quinta-feira, 13 de maio de 2021

A Personalidade Humana e o Problema da Hereditariedade

"O espírito evolve para planos cada vez mais rarefeitos e, nesta ascensão, atira para trás o seu veículo material, isto é, faz para si progressivamente corpos cada vez mais sutis, adaptados à sua fase evolutiva e a relativas formas de vida."
Trecho de Palestra de Pietro Ubaldi no Brasil, 1951.

Fig.1: A transmissão da hereditariedade depende do processo de multiplicação dos genes. 
Mas há mais (muito mais) nesse fenômeno: somos, acima de tudo, herdeiros de nós mesmos.
Essa é a hereditariedade psíquica - ou espiritual.


Na vida terrena o que interessa é a experiência que edifica o espírito.

O que é o espírito? É o que você é. É o que não morre; o que não perece com o tempo; o que não está restrito às barreiras do espaço-tempo; o que possui valores eternos, adquiridos com a experiência da vida adequadamente assimilada.

E a experiência? É aquilo que exercita o nosso espírito. Ela se dá em todos campos, épocas e situações. Não interesse se você é rico ou pobre; feio ou belo; alto ou baixo; culto ou ignorante; saudável ou doente; nativo ou estrangeiro; famoso ou desconhecido. Em qualquer contexto é possível adquirir essa tal de experiência. A capacidade de assimilá-la irá depender do grau de consciência

A consciência pode ser desenvolvida com a instrução - mas a cultura de per si não garante o melhoramento da pessoa. Na verdade o melhor uso possível da cultura (nem recusa nem abuso) depende de dois fatores:

1) Que o grau de consciência já tenha atingido um certo patamar;

2) Que, além de (1), haja uma interação profunda entre a consciência que vê e a inteligência que executa. 

Resumindo: consciência num certo grau E relação de sinergia.

A partir de um ponto, tudo que o indivíduo faz passa a ter um significado profundo. 

Na vida extra-terrena o que interessa é a assimilação da experiência.

No pólo oposto o que interessa e a reflexão. É estudar o que ocorreu, compreender os atos e planejar as correções a serem feitas. Trata-se de um período de tranquilidade enorme comparado aquele em que estamos vestidos de matéria. Nesse caso há muito tempo para assimilar, compreender, sentir, viver (de verdade).

Na vida há algumas pessoas que conseguem forjar as condições que viabilizam uma vida com prática e contemplação. Não se compara às coisas do plano extra-físico. Mas ao menos é possível ter um tempo para ler um livro com calma; estudar um assunto de interesse, aos poucos - um por um - ao longo da vida; ouvir e sentir música; assistir belos filmes e séries; conversar com familiares e amigos; cozinhar; dançar; criar; amar; 'perder tempo' e coisas do tipo. São os momentos mais significativos para a alma - que infelizmente o mundo minimiza ao máximo.

Tão logo começamos a adentrar numa vida de produtividade interior, o mundo lança um pepino ao nosso encontro - eles sempre vem...de alguma forma inesperada. E aí é preciso parar tudo para cuidar da sua sobrevivência e/ou bem-estar, seja ela financeira, jurídica, social, profissional, acadêmica e em último caso física. De forma que a pessoa que está orientada para as grandes questões sabe que não poderá se dedicar integralmente àquilo que ama. No entanto, aprenderá a inserir nos interstícios da vida caótica e grosseira momentos de paz e concentração; de criação e inspiração; de sentimento e sistematização. Serão messes pequenos oásis que ocorrerão as melhores produções. Infelizmente são poucos que sabem usar inteligentemente os recursos que a vida oferece.

Fig.2: É no desenvolvimento da consciência individual que está o caminho para forjarmos nosso destino. 

Usar bem algo significa criar valores (eternos) com pouco recurso mundano (perecíveis). 

Vamos aplicar tudo que foi dito à questão da hereditariedade.

Uma personalidade é formada por quatro elementos: os dois elementos familiares (pai-mãe), que formam pólos genéticos que se combinam de forma mais ou menos ordenada, gerando um ser com características morfológicas semelhantes, dentro dos moldes preestabelecidos (genes dos pais); o elemento do meio, que irá fornecer o contexto sócio-cultural e físico que balizará as oportunidades e desafios do indivíduo ao longo de toda sua vida - esse elemento pode variar ao longo do tempo dependendo das circunstâncias de cada um; e o elemento espiritual (que a ciência ainda não admite oficialmente). 

Se formos considerar o elemento do meio como aquele mais basilar, isto é, aquele que se traduz em força do número, das instituições, do poder, veremos que sua influência é aquela mais próxima à da matéria inerte. Nesse nível, podemos subdividir o meio em físico (mais abaixo) e cultural (mais acima). Eles são os elementos mais fortes na formação do indivíduo - e para aqueles que ainda possuem um baixo grau de consciência (espírito pouco desenvolvido), haverá uma tremenda influência desse elemento em sua vida.

Se uma criança involuída nascer num meio mais avançado (ex.: países nórdicos, Reino do Butão ou comunidades sustentáveis), haverá uma maior facilidade em orientá-la a superar sua forma mental - e assim ascender. Mas como ainda predominam os ambientes (meios) caóticos e há muitos involuídos, não é possível que o processo se dê do melhor modo possível.

O elemento paterno e materno são aqueles ligados à vida. A psique é mais forte nesses dois termos. E a combinação é essencial para a geração de um invólucro corpóreo adequado ao ser que irá residir nele. Por isso a reprodução sexuada é um enorme avanço em relação à reprodução assexuada. É naquela que existe uma combinação geradora de uma multiplicidade de possibilidades que gera uma enorme complexidade: a veste se torna mais maleável - especialmente em termos psíquicos. Assim, na reprodução sexuada foi possível abrir portar para o reino da matéria se organizar de modo mais adequado, se colocando numa relação mais íntima com o desenvolvimento do espírito (seu despertar lento). 

Uma boa música requer um músico bom e um instrumento capaz de reproduzir bem o som.

Mas tudo isso é apenas a parte mais visível dessa formidável jornada humana. Falta o elemento central: o espírito

É a consciência do indivíduo que deve forjar a personalidade. Esta é apenas uma combinação dos quatro fatores: um da matéria, dos da vida e um do espírito. Sendo que cada vida (os pais) tem esse mesmo sistema centrado em torno de seu Eu superior. E todos elementos ascendem, evoluindo na forma para expressar cada vez melhor a vontade de Deus. Nada está parado no Universo. Cada gesto sincero fica registrado na eternidade. Cada experiência traz um bem.

Os genes não explicam tudo. Logo, um mix genético ideal não irá forjar o melhor indivíduo. O que gera e inspira os atos mais fantásticos vem de outra região...

Uma das cenas finais do filme Gattaca (1997) expressa muito bem essa ideia (ver abaixo).


A potência não reside na força genética, mas no ímpeto de paixão e criatividade. Isso se encaixa perfeitamente na visão monista do mundo. Significa que a única maneira de vencermos no mundo da matéria, superando (e impressionando) os reis deste reino, reside em nos apoiarmos na febre do espírito. 

É através da consciência que começamos a superar as limitações do espaço-tempo. Podemos relembrar (e até reviver) o passado em nossas mentes, trazendo sensações que o organismo sente como presente e viva; e nos projetarmos para o futuro, imaginando novas configurações e situações. Conseguimos moldar o presente de forma criativa através desse recurso, sendo a análise e a sistematização da mente racional apenas o primeiro degrau nesse sentido.

Com a conquista da superconsciência (intuição) seremos capazes de superar os limites, não apenas vivendo além deles - mas tornando os menores, menos restritivos. Eis o determinismo da matéria cedendo para o livre-arbítrio do espírito! Mas sempre, circunscrevendo toda essa odisseia multimilenar, de tudos e todos, existe o determinismo supremo da Lei de Deus. 

Com isso fica claro que o elemento íntimo, não-genético (isto é, que transcende o tangível), é aquele responsável pelos grandes feitos. As criações que impulsionam a humanidade vêm de almas ardentes que souberam vibrar em ressonância com o infinito, se lançando num abismo de mistério, munida de todas suas experiências e recursos. No campo da arte, da ciência, da tecnologia, da liderança, do amor ao próximo, do pensamento, da comunicação,...de todas frentes se enxergam expoentes do espírito, que souberam elevar um pouco mais o seu campo: e assim o AS vai sendo reabsorvido pelo S.

Nesse ponto é perceptível que a causa dos maiores feitos (a terceira lei...lei da evolução) é o espírito. O Eu superior. O Ser. Fica cada vez mais difícil negá-lo. Podemos não dominá-lo ou não conhecer sua natureza. Mas é certo que ele é o elemento que deve dirigir a evolução - neste planeta e em todo Universo. 

E como as experiências se acumulam, são filtradas e assimiladas, incorporando-se ao ser, temos em nosso Eu eterno o elemento mais importante a ser desenvolvido. Mais do que de nossos pais e nossa cultura e nação, somos herdeiros de nós mesmos. Por isso se vêem indivíduos tão diferentes nascendo na mesma família, criados da mesma forma. Se trata de uma mistura que visa criar uma experiência mais profunda (forte às vezes) em todos elementos. Por isso para o evoluído é tão difícil viver neste planeta. Pietro Ubaldi sentiu um enorme alívio à medida que ganhava idade e se aproximava do retorno ao plano extra-físico. Porque para quem vive uma vida de valor, orientada e integralmente dedicada à evolução de si e da humanidade, a chegada da morte é uma grande alegria - porque ela não existe de fato.

À medida que a humanidade progredir na esteira do pensamento, irá perceber de forma mais clara que o que interessa é o elemento superior (espiritual). Este, bem desenvolvido, será capaz de escolher sabiamente o local de chegada (pais); estará apto a selecionar os genes do pai e da mãe da melhor forma; e de, na vida, arregimentar as forças do meio para impulsionar sua ascensão, e assim vencer na vida eterna - mesmo que morrendo ou sofrendo na vida temporária. 

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