segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Em busca de um modelo - que triunfe

Nova civilização, nova mentalidade. Nova mentalidade, novos valores.
A cada ano que passa percebo estar assimilando de forma cada vez mais rápida uma série de verdades (relativas). É o poder da síntese atuando no subconsciente com a informação recebida pelos meios de comunicação. São diversas perspectivas sobre o mundo. Interpretações diferentes, mas cujo eixo comum é a vontade de se chegar a uma organização coletiva melhor que possibilite a manifestação do mais nobre de cada indivíduo. É preciso estar aberto a muitas visões. Mas (ao mesmo tempo) é preciso filtrar aquilo que não serve.

A busca é infinita - num mundo finito.
A vontade é maior que as derrotas.
Eu não tenho receio em dizer coisas que podem  soar muito fortes, dando uma ideia superficial negativa de minha pessoa. Pois há ideias que se chocam diretamente com meu "campo magnético espiritual". Elas ricocheteiam como pedras em tanques. Aprendi a identificar enrolações com o passar dos anos, de modo a me tornar muito eficiente em termos de não perder tempo com superficialidades. Não se trata de excluir o diferente, mas sim o que leva à involução. Há o diferente que unifica e o diferente que pulveriza. O primeiro purifica - o outro polui.

O que mais me interessa é ir direto ao ponto. A capacidade de trazer em seu discurso a síntese - sem abandonar detalhes cruciais - é o mérito das vozes que apontam para a evolução. Isso é o que busco quando falo.

No mundo da oralidade há mais pressões do que no mundo da escrita. Deve-se ser rápido, sintético, com variação do tom de voz de acordo com a importância do tema. Tudo isso não pode abandonar a essência da inteligência, cuja marca é manifestar um raciocínio lógico eficiente, uma comunicabilidade agradável e uma originalidade resolutiva.

Umair Haque. Economista, jornalista e consciente.
Umair Haque é um economista e jornalista norte-americano que escreve regularmente ensaios relacionados ao colapso civilizatório mundial, destacando a insanidade que se tornou o modelo de vida norte-americano. Num de seus últimos ensaios ele destaca a questão da armadilha da riqueza [1], já comentado aqui [2]. O cerne da questão, que muito nos toca, levantada por ele (e por mim) é: a renda e riqueza são diretamente proporcionais à felicidade APENAS até certo ponto. Claro...é preciso considerar alguns fatores além disso - como a pessoa viver num local que não esteja em guerra, que não haja crise de refugiados em seu país, que se viva num regime relativamente democrático, entre outros. Além desses fatores, é preciso lembrar que esse vínculo renda-felicidade e renda-riqueza só existe no atual paradigma de desenvolvimento. Essa questão é central para compreendermos como deve ser iniciada a transformação de nossa sociedade (e sistema), pois é a base que deve tornar viável a construção de uma civilização verdadeiramente inclusiva, eficiente e progressista.

Vou explicar o porquê.

Eduardo Moreira faz sempre uma analogia muito interessante a respeito da riqueza: ele a compara com areia num parquinho. Se existe um monte muito grande num local com certeza existe um buraco enorme em outro. Porque hoje em dia, em tempos de capitalismo das finanças, o capital - outrora útil para a economia e a sociedade - se tornou improdutivo [3]. Isso nos leva à questão de que a imensa maioria da riqueza monetária "produzida" no mundo não está apoiada na criação de verdadeira riqueza - isto é, as coisas que uma pessoa precisa para viver e sobreviver. Conclusão: areia não é criada no parquinho! Mas observa-se a formação de montes enormes: a lista de bilionários cresce assim como suas fortunas. De onde vem tanto dinheiro?

O vídeo abaixo explica os motivos de não admirarmos os bilionários e suas vidas (vazias e destrutivas). Devemos temer tal notícia. Porque ela revela a pseudo-geração de riqueza - ou seja, criação de dinheiro desvinculado da preservação dos biomas, da integração social, do progresso humano. Um encolhimento da economia. Um empobrecimento da sociedade, da ciência, da tecnologia e da cultura.


Moreira ainda aponta um fato importante: enquanto o brasileiro médio louva abertamente (ou admira intimamente) esse modo de vida bilionário, menospreza o funcionalismo público. Porque a grande mídia colocou isso em sua cabeça: de que o servidor público ganha absurdamente bem e deve ter sua carreira destroçada. Assim todos nos igualamos na pobreza. Nós...os 99%. Enquanto o 1% ou uma fração dessa elite permanece intocada não são incomodados.

Quem drena recursos da nação (e do mundo) não é o serviço público. Todo país desenvolvido depende do serviço público para avançar. Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), neurocientista, destaca que mesmo nos EUA - terra que mais cultua o capitalismo desenfreado - as universidades recebem forte apoio governamental (assista à entrevista abaixo).


A soma recebida pelos 12 milhões de funcionários púbicos do Brasil (municipal, estadual e federal) está na mesma ordem de grandeza da soma recebida pelos 200 bilionários brasileiros:

BILIONÁRIOS (aumento de patrimônio 2012-2019)

Ano                                              2012                          2019
Riqueza relativa                       7% do PIB               17% do PIB
Riqueza absoluta                     346 bilhões             1.205 bilhões

Aumento de patrimônio em 2018

                                                SERVIDORES PÚBLICOS        x              BILIONÁRIOS 
Quantidade                                             12.000.000                                          200
Aumento de patrimônio                      R$ 700 bilhões                                R$ 230 bilhões
Aumento p/pessoa                                 R$ 58.330                                  R$ 1.150.000.000

Dá para perceber o quão grande é o delírio do brasileiro médio? Cada bilionário (em média) aumentou seu patrimônio em 1,15 bilhão. Cada servidor público (em média) aumentou em algo como 60 mil reais. Esses bilionários são majoritariamente do setor financeiro e de bebidas. Suas atividades - se é que podemos chamar de tal - nada agregam à economia ou à sociedade - muito menos à cultura. Isso não é opinião - é fato. Basta observar e refletir sobre os processos da economia atual.

Os servidores públicos mantém as escolas, universidades, pesquisas, coleta de lixo, saneamento, fiscalização, assistência, serviços públicos, iluminação, etc e etc em todo país. Remova esses 12 milhões ou degrade suas carreiras e ver-se-à em pouco tempo o colapso do pouco que resta de digno neste país.

Qualquer crítica ao serviço público é bem vinda contanto que seja séria e contundente. Os problemas existem e não serão resolvidos à base de extermínio ou degradação das carreiras. A falta de recursos se deve ao péssimo sistema tributário, à ineficiência do modelo econômico e à falta de bom senso da grande mídia, em larga medida.

Para começar poderia-se pensar em taxar as fortunas daqueles bilionários (e outros um pouco abaixo) para que se fomente políticas públicas essenciais. Como pode um país não ter 100% de saneamento básico em 2020?

Pense bem: um professor universitário com mestrado, doutorado, pós-doc, que orienta e dá aulas e pesquisa e faz extensão; que participa de congressos e escreve artigos; que dirige institutos e revisa periódicos; que escreve livros; que dá palestras; que prepara cursos e aulas e suou muito para conseguir passar num concurso; que já informou e ajudou milhares de estudantes; cujas pesquisas podem impactar na vida de milhões; e cujas ideias podem evitar as dores de outros milhões. Esse sujeito, que recebe (digamos) 15 mil ou 20 mil por mês já na metade final da carreira, recebe demais? Enquanto um bilionário que especula e só investe naquilo que irá garantir uma próxima crise global (intermediação financeira), ganhando 1 bilhão (isso são 1.000 milhões) sem produzir NADA, é admirado ou deixado em paz...É hora do mundo - e especialmente do brasileiro - começar a pensar.

Pode-se melhorar a eficiência dos serviços com planejamento e informação. Com planos de carreira e criação de canais de comunicação entre sociedade e servidores. Há muitas alternativas para melhorar o desempenho, desde as senhoras que atendem no INSS até os altos funcionários públicos.

Servidores. O próprio nome já diz tudo: eles estão aí para servir o país. Acima do lucro, a garantia de que se forme cidadão. Eliminar o servidor é garantir que esse cidadão morra para dar lugar a um consumidor.

Problemas de eficiência no setor público devem ser resolvidos. Mas: 1) eles não implicam na destruição do Estado e seus funcionários, base de toda sociedade minimamente civilizada; 2) há imensas ineficiências nas empresas privadas (eu já fui empregado numa), que só não é tão difundido pelo autoritarismo silencioso (psicológico e financeiro) imposto de forma pervasiva.

Ninguém nunca parou para pensar que de nada adianta o meio privado ser mais eficiente se essa é restrita a uma eficiência econômica e tecnológica? É preciso ver a qualidade de vida das pessoas no local de trabalho (os índices de estresse, depressão e suicídio nunca foram tão altos devido à questão do mercado de trabalho [4]). É preciso considerar a utilidade e eficiência real dos produtos (um carro de 30 mil reais cumpre as funções essenciais de um carro de 100 mil ou mais). É preciso valorizar profissões que questionem o estado atual das coisas (o mundo sempre progrediu com esse confronto). É preciso considerar tudo de um ponto de vista integral e perceber as implicações a longo prazo do modo de vida atual. Isso está sendo feito?


Mas o escopo aqui não é entrar nos meandros dessas questões.

Retomemos às bases de uma nova civilização.

Na palestra proferida por mim na SNCT 2019 [5] eu destaquei dois tipos de alternativas para a atual civilização predatória: Ecovilas e o Projeto Vênus.

Observando em detalhe vejo vantagens em ambos modelos - que em muitos aspectos compartilham pontos comuns, como a sustentabilidade, inclusão social, entre outras coisas. O Projeto de Jacque Fresco tem a vantagem de oferecer uma base que permita um progresso científico, cultural, tecnológico e filosófico grande. As ecovilas não parecem oferecer uma proposta para continuarmos nossos desenvolvimento nas grandes linhas mestras da evolução.

Por outro lado, as ecovilas são um modelo simples e já implementado em muitas localidades, com custo baixo. O Projeto Vênus depende de um esforço coletivo enorme, e (para piorar) da vontade do poder econômico (a plutocracia que domina o globo). Nesse sentido torna-se muito difícil a implementação de um projeto desse.

As ecovilas, apesar de estarem em expansão, tem uma adesão irrisória comparado à população do planeta [6]. Quem vive nela pode ser considerado mais feliz do que a média da população. Mas quem pode são poucos: há limitação de vagas; há questões de entrosamento com o grupo; há restrições de serviços essenciais (como tratamento médico, cirurgias, como lidar com intempéries/imigrantes/etc., institutos de pesquisa, etc.).

Vamos ponto por ponto:

1) Questão da QUANTIDADE

Se existe um modelo que pode salvar a humanidade, ele deve englobar todos (ou inicialmente a imensa maioria das pessoas). As ecovilas não demonstram ser um modelo expansivo, coordenado e minimamente centralizado para fazer frente a esse desafio. O capital financeiro deixa-as em paz porque elas não ameaçam seu domínio. Aliás, se crescessem exponencialmente, logo se veriam (de alguma forma) capturadas pelo sistema vigente. Porque em seu imo fazem frente a ele: seu modo de vida é a antítese do atual, em termos de valores.

Pense bem: o mundo vai se salvar com 2 ou 3 milhões de pessoas em ecovilas e 7 ou 8 bilhões (3 mil vezes mais) imersos num modo de vida vinculado ao capitalismo financeiro? O modelo deveria se expandir exponencialmente, dada a gravidade da(s) crise(s) que se aproxima (financeira, ambiental, social). Ele é capaz disso? Acho difícil..


2) Questão da INDIVIDUALIDADE

Lembre-se: individualidade não é individualismo. O primeiro é a valorização de um modo de vida que caracteriza um ser e o deixa em posição de criação e evolução. É estar aberto às ideias diferentes mas com debates num terreno de alto nível. O segundo é uma maneira de acumular às custas do outro. De ser momentaneamente alegre às custas do entorno. De não querer dialogar.

As ecovilas parecem não estar preparadas para receber os variados tipos de biótipos evoluídos que emergem em nosso globo. Eu, por exemplo, gosto muito de cinema (alternativo), de ter uma padaria perto, de um banho no chuveiro elétrico (2 min.), de livrarias e sebos e bibliotecas, de SESCs (oficinas, piscina, cursos, música, teatro, etc.), de serviços essenciais (médicos, exames, pronto-socorro), entre outras coisas. Será que tudo isso não é compatível com uma civilização sustentável e inclusiva? Woody Allen, meu pai e outros cosmopolitas tem a mesma mentalidade: querem viver num meio que permita sua expressão criativa. As ecovilas parecem não estar adaptadas a esses tipos humanos. E se pensarmos melhor, nem a outros tipos que possam haver - e que são pessoas equilibradas, criativas, pensantes e interessantes. Será que isso não representa uma limitação do modelo?

Uma civilização socialmente justa, ambientalmente sustentável e intelectualmente eficiente implica em ter espaço para todos tipos humanos - contanto que estejam dentro das leis da vida. Um pode gostar de pintura, outro de teatro, outro de literatura, outro de inventar, outro de cultivar, outro de cantar, outro de criar programas computacionais, outro de fazer experimentos químicos, outro de esboçar pensamentos e debater, outro de assistir vários filmes e fazer palestras, outro de fazer pães e doces, outro de filosofar e etc e etc. Um sistema deve incorporar todos perfis, respeitando-os e sabendo coordená-los para finalidades superiores. Sinergia!


3) Questão dos SERVIÇOS ESSENCIAIS

Alguém já viu uma pessoa idosa numa ecovila? Com problemas de saúde? As pessoas, à medida que envelhecem (mesmo que bem) acabam tendo a necessidade de recorrer a médicos, exames, tratamentos e hospitalização. Um filme com o Viggo Mortensen, chamado Capitão Fantástico (2016), que aborda de forma realista as limitações de viver de forma simples e natural.


O que quero dizer com tudo isso é que não há salvação individual (felicidade) sem uma revolução sistêmica (novo sistema coletivo político, econômico e cultural) - tampouco há uma revolução sistêmica sem a construção da felicidade individual. Por revolução quero dizer uma alteração profunda no modo de concebermos as coisas, de produzirmos e de nos relacionarmos (conosco e com o meio). Trata-se sobretudo de uma questão de orientação.

Não adianta. Por mais difícil que seja. Por mais que pareça impossível. Eu insisto no ponto: ou cria-se um modo de vida que incorpore toda humanidade e dê um mínimo (mínimo) de decência à vida das pessoas, com sustentabilidade global; ou nos iludimos em idealizações que se realizam para poucos e que não levam em conta a complexidade do ser humano e a necessidade imperativa de prosseguir com determinadas linhas de desenvolvimento civilizacionais (leia-se: universidades, institutos de pesquisa, medicina, educação, centros de arte, fóruns, centros de convivência, seguridade social, etc.).

O modelo novo deve incorporar as maiores conquistas da civilização [7] e ser redistributiva por natureza, além de garantir as condições climáticas ideais para tudo e todos. Não tem jeito.

O modelo, pelo que parece, ainda não existe. Ou por incompletude interna de sua estrutura (ecovilas) ou por falta de vontade da elite econômica em viabilizá-lo (Projeto Vênus). O Green New Deal parece ser mais viável. Poderia até servir de pré-requisito para um Projeto como o de Jacque Fresco (quem sabe..). Mas é preciso uma empreitada internacional.

Alexandria Ocasio-Cortez (1989), congressista
socialista, falando sobre o Green New Deal.
A Renda Básica Universal (RBU) pode ser um elemento de rápida implementação para a transição de modelos econômicos. Poderá ser até parte constituinte do novo modelo a nascer. Mas não é o modelo em si (nem seu eixo diretor). O cerne da questão é alterar o sistema de crença e valores das pessoas - nem que num grau mínimo. Considerando o quão pouco deve ser feito (em comparação com o ideal que muitos sonham), acredito que seja viável. ninguém está pedindo para você abdicar de seu chuveiro elétrico ou ida a padaria ou roupas ou casa de 100 m2 ou conjunto de roupas. Apenas foque no realmente necessário e se liberte da ditadura social causada pela inconsciência. 

Nós vivemos de acordo com o que é imposto pela mídia em nosso subconsciente. As pessoas aceitam sem resistir. O resultado é este: chegamos numa era em que todos questionam e combatem muitas coisas, exceto o cerne da questão, que é o modelo econômico que produz bilionários cada vez mais ricos, com fortunas rumo à casa do trilhão - ao passo que bilhões são achatados em condições de miséria financeira, social, cultural, intelectual. Falta de tempo. Falta de conversas. Falta de (verdadeiros) amigos. Falta de vontade. Falta de vontade...

Pessoas sérias apontam para a gravidade da situação:

"Com exceção da extinção dos dinossauros, todas envolveram mudanças climáticas causadas por gases de efeito estufa (A Terra Inabitável, Uma História do Futuro, David Wallace-Wells)." [8]

"Pelas projeções das Nações Unidas, teremos 200 milhões de refugiados do clima até 2050. Outras estimativas são ainda mais pessimistas: 1 bilhão de pobres vulneráveis sem condições de sobrevivência. O Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, considerava que 2º C de aquecimento global era o limiar da catástrofe: cidades inundadas, secas destrutivas, ondas de calor, furacões e monções, enfim os antes chamados “desastres naturais” vão se tornar regras e não exceção. Em 2016, o Acordo de Paris estabeleceu o aumento de 2º C como meta global a ser evitada." [8]

"Outros cientistas afirmam que as previsões do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) são conservadoras. Mesmo cumprindo as metas de emissão fixadas no Acordo de Paris, poderemos chegar a 4º C de aquecimento, com florestas transformadas em savanas, trazendo riscos sérios à habitabilidade do planeta." [8] 

"Nada impede que essa tendência seja alterada, tudo depende das decisões políticas dos países, de seus governos e suas empresas. Mas se os próximos trinta anos forem iguais aos trinta anos passados, até o fim deste século regiões inteiras da Terra se tornarão inabitáveis, com perspectivas de devastação da espécie humana." [8]

(grifos meus)

É preciso destacar que o papel da sociedade é se conscientizar e mobilizar para colocar na parede os governos (servos do poder, com pontuais exceções de dentro) e as megacorporações e bancos (o poder). A sociedade, os lares, as famílias, as residências - vamos dizer, os 99% de baixo da pirâmide da riqueza, renda e poder - não tem o poder de mudar as coisas olhando para seu consumo próprio. Seu poder reside em tomar as rédeas do processo evolutivo. Isso só pode ser feito através da conscientização.

Rita Von Hunty, num brilhante vídeo, deixa claro essa questão: ela percebe que desenvolvimento sustentável é, em última instância, um oximoro - ou paradoxo (veja o vídeo, ela explica).



Especialistas corroboram:

"A conta pela demora em tomar as decisões corretas sobre o clima chegará para o mundo em 2030 no valor de 26 trilhões. A sociedade contemporânea é uma sociedade de desperdício de energia, de produção, de consumo. Só um país - os EUA – consomem 1/3 da energia de todo o mundo. O mundo não vai mais sobreviver sem a sustentabilidade ambiental. E isso é decisão de políticas públicas. As atitudes individuais de mudar o estilo de vida importam muito pouco. Vejamos, por exemplo, o consumo de água no Brasil. A agricultura consome cerca de 72%. A indústria, cerca de 9%. Mas as campanhas de economia de água visam apenas o consumidor urbano que representa só 8,6% do consumo total." [8]

As soluções não são individuais - são sistêmicas.
O ponto de partida pode ser (e é) individual, com a conscientização.

É muito importante distinguir esses dois aspectos: soluções (materialização) e gênese (princípios).

Claro que mudar um estilo de vida individual é salutar. Mesmo porque a extrapolação da faixa das necessidades verdadeiramente essenciais para o nível de capacidade dos indivíduos (elas podem variar ligeiramente...por isso falo em faixa e não ponto) é prejudicial aos mesmos.

Pense um pouco: um carro de 100 mil transporta a pessoa para o mesmo lugar que o meu carro de 30 mil (na verdade 28 mil). O IPVA é muito maior, o seguro provavelmente também, o consumo de combustível, a dificuldade de encontrar vaga nas garagens, a inveja, os falsos amigos, etc e etc. Aplique esse pensamento para todas esferas da vida e você verá o quanto as pessoas estão erguendo um culto à ineficiência em prol da aceitação social. Você pode vir e falar pra mim sobre conforto. Eu lhe digo: isso é confortite, e não conforto.

Se não estabelecermos um teto (razoável) para renda, riqueza, consumo - considerando as necessidades da vida e respeitando as particularidades individuais - jamais iremos edificar um novo modelo econômico que nos conduza a uma nova civilização. 

Comecemos por aí.

Referências:
[1] https://eand.co/why-do-americans-idolize-the-rich-cc7d64a05321
[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2019/10/tempo-nao-e-dinheiro-tempo-esta-dinheiro.html
[3]http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/a_era_do_capital_improdutivo_2_impress%C3%A3oV2.pdf
[4] https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-39694644
[5] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2019/10/economia-baseada-em-recursos-ebr.html
[6] https://mac.arq.br/mapeamento-de-ecovilas-e-comunidades-alternativas-no-brasil/
[7] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/01/a-maior-conquista-da-civilizacao.html
[8]https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Mae-Terra/Fronteiras-planetarias-colapso-da-civilizacao-/3/46176

Nenhum comentário:

Postar um comentário