À
medida que constato e reflito e questiono e relaciono as antíteses,
muitas das grandes verdades multimilenares vão ficando mais claras à
minha pobre mente. O coração começa a ser compreendido pela
inteligência. Num grau pequeno. Pequeno mas substancial perto da
completa escuridão que ele se encontra na maioria dos seres. Eis
que Hannah
Arendt [1],
com sua tese de Banalidade
do Mal [2],
esclarece as grandes questões da humanidade, que trazem implicações
nos mais diversos campos, das mais variadas formas, em todos tempos e
lugares.
Hannah Arendt, filósofa que elevou a compreensão coletiva da neutralidade, revelando a perversidade desta - que está sendo muito usada pela ideologia neoliberal.. |
Existem
muitos filósofos(as) que pouco ou nada sabem a respeito do objetivo
supremo de sua área. É
verdade. Meu blog, para quem acompanha à fundo, não trata de ser um
espaço filosófico gostoso, aconchegante, no qual as pessoas - na
melhor das hipóteses - possam se instruir e se melhorar...sem
grandes incômodos. Não, nada disto. Aqui é espaço de tensão,
incômodo. É espaço onde a alma deve arder e os indivíduos devem
se auto-tensionar, especialmente o autor. Mas esse incômodo não é
gratuito. Muito pelo contrário. Trata-se
de um incômodo vulcânico advindo de causas profundas, que se geram
por meio de uma série de fatores internos combinados com
experiências sensórias exteriores como um filme profundo, uma
música, um texto, um gesto,...Os
verdadeiros filósofos(as) vivem isso e portanto compreendem as
coisas. Eles se submetem à Verdade além de sua ferramenta - por
mais poderosa e elevada que ela seja.
Tudo
do mundo é corrompível. Mesmo as melhores coisas...
Devemos
ter despertado dentro de nós o senso do Sagrado para que possamos
orientar todos os finitos, apontando-os para o Infinito. Cada um a
seu modo, a seu tempo, duma certa forma. Isso é a Arte da Vida, que
diz tudo e fala pouco.
Da
mesma forma, temos profissionais que nada sabem de fato de sua área.
A questão é que, quanto mais próxima em traduzir os mistérios do
espírito, do imponderável e de regiões muito aquém e muito além,
o cumprimento fiel ao objetivo supremo se torna mais difícil. E
nesse meio caminho muitos param em certo degrau da escada - e são
criticados...Mas muitos dos que criticam nem sequer tem a coragem de
compreender do que se trata; e se compreendem, dificilmente
apresentarão a coragem de realizar uma travessia completa que torne
a área desejada - mas não arriscada... - uma verdadeira serva do
Infinito, ou, melhor dizendo, das Forças Cósmicas...E eis que
muitos não se arriscam a iniciar a Grande Jornada por ver e aridez
dela.
Mas
alguns se preparam muito. E tentam...
Hannah
Arendt era filósofa integral. Ela dedicou sua vida a mergulhar fundo
no ser humano, a ponto de construir uma plataforma sob a qual outros
poderão adentrar no universo da consciência, em que o divino é
acessível e reproduzível - mesmo que por pouco tempo...mesmo que
sem a possibilidade de controle racional...E esse trabalho é poder a
tal grau que a única coisa que nos está fazendo sofrer mais e mais
nos últimos anos é nossa incapacidade de compreender o que ela quis
dizer com sua idéia de Banalização do Mal. Compreender
à fundo.
Mas
vamos ao que interessa.
A
mente humana, em seu estágio atual, opera na dualidade. Essa lógica
é produto do intelecto luciférico [3], que necessita do inimigo, da
competição, da externalização, para se desenvolver - e
satisfazer! A grande questão é: na lógica da dualidade
temos o que se chama neutralidade. Esta comumente é
vista como neutra, por ser algo óbvio. Mas na
prática, se observarmos bem, essa neutralidade teórica é a
característica mais perversa do ego luciférico, que permite o
movimento livre de forças, em várias direções, sem grandes
restrições. Pouco atrito. Pouco sabemos ainda disso, mas uma
observação mais atenta e bem intencionada pode dizer muita coisa.
Imagine
uma mobilização social ou uma greve. As pessoas podem adotar três
posturas: a favor, contra ou neutra (no
momento não quero entrar no mérito da legitimidade ou não da
mobilização...). Imaginemos que 100 pessoas trabalhem numa fábrica
e seu sindicato inicie uma greve geral. Pois bem, o que se passa na
mente de cada um dos trabalhadores(as) levará cada um a ter uma
postura final: a favor, contra ou neutra. Mesmo aqueles que não
emitem opinião dizem algo (dizem muito): pode-se ter em mente de que
a melhor coisa é se manter neutro, com o intuito de deixar as
circunstâncias de desenvolverem, esperando o melhor para si
sem se expor aos riscos. Perante o mundo (com seu biótipo
médio), essa é a atitude mais sensata, pois lhe evitará problemas
- pelo menos a curto prazo - e não haverá exposição
desnecessária. Nos últimos 20 anos venho constatando que muita
gente vêm adotando essa lógica de operação.
Blaise Pascal: santo e gênio. Se curvava apenas para O Infinito e Eterno - ou para aqueles que serviam o mesmo imponderável. |
Sinto
- por gestos, olhares, tons de voz, desenvolvimento de vidas - que as
pessoas não querem se "meter em confusão", mas ao mesmo
tempo elas desenvolvem uma habilidade em desenvolver sua
conformação, procurando os mais diversos meios para se esquivar
de certas questões - das quais querem permanecer neutras à
todo custo, sem posicionamento. Nessa habilidade de esquivo muitos
optam pelo consumo de bens, de serviços ou se distraem com pessoas
para se sentirem melhor (o famoso 'fazer o social'). Dificilmente
busca-se um contraponto forte fora da região de decisão para
compreender o porquê de sua neutralidade radical*. Aparentemente
isso seria uma forma de resolver os problemas do mundo, delegando
problemas "insolúveis" àqueles mais "egoístas".
De fato é do ser humano, ao agir coletivamente, ser seduzido pelo
poder de sua voz e sua influência. Isso no entanto não significa
que: A) nada de bom resulte de sua atuação; B) Todos seres sejam
igualmente seduzidos e logo desviados de seus objetivos gerais.
As
maiores atrocidades cometidas coletivamente foram viabilizadas por
aqueles que absolutamente nada fizeram - apesar de não serem "a
favor" - para impedi-lá. Desde sua gênese. Essa frase foi dita
por Einstein, por Arendt, e provavelmente por outros grandes
iluminados, de várias formas. É um conhecimento multimilenar. Mas
no entanto ele tem ficado no Sagrado, divorciado das aplicações
cotidianas, e com isso criamos um a sociedade cada vez mais
desenvolvida intelectualmente, tecnicamente - e até culturalmente! -
mas sem um mínimo de desenvolvimento moral para guiar nossas vidas.
Sempre foi assim, e é assim...
Mas
não precisará ser sempre assim !
Projetar
o passado integralmente no futuro é um vício do ego humano. Ele nos
induz à preguiça. E com ela vem a dor.
Leonardo Boff. Na Teologia da Libertação encontrou a Síntese amorosa entre Cristianismo e Justiça Social. Entre reforma íntima e atuação efetiva. |
Nos
movemos na horizontalidade sem finalidade maior do que acumular e
procriar e ganhar títulos e nos sentirmos importantes. É
uma horizontalidade profana.
Quando mergulharmos no intimo de nós, tocando os fenômenos, rasgaremos nossa horizontalidade profana com uma verticalidade mística simultânea, gerando dor e desespero.
Se
aguentarmos esse corte, percebendo sua função de elevação,
começaremos a alimentar nossa horizontalidade do mundo por
uma verticalidade mística, de forma a nos
tornarmos seres que agem segundo uma horizontalidade
ética.
Ou
seja, a mística interior gera a ética
externalizada. Age-se no equilíbrio, pelo equilíbrio, com equilíbrio.
Nada mais, nada menos, porque se trata da Essência que é o Todo.
Dessa
forma observa-se que aqueles que se posicionam na neutralidade acabam
dando razão para as forças que imperam - e estas geralmente são as
mais agressivas, não necessariamente em termos físicos, mas
sobretudo em termos econômicos e psicológicos. Isso
é muito perigoso, uma vez que o mal tende a arregimentar com muito
mais facilidade pessoas a seu favor do que o bem. E não me
refiro à superficialidade de eventos globais e/ou recentes, mas à
essência dos mesmos, e das decisões e atitudes cotidianas de cada
um, seja na vida coletiva, seja no íntimo de sua mente e
sentimentos.
Sem
entrar no mérito da questão "quem é o bom e quem é o mau",
pois TODOS temos dentro de nós o Ego Luciférico e
o Logos Crístico, o que vale é captar aquilo que
vem ocorrendo no mundo, em nossas vidas e começar a colocar em pauta
- antes individualmente, depois coletivamente - as seguintes
questões:
1.
quem realmente controla as coisas?
2.
quem sustenta esse sistema?
3.
o que ele tem de bom?
4.
o que ele tem de ruim?
5.
ele é o ápice do desenvolvimento?
6.
até que ponto eu vejo minhas idéias como imposições?
7.
o que eu faria no lugar de certas pessoas?
8.
quanto eu preciso para viver bem?
9.
porque o necessário de uns é absurdamente maior (ou menor) do que o
necessário de outros?
10. será que uma humanidade só de relativos, sem um Absoluto, pode evitar uma catástrofe?
10. será que uma humanidade só de relativos, sem um Absoluto, pode evitar uma catástrofe?
11.
porque muitas pessoas abandonam ideais na primeira experiência
malsucedida de implementação?
12.
o que é transformismo?
13.
porque existe gente que gosta de "perder tempo" e se sente
bem em meio ao que eu julgo monótono e pouco?
14.
porque alguns insistem em idéias que não deram certo?
15.
o que é dar certo? e em que escala de tempo podemos considerar que
algo funcionou ou não?
A
mim me parece que não devemos buscar a "sociedade da
neutralidade" porque será instaurar o relativismo luciférico
que ignora o Absolutismo Divino, única estrela-guia que pode nos
levar à Salvação.
Mas antes de assumir uma posição, deve-se passar por uma catarse interior intensa, capaz de gerar um agir exterior capaz de compreender as antíteses, realizando uniões elegantes de complexidades crescentes.
Eis
a visão que me veio hoje.
Referências e observações
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Hannah_Arendt
[2] https://www.youtube.com/watch?v=OkESaqHiX3U
[3]
Lembre-se que o intelecto em si não é algo perverso nem deve ser
erradicado. No entanto, e especialmente, a partir de um ponto de
desenvolvimento, se ele não for comprimido e controlado por uma
"inteligência" de outra espécie (intuição), corre-se o
risco de autodestruição - individual e coletiva.
* Reitero que a mais perversa das ideologias é aquela que se diz não-ideológica e combate as outras colocando em questão todos vícios das outras - mas jamais fazendo autocrítica de si mesma.
* Reitero que a mais perversa das ideologias é aquela que se diz não-ideológica e combate as outras colocando em questão todos vícios das outras - mas jamais fazendo autocrítica de si mesma.
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