quinta-feira, 7 de maio de 2015

VOLTAGEM PARA AMPERAGEM

Da elétrica sabe-se que voltagem é potencial não realizado, ao passo que amperagem é atualidade não potencializada. A amperagem é uma variável de fluxo: é atuação, é sentida (choque), é manifestação, é efeito. A voltagem é uma variável de esforço:  é passividade, é pré-requisito (para o choque), é imanifesta, é causa.

Mas a passividade da voltagem é só aparente. Só designamos sua natureza com essa palavra porque não sentimos nem observamos sua realidade - isso é tarefa da corrente elétrica, que só existe devido à diferença de potencial elétrico, cuja causa é a voltagem.

Os maiores efeitos tem por trás as maiores causas. No entanto, só percebemos o que vêm à tona. Isso vale para o mundo físico e metafísico. Para o mundo material, orgânico e psíquico. Fenômenos com dinâmicas variadas, mas cuja essência é idêntica. Uma essência simples e complexa simultaneamente. Simples por não requerer nenhum eruditismo do mundo para ser assimilada. Complexa por ser capaz de fechar todos os grandes dilemas da humanidade sofrente, sem recorrer a uma só teoria ou livro ou máquina ou poder.

Simples e complexa...

No mundo a maioria das pessoas opta inconscientemente por possuir alta amperagem - e consequentemente baixa voltagem. São pessoas que realizam muitas acrobacias materiais e físicas. E também sentimentais e mentais. Estas, apesar de mais elaboradas e vastas, não vão muito além daquelas. As últimas são do campo intelectivo. As primeiras do campo sensitivo. Mas nem os sentidos nem o intelecto irão resolver os problemas mais agudos enfrentados por uma humanidade cada vez mais desorientada em seu íntimo. Tão desorientada que faz de tudo para escapar do grande auto-debate que levará ao auto-conhecimento.

Novidades, aquisições materiais, cursos, festas, viagens, eventos, aventuras amorosas, esportivas, acadêmicas,...a lista não tem fim. Nem as justificativas. No entanto, após ciclos horizontais de fecharem, observa-se pessoas em condições semelhantes àquela anterior - em sua essência. Ou até pior, mas com a ilusão de ter melhorado.

Quem tem medo de altas tensões espirituais...
Quem foge da metafísica e nega o misticismo...
Este domina o dominável mas...
Jamais tornará o Indominável dominável.
É explicável: a amperagem flui. Ou seja, é constante movimento. Passa e vai. Ou seja, não é retida. O "indivíduo amperagem" serve de canal para as facticidades cotidianas - suas e de outros. Facticidades que nada lhe acrescentam por não lhe fornecerem orientação. Somente após uma série de aventuras horizontais (trabalhos que movimentam a economia, aquisição de muitos bens, registros em cartório, aventuras sexuais, reconhecimentos sociais) muitos - nem todos - se dão conta de que existe "algo" faltando. Um Algo tão imperceptível, tão sutil, tão imaterial, que nos escapa aos sentidos e ao intelecto. Não somos capazes de percebê-lo (sentidos) ou concebê-lo (intelecto).

Muitos, após servirem de canal para "fontes" horizontais, se dão conta de que no final das contas muitos esforços foram desperdiçados em coisas que não trouxeram felicidade. A sensação de vazio é imponente. O "fim" inexorável se aproxima e urge ao ser afirmar que sua vida valeu a pena. E, caso a consciência consiga emergir mais forte, admitirá e lamentará, sem no entanto perceber que a jornada é infinitamente longa e há muito mais...Raros seres serão capazes de perceber, nos últimos anos, o Real significado da existência. A razão-de-ser de cada ser humano. Mais raros são aqueles que conseguem ver e sentir a Realidade universal ainda no vigor da idade. Esses sofrem, choram e sangram. Sua alma arde em pleno sucesso ou total fracasso social. Porque nada disso lhes interessa. A felicidade vem de dentro, não de fora. Ela vem da criação de valores, e não da descoberta de fatos ou aquisição de matéria morta ou carne viva. Esses são "indivíduos voltagem".

Ser voltagem não é abdicar dos fluxos 'ampéricos', e sim represar grande quantidade de experiências (boas e, principalmente, ruins) para convertê-las em amperagem abundante e eficaz. Lidar com uma alta tensão interna, uma voltagem muito além do suportável pela média humana, é desafio titânico que desgasta o corpo e a mente. O indivíduo se esgota, mas sente um imperativo categórico*. Ele se disciplina (auto-disciplina) constantemente. Sofre inicialmente, se alivia após a descarga. E não se contenta com o que fez antes. Procura ser melhor, mais claro, mais envolvente, mais simples,...

É incansável em seu Trabalho. 
E intocável em seus Princípios. 

Continua marcha. Independentemente das opiniões, das tendências, dos prazeres que se apresentam e do reconhecimento social. Ele faz isso por amor ao seu SER. E esse amor-próprio não gera exclusivismo (egoísmo), e sim inclusivismo (amor). É um mergulho em si cuja consequência é a solução dos últimos problemas da existência. E por lógica, como tudo se relaciona e Deus é imanente em cada criatura, resolve-se o problema do entorno.

Suportar altas tensões espirituais requer fé. Isto é, fidelidade com a Fonte Universal. A pessoa precisa estar sintonizada com o Infinito e o Eterno, se esquecendo de todas as coisas do mundo profano, sejam elas ocupações, preocupações ou aquisições. E após essa viagem ao pico do Everest chega-se à síntese dos problemas. A intuição leva o ser próximo à luz cósmica, que lhe rasga o ego físico-mental.

Destrói-se o destruível.
Eleva-se o indestrutível.

E quando o indestrutível (sujeito) volta ao mundo, ele é capaz de dar o devido valor aos milhares de destrutíveis (objetos). E assim uma enorme voltagem é direcionada sabiamente, gerando amperagem abundante que se ramifica por vidas e vales antes áridos. 


Ascensão -> Tensão crescente -> Tensão máxima -> Retorno -> Liberação de correntes


A alta voltagem gera um misto de temor e fascinação.
Assim são todas as grandes coisas na vida...

A Arte do Ser está em saber equilibrar essa polaridade.
Deve saber lidar com as questões mais polêmicas, dolorosas, insolúveis sem temor ou desânimo.

Deve tentar sem recorrer aos métodos do mundo.

Deve mergulhar em sua essência, cheia de Realidade.
Mas o mergulho deve ser fundo, sem medo de se afogar.

O momento mais tenso na travessia de um mar ou deserto é quando nos encontramos no meio do caminho.

Nos arrependemos por ter "perdido" nosso tempo numa jornada tão longa, dolorosa e ineficaz. Mas o que há lá atrás é tão pobre, tão vazio e tão desesperador - apesar de sorrisos e conforto e movimento - que nos recusamos a voltar, mesmo que venhamos a perecer dolorosamente no vasto deserto que leva a um mundo (realidade) desconhecido...

Ao mesmo tempo, parar é sofrer. E sofrer é morrer...
Urge continuar a jornada. Não se pode estagnar.

Verdades tão inexplicáveis devem ser buscadas até as últimas consequências - por conta própria. 

É por serem inexplicáveis que são certas.
É por serem inexplicáveis e ao mesmo tempo atraentes que fazem tudo valer a pena.

Aqueles que riem por fora espiam por dentro.
Aqueles que negam o mais e se contentam com o menos anseiam pelo mais. Mas que sejam outros a buscar esse mais.

No entanto, o mais se busca sozinho.

E a verdadeira libertação é interior.

* http://pt.wikipedia.org/wiki/Imperativo_categ%C3%B3rico

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