaixes. Encaixes impossíveis à princípio. Nesses momentos deve se perceber que toda experiência pode ser traduzida em conceito profundo. 

Hoje revi um amigo que não via há tempos. Melhor: três. Dois deles há muito tempo sem ver. Nos 4 dias pude assistir três filmes bons que tratam temas diversos*. Iniciei a leitura de "A Era do Capital Improdutivo", de Ladislau Dowbor. E ainda imprimi um ritmo vertiginoso à minha pesquisa de tese. As atividades de licenciatura e o trabalho em grupo progridem - apesar de todas dificuldades.

Há momentos em que não há explicação plausível para a realização de certas coisas. Elas simplesmente ocorrem. 

Quando iniciei certas coisas na vida nunca me prendi a resultados. Mas cumpria meu dever ao longo do desenrolar dos processos. Meu foco era no presente. Afastava as preocupações do momento e as incertezas do futuro. Esquecia o passado para não viver reproduzindo-o. Lembrava apenas daquilo que poderia ser usado para me projetar para frente. E assim as coisas caminhavam (e caminham). 

Às vezes parece que algo não irá dar certo - mas tudo é concluído e os resultados são muito além do imaginado. Já saí da consciência de "esperar". Apenas imagino as possibilidades. Esperar algo é ter esperança de que esse algo ocorra. É ao mesmo tempo um medo de que o "algo" esperado não ocorra. Isso nos paralisa. Viver cristalizado pelos medos é o pior que pode acontecer numa época que clama por um dinamismo interior. Por isso o espírito arde. Ele puxa o organismo para as fronteiras e este o acompanha, exausto mas obediente. As forças do Alto reverberam nas almas mais inquietas e apaixonadas. São almas que estão numa busca infinita num mundo finito. Uma tragédia muito bela - que não se deseja trocar por nada. É a única tragédia digna de ser vivida. 

Mas em breve haverá uma paz. E retomar-se-à a escalada rumo ao infinito. Uma escalada que se torna mais vertiginosa com o passar dos anos. Sem tréguas. Porque o objetivo é supremo e a ânsia por libertação é enorme. Assim a alma canta.

É quando nos tornamos sérios e eficientes que começamos a ser colocados à prova. Percebe-se que é  dever de quem mais percebe e compreende a tarefa de fazer as coisas avançarem. O desafio é titânico: dizer de maneira indizível o que nunca foi dito por pessoas sem habilidade de dizer. Essa falta de habilidade é por serem muito sinceras. Esse dizer é a atuação mais poderosa, unificadora de tudo em torno de um ideal.

Observações:
* https://www.youtube.com/watch?v=UyjnzhXJlHU
   https://www.youtube.com/watch?v=4oTYlDRuvqI
   https://www.youtube.com/watch?v=OvK1xpnlDM8

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O Método do Anti-Sistema: Equalização maquiavélica para maximizar tensão

Existe uma perversidade no universo do relativo que consiste em se deixar seduzir por conjuntos de verdades e usá-las em prol do favorecimento de uma determinada ideologia, grupo ou indivíduo. Esse tipo de arquitetação de eventos para construir uma narrativa adequada a um certo público - que acaba por retroalimentá-lo, se envolvendo no processo de construção de forma inconsciente, atrelando suas ações presentes às possíveis críticas futuras que elas possam fazer da própria narrativa - é impossível de ser desmontado à luz da pura razão.

A eloquência argumentativa irá dar a palavra final a respeito da História - reproduzida às gerações futuras - e um modelo mental a ser implementado, estabelecendo a estrutura de um sistema. Não é a busca pela verdade, e sim o estabelecimento de uma verdade relativa capaz de dialogar de forma convincente com o subconsciente médio humano, que a aceita e passa a defendê-la como a única existente. Mesmo aqueles que no íntimo sentem um erro profundo tem dificuldade enorme em não cooperar com o modo de funcionamento das coisas.

Noam Chomsky (1928) deu contribuições importantes à
linguística. Também estudou ciência cognitiva e filosofia.
Mas é em seu ativismo político e perseverança ímpar que
marca seu nome neste mundo.
Seja na atitude perante o número (um versus dez, um versus cem...), na incapacidade de sistematizar ideias (e de exemplificá-las), ou na inabilidade de superar instintos próprios, a pessoa sempre acaba sendo capturada e portanto se vê impotente na posição de crítico do sistema hodierno. É incapaz de iniciar uma nova construção (mental) que supere a dominante. Se o faz (a construção), tem receio de expô-la, porque haverão ataques. Se os primeiros golpes não derrubarem a ideia, os próximos virão com maior intensidade, banhados de sagacidade e com número crescente de adeptos prontos a resistirem - sem saberem exatamente o porquê. Assim foge-se ao primeiro sinal de diques e barreiras. Mas essas pessoas não perceberam que, uma vez batida, essa ideia, esse conceito de vida, essa existência, tem a oportunidade de renascer, de outra forma. Mais forte, mais bela, mais inteligente. E assim ela cumpre o seu devenir previamente traçado por uma lei que tudo regula.

A Lei dos Grandes Números revela que o somatório das particularidades tende a explicitar um comportamento homogêneo de grande envergadura, que demonstra a tendência geral do universo das individualidades. O grande coletivo galáctico funciona assim. Os organismos vivos, com suas comunidades celulares, também. A sociedade humana. As instituições. Os povos. Mesmo o conhecimento se articula de modo semelhante.

Todos sistemas filosóficos (mais de setenta) não tem sido capazes de criar sinergia. Assim, para quem estuda à fundo os fenômenos e os conceitos e possui um senso de orientação (telefinalismo), acaba por se decepcionar com os relativismos engessados. Daí nascem as indignações que colimam na forja de novas personalidades. É o início da jornada da dor. Intercalada por ascensões incríveis, somente percebidas por almas devidamente sensibilizadas.

Hannah Arendt (1906-1975) desenvolveu a tese de
"banalidade do mal". Ela explicita que  nas tragédias coletivas
 humanas, a sociedade tem grande responsabilidade
pela brutalidade de seus líderes.
A desordem vista na superfície da vida cotidiana é apenas tal se percebida como algo em si. Assim que ascende-se (no espaço, na consciência, no espírito,...), atingindo outro plano de vida, percebe-se uma ordem que coordena toda a desordem. E assim conquistam-se qualidades insuprimíveis: discernimento e paz.

Os meios de comunicação são apêndices "informativos" fortíssimos de qualquer sistema baseado na autoridade que se estabeleça. Assim foi para as formas de fascismo, como para o "comunismo". E igualmente, assim funciona no capitalismo - especialmente em sua forma neoliberal. A diferença entre este último e os antecessores é que a sofisticação atinge um grau que torna cada vez mais laborioso discernir o que é substancialmente melhor. Nos efeitos todos concordam - nas causas destes começam a haver divergências. Apenas estabelecendo-se uma causa-prima, no extremo oposto (objetivo supremo), pode-se caminhar no terreno pedregoso da racionalidade expandida [1].

O consciente busca uma verdade mais profunda, age conforme
ela e vive integralmente baseada nela. Assim fica sozinho...
Se você é muito evoluído não lhe restam senão
duas coisas: Trabalho e Solidão.
Nas últimas eleições percebeu-se isso de forma muito clara. Tem-se dois opostos que se combatem (dualidade), como é típico no sistema eleitoral. No entanto, independentemente das ideias das pessoas sobre quais devem ser as prioridades de um governo, como cumpri-las e porque, viu-se de um lado uma falta completa de experiência, a manifestação de um discurso de ódio ao longo de toda campanha (e vida do candidato) e uma equipe com ideias que, se desenvolvidas até as últimas consequências, levam o país a aprofundar as reformas impostas pelo governo golpista (biênio 2016-2018).

Não se trata aqui de afirmar que um pólo é a solução definitiva e o outro é a destruição completa do país, e sim de explicitar que existem pontos fundamentais no jogo democrático que jamais podem ser ultrapassados. Nem piadas ou declarações preconceituosas devem ser aceitas - nem que  posteriormente se diga que "aquilo não foi sério". Isso é o que nosso país vive atualmente. Mas não estamos sozinhos: o mundo ocidental, com suas democracias liberais representativas, marcha em sintonia. A diferença é que o Brasil nunca chegou a ser um país desenvolvido no sentido capitalista do termo. Sempre estivemos à margem dos processos civilizatórios. Isso se revela no suicídio (por pressão das elites) de Getúlio Vargas; no golpe de 1964 que interrompeu as Reformas de Base de João Goulart; e no ataque incessante da mídia, judiciário e congressistas (encabeçados por interesses financeiros) a governos progressistas, que culminou num golpe parlamentar-jurídico-midiático (2016), que capturou setores amplos de uma classe média alta. Nenhuma das construções propostas visava revolucionar a nação. Visava-se apenas colocar o Brasil num patamar de desenvolvimento que ombreasse com nações desenvolvidas ocidentais. Foi construída uma narrativa baseada em eventos desconexos, que apenas o devenir histórico é capaz de revelar - e com isso confundiu-se amplos setores, enquanto outros se mobilizaram ferrenhamente por temas que escapavam da questão central.


Muitíssimos de conformam - e festejam juntos essa "unidade".
Outros questionam e apontam novos caminhos - e ascendem.
Reclamar é o primeiro passo, mas deve ser substituído pelo
questionamento. O problema: poucos tentam...
Os (grandes) meios de comunicação agem de forma a deixar cada vez mais claro que a sua finalidade é a neutralização dos opostos - mesmo que isso implique em malabarismos inomináveis para suavizar afirmações inadmissíveis e ocultar conquistas reconhecidas internacionalmente por órgãos de respeito. Isso implementado tende a causar uma confusão generalizada, tornando difícil a orientação das pessoas em torno de um projeto comum de vida coletiva. Num sistema baseado na coerção psicológica, econômica e física, - ou um híbrido das três - é fácil perceber que aqueles que detém o poder controlam o fluxo de informação. E assim ela é direcionada, amplificada, suprimida, retida, atrasada ou distorcida. Esses seis elementos podem operar de forma sinérgica, arquitetando uma narrativa difícil de ser desconstruída por pessoas que não possuem influência. Noam Chomsky explica e explicita esse processo de forma extensiva em livro e documentário [2].

O direcionamento se dá em função da reatividade de um nicho específico de público (que pode ser grande). Ela visa informar uma parcela da população sobre um aspecto ou dois (jamais todos) de uma realidade. Dessa forma os algoritmos que direcionam informação o fazem a partir de uma subjetividade que estabelece uma base axiomática que se manifesta como desdobramento de toda lógica. Quem decide qual o público que vá ter em maior dose este ou aquele tipo de informação? Obviamente não há participação da sociedade nisso.

A amplificação visa maximizar feitos de um grupo humano (partido, religião, personagem histórico ou presente, ideologia, país, etc) e simultaneamente minimizar feitos, universalmente aceitos como bons (tanto nas intenções quanto nas implementações), de outros grupos. Essa relação entre maximização de conjunto A - minimização de conjunto B deve ser feita de modo a não deixar evidências (pistas) da estrutura por trás desse comportamento. Isso torna o trabalho investigativo mais laborioso. E num mundo repleto de obrigações inúteis e rituais insanos, qualquer coisa que demande um esforço além do mínimo é prontamente desconsiderada. A amplificação geralmente funciona de modo duplo: minimiza-se as ações deletérias de grupo A e maximiza-se as do outro; e maximiza-se as ações benéficas do grupo A enquanto se minimiza as do B.

A supressão é o extremo da amplificação (para mais ou para menos). Trata-se de nulificar os aspectos positivos do outro - e maximizar os próprios, dando aspecto de "tudo de bom aqui se deu graças a mim, ao meu grupo, à minha ideologia, etc" - e "tudo de mal que  existe se deve a ideologia x, partido y, pessoas z, etc". Essa tática é mais agressiva do que a anterior, pois passa-se ao público uma visão absolutista de um relativo humano - que as pessoas tendem a aceitar com relativa facilidade. Essa aceitação irá depender do quão frustrada a pessoa está. Trabalho alienado e consumo conspícuo intensos reforçam as chances de alguém aceitar as supressões da mídia.

A retenção nem amplifica nem suprime nem direciona uma informação. Ela apenas capta ela em sua forma mais pura e original e espera a passagem de tempo para liberá-la ao público. Qual o sentido em fazer isso? A depender do momento em que você recebe uma informação, pode ser que sua reação a ela surta um efeito mais fraco devido a esse atraso. Isso se relaciona diretamente ao conceito sistêmico de atraso (delay). Geram-se oscilações em variáveis humanas (ex: ansiedade, expectativa, tensão, etc), o que acaba causando mais instabilidade na sociedade, deixando-a mais desorientada e em busca de "soluções" mais simples - a nível de evento.

O atraso se relaciona diretamente a retenção. A diferença é que o período de tempo entre a recepção (pela mídia) e a transmissão (ao público) é um período finito, ao passo que existem casos de retenção no qual o período de tempo pode ser infinito. Ou seja, a intenção da mídia é nunca divulgar certas verdades. Ou, numa escala de vida humana, num período de cinco, seis ou mais décadas, o que praticamente pode ser considerado eterno - do ponto de vida da existência material. Exemplo disso é a divulgação de alguns crimes contra a humanidade de regimes autoritários - muitos sustentados pela lógica capitalista diga-se de passagem. Outro exemplo clássico é a condenação de Galileu Galilei por dizer que a Terra se move. Ele se retrata e admite que a Terra está parada (mas diz bem baixinho a alguns..."E pur si muove!". "Mas ela se move"). 350 anos depois a Igreja admite seu erro...

A distorção, ao contrário da amplificação, não visa regular a quantidade (grandeza do ato positivo ou negativo). Ela tem por escopo inserir uma miscelânea de elementos de análise para tornar a informação maleável sob outros pontos de vista. Podemos dizer que ela dá uma característica plástica a um evento.

Todos esses elementos deveriam ser conhecidos do público. É possível (e requerido!) que, apesar de uma vida miserável, - em todos sentidos - uma pessoa seja capaz de pensar por si mesma. Sem isso não adianta: um líder ou grupo chegar ao poder jamais terá forças para realizar as mudanças tão necessárias de modo efetivo se a população não for capaz de participar ativamente, aguerridamente e inteligentemente no processo político.

Graças a essas poderosas ferramentas o golpe de 1964 (e 2016) se deu. E assim, as Reformas de Base [3] (tão necessárias ao nosso país) somente serão feitas de modo emborcado.

Referências:
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[2] https://www.youtube.com/watch?v=AnrBQEAM3rE
[3]  https://pt.wikipedia.org/wiki/Reformas_de_base