terça-feira, 11 de maio de 2021

Nem recusar, nem abusar - e sim usar.

À medida que nos esforçamos numa empreitada, vamos observando os resultados. Medimos constantemente, seja de forma consciente, com instrumentos e métricas; ou inconsciente, de modo automático e instantâneo. Mas sempre medimos. Queremos ver e sentir o retorno no curto prazo. Às vezes, quando a inteligência é mais desenvolvida, nos preocupamos menos com o imediato (curto prazo) e avaliamos os resultados a médio prazo - e até longo. No entanto, todos os prazos estão contidos numa existência. Mas a vida não cabe numa existência única. 

Fig.1: Horizonte inspirador demandando verticalidade reveladora.

A vida é algo tão mais vasta do que uma série de experiências num corpo, inserido num contexto cultural e geográfico, que dá vertigem a quem percebe a vastidão do seu Eu. O desenvolvimento do indivíduo é lento. Ele progride num ritmo adequado à capacidade de assimilação. Os desafios que alguém suporta nunca são maiores do que os limites individuais presentes. Então podemos estar seguros de que, independente da situação pessoal, há sempre um caminho que garante o aprendizado - a única coisa que levamos e conquistamos efetivamente.

É como se fôssemos todos alunos e a Lei (de Deus) o guia que serve de orientação. A imanência divina é o que devemos encontrar em nós, enquanto a transcendência divina é o que precisamos vislumbrar para nos impulsionar. Percebam que interessante:

Imanência >> encontrar em nós >> vida de introspecção

Transcendência >> vislumbrar para impulsionar >> vida de conquistas e paixão

O oriental percebeu mais claramente o aspecto imanente de Deus.

O ocidental percebeu mais intensamente o aspecto transcendente de Deus.

O monismo busca unificar harmonicamente esses dois aspectos, reformulando a concepção que temos de Absoluto. A Realidade é una. Uno deve ser o princípio de funcionamento do cosmos. Os pólos são os elementos extremos que dão dinamismo à ascensão do Universo. É nesse dualismo dinâmico que se encontra o monismo da substância. 

Perceber o outro, seja ponto de vista, teoria, saber, história de vida ou posição social, é algo imprescindível para construir um ser integral. Isto é, uma pessoa capaz de absorver dentro de si toda a complexidade do mundo à sua volta - num primeiro momento - e, a seguir, sintetizar tudo em prol de sua função particular na hierarquia universal. Assim temos um ser que assimilou em si as experiências essenciais da vida, sedimentando em seu subconsciente aprendizado útil que funcionará de forma automática, sem necessidade de desgaste mental e físico. Sobra 'espaço' para o consciente humano operar. Assim pode-se focar toda criatividade, tempo e energia em questão ainda não resolvidas em sua totalidade.

Fig.2: A razão e a emoção, numa combinação sincronizada, proporcionada e em sinergia, dão a intuição. 
Essa será a nova consciência.

O que interessa no momento atual é deslocar o centro de atuação humano das atividades mais rudimentares para aquelas mais elevadas. É por isso que resolver a questão sistêmica, da coletividade é vital. 

O mundo presente está desorganizado. As pessoas perdem muito tempo com atividades que poderiam ser automatizadas. Burocracias para definir detalhes repetidas vezes. Detalhes que sempre mudam na forma. E assim exigem um novo código de conduta, novas sistematizações, novas regras, diretrizes e revisões. Mas se a compreensão fosse profunda e a orientação poderosa, todos simplificariam e desejariam avançar numa marcha acelerada.

O que faz o mundo se digladiar em divergências é a não-resolução das questões fundamentais.

O que nos motiva ou trava é o que está em nosso subconsciente. Se temos uma visão de mundo, é a partir dela que iremos desenvolver nossas atividades e posturas. 

Temos um problema sério: falamos em equilíbrio mas dificilmente conseguimos aplicá-lo em nossas vidas. Cada pensamento deve ter imbuído em si esse princípio. Isso significa que devemos usar as coisas até o ponto em que esse uso nos trará algum tipo de crescimento (=desenvolvimento) interior. Um aprimoramento num campo; um aprendizado; a execução de uma tarefa ou projeto; uma atividade semanal ou diária. Todas essas coisas devem ser feitas de forma balanceada. 

Estamos imersos num mar de informação e tecnologia. Mas de que nos serve sabermos várias coisas e aplicá-las se esse saber (e aplicação) só visam metas imediatas e superficiais? 

Conseguir média alta na faculdade não te garantirá salário alto ou emprego;

Possuir o carro mais potente não facilitará sua vida financeira ou atrairá amizades de verdade;

Fazer plástica não evitará o fim iminente do corpo;

Participar de tudo e falar de tudo com todos não construirá seu ser.

Estamos num oceano de ocupações que nos preocupam e preocupações que nos ocupam. Algumas delas são até socialmente úteis. Mas seu foco é turvo, sua eficiência é baixa, sua coragem é fraca e sua potência é limitada. Porque não enxergamos que a resolução das tragédias modernas estão no íntimo do ser humano. É na forma mental que devemos trabalhar. Mais tecnologia não resolverá nada.

De nada adianta colocar gente em Marte ou multiplicar as técnicas de plantio ou aumentar as distrações digitais. Isso tudo é um mero sinal de impotência do ser humano em lidar com o que realmente interessa. O que devemos ambicionar é compreender as nossas origens, o nosso destino, o fenômeno evolutivo em seu nível mais profundo; devemos aprender a captar as nuances dos grupos; a ouvir o canto da História; a sentir a brisa do sentimento; a criar formas de vida extraordinárias a a partir de nossas tensões e frustrações. Devemos, enfim, buscar antes de tudo a solução dos últimos problemas - nas palavras de Ubaldi.

À medida que a década de 2021-2030 se desenrolar, esses pensamentos serão cada vez mais compreendidos e sentidos pelas pessoas. Pois apenas com a exaustão de todos caminhos possíveis se chega ao melhor caminho. 

Como os caminhos mais atraentes para a psique humana sempre são aqueles que são curvos, aprendemos em ciclos, com longas trajetórias: jornadas épicas de dores e horrores, paixões e glórias, criações e destruições, para pequenos avanços substanciais. O caminho reto (menos atraente, e até visto como loucura) é o único que lança o ser ao cume sem reações da Lei. É o caminho dos santos, místicos e gênios. 

E assim, de curva em curva, vamos retificando nossa trajetória - e forjando nosso destino.

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